Análise: Fate/Samurai Remnant (Switch): uma aventura feudal que não deixa a desejar

Até quem não conhece Fate pode aproveitar este incrível RPG de ação, embora apresente alguns problemas técnicos no console da Nintendo.

em 13/10/2023
Em um ano marcado pela presença de RPGs, tanto de grandes quanto de pequenas desenvolvedoras, Fate/Samurai Remnant chegou como uma aposta da Koei Tecmo para a reta final de 2023. Lançado para múltiplas plataformas no último dia 29 de setembro, o RPG de ação transporta o conceito da franquia Fate, da Type-Moon, para o Japão feudal do ano de 1651; embora com alguns pequenos problemas de performance no Switch, Fate SR é uma ótima pedida para quem gosta de narrativas bem-construídas e ação desafiadora.

De repente, um Mestre

1651 marca o quarto período da era Keian, período histórico no qual Fate/Samurai Remnant se passa. Não é incomum encontrarmos pelo Japão os ronins, samurais sem mestre, e o protagonista Miyamoto Iori é um deles. O jovem, que também é discípulo do lendário Miyamoto Musashi, usa sua técnica com espadas para se sustentar, mas ele é adepto de um estilo de vida pacífico e não vê necessidade em matar pessoas.

No entanto, certa noite, Iori é atacado por uma figura misteriosa, mas o ronin é protegido por Saber, espadachim de identidade desconhecida que logo se diz Servo (Servant) do personagem principal. Iori, que agora se transformou em um Mestre (Master), se vê no meio de um conflito muito maior: o Ritual da Lua Crescente (Waxing Moon RItual), que ameaça colocar o período pacífico em xeque.


Mesmo sem entender muito sobre o Ritual e a relação entre Mestres e Servos, a dupla decide se aventurar por Edo com o objetivo de vencer esse desafio. Ao todo, Iori e Saber devem derrotar outras seis duplas, porém os Servos Errantes (Rogue Servants) também foram transportados para o grande centro do conflito — e criar alianças com esses Espíritos Heroicos (Heroic Spirits) se torna imprescindível para vencer o Ritual, cuja premiação é ter um desejo atendido.

Para quem já está acostumado com a franquia Fate, logo de cara perceberá que a história de Fate SR segue a mesma linha de raciocínio, sendo o Waxing Moon RItual uma releitura da guerra pelo Santo Graal. No entanto, mesmo sendo parte do mesmo universo, com figuras conhecidas marcando presença na trama, o RPG de ação da Koei Tecmo é uma excelente porta de entrada para quem não tem tanta familiaridade com o universo de Fate (como é o meu caso), além de ser um título standalone e de fácil entendimento, não necessitando nenhum conhecimento prévio para ser aproveitado.


É importante ressaltar esse detalhe, pois a narrativa tem um grande peso no desenrolar da trama, assim como acontece nas outras obras Fate. Os conflitos apresentados na campanha nunca são de simples resolução e existem muitos detalhes minuciosos, na maioria das vezes apresentados como Digressões (Digressions), que devem ser levados em consideração conforme o jogador avança na história, porém esses e outros aspectos do jogo em si serão apresentados mais adiante nesta análise.

Apesar de bem-executada, a trama tem alguns probleminhas narrativos, como eventos sendo apresentados de maneira pouco satisfatória e personagens excessivamente caricatos em alguns momentos, às vezes quebrando a seriedade que Fate SR tenta passar. Mesmo com esses tropeços, temos aqui uma excelente narrativa, com direito a reviravoltas e passagens cheias de tensão, para ninguém colocar defeito.

Dominando o estilo Niten Ichiryu

A Koei Tecmo é bastante conhecida no ramo de jogos hack ‘n’ slash (musou), sendo esse o principal atrativo do sistema de combate de Fate SR. Temos, nos embates, diversos inimigos que Iori e Saber precisam enfrentar simultaneamente, alguns requerendo estratégias específicas para serem derrotados.

Para viver de sua espada, o jovem discípulo de Musashi conta com o estilo Niten Ichiryu, que consiste em dominar cinco posturas (stances) diferentes: Água (Water), para combates mais ágeis; Terra (Earth), focado em defesa; Vento (Wind), que causa mais dano às criaturas sobrenaturais atraídas pelo Ritual; Fogo (Fire), que potencializa os movimentos de Iori à medida que ele perde vida (HP); e, por fim, Vazio (Void), que funciona como o oposto de Fogo.


Essas posturas, com exceção de Vento, são desbloqueadas ao avançar na história e cada uma conta com suas próprias árvores de habilidades, melhorando ainda mais o desempenho de Iori nos combates. É interessante notar, ainda, que o jovem ronin pode alterar de estilo durante as lutas (e algo que o próprio jogo incentiva a fazer), ganhando efeitos secundários chamados de Afterglow, que variam de acordo com a postura anterior. 

Para além das técnicas com suas espadas, Iori conta ainda com magias, que gastam gemas (gems) para serem utilizadas, e as habilidades de seus Servos aliados, como Saber — e até mesmo trocando de lugar com eles momentaneamente durante os combates. No entanto, contar com a ajuda dos Espíritos Heroicos requer afinidade, que é obtida conforme desferimos golpes nos inimigos.


Porém, de todas as habilidades existentes no repertório de Iori, considero Riposte a mais interessante. Trata-se de um poderoso contra-ataque que só pode ser executado se o protagonista se desviar no momento ideal de um golpe inimigo; para isso, o jogador é forçado a memorizar os diferentes padrões dos oponentes.

