Uma narrativa empolgante nos corredores de Greifenstein
Logo após a tela inicial, que permite customizar nosso personagem, Spells & Secrets introduz o grande contexto da aventura: na pele de um bruxo aprendiz, estamos chegando pela primeira vez à Academia de Greifenstein, uma escola de magia que leva esse nome por conta de sua afinidade com os grifos, criaturas fantásticas que são metade águia, metade leão.
Lá, conhecemos a professora Amanda Ventura que, além de nos apresentar à mascote da academia, o grifo Murlein, nos leva aos aposentos dos alunos, onde devemos passar a primeira noite antes do início das atividades acadêmicas. O problema é que, no meio da madrugada, ouvimos nos alto-falantes da escola um aviso do diretor: o castelo da Academia de Greifenstein foi invadido por forças mágicas misteriosas e não é mais seguro. Inclusive, em certo ponto, presenciamos tremores que derrubam estantes e trancafiam portas dos dormitórios da escola, nos deixando momentaneamente presos em nosso quarto.
Para tanto, temos de sacar a nossa nova varinha e, com a ajuda de um pequeno livro de magia para iniciantes, aprender dois feitiços que se tornam disponíveis na gameplay: Telekinesis, para mover objetos que estão nos atrapalhando; e Magic Missile, um raio ofensivo capaz de derrotar criaturas mágicas que estão aparecendo pelos cantos da escola, como pequenas esferas de gosma, tatus-bola e guaxinins enfeitiçados.
Ao chegarmos aos jardins da escola, encontramos os professores que, mesmo apavorados com o sumiço do diretor e de Murlein, tentam impedir um misterioso personagem que os enfrenta com magias obscuras, assumindo o posto de vilão do enredo. Com base nesses acontecimentos, Spells & Secrets desenrola a sua trama, apresentando situações e personagens que buscam restaurar a paz no grandioso castelo de Greifenstein.
Premissas mágicas, em todos os sentidos da palavra
Em termos de gameplay, o título desfruta de momentos de ação exibidos a partir de uma perspectiva isométrica. Enquanto os analógicos permitem movimentar o protagonista e direcionar os raios mágicos, os botões do Joy-Con executam comandos gerais, como a abertura de portas e diálogos, e lançam as magias, que são cruciais na aventura.
Logo no início da campanha, temos a liberdade de selecionar quais feitiços queremos aprender, dentro de uma gama de três magias disponíveis: levitação, transfiguração e rajada de vento. Neste sentido, é interessante notar que essa liberdade de escolha permanece no decorrer da aventura, uma vez que podemos montar nosso próprio repertório de forma não-linear, algo bastante satisfatório.
Esses feitiços, portanto, devem ser usados nos desafios da aventura, que são ofertados por meio de estruturas roguelite: a partir do jardim da escola, podemos entrar nos aposentos do castelo para derrotar inimigos e resolver quebra-cabeças gerados proceduralmente, com salas interconectadas que devem ser completadas de uma só vez. Em caso de sucesso, concluímos um ato, que é como o jogo divide as suas fases, e retornamos aos jardins da escola, que executam a função de hub.
Lá, encontramos professores e alunos que nos passam missões, ensinam novas magias e permitem melhorias, para que possamos retornar mais fortes ao interior do castelo e concluir os novos atos. Dentro desse contexto, inclusive há a possibilidade de ingressar em facções de Greifenstein, que se dividem em quatro grandes escolas: Dreamdancer, Shinehunter, Greenguard e Fireblade, cada qual com suas cores e valores, tal qual as Casas de Hogwarts, na franquia Harry Potter.
Isso faz com que Spells & Secrets desenvolva agradáveis aspectos role-playing que contribuem para tornar seu lado roguelite ainda mais viciante: cada jogatina nos incentiva a bolar novas estratégias para vencer múltiplos inimigos e chefões misteriosos, em um sistema envolvente, ainda que às vezes seja um pouco repetitivo diante da necessidade de grinding, algo comum no gênero roguelite. Esse problema, no entanto, é um incômodo leve, ao contrário de outro grande defeito da aventura: a sua performance problemática no Switch.
A varinha pifou… E agora?
Esteticamente falando, Spells & Secrets estampa um estilo visual bonito. Com ares cartunescos, temos personagens criativos e localidades agradáveis de se explorar. O problema, no entanto, é que o desempenho gráfico deixa a desejar, com quedas bruscas e constantes nas taxas de quadros por segundo, que definitivamente atrapalham a gameplay em ambos os modos do Switch.
Ainda que a situação piore quando há muitos inimigos na tela, é intrigante notar que as variações podem ocorrer em momentos corriqueiros do jogo, como quando estamos apenas passeando nos jardins. Para piorar, quando fui encarar um dos primeiros chefes da história, o cenário foi comprometido por uma renderização inadequada, com flashes que modificavam a exibição das sombras no canto da tela.
Fora da gameplay, as animações exibidas nas cenas cinematográficas também podem apresentar uma notável falta de fluidez. Uma das primeiras cutscenes do jogo, que busca representar a transição do dia para a noite no castelo, é completamente atravancada e instável, a ponto de não entendermos o que está acontecendo. Essas falhas inclusive afetam a qualidade sonora do título, com áudios engasgados nos momentos de ação.
Outro detalhe que me incomodou envolve o menu de Spells & Secrets, que claramente foi planejado para o PC, no qual o jogador utiliza o mouse para acessar as opções. No Switch, entretanto, faz-se necessário mover um cursor com o analógico, de forma desconfortável e vagarosa. Ainda por cima, é comum esse elemento permanecer na tela quando fechamos o menu e retornamos ao jogo, o que polui a interface como um todo.
Por fim, cabe mencionar um atrativo que deixa de ser um fator positivo na medida em que está recheado de falhas, que é o modo co-op local para dois jogadores. Em minhas tentativas, presenciei diversos momentos bizarros, como bugs que impediam o uso de feitiços e até mesmo a movimentação do segundo jogador. De fato, os problemas são graves a ponto de impedir a jogatina em dupla, o que é uma lástima, pois parecia ser uma excelente maneira de vencer os exigentes desafios da aventura.
Feitiços e segredos comprometidos no Switch
Aos fãs de magia e bruxaria, Spells & Secrets oferece um prato cheio que agrada em termos de trama e de premissas de jogatina nas estruturas roguelite e RPG. Contudo, no Switch, esses fatores são prejudicados por conta do atual desempenho do jogo, que se torna menos divertido e, às vezes, até mesmo irritante. Seria incrível se, num passe de mágica, os problemas fossem consertados por meio de atualizações, uma vez que há muito potencial e criatividade escondido no castelo encantado da Academia de Greifenstein.
Prós
- Uma narrativa repleta de mistérios e bruxaria;
- Jogabilidade divertida, com uma boa variedade de magias, melhorias e estratégias;
- Interessante formato de jogatina que mescla progressão roguelite e traços de RPG;
- Os visuais cartunescos são charmosos;
- A temática no estilo escola de magia e bruxaria ainda é capaz de empolgar.
Contras
- A gameplay é prejudicada por uma performance instável, com quedas bruscas na taxa de quadros por segundo;
- Algumas cenas cinematográficas sofrem com falta de fluidez;
- Elementos visuais e sonoros com erros de carregamento;
- Os menus são penosos de se manusear, com um cursor que atrapalha as interfaces;
- Eventualmente a gameplay pode se tornar repetitiva diante da necessidade de grinding.
Spells & Secrets — Switch/PS5/XBX/PC — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Merge Games