Análise: ANGEL WHISPER - The Suspense Visual Novel Left Behind by a Game Creator. (Switch): um ótimo remake ofuscado por uma péssima performance

A visual novel de 1999 ganha novos ares, mas deixa a desejar em termos de desempenho.

em 02/10/2023

Visual novel é um gênero popularmente nichado, embora o Ocidente tenha recebido bons títulos nos últimos anos. Inclusive, alguns que estavam restritos ao mercado japonês, como a duologia Famicom Detective Club (The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind), Akai Ito e Aoi Shiro, mesmo com suas respectivas ressalvas, são excelentes adições à biblioteca do Switch, tanto para fãs de VNs quanto para aqueles que desejam conhecer mais sobre o gênero.


A revitalização de obras (antes exclusivamente) nipônicas não para por aí: 24 anos após seu lançamento, ANGEL WHISPER - The Suspense Visual Novel Left Behind by a Game Creator., ou apenas ANGEL WHISPER, recebe um remake para o console híbrido da Nintendo. Trata-se de um jogo tido como obscuro até mesmo no Japão, mas que chama atenção por sua metanarrativa; infelizmente, o desempenho do software é sua principal falha, atrapalhando uma campanha que tem de tudo para angariar fãs de suspense no geral.

Child Dream, Remsoft e Hiroaki Yushima

A história de ANGEL WHISPER começa com a suposta filha de Hiroaki Yushima pedindo ajuda para descobrir o motivo por trás do sumiço de seu pai. Para isso, ela convida o jogador a revisitar os passos do homem, cujo dia a dia é narrado na própria visual novel.

A trama se desenrola no ano de 1998, quando Yushima é subitamente contratado pela empresa Remsoft para desenvolver, junto à famosa equipe Lunatics, um jogo baseado em Angolmois, uma das profecias de Nostradamus. A princípio, a função do recém-contratado seria de desenvolvedor criativo, porém Saizuki, o líder da Lunatics, logo veta o envolvimento de Yushima e dos demais funcionários da Remsoft no jogo principal.


Sendo assim, o protagonista e seus colegas rejeitados, ao lado de Denny Yamamura, um conceituado artista no ramo, e Yuri Urushibara, famosa compositora, fundam a equipe Spiral Games, encarregada de criar uma espécie de conteúdo adicional para o jogo principal. Dessa forma, surge o projeto que dá nome à visual novel desta análise, que deve ser concluído em tempo para as vendas de final de ano.

No entanto, quanto mais Yushima se envolve no projeto e com sua equipe, mais coisas estranhas começam a acontecer com o protagonista e os funcionários da Remsoft. Esses acontecimentos, que se manifestam como dores de cabeça, tonturas e até mesmo mortes, levam ao dito sumiço de Yushima.


Quero deixar claro que eu nunca tinha ouvido falar de ANGEL WHISPER antes de ver o anúncio do remake para Switch. Também nunca tive nenhum acesso a jogos da Child Dream, a desenvolvedora original deste título peculiar, e muito menos sei quem é Hiroaki Yushima, a mente por trás do projeto.

Curiosamente, no site VNDB, é dito que o próprio Yushima é o personagem principal da trama original; porém, não tenho como confirmar isso com meu conhecimento limitado acerca do jogo em questão. De todo modo, mesmo sem ter tido um contato prévio, afirmo que temos aqui uma ótima narrativa, capaz de prender do início ao fim — tudo isso enquanto revisitamos os dois últimos anos do século XX.

Uma ótima experiência que merecia mais polimento

Dentro de seu gênero, ANGEL WHISPER traz todas as ferramentas necessárias para uma boa experiência durante a campanha: velocidade de texto; log de diálogos; salvamento e carregamento de jogo; e funções de auto e skip, que ficam sob um menu que pode ser aberto por meio dos botões + e - dos Joy-Con. Além de esses comandos virem mapeados por padrão, o jogador pode contar com a tela sensível de toque do Switch para avançar nos textos e fazer as escolhas quando necessário.

Outro ponto interessante da campanha é a necessidade de explorar locais em Tóquio e na Remsoft, além de explorar outras alternativas de diálogos, como na screenshot abaixo. Sendo assim, podemos dizer que ANGEL WHISPER contém porções de um jogo de aventura, enriquecendo ainda mais a experiência proporcionada conforme avançamos na trama. Uma adição exclusiva do remake, conforme a página do título na eShop, é a opção de dicas (Hint) para evitar que o jogador fique preso nessas partes.


Determinados trechos fazem ainda uso da metanarrativa mencionada na abertura desta análise, nos obrigando investigar e-mails, sites na internet e o diário eletrônico de Yushima, às vezes até visitando seu subconsciente. É importante ressaltar que algumas entradas estão bloqueadas por senhas, que devem ser descobertas ao longo da leitura e, quando necessário, digitadas por meio do teclado virtual do Switch; salvo as diferenças, essas intervenções que mesclam jogo e realidade me fizeram lembrar de Doki Doki Literature Club.

Em termos visuais, temos uma interessante mescla de cenários compostos por fotografias reais e personagens desenhados no clássico estilo mangá. O remake segue fielmente o estilo do lançamento original, porém toda essa parte gráfica foi atualizada para melhor atender aos padrões de 2023.


A trilha sonora também traz uma qualidade ímpar, capaz de transmitir muito bem todo o suspense e drama, bem como as passagens mais leves e divertidas, presentes na trama. As músicas escolhidas em nenhum momento passam a sensação de repetição, muito menos cansam. É uma pena que o jogo não possua dublagem, mesmo que em japonês, para contribuir ainda mais com a imersão proporcionada.

Infelizmente, todos esses inúmeros pontos positivos são ofuscados por um desempenho lamentável no Switch. São constantes os engasgos, atrasos textuais e leves travamentos, especialmente em transições de cenas e nas porções de “exploração”. Essa péssima performance afeta a jogatina tanto no modo TV quanto no portátil, sendo várias as vezes em que pensei que o software tinha travado.

Para completar, ANGEL WHISPER traz apenas inglês e japonês como idiomas. Enquanto a localização ocidental seja perfeitamente entendível, diferentemente do trabalho feito em Akai Ito e Aoi Shiro, ela não é à prova de erro: existem alguns raros probleminhas em pontuação e na grafia de nomes (que ora aparecem no padrão ocidental de nome + sobrenome, ora no oriental de sobrenome + nome) e de outras palavras, mas não são exatamente prejudiciais à experiência.

Uma experiência metanarrativa para fãs de suspense

ANGEL WHISPER - The Suspense Visual Novel Left Behind by a Game Creator. é um prato cheio tanto para quem já está acostumado com visual novels quanto para quem aprecia uma trama bem-escrita que abusa do suspense e de elementos de metanarrativa para prender a atenção do início ao fim.

Com todas as qualidades de vida que um jogo do gênero precisa ter, este remake de um título esquecido no Japão de 1999 é mais uma excelente adição à biblioteca do Switch, mesmo com uma performance que precisa ser revista com certa urgência.

Prós

  • Excelente uso de elementos de metanarrativa para construir uma atmosfera imersiva;
  • Trama pautada em suspense bem-escrita, capaz de prender do início ao fim;
  • Atualização de gráficos para os padrões de 2023, mas mantendo a ideia do lançamento original de 1999 de mesclar arte em estilo mangá para os personagens e cenários compostos por fotos reais;
  • As porções de investigação trazem um toque de aventura à visual novel;
  • A trilha sonora contribui ainda mais com a experiência proporcionada;
  • Todas as ferramentas de qualidade de vida de uma visual novel estão presentes .

Contras

  • Performance lamentável no Switch, tanto no modo TV quanto no portátil, ocasionando engasgos, atrasos textuais e leves travamentos;
  • Não possui dublagem, nem em japonês;
  • Sem localização para o português;
  • Alguns deslizes na digitação dos textos em inglês, em especial inconsistências no modo como os nomes dos personagens são apresentados, ora no padrão ocidental de nome + sobrenome, ora no oriental de sobrenome + nome.
ANGEL WHISPER - The Suspense Visual Novel Left Behind by a Game Creator. — Switch — Nota: 7.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Mamekujira
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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