Com todas essas principais características apresentadas, que são intuitivamente explicadas e aprofundadas no próprio jogo, temos um sólido sistema de combate que pode ser moldado conforme as necessidades do jogador. Dessa forma, Fate SR pode ser tão desafiador como os conceituados musou da Koei Tecmo ou simplesmente uma aventura mais casual para quem quer conhecer essa releitura da guerra pelo Santo Graal.

Levando Saber para passear (e outras atividades também)

Diferentemente dos consagrados hack ‘n’ slash da desenvolvedora, Fate SR se baseia muito mais na exploração de Edo do que nos combates em si. Para incentivar a visita às diversas cidades, existem pequenas missões secundárias que recompensam o jogador com um pouco de dinheiro e itens úteis, como joias de habilidades (skill jewels), que podem ser utilizadas por personagens para adquirir pontos de habilidades (skill points ou simplesmente SP), comidas para regenerar o HP e novas peças para as espadas de Iori.

Por falar nelas, o sistema de Mounting é outro ponto alto de Fate SR, permitindo que o jogador crie diversas combinações de efeitos para facilitar Iori nos combates. Inclusive, uma das melhorias da Oficina (Workshop) na residência do ronin permite que sejam feitos upgrades nesses equipamentos, potencializando seus efeitos secundários ou até mesmo permitindo que eles sejam trocados aleatoriamente.


Embora existam diversas atividades que Iori e Saber possam realizar nas cidades e na residência do protagonista (como esculpir estatuetas em madeira), talvez as mais interessantes sejam as disputas territoriais. Ao se conectar às chamadas leylines, linhas de energia espiritual que conectam as áreas de Edo, temos uma jogabilidade que se assemelha (em partes) a uma partida de xadrez. Aqui, basicamente devemos realizar movimentos precisos e limitados para avançar pelo campo e chegar ao destino, sendo possível também utilizar de técnicas que favoreçam nosso avanço, chamadas de Earth Arts, bem como pedir ajuda dos Servos em determinados momentos.

Para não me alongar demais nesta análise, novamente parabenizo o excelente tutorial que o jogo dispõe sobre todas as atividades que são desbloqueadas conforme avançamos na aventura, mesmo que algumas delas, infelizmente, acabem sendo pouco utilizadas ou subaproveitadas, como é o caso das leylines.

Superando as limitações técnicas do Switch

Como era de se esperar, Fate SR apresenta alguns probleminhas de performance no console híbrido da Nintendo, curiosamente mais aparentes no modo TV; porém, mesmo com eventuais quedas na taxa de quadros durante as explorações, não senti que o combate — a parte mais importante deste RPG, diga-se de passagem — tenha sido afetado por esses percalços. Minha única ressalva, neste contexto, é o problema com a câmera durante a ação propriamente dita, um mal que assola todo e qualquer musou, mas, felizmente, não é algo recorrente.

Apesar de os modelos 3D terem recebido um perceptível downgrade em relação às outras plataformas, dadas as limitações de hardware do Switch, Fate SR é agradável de jogar tanto no modo TV quanto no modo portátil, um feito louvável para o console em questão. Desse modo, jogadores que preferirem a portabilidade ao conforto de jogar em casa não sairão perdendo em termos de qualidade, algo que, infelizmente, não aconteceu em outros jogos, como Death end re;Quest (sendo sua sequência ainda mais lamentável).

Fora os aspectos técnicos, Fate SR impressiona com excelentes trilha sonora e dublagem integral em japonês. Se existe apenas uma ressalva aqui é a falta de legendas em português para abraçar um público-alvo ainda maior, já que o RPG conta com uma carga narrativa pesada — porém igualmente prazerosa para quem estiver disposto a encará-la.

Um Fate para fãs e novatos

Fate/Samurai Remnant, embora seja vítima da performance técnica do Switch, é mais uma excelente pedida de RPG recém-adicionada à biblioteca do console. Com uma narrativa densa e que faz jus à consagrada franquia da Type-Moon, aliada a diferentes sistemas que enriquecem o combate e a exploração de um Japão feudal reimaginado, temos aqui uma aventura que tanto fãs assíduos de Fate quanto novatos podem aproveitar sem medo.

Prós

  • Excelente releitura da guerra pelo Santo Graal, enriquecida pela trilha sonora e uma narrativa bem-construída que ajudam na ambientação de um Japão feudal reimaginado;
  • Combates complexos, especialmente pela presença da técnica Riposte, que recompensam o jogador por sua performance;
  • O sistema de posturas do estilo Niten Ichiryu, de Iori, e a possibilidade de contar com magias e habilidades dos Servos traz diferentes abordagens às lutas;
  • As várias mecânicas presentes no jogo, como explorar as cidades, melhorar as espadas de Iori e obter melhorias por meio da Oficina, enriquecem a experiência e a imersão proporcionadas pelo jogo;
  • Competente tutorial que detalha todos os sistemas do jogo conforme eles vão sendo apresentados;
  • A disputa territorial por meio das leylines adiciona uma boa camada estratégica ao jogo em certos momentos;
  • Performance satisfatória tanto no modo TV quanto no portátil do Switch;
  • Ótima dublagem integral em japonês.

Contras

  • Perceptíveis quedas na taxa de quadros em alguns momentos, mas que felizmente não afetam os combates;
  • Downgrade nos modelos 3D para melhor performance gráfica no Switch;
  • Alguns sistemas são subaproveitados, como é o caso das leylines;
  • Em dados momentos, a seriedade da trama é quebrada pelo comportamento dos personagens e inconsistências narrativas;
  • Como o jogo tem uma alta carga de leitura, a falta de legendas em português pode tornar a experiência cansativa.
Fate/Samurai Remnant — PC/PS5/PS4/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo
Siga o Blast nas Redes Sociais

Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).