Jogos que ainda queremos ver no Switch — Parte 4: first party Nintendo

Retrocompatibilidade é ideal em uma mídia completamente dependente de aparelhos tecnológicos, mas relançamentos também são importantes.

em 15/09/2023

O Switch se tornou rapidamente o sucessor espiritual do Wii U. Além de aprimorar o conceito de tela portátil, herdou quase todos os jogos da empresa feitos para aquele console. Poderíamos até trocar a palavra ”sucessor”, que descreve o sentido cronológico de um vir após o outro, por “substituto”, uma novidade que deixou claro que o predecessor seria obsoleto dali em diante.

É muito fácil concordar com essa atitude quando pensamos que o primeiro ano do Switch alcançou o total de vendas de meia década do Wii U, além de praticamente enterrar as vendas do irmão mais velho assim que foi lançado. A mudança de geração não foi sequer uma transição, mas uma aposentadoria compulsória que teve como prêmio de consolação o cumprimento da promessa de lançar The Legend of Zelda: Breath of the Wild no console antigo.



Como a nova casa da Nintendo, o híbrido mostrou-se um substituto completo, apagando, com um suspiro de alívio, o maior fracasso comercial da companhia. Agora, com os rumores de um possível sucessor para 2024, podemos ver o quão longe ele foi e nos perguntar até onde ainda irá.

Para o inevitável próximo console, o que mais espero é que seja uma máquina que pareça dar sobrevida ao Switch em vez de de substituí-lo. Suponho que a Nintendo deseje um sucessor que mantenha a continuidade do terceiro videogame mais vendido de todos os tempos, como se fosse apenas uma troca de hardware, mas não de alma.

De minha posição de jogador, isso é traduzido em uma palavra: retrocompatibilidade. Nos primeiros anos, o conceito é um grande facilitador a transição para a geração seguinte. Permitir que o público leve sua biblioteca completa consigo é uma estratégia para gerenciar o apego emocional e incentivar a legião de gamers do Switch a abraçar a novidade sem medo nem dor. Como bônus, ainda continuar vendendo jogos passados sem precisar adaptá-los para mais um relançamento, é claro.
Os rumores da remasterização de Metroid Prime só se concretizaram com o primeiro título da trilogia. Será que veremos o restante?
Foi movido por esse pensamento que escrevi as quatro listas de jogos que ainda quero ver no Switch. Não faria muito sentido levantar uma multidão de jogos se os meses até a aposentadoria já estivessem contados. Ao contrário, a máquina pode ir embora em paz quando seus títulos permanecem na ativa. É o que desejo.

Assim, vejamos a seguir alguns jogos desenvolvidos ou publicados sob a tutela da dona Nintendo ao longo dos anos — o mais antigo vai fazer trinta anos em breve. Com poucas exceções, deixo os desejos de novos catálogos para o Nintendo Switch Online para um futuro possível, em um ambiente mais adaptado ao DS e 3DS.

Também não estou falando de remakes. Gostaria de ver os títulos abaixo do jeito que são, otimizados à total capacidade do hardware. A questão de quanto custariam esses relançamentos não vem ao caso aqui — o assunto já foi abordado em artigos do início do ano.

Para nossa lista, começaremos com o óbvio: Mario.

Super Mario Galaxy 2


A maior falha na coletânea Super Mario 3D All-Stars — mas não a única —  é não fazer justiça ao nome. Nem todas as estrelas estão ali; falta a que talvez seja a maior de todas: Super Mario Galaxy 2 (Wii, 2010). Encantador e monumental, o título se glorifica em manter a gameplay como o centro absoluto de uma sequência feita de uma enxurrada de ideias e mais ideias.

É como se o melhor jogo do ex-encanador, Super Mario Galaxy, não tivesse sido o bastante, com tantas coisas deixadas de fora que seria possível preencher uma aventura ainda mais grandiosa, inventiva e divertida. Foi o que aconteceu. Só faltou a presença ativa de Rosalina, mas dá para perdoar.

Super Paper Mario


Lançado no início da vida do Wii, em 2007, Super Paper Mario é considerado o portador da melhor história entre os jogos da mascote da Nintendo, o que foi uma bela surpresa em uma série que não se importa muito com a trama e a escrita de seus personagens.

Ao mesmo tempo, essa iteração é muito criticada por se afastar das mecânicas de RPG e ser basicamente um jogo de plataforma com puzzles amparado na criatividade de alternar o mundo entre duas e três dimensões, o que teve uma execução excelente.

Essa é a minha escolha, mas, se você prefere Paper Mario: The Thousand-Year Door (Game Cube, 2004), vou além: que tal um Paper Mario All-Stars? Faria total sentido, especialmente quando vemos que os gráficos desenhados em 2D, típicos da série, envelheceram com tanta saúde que até o Paper Mario original, do Nintendo 64 (disponível no NSO + Expansion Pack), precisaria apenas de melhorias de resolução de texturas para continuar agradável aos olhos.

P.S.: escrevi este texto antes da Direct de ontem (14), em que o jogo de Game Cube recebeu anúncio de remaster. Espero que isso abra portas para o título de Wii ter o mesmo tratamento daqui a poucos anos.

Xenoblade Chronicles X


Quando pensamos em um jogo preso no passado com o Wii U e que deveria receber uma nova chance, provavelmente não é o esquecível Star Fox Zero. Não, Xenoblade Chronicles X seria uma opção melhor. A Nintendo devotou bastante atenção à série no Switch, remasterizando o título de estreia e produzindo um segundo e até um terceiro jogo.

Com a trilogia se sentindo em casa, bem que poderiam convidar o spin-off de 2015 para explorar um mundo gigantesco a bordo de um mecha, não acham?

