Com uma animação prestes a estrear na Netflix, Onimusha está voltando aos holofotes. A série da Capcom, que deixou uma marca inesquecível nos corações dos fãs durante a era do PlayStation 2, é constantemente lembrada com grande carinho, o que se intensificou nos últimos meses com os trailers divulgados sobre o anime.
O que muitos talvez não saibam é que, antes da versão remasterizada de Onimusha: Warlords aterrissar no Switch, a franquia já havia feito uma aparição em uma plataforma passada da Nintendo. Trata-se de Onimusha Tactics, um spin-off no formato de RPG estratégico lançado há duas décadas para o Game Boy Advance.
Um descendente Oni na luta contra o rei dos Genma
Tal como nos títulos principais da série, a trama de Onimusha Tactics desenrola-se no cenário fascinante do Japão feudal, com o lendário Nobunaga Oda liderando um grupo demoníaco conhecido como Genma. Utilizando seus poderes para conquistar o país, ele se depara com a única pessoa capaz de detê-lo: Onimaru, um jovem que possui o sangue dos Oni, outra raça mística da mitologia japonesa.
Ao lado de sua irmã, Oboro, e de diversos outros aliados notáveis, como Kotarō Fūma e Mitsuhide Akechi, nosso protagonista parte em uma jornada épica para derrotar o rei dos demônios. Embora a história compartilhe alguns elementos e referências com a série principal, ela não exige nenhum conhecimento prévio da franquia, podendo ser desfrutada de forma independente.
Infelizmente, o enredo de Onimusha Tactics é pontuado por algumas conveniências narrativas. Um grande exemplo disso é o uso recorrente do mestre do protagonista, Sandayu, para fornecer informações sobre novos acontecimentos e estabelecer o nosso próximo destino. É como se esse indivíduo estivesse em todo lugar e soubesse de absolutamente tudo, o que prejudica bastante a imersão.
Contudo, o jogo conta com um elenco de personagens interessantes e algumas situações que prendem nossa atenção, principalmente nos momentos em que emprega o bom humor ou que explora uma circunstância difícil vivenciada por algum aliado.
Um RPG estratégico que (quase) não requer estratégia
Conforme o nome sugere, Onimusha Tactics é um RPG tático. Como é comum nesse gênero, as batalhas ocorrem em espécies de tabuleiros, nos quais podemos selecionar os espaços para mover nossos personagens e realizar as ações de ataque. No entanto, o jogo é notavelmente linear e carece de muitas das funcionalidades básicas encontradas em outros títulos dessa espécie.
Por exemplo, não há diferenciação de danos com base no terreno ou na posição dos personagens. Isso significa que, independentemente da altura em que um arqueiro esteja posicionado, não haverá qualquer tipo de vantagem. Além disso, é impossível atacar um inimigo pelas costas, uma vez que, ao se posicionar atrás de um adversário, ele automaticamente se vira de frente para nós.
A capacidade de mudança de classes também está ausente, com cada indivíduo limitado a um tipo específico de equipamento. Ou seja, um guerreiro não pode utilizar nenhuma outra arma que não seja uma espada durante todo o jogo. Além disso, as habilidades são bastante restritas, com os heróis que possuem ataques mágicos dispondo de um valor extremamente baixo de pontos de magia, o que dificulta o uso dos golpes especiais.
Já em relação à progressão da campanha, o game segue por um caminho completamente linear, com batalhas sendo realizadas uma após a outra. Não há a possibilidade de visitar regiões antigas, cidades, lojas ou qualquer local que não sejam os campos de guerra que surgem sequencialmente, algo semelhante ao que era visto nos primeiros títulos da franquia Fire Emblem.
Assim, o gerenciamento dos equipamentos dos heróis fica acessível apenas no início de cada confronto. Nesses momentos, o jogador pode criar e fortalecer armas e armaduras, bem como fabricar itens de recuperação, o que requer o uso de pontos de almas e matérias-primas que são obtidas derrotando inimigos. Além desses recursos e dos tradicionais pontos de experiência para aumentar os níveis dos heróis, vencer oponentes também nos fornece novas receitas de fabricação.
Apesar das limitações, há aspectos interessantes
Mesmo quando comparado a sistemas simplificados de batalhas, como o presente no bom Digimon Survive, Onimusha Tactics se mostra extremamente mais limitado; no entanto, existem elementos notáveis que o mantém a salvo da coluna Blast from the Trash. Neste sentido, embora grande parte das disputas seja fácil e não exija muito além de ir com tudo para cima dos inimigos, há alguns confrontos que demandam mais esforço e raciocínio.
Como exemplo, existe uma dupla de chefes que, além de infringirem um bom dano, iniciam em pontos totalmente opostos do mapa. O complicado é que, se um deles morre, o outro o ressuscita no turno seguinte, obrigando o jogador a derrotá-los em um único turno. Outro boss interessante permanece em constante fuga pelo cenário enquanto invoca criaturas que causam efeitos de confusão em nossos heróis.
Os capítulos finais também apresentam confrontos desafiadores, incluindo chefes com saúde que vão muito além do limite de 999 e ataques capazes de eliminar instantaneamente os personagens, com a observação de que a luta termina quando Onimaru é derrotado.
Ainda vale mencionar a existência da área chamada Phantom Realm, composta por 16 batalhas consecutivas nas quais os heróis permanecem nas mesmas condições de um andar para o outro. Isso quer dizer que, ao vencer um piso, a vida, os pontos de habilidade e os itens de recuperação que foram utilizados não são restaurados.
Esta peculiaridade exige um planejamento prévio por parte do jogador e concede um grau de dificuldade agradável. Além de ser uma ótima maneira de acumular almas para criar e fortalecer equipamentos, vencer o Phantom Realm nos recompensa com um personagem especial muito poderoso, sendo esse o melhor atrativo para superar o desafio.
Finalmente, preciso elogiar os sprites 2D que o jogo apresenta, que são bem atraentes e estão de acordo com os jogos do Game Boy Advance. Além disso, os modelos animados que representam os personagens nas caixas de diálogos também merecem destaque, pois mudam de acordo com a situação, o que ajuda a dar mais peso ao fato que está ocorrendo naquele momento na campanha.
Talvez uma boa porta de entrada para iniciantes no gênero
Com duelos interessantes muito esporádicos e restrições significativas em termos de sistemas e variações táticas, Onimusha Tactics pode não atrair jogadores experientes no gênero. No entanto, para aqueles que desejam iniciar em RPGs táticos e se sentem intimidados pela complexidade, este jogo pode ser uma porta de entrada interessante.
Pessoas que gostam apenas de seguir a história e não suportam a prática do grinding também encontrarão valor aqui, uma vez que é possível concluir o game sem entrar no Phantom Realm, contanto que os personagens sejam devidamente fortalecidos com os recursos adquiridos durante a campanha principal.
Nesse sentido, mesmo sendo abarrotada de inúmeras conveniências narrativas, a jornada de Onimaru é interessante o suficiente para nos manter entretido durante todo o jogo. Além disso, a maioria dos indivíduos que se juntam ao time possui um contexto intrigante que é eficaz em despertar certa empatia no jogador.
Onimusha Tactics não alcança o patamar dos brilhantes jogos principais da franquia e nem dos grandes exemplares de RPGs táticos, o que pode deixar insatisfeitos aqueles que já estão habituados a esse gênero. Todavia, ele oferece uma experiência divertida para quem busca algo mais simples e direto, especialmente aos jogadores com pouca experiência em títulos desse tipo.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli