Metal Gear Solid: Master Collection Vol. 1 (Switch) está entre nós. A icônica e prestigiada franquia de stealth voltou aos holofotes desde a saída de seu criador, Hideo Kojima, da produtora Konami. Esta é a primeira vez que a versão original de Metal Gear Solid (não o Remake de GameCube) pode ser jogada em um hardware da Nintendo, bem como sua sequência, MGS2: Sons of Liberty.
Também é a primeira vez que MGS3: Snake Eater pode ser jogado em um hardware da Nintendo desde o seu port no 3DS, bem como o original Metal Gear e sua continuação, MG2: Solid Snake, desde que foram adicionados ao Virtual Console do Wii.
Realmente, uma experiência a se viver… Mas, infelizmente, as coisas não são perfeitas. Ao mesmo tempo que temos esses colossos dos jogos à disposição, a coleção traz de volta a primeira incursão da franquia na Nintendo: Metal Gear de NES, conhecido por ser um port medíocre e de baixa qualidade. Neste Blast from the Past, vamos relembrar sobre como não adaptar um clássico.
Les Enfant Terribles
Antes de falarmos do jogo, uma rápida aula de história. Na história de Metal Gear, Solid Snake surgiu de um projeto secreto e profano chamado Les Enfant Terribles (As Crianças Terríveis, em francês), em que o grupo ultrassecreto ̷T̷h̷e̷ ̷P̷a̷t̷r̷i̷o̷t̷s̷ La-Li-Lu-Le-Lo coletou amostras de DNA do lendário soldado Big Boss e o clonou, para substituir o homem caso algo acontecesse com ele. Ao saber disso, Boss deixou os ̷T̷h̷e̷ ̷P̷a̷t̷r̷i̷o̷t̷s̷ La-Li-Lu-Le-Lo e passou a lutar contra eles e sua soberania.
A produção de Metal Gear NES teve uma história similar à da franquia, sendo fruto de uma clonagem forçada que a Konami demandou a seus desenvolvedores sem nem pedir auxílio ou direção de Kojima, com o objetivo de vender Metal Gear para o Ocidente. O MSX-2, microcomputador em que a franquia nasceu, era exclusivo do Japão e o jogo original só deu as caras devidamente fora de seu país de origem como um bônus que acompanhou o lançamento de MGS3: Subsistence.
A produção de Metal Gear NES teve uma história similar à da franquia, sendo fruto de uma clonagem forçada que a Konami demandou a seus desenvolvedores sem nem pedir auxílio ou direção de Kojima, com o objetivo de vender Metal Gear para o Ocidente. O MSX-2, microcomputador em que a franquia nasceu, era exclusivo do Japão e o jogo original só deu as caras devidamente fora de seu país de origem como um bônus que acompanhou o lançamento de MGS3: Subsistence.
Isso iniciou uma longa inimizade entre o criador e a produtora, culminando na saída de Kojima da Konami em 2015. Para se ter uma ideia da situação, MG NES teve apenas 3 meses de desenvolvimento. Sem mais delongas, vamos para o jogo (e rezamos para que possamos conseguir chegar até o final).
Operation Intrude N313
Essencialmente, ambas as versões de Metal Gear seguem o mesmo enredo: em 1995, foi noticiado que havia uma arma nuclear na fortaleza de mercenários Outer Heaven, no continente africano.O lendário líder da força especial FOXHOUND, Big Boss, mandou seu melhor soldado, Gray Fox, investigar Outer Heaven e encontrar a dita arma. Dias depois, Big Boss perdeu contato com Gray Fox, cuja última mensagem foram duas palavras enigmáticas: "... METAL… GEAR…". Assim, para não atrair mais nenhuma atenção, Boss envia o recruta mais raso da equipe, Solid Snake, para resgatar Fox e descobrir o que seria Metal Gear.
Digo essencialmente porque a jogabilidade entre as versões é completamente diferente. A versão original pode até não ter envelhecido tão bem quanto suas sequências, mas ainda é um jogo, no mínimo, jogável, uma relíquia histórica. A versão de NES, por outro lado, é uma cópia bastarda sem alma ou ritmo. Um exemplo é logo no começo da missão que, diferente da entrada da base do game original, é em uma floresta. Devo dar crédito por essa liberdade criativa, mas há caminhos que não dão para lugar nenhum e inimigos com audição ultrasônica, podendo encontrar Snake de qualquer lugar sem dar uma vantagem.
