Quem já teve a chance de jogar algo no modo cooperativo sabe como é bom compartilhar bons momentos com um amigo presencialmente ou via internet. No entanto, a verdade é que nem sempre a experiência em cooperação está bem implementada nos jogos.
Sendo assim, abrimos esta discussão para falar de alguns casos em que o co-op não contribui para uma boa experiência. Cabe ressaltar que iremos abordar jogos que têm o modo co-op como recurso, desde que não seja obrigatório.
A experiência cooperativa em destaque
Quando pensamos em experiência co-op, logo nos vem à mente alguns jogos que otimizaram ao máximo esse tipo de experiência, como It Takes Two, Overcooked 2 e A Way Out. No entanto, compará-los com jogos como Donkey Kong Country, Super Mario World e Sonic Hedgehog 2 seria injusto, visto que a experiência desses outros jogos não surgiu do conceito de cooperação, embora todos eles tenham o co-op como uma opção disponível.
Esses jogos citados são alguns exemplos em que há a opção co-op, mas ela não é bem implementada por alguns fatores. Em Donkey Kong Country, por exemplo, não há a possibilidade de duas pessoas jogarem simultaneamente; até podemos alternar entre Donkey e Diddy Kong, mas somente um tem o poder de ação, enquanto o outro irá acompanhar o Jogador 1 automaticamente.
O mesmo acontece em Super Mario World. No entanto, nem mesmo a possibilidade de trocar o jogador durante o mapa existe, visto que somente um player está presente na jogatina, alternando conforme se passa de fase ou perde uma vida.
Certamente, vocês poderiam defender ambos os casos mencionados, uma vez que a limitação do hardware dificultava bastante o desenvolvimento de jogos. Lembrem-se de que estamos falando de jogos da década de 1990 e a capacidade de armazenamento dos jogos de Super Nintendo chegava até o máximo de 16 megabytes.
E sim, talvez você esteja se questionando: já existiam jogos cooperativos com jogabilidade simultânea. Mas pensar na simultaneidade para um jogo de plataforma rápido e dinâmico ainda era um tanto complicado e talvez seja por conta dessa complicação que Sonic Hedgehog 2 tenha sido um pouco superior aos mencionados, mas será que ele foi mesmo?
Pensando pelo lado positivo, Sonic 2 oferece a possibilidade do segundo jogador utilizar Tails, um personagem que não sofre dano, tornando-se excelente para batalhas com chefões, além de funcionar como uma boa porta de entrada para jogadores menos experientes. O que complica a experiência cooperativa do jogo é o fato de que a câmera não é dividida, sendo focada exclusivamente no Sonic.
Se o primeiro jogador se afasta de Tails, o segundo jogador some do jogo e só reaparece quando Sonic para de correr. Sendo assim, em um jogo frenético como os da franquia do ouriço azul, sabemos que a chance de Tails sumir durante boa parte da jogatina é gigantesca.
Quando a limitação do hardware deixa de ser justificativa
Mesmo com todas limitações dos hardwares do início dos anos 1990, julgo positivas essas experiências cooperativas e vejo nelas uma importância significativa para a evolução dos jogos. Infelizmente, com alguns títulos recentes, a desculpa da limitação de hardware não se aplica. Inclusive, a experiência que tive com Donkey Kong Country Returns foi o que me motivou a escrever este texto.
Na realidade, Donkey Kong Country Returns é um jogo excelente na grande maioria de seus aspectos, aproveita os acertos dos jogos clássicos da franquia e tem acréscimos bem-vindos, como a adição dos colecionáveis que tornam a exploração do ambiente bem mais interessante. Neste jogo, contamos novamente com a presença dos antigos protagonistas, Donkey e Diddy Kong.
No entanto, no jogo de Wii, a ajuda de Diddy vai muito além de uma vida extra e mais velocidade; agora, o baixinho também porta um jetpack, que com frequência é o que garante o sucesso dos saltos mais complicados, já que possibilita que o jogador fique algum tempo a mais no ar.
Mas então, quais são os problemas do modo cooperativo desse título? A começar pelo principal: a câmera, que, semelhante ao que ocorre em Sonic 2, acompanha apenas o jogador que está mais à frente; caso a pessoa que está atrás fique fora da tela e demore por volta de cinco segundos, ele é teletransportado automaticamente para onde está o jogador dianteiro não importando em que ponto da fase ele esteja. Traduzindo, se você for teletransportado no momento de um salto, as chances de morrer são gigantescas.
