Análise: Yohane the Parhelion -Blaze in the Deepblue- (Switch): um “mediocrevania” com potencial subaproveitado

O título traz boas ideias, mas infelizmente não sabe aproveitá-las.

em 16/11/2023

Apesar de trazer uma conotação negativa, “medíocre” é um adjetivo que significa algo mediano, na média. Acredito que essa seja a melhor forma de descrever Yohane the Parhelion -Blaze in the Deepblue-, um metroidvania baseado na animação Yohane the Parhelion: Sunshine in the Mirror, que, por sua vez, é um spin-off de Love Live! Sunshine!!.


Quando fiz meu texto de impressões sobre o jogo, uma das principais preocupações que tive foi a curta duração da demo. Infelizmente, a versão completa também deixa a desejar no conteúdo: em menos de dez horas, mesmo com o backtracking existente no gênero metroidvania, é possível completar a história, obter todos os power-ups (tanto para Yohane quanto para suas amigas) e coletar todos os tesouros espalhados na masmorra subterrânea.

Uma aventura demasiadamente simples

Seguindo a premissa da animação em que se baseia, Blaze in the Deepblue traz a história de Yohane (cujo nome real é Yoshiko Tsushima), uma jovem que tenta sair da cidade costeira de Numazu para ganhar a vida; no entanto, uma série de desventuras a leva de volta à sua terra natal. Tudo ia muito bem até uma misteriosa masmorra emergir das profundezas do oceano, atraindo a curiosidade das amigas de Yohane: Chika, Ruby, Dia, Kanan, Hanamaru, Riko, You e Mari.

Estranhando o fato de suas companheiras não terem retornado, a excêntrica protagonista, acompanhada por sua fiel escudeira Lailaps, decide adentrar a masmorra para resgatar as desaparecidas. Infelizmente, se a história já não era aprofundada na demo, no produto completo ela também é quase inexistente. Aliás, toda a “trama” se dá por meio de diálogos entre Yohane e suas amigas e, embora eles sejam bem-humorados, não existe nenhum pano de fundo para o que está acontecendo de fato.


Tudo o que elas querem desvendar é o que levou os seres habitantes desse lugar misterioso a torná-las reféns. Nesse sentido, chega a incomodar a falta de um registro de mensagens, já que, caso um diálogo seja acidentalmente pulado, alguma explicaçãozinha, por mais ínfima que seja, acaba passando batido.

De todo modo, a narrativa consegue ser tão genérica que, se tivéssemos colocado quaisquer personagens nela, nenhuma diferença seria sentida pelo jogador. É por essas e outras que continuo acreditando que Blaze in the Deepblue se trata mais de um material promocional para a animação em que se baseia do que um jogo propriamente dito.

Mais que amigas, friends

Toda a aventura da excêntrica faz-tudo de Numazu, como Yohane é chamada por suas amigas, se baseia em explorar os diversos biomas da masmorra para achar as meninas desaparecidas, que são guardadas pelos chefes desses locais. Conforme mostrado na demo, a primeira a ser resgatada é Chika, cuja Justiceira? é capaz de atordoar brevemente inimigos e também mover blocos no meio do caminho.

Cada uma das amigas acaba desempenhando uma função para auxiliar Yohane: Riko, com sua magia de fogo, pode derreter blocos de gelo que barram o caminho; Kanan e seu sapo mecânico, Tonosama, conseguem demolir pisos frágeis; Dia desfere golpes elétricos que também podem gerar energia para iluminar algumas salas; Hanamaru sai girando pelo chão, destruindo espinhos; Ruby pode absorver temporariamente o dano causado pelo inimigo, protegendo Yohane; You arremessa a protagonista para o extremo oposto da sala com seu canhão; e Mari invoca monstrinhos capazes de causar um bom dano aos oponentes no caminho.


Apesar de interessantes, na prática as habilidades das meninas acabam servindo mais para resolver os poucos puzzles ao longo do mapa do que para enfrentar os inimigos em si. Isso se dá devido ao grande atraso entre uma invocação e outra, então usar as armas secundárias acaba sendo mais vantajoso a longo prazo.

Um ponto interessante que desperta certa curiosidade para continuar explorando cada cantinho da masmorra é a possibilidade de potencializar as habilidades das companheiras da protagonista, com exceção de Lailaps. Em especial, o poder aprimorado de Mari me foi muito útil para enfrentar o chefe final, bem como abrir algumas portas.

Elementos subaproveitados em demasia

Blaze in the Deepblue traz, como de praxe em metroidvanias, a possibilidade de criar vários equipamentos com itens obtidos ao derrotar inimigos, abrir baús e destruir certos itens dos cenários, como caixas de madeira. Inclusive, o mapa do jogo mostra onde certos tesouros valiosos estão escondidos, porém acessá-los requer power-ups específicos.

No entanto, embora as opções de armas e equipamentos sejam vastas, no fim das contas acabam compensando mais os que garantem maior poder de ataque e defesa para Yohane. O título até permite que o jogador equipe três itens simultaneamente (uma arma e dois acessórios ou armaduras), mas desbloquear esses slots tem a ver com achar o baú do tesouro correto.

Os power-ups, tanto os das amigas de Yohane quanto os da garota,  também estão espalhados pelos cenários, reforçando a necessidade de backtracking. Porém, como o mapa não indica com cores diferentes esses itens, precisamos estar preparados para revisitar os mesmos locais de novo e de novo.


Inclusive, por mais que a ideia original fosse usar os poderes especiais das garotas resgatadas para derrotar os chefes, que é algo que acontece na série Mega Man, na prática, valeu muito mais a pena usar as armas secundárias do que depender do delay entre uma invocação e outra.

A maioria dos biomas traz ainda algumas porções chamadas de “sentido único”, com várias salas seguidas que não aparecem no mapa. Para o aborrecimento de jogadores mais complecionistas, alguns dos tesouros estão dentro dessas seções específicas.

Dada a quantidade de equipamentos disponíveis para confecção, após concluir a campanha principal, eu realmente esperava por mais conteúdo ou ainda uma espécie de pós-jogo, mas, após a rolagem dos créditos, fui simplesmente jogada para a tela inicial novamente. A partir daí, as opções que eu tinha eram começar uma nova partida ou continuar do meu último salvamento — antes do chefe final; é como se Blaze in the Deepblue nem reconhecesse que derrotei esse chefão. 


Inclusive, me decepcionou um pouco não haver nem uma espécie de galeria para rever diálogos, CGs e cutscenes, já que, pelo menos na parte visual, o jogo traz uma arte agradável e diálogos bem-humorados — estes, vale ressaltar, dublados pelas atrizes de voz originais do elenco do desenho animado.

Não posso reclamar, contudo, do fator dificuldade, pois não existe um game over propriamente dito, já que, se Yohane for derrotada, o jogador é automaticamente levado à sala de adivinhações da garota, que serve como um hub no qual compramos poções e itens restauradores. É também nessa sala que a autoproclamada cartomante recebe pedidos para a recuperação dos itens perdidos de suas amigas.

O mapa conta com facilidades, já que é possível viajar entre um ponto de salvamento e outro sem a necessidade de usar itens, como o Magic Ticket da série Castlevania. Para jogadores novatos em metroidvanias, essa é uma boa tática para se acostumar melhor ao gênero.

Um carisma ofuscado pelo mais do mesmo

Ao mesmo tempo que elogio o aspecto gráfico de Blaze in the Deepblue, com bonitas artes 2D para as cutscenes e diálogos entre as personagens e uma charmosa pixel art para os cenários e sprites, também critico o visual genérico do jogo em si. A partir de um momento, todos os monstros passam a ter as mesmas características, mudando apenas suas cores e um ou outro detalhezinho aqui e ali.

Os cenários, por mais que sejam coloridos e diversos, com o passar do tempo, acabam cansando a vista, pois as salas são sempre as mesmas. Não é como se elas seguissem uma temática (por exemplo, uma gruta), mas contassem com ambientações diferenciadas.


Além disso, para uma obra baseada em Love Live!, achei que o jogo peca no aspecto sonoro. Tirando a supracitada dublagem, nem mesmo músicas da franquia são utilizadas para o sistema de ressurreição automática por meio das Partituras. É sempre a mesma canção, que serve, inclusive, como música-tema.

Claro, preciso dizer que o desempenho é excelente no Switch, tanto no modo TV quanto no portátil, aspecto que ao menos redime a jogatina, mas, no geral, temos tudo muito na média. Ao menos o jogo conta com ótima localização em português brasileiro, facilitando ainda mais sua acessibilidade.

De Love Live! mesmo, quase nada

Yohane the Parhelion -Blaze in the Deepblue- traz todo um potencial subaproveitado, seja como um metroidvania ou como um produto para fãs de Love Live!. De cenários e inimigos que cansam com o passar do tempo a poucas músicas memoráveis, os únicos pontos fortes ficam por conta das artes 2D e dos diálogos bem-humorados dublados pelo elenco original da animação.

Claro, isso não quer dizer que a aventura de Yohane não tenha seus pontos altos, especialmente funcionando como uma boa porta de entrada para iniciantes em metroidvanias, mas existem títulos melhores no mercado para os mais aficionados do gênero.

Prós

  • Sprites bem-feitos, com pixel art caprichada e colorida;
  • Cutscenes dubladas pelo elenco original da animação em que o jogo se baseia;
  • Bom uso das habilidades das amigas de Yohane para resolver puzzles no meio do caminho;
  • Diálogos carismáticos entre as personagens;
  • Boa porta de entrada para iniciantes no gênero metroidvania, especialmente a dificuldade;
  • Ótima localização em português brasileiro.

Contras

  • Cenários e inimigos repetitivos depois de um tempo;
  • Muito conteúdo subaproveitado devido à curta duração da campanha;
  • História irrelevante;
  • Sem galeria para rever CGs, cutscenes e diálogos;
  • Atraso entre uma invocação e outra das aliadas, prejudicando o uso efetivo delas;
  • Para um jogo baseado em Love Live!, as músicas são pouco memoráveis;
  • Faltou mais canções das idols em questão.
Yohane the Parhelion -Blaze in the Deepblue- — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inti Creates

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru
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