Digo essencialmente porque a jogabilidade entre as versões é completamente diferente. A versão original pode até não ter envelhecido tão bem quanto suas sequências, mas ainda é um jogo, no mínimo, jogável, uma relíquia histórica. A versão de NES, por outro lado, é uma cópia bastarda sem alma ou ritmo. Um exemplo é logo no começo da missão que, diferente da entrada da base do game original, é em uma floresta. Devo dar crédito por essa liberdade criativa, mas há caminhos que não dão para lugar nenhum e inimigos com audição ultrasônica, podendo encontrar Snake de qualquer lugar sem dar uma vantagem.
Parasitas da Cepa Inglesa
A estreia de Solid Snake na Nintendo também contou com comandos malfeitos e uma péssima tradução que faria qualquer romancista ortodoxo desmaiar de tão ruim. A parte mais hilária foi a falta de senso da Konami em inventar histórias na caixa do jogo que contrariavam totalmente o enredo, mencionando um aleatório coronel chamado Vermon CaTaffy como o grande antagonista do jogo, sendo que não existe qualquer personagem com esse nome na franquia.E essa não é nem a pior parte. Você se lembra do Metal Gear que foi mencionado? No original, é o compacto Metal Gear TX-55, com capacidade nuclear e dois lasers como forma de ataque. Comparado com os outros demônios de metal da saga, o método de destruição é um tanto decepcionante, uma vez que ele fica imóvel e é necessário colocar C4 em seus pés para destruí-lo, mas a visão desse monstro de metal era algo incrível para a época.
Na versão de NES? Snake não enfrenta o dito cujo. Ele está na arte da capa, ele é mencionado, mas Metal Gear não existe em Metal Gear NES. Ao invés disso, tem uma tela imensa chamada Supercomputador, que opera a máquina mortal. Bastava dar um toque e pronto, missão cumprida (isto é, Snake ainda tinha que derrotar Big Boss e escapar, mas o dano já foi feito).
The Philosophers' Legacy
De alguma forma, MG NES vendeu muito bem no Ocidente. Provavelmente porque os jogadores da década de 80 tinham algum tipo de feitiço para conseguir gostar de jogos quebrados (ou não tinha nada melhor nas prateleiras quando foi lançado), o que levou a Konami a pedir uma sequência direta ao jogo, Snake's Revenge. Se MG NES era marginalmente jogável e seguia pelo menos alguma linha de raciocínio, Snake's Revenge era a mais pura insanidade, com controles piores, uma história ridícula e jogava fora totalmente a furtividade que seu antecessor cunhou.Tamanha foi a heresia que um dos desenvolvedores de Snake's Revenge encontrou Kojima, por acidente, em uma viagem de trem e falou sobre a abominação. Após isso, Kojima não viu outra escolha além de propôr ele mesmo uma sequência direta da versão do jogo de MSX-2, criando Metal Gear 2: Solid Snake, uma sequência digna que estabilizou não somente o gênero de furtividade mas também marcou Kojima como uma lenda dos jogos (isso antes de MGS1 ser desenvolvido).
Se tem uma coisa boa que Metal Gear NES fez de bom em existir foi fazer a franquia ser popular no Ocidente, o que a levaria a se desenvolver mais e ganhar o mundo. Mas tirando isso? É um título medíocre, banal, sem qualidades redimíveis que nem faz o mínimo para se destacar. Eu acho um absurdo que os jogos de NES foram incluídos no Volume 1 da Master Collection e não Ghost Babel (Game Boy Color), um jogo fantástico que traz de volta a jogabilidade dos títulos de MSX-2 e a volta da franquia a Nintendo depois dessas cópias baratas e sem sal.
Eu fico levemente feliz que os jogos de NES foram relançados, pela primeira vez legalmente disponíveis ao público em 30 anos (no caso de Snake’s Revenge. MG NES tinha sido disponibilizado graças a versão japonesa de MGS: The Twin Snakes, remake de MGS1 para GameCube) pois mídia perdida é algo trágico. Não tão trágico quanto a existência deles, no entanto. Por sorte, a Legacy Collection tem cinco jogos de qualidades infinitamente superiores para balancear as coisas, uma contramedida a essas ameaças nucleares que são os primeiros jogos dessa icônica franquia na Nintendo. Konami sendo Konami.
Revisão: Cristiane Amarante