Eternal Darkness: Sanity’s Requiem


Admito: este merece um remake. Celebrado como um profundo survival horror lovecraftiano, Eternal Darkness: Sanity’s Requiem inovou em sua época, com história elaborada, vários personagens jogáveis e, como prato principal, uma obsessão por mexer diretamente com os nervos dos jogadores por meio do medidor de sanidade que quebra a quarta parede.

O gênero evoluiu de lá para cá, assim como a linguagem de videogames, então essa aventura sinistra não teria o mesmo impacto. Eu ficaria contente em recebê-lo em um eventual aplicativo de Game Cube para o NSO, mas ainda um desperdício do potencial para renovar esse clássico cult que não tem medo de ser criativo.

Diddy Kong Racing


Lembra que eu disse que títulos para o NSO seriam uma exceção nesta lista? Esta é a mais merecida. Diddy Kong Racing permanece ainda hoje como um dos melhores kart racing já feitos. O modo aventura pegou carona na estrutura de plataforma 3D collectathon que dominava a época, mas não é só isso que o destaca.

O principal atrativo são os três veículos controlados de formas diferentes, disponíveis para qualquer pista, além da excelente curva de desafio para coletar moedas escondidas e ainda vencer em primeiro lugar. Não podemos esquecer as corridas contra chefes!

Mesmo pertencendo à Nintendo, o título foi criado pela Rare, que, ao ser comprada pela Microsoft, levou consigo dois personagens do elenco do game: o urso Banjo e o esquilo Conker. Isso provavelmente não é um obstáculo, uma vez que Banjo-Kazooie já faz parte do serviço online e até são convidados de Super Smash Bros. Ultimate. Por isso, espero que seja apenas uma questão de tempo até mais um dos melhores títulos do Nintendo 64 estrear no catálogo.

Donkey Kong Country Returns


Enquanto estamos no planeta dos macacos, vamos permanecer mais um pouco por aqui e indicar Donkey Kong Country Returns. Mesmo que tenha sido superado por Donkey Kong Country Tropical Freeze, o título que trouxe de volta o “Country” ao título significou o empenho em retornar ao legado da maravilhosa trilogia do Super Nintendo. A empreitada foi bem-sucedida o bastante para garantir a sequência gelada, mas não vemos um jogo protagonizado pelos Kongs desde então — quase dez anos!

A família primata não recebe a atenção que merece e, por enquanto, só temos rumores de estrelarem um suposto jogo em 3D no estilo de Super Mario Odysssey. Enquanto a lenda não vira realidade, um retorno do Returns seria o aperitivo ideal para estimular o apetite..

F-Zero GX


Exceto por duas entradas no Game Boy Advance, a série de corrida futurista da Nintendo está na gaveta desde F-Zero GX, de 2003. O título de Game Cube mantém a linha de pistas  vertiginosas e velocidade alucinante, mas precisaria de ajustes para seu retorno, especialmente na dificuldade brutal. No entanto, é mais fácil aguardar o retorno por meio de um hipotético aplicativo de Game Cube para o NSO do que um remaster com melhorias.

Além dele, eu gostaria muito de ver Wave Race: Blue Storm voltando ao mundo dos vivos. Como a série de corrida de jet-skis com física aquática realista não tem força o suficiente para um relançamento individual, o ideal seria também ingressar como parte do NSO. F-Zero X e Wave Race 64 já estão no serviço, disponíveis no catálogo do Nintendo 64 como lembranças de uma época que a Nintendo lançava jogos de corrida diversificados e de alta qualidade sem depender apenas de Mario Kart.

P.S.: na Direct de ontem (14), foi anunciado um novo título da série: F-Zero 99. Esse conta como uma quebra no jejum ou é, no máximo, um lanchinho enquanto se espera pelo prato principal que nunca foi prometido?

Kirby Epic Yarn


Antes de Yoshi entrar para o mundo do novelo de lã, a bolota rosa foi a desbravadora de cenários costurados com linhas e tecidos. Kirby Epic Yarn, lançado para Wii no em 2010, foi um show de graça e fofura artesanal que conquistou até os que ficaram insatisfeitos com a falta de desafio. Foi uma experiência relaxante e encantadora, melhor aproveitada a dois no modo cooperativo.

Esse até ganhou um port para 3DS em 2019, bem no fim da vida do portátil. Porém, o que ele merece mesmo é uma versão em alta definição que valorize os gráficos 2D tão raros na Nintendo nos últimos anos, uma vez que a empresa prefere adotar os polígonos em seus jogos.

The Legend of Zelda: Twilight Princess HD


Uma forte ausência do Wii U no Switch é a remasterização The Legend of Zelda: Twilight Princess HD. O título é o mais sombrio da série e um dos melhores em quase tudo, inclusive na história. Por sinal, deu vida a um longo mangá que todo apreciador de Zelda deveria ler (estou devendo a resenha; espero publicá-la no aniversário da série em novembro). Pode até parecer um port desnecessário, mas já faz sete anos que está exilado no console principal menos vendido da Nintendo, dificultando o acesso à obra.

The Wind Waker HD, por sua vez, tem mais tempo: completará 10 anos de lançamento na próxima semana, em 20 de setembro. A idade faz dele o candidato mais provável para seguir Skyward Sword HD, de 2021.

O Switch ainda tem espaço em suas prateleiras

Isso encerra a nossa lista em quatro partes. Foram mais de 50 títulos mencionados, o que me dá bastante confiança de que a leitora e o leitor terão apreciado ao menos alguns deles. Não? O que você esperava, um remake de Mario vs Donkey Kong de Game Boy Advance anunciado em uma Nintendo Direct? Oh, wait…

Confira todas as partes da lista:


Revisão: Thais Santos
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Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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