Resenha: Tartarugas Ninja: Caos Mutante é uma ótima versão moderna do universo criado por Eastman e Laird

Com uma temática pautada em inclusão, o longa agrada tanto a fãs de longa data quanto aos mais atuais.

em 13/09/2023
O universo das Tartarugas Ninja foi criado em 1984 e já passou por várias mídias, releituras e adaptações. Prova disso é sua mais recente animação, Tartarugas Ninja: Caos Mutante, que estreou nos cinemas brasileiros em 31 de agosto. Neste longa, os personagens icônicos criados Kevin Eastman e Peter Laidman passam por mais uma repaginada em seus visuais e personalidades, mas continuam salvando Nova Iorque antes da hora do jantar.

Humanos e mutantes são mais semelhantes do que parecem

A princípio, Caos Mutante parece ser mais uma de muitas histórias de origem de super-heróis. Em essência, somos (re)apresentados a Leonardo, Raphael, Donatello e Michelangelo, que foram adotados por mestre Splinter após as tartarugas e o rato serem atingidos por uma misteriosa gosma que os transformou em animais antropomórficos mutantes.

Desta vez, mestre Splinter nos aparece como a figura paterna das tartarugas, demonstrando (talvez exageradamente) cuidado com seus filhos quelônios. O roedor tenta a todo custo protegê-los do contato com os humanos, já que foram excluídos pela sociedade uma vez, e Splinter teme que seus filhotes sofram com a rejeição novamente.

No entanto, nossos amigos cascudos têm outros planos: sempre que podem, dão aquela escapadinha para participar de atividades que incluem a presença de grupos de humanos, como ver um filme ao ar livre em uma universidade. Quando a trupe conhece April O'Neil, no entanto, a ideia dos jovens é convencer não apenas seu pai, mas também toda a humanidade de que mutantes podem ser muito legais.

Apesar de apresentar uma premissa um tanto quanto clichê, Caos Mutante surpreende com sua abordagem divertida, mas que ao mesmo tempo conversa muito bem com temas sensíveis, como o não pertencimento, amadurecimento e intencionalidade das ações dos personagens.


As tartarugas inicialmente apresentam um comportamento típico de adolescente “meu-pai-não-me-entende”, que é um dos pontos interessantes da apresentação dos personagens, mas, ao longo da trama, elas acabam por amadurecer essa ideia juntamente com o próprio Splinter, que consegue se aproximar de seus filhos e compreendê-los melhor a partir das consequências das ações tomadas por todos em algum momento do filme.

Além disso, chama a atenção April ser apresentada como uma estudante colegial e negra cujo sonho é ser jornalista, em vez da repórter branca e ruiva apresentada no material original. O mais legal ao trazer esta abordagem adolescente da personagem é o fato de ela sofrer bullying na escola devido a problemas relacionados à ansiedade, algo pelo qual eu e Thais também passamos em nossa adolescência — e que muitas pessoas tiveram e têm que enfrentar.

Uma pena que, individualmente, pouco vemos desse mesmo aprofundamento, estando limitados a uma visão de Leonardo como o mais responsável; Donatello segue o estereótipo de fã da cultura asiática (mangás, animês e K-pop), com direito a óculos que o deixaram bem bonitinho, na minha opinião; Raphael é o mais forte fisicamente e bem esquentadinho; e Michelangelo é o típico personagem mais bem-humorado e que manda ver na improvisação. Mesmo com essas personalidades já manjadas há décadas, não há nada aqui que, de fato, prejudique o aproveitamento geral da história, que claramente tem uma pegada mais voltada ao público infantojuvenil da era da internet.

No fim das contas, parece que tudo se encaixa muito bem na trama e todos acabam cumprindo seu propósito maior, fazendo com que o longa funcione muito bem como uma história que tem uma proposta que promete fluidez e velocidade a todo momento.

Muita ação, rock e hip-hop

Essa sensação de rapidez se traduz, inclusive e principalmente, na parte audiovisual de Caos Mutante, que, aliás, enche os olhos e ouvidos com muita maestria. Toda a estética de uma Nova Iorque repleta de liberdade e vida é mostrada por um visual com uma pegada bem Aranhaverso, que deixa à mostra seus rabiscos, grafites e cores vibrantes que combinam muito bem com toda proposta de marginalidade a que são submetidos nossos protagonistas.

É impossível desviar os olhos da tela com tanta coisa acontecendo simultaneamente, mas a estética consegue ser, ao mesmo tempo, incrivelmente vibrante com suas cores e obscurecida por suas sombras, o que casa muito bem com a ideia de focar na adolescência das tartarugas, uma fase repleta de descobertas e sentimentos conflitantes. Dessa forma, a animação cumpre mais uma vez com seu papel de mídia que nos entretém e traz temas com os quais lidamos no nosso dia a dia, fazendo com que os espectadores consigam se identificar com os personagens na telona, sejam eles mocinhos ou vilões.


Trent Reznor e Atticus Ross, da banda Nine Inch Nails, também fizeram um excelente trabalho com a trilha da obra. Os músicos conseguiram introduzir um ritmo rápido sempre que foi necessário, mas suficientemente dramático para os momentos de conflito. 

As cenas de luta foram brilhantemente embaladas por trilhas tão vibrantes quanto a ação visual, o que torna difícil desgrudar os olhos da tela e não se deixar embalar e vibrar por toda a movimentação ninja de nossos heróis.  Para quem quiser ter uma ideia, a trilha sonora do filme está disponível online.

O filme legendado também vale a pena

Optamos por assistir ao filme legendado, o que parece ser um pouco difícil para cinemas em algumas cidades do Brasil; no entanto, dado o caráter de Caos Mutante, é compreensível que a maioria das redes de cinema esteja priorizando a dublagem nacional. Em inglês, conseguimos apreciar os personagens ganhando vida nas vozes de atores conhecidíssimos como Jackie Chan (Splinter), Paul Rudd (Mondo Gecko) e John Cena (Rocksteady), bem como dos músicos Ice Cube (Superfly), Post Malone (Ray Fillet) e outros nomes de peso.

Nesta versão, todos os personagens foram incrivelmente transportados para as telonas, com vozes que combinam com as personalidades propostas e essências já conhecidas pelo público mais velho. A qualidade das legendas, especialmente a localização de expressões idiomáticas, é outro ponto positivo para quem quiser conferir a animação em seu áudio original, não deixando nada a desejar neste aspecto.

Adolescentes salvando a cidade antes da hora do jantar

Em suma, Tartarugas Ninja: Caos Mutante surge como uma excelente oportunidade para reunir os amigos e familiares para conhecer mais uma versão da origem dos répteis artistas marciais mais famosos da cultura pop da atualidade.

Sem abrir mão da ação típica da franquia, que é embalada por muito rock e hip-hop, a animação combina humor, drama e comédia na medida certa, acertando também na abordagem de temas mais sérios, como o bullying e a sensação de não pertencimento, que estão presentes no nosso cotidiano.


Coautoria: Thais Santos
Revisão: Davi Sousa
Imagens: trailers oficiais do filme
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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