Além disso, caso você esteja jogando em multiplayer, a contagem de vidas do jogo é bastante punitiva. Lembram as clássicas fases de carrinho nas minas? Elas estão presentes, mas no modo multijogador, se morrermos, perdemos duas vidas — e o mesmo acontece para as fases em que voamos em um foguete. O único ponto positivo é que os dois jogadores podem controlar os veículos, mas isso não justifica a perda de duas vidas para cada tentativa.
Algo que amplifica, e muito, a dificuldade do jogo é jogar sem o auxílio do jetpack e, no modo cooperativo, isso acontece o tempo todo. Diferentemente do que ocorre no modo single player, Diddy não fica nas costas de Donkey Kong. Até existe essa possibilidade, caso o segundo jogador escolha ficar apenas ali, mas a lógica da cooperação acaba se perdendo.
Em suma, podemos dizer que Donkey Kong Country Returns é um jogo ótimo, e de fato ele é, mas a opção cooperativa parece servir mais como uma opção de dificuldade mais elevada, para um jogo que já é bastante difícil do que qualquer ideia de cooperação. A partir dessa experiência, pensei que a disponibilidade do modo multiplayer nem sempre é uma boa opção.
Modo cooperativo: um problema sem solução
Outro caso que podemos citar é o do recente Sonic Superstars, que embora seja deste ano, ainda mantém os mesmos problemas de câmera que os jogos antigos. Isso evidencia que, talvez, o problema entre títulos de plataforma rápidos e o modo cooperativo seja insolúvel. Afinal de contas, qual a lógica de jogar um jogo cooperativamente se em vários momentos simplesmente você desaparece da jogatina?
Isso para não falar da confusão que acontece quando há quatro jogadores simultâneos. Super Mario 3D World também sofre de problemas semelhantes, com o acréscimo do body-block, que é responsável por diversas mortes nos trechos mais difíceis.
Nessa perspectiva, é impressionante pensar que alguns jogos excelentes na experiência single player sejam fracos na cooperativa. Na minha opinião, é o que ocorre com Super Mario Odyssey, um dos carros-chefe para alavancar as vendas do Nintendo Switch.
A lógica de controlar o Cappy do Mario pode até soar como interessante, mas não acrescenta em praticamente nada na jogabilidade. Além disso, de um modo geral, penso que os jogos que trabalham bem o modo cooperativo distribuem bem o protagonismo para os jogadores; no caso de Mario Odyssey, a sensação realçada a todo momento para o Player 2 é a de que ele é um coadjuvante.
Mas o gênero de plataforma não é o único em que o modo cooperativo é problemático: jogos com reides às vezes também sofrem com isso. Famosas entre os jogadores de MMO, as reides são uma atividade de ataque grupal contra outro grupo de jogadores ou contra a inteligência artificial do jogo.
No entanto, a recompensa dessa atividade nem sempre é compartilhada, e, em alguns jogos, a experiência acaba indo apenas para o dono da sessão. Diablo IV, por exemplo, tem uma progressão que só é compartilhada entre os jogadores quando eles começam juntos ou estão no mesmo momento na história.
Outro exemplo é Genshin Impact, um jogo interessante, com uma história extensa, mas só oferece o modo multiplayer para atividades repetitivas, como combates com chefes e alguns desafios instanciados.
A sentença final
Se refletirmos mais profundamente sobre os jogos que têm possibilidade de serem jogados cooperativamente, vamos chegar à conclusão de que existem gêneros mais propícios para essa experiência e outros que não são. É relativamente difícil pensar em um jogo de esporte ou de corrida que funcione mal no modo multiplayer. Poderíamos também lembrar dos shoot/beat 'em up, que funcionam perfeitamente no modo cooperativo.
Em suma, acredito que a discussão está longe de ser concluída. Ao final, penso que o modo cooperativo, por pior que ele seja, ainda continua sendo uma boa opção a ser acrescentada nos jogos, já que haverá sempre alguém que goste.
Seria tirânico acreditar que uma experiência exclusivamente pessoal é compartilhada entre todas as pessoas. Por fim, lembro que, por mais difícil que tenha sido zerar o Donkey Kong Country Returns no modo “cooperativo”, o qual prefiro chamar de hardcore, as risadas que se seguiam a cada morte — e foram muitas — já valeram a experiência.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli