O conceito de jogo independente varia com o tempo e com quem fala. Pode ser quando o estúdio que detém a propriedade de sua obra, mas outros só consideram os frutos de equipes pequenas, aquelas em que cada integrante tem uma relação pessoal com o jogo em produção. Em alguns casos, uma única pessoa fez a maior parte ou a totalidade da criação!
Nesta lista, refiro-me ao sentido amplo que vai do desenvolvedor solo ao estúdio médio que é dono de sua obra. A intenção não é definir o que é um indie, mas apontar ótimos jogos que deveriam estar no Switch.
Bendito entre os indies
Uma fala comum que vejo pela internet é que tal jogo independente “seria perfeito para o Switch”. Por que será?
Penso que existe o fator gameplay, quando a estrutura do jogo é favorável às sessões curtas de quem carrega o portátil no dia a dia esperando aproveitar intervalos, filas e viagens.
Penso também no fator visual, como em jogos em pixel art que costumam requerer menos atenção a pequenos detalhes (uma vez que eles nem mesmo os têm), sem prejuízo quando apreciados em telas pequenas. A redução das proporções acaba por esconder as imperfeições, os serrilhados, a resolução, em uma suavização que beneficia muitos visuais e pode valorizar a direção de arte.
A questão é que, no Switch, isso é uma opção. Enquanto alguns preferem jogar na televisão, outros dão preferência à telinha portátil. Exceto pelo Switch Lite, a escolha nunca é definitiva, podendo variar de acordo com o jogo ou a vontade.
Pela escassez de AAA multiplataforma, como vimos na lista que tratava da oitava geração, os de menor orçamento podem ser mais valorizados no sistema da Nintendo pois estão em competição menos desequilibrada.
Claro que o Switch vender como água, ao ponto de se tornar o terceiro videogame mais vendido da história, foi deixando claro como ele é o console atual que pode dar mais visibilidade aos seus jogos. Isso fica claro quando vemos como muitas desenvolvedoras e publicadoras dão prioridade a lançar seus indies primeiro no PC e Switch, deixando outras plataformas para depois ou, como no exemplo de Gato Roboto, deixando no vácuo.
O resultado é que o híbrido se ergue como uma orgulhosa e colossal biblioteca de indies e eu até tive mais dificuldade em fechar esta lista do que as anteriores, pensando e pesquisando para apontar mais de dez nomes cuja ausência no Switch deveria ser sanada. Vejam abaixo!
Papers, Please
O problema de Papers, Please é estar até hoje restrito ao PC, PS Vita e mobile, apesar de aclamado pela crítica. Nele, jogamos com um fiscal de fronteira de um país totalitário, passando o dia a verificar pessoas e documentos até receber o salário que diminuirá o frio e a fome de nossa família. Trabalhe rápido para ganhar mais, mas deixar escapar um detalhe errado pode pôr tudo a perder em uma gameplay que exige que o jogador tenha um equilíbrio ilusório fadado à tragédia.
Essa pequena obra-prima colocou Lucas Pope no radar e ele repetiu o feito com o excepcional Return of the Obra Dinn (este já está no Switch, mas eu não poderia deixar passar a oportunidade de citá-lo).
LostWinds
Este é significativo como um indie que foi exclusivo do Wii. LostWinds foi um título de estreia do WiiWare, em 2008, e fazia uso dos controles de movimentos para dar vida às magias de vento do protagonista em sua aventura simples e agradável.
Como já teve versão para iOS e PC, a transposição dos esquemas de controle para o Switch provavelmente funcionaria bem o bastante para trazer não apenas este jogo, mas sua sequência de 2009: LostWinds: Winter of the Melodias.
FTL: Faster than Light
Esse roguelike de 2012 funciona com sistemas profundos baseados em jogos de tabuleiro. Nele, você gerencia diversos aspectos de sua nave enquanto cruza o espaço e enfrenta perigos procedurais. Comande a tripulação, modifique seu veículo, administre os recursos e enfrente poderes maiores que os seus. Cada partida é diferente, mas cuidado: a morte é permanente.
FTL: Faster Than Light é um clássico cult que rendeu a seus dois criadores da Subset Games o prêmio de Excelência em Design na Game Developers Conference. Infelizmente, FTL não deve chegar ao Switch, mas ao menos a eShop tem disponível o jogo seguinte da dupla, Into the Breach.
Starbound
“E se Terraria e No Man’s Sky tivessem um bebê? Starbound vai na pegada sci-fi, com infinitos planetas e loot para encontrar. Você pode construir sua base ou vilarejo para se estabelecer, melhorar sua própria nave espacial, aprimorar seu mecha, ou seguir o modo história, enfrentando dungeons e pesquisando novas civilizações, sozinho ou com amigos.”
Precisa de mais motivos para querê-lo no Switch?
Her Story
Vemos a história dela a partir de um banco de dados filmado, sem ordem cronológica. Ouvimos os depoimentos da mulher à polícia e captamos palavras e pontos-chave para usar na ferramenta de busca, procurando os detalhes para entender o que afinal aconteceu ao marido morto. Her Story usa filminhos para fazer o jogo de detetive acontecer dentro da sua cabeça, em uma obra única.
Ou melhor, não tão única porque o criador Sam Barlow continuou usando FMV (Full-motion Video) para fazer seus jogos seguintes, Telling Lies (disponível no Switch) e o aclamado Immortality, que contam com novas ideias para montar o quebra-cabeça de vídeos fragmentados que fazem o jogador sentir que chegou ao fundo dos mistérios por sua própria investigação e atenção minuciosa.
Samorost 3
Os point and click excêntricos e sem palavras da tcheca Amanita Design sempre conquistam elogios. No Switch já temos Machinarium, Creaks e Happy Game, mas ainda falta Samorost 3 (com os títulos anteriores como bônus). Após ele, Botanicula também seria bem-vindo para completar o elenco de suas aventuras surrealistas, imaginativas, afetuosas, simples e carismáticas.
The Witness
Com um game design brilhante, The Witness constrói a lógica de seus puzzles de uma forma que o jogador aprenda por si só, abra caminhos e tenha que aprender de novo para continuar destravando todos os enigmas da ilha. É um verdadeiro exercício em filosofia da ciência em forma de jogo, incentivando a olhar por novos ângulos, para perceber novos problemas e tentar novas soluções. Genial como poucos jogos que já joguei.
Ele foi feito por Jonathan Blow, criador do clássico Braid, que, a propósito, também deveria estar no Switch. Na verdade, isso deve acontecer em um futuro não tão distante, pois em 2020 foi anunciada Braid: Anniversary Edition, um remake que recria toda a arte e acrescenta opções de comentários do diretor. O console da Nintendo está entre as plataformas que deverão receber a obra, mas o problema é o silêncio incômodo desde o anúncio, fazendo-nos questionar se realmente veremos essa edição acontecer.
Environmental Station Alpha
Também conhecido apenas como ESA, Environmental Station Alpha foi lançado em 2015, quando os metroidvanias estavam em aquecimento, ainda crescendo em popularidade. Restrito ao PC, esse título se inspira no lado metroid do nome e coloca ênfase em plataforma e segredos, alcançando fama em seu nicho por entregar um bom design em geral, mesmo que não revolucione o tipo.
Aproveito para mencionar outros dois títulos importantes para o gênero que nunca tiveram a chance de chegar aos consoles. Primeiro, Valdis Story: Abyssal City, de 2013, com seus quatro personagens jogáveis e foco em combate com sistemas estatísticos de RPG. Segundo, Aquaria, que ofereceu movimento livre em um mundo aquático lindamente pintado, um feito para o longínquo ano de 2007, quando os metroidvanias ainda eram representados quase apenas pelas séries que os batizaram.
Knytt Underground
Não é exatamente um metroidvania, uma vez que o mapa logo se torna um mundo aberto para você explorar como quiser com a habilidade de escalada. Não há combate; todo o desafio está em desbravar um mundo subterrâneo de natureza mística, questionamentos filosóficos e uma miríade de segredos e missões para encontrar e solucionar. Como todos desta lista, Knytt Underground ainda é disponível no PC, via Steam, mas esse título de 2012 desapareceu dos consoles e deveria ser mais conhecido.
The Legend of Heroes: Trails in the Sky
Ok, com 40 anos de mercado e algumas dezenas de JRPGs para se gabar, a Nihon Falcom não tem exatamente o perfil comum do conceito indie, mas, no fim das contas, é uma desenvolvedora independente que não figura entre as mães ricas do gênero, dependendo do interesse de publicadoras como XSEED Games e NIS America para levar seus jogos para fora do arquipélago nipônico.
Para se ter uma ideia, o excelente The Legend of Heroes: Trails in the Sky foi lançado para PC em 2004 (portanto, antes da sétima geração) e sua tradução só viu a luz do dia em 2011. As duas sequências da trilogia, Trails in the Sky SC e Trails in the Sky the 3rd, levaram ainda mais tempo para ganhar versões em inglês. Assim como alguns de seus primos um pouco mais novos, como a dupla Trails from Zero e Trails to Azure, e o recente Trails Into Reverie, ganharam um quartinho na casa do Switch, os parentes mais velhos que começaram todas essas histórias interconectadas fazem falta.
A lista de desejos ainda não acabou
A intenção era parar na terceira parte, fechando o trio das sétima e oitava gerações e os indies que vieram entre elas, mas eu acabei decidindo incluir o óbvio: há muitos jogos passados da Nintendo fora da atual geração, então precisamos de uma quarta parte só para eles, não é mesmo? Confira conosco na próxima sexta-feira (15)!
Confira todas as partes da lista:
Revisão: Vitor Tibério