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Análise: Rune Factory 3 Special (Switch) é uma boa porta de entrada para a franquia

Acompanhe a jornada de Micah, um garoto sem memórias e capaz de se transformar em um monstro fofinho.

A Marvelous está em pleno vapor em 2023. Após lançar o remake de Story of Seasons: A Wonderful Life e anunciar que está trabalhando em quatro novos jogos de vida no campo (dois de Rune Factory e dois de Story of Seasons), a empresa brinda os fãs com uma nova versão do terceiro título da franquia que combina elementos de RPG com simulação de fazenda, agora intitulado de Rune Factory 3 Special.

Embora esta nova edição mantenha algumas das limitações presentes na produção original, lançada em 2009 para o Nintendo DS, trata-se de um jogo repleto de méritos e que representa uma excelente porta de entrada para recém-chegados à série.

Entre humanos e monstros

Rune Factory 3 nos conduz pela jornada de Micah, um jovem capaz de se transformar misteriosamente em uma criatura felpuda. Despertando sem memórias em Sharance, uma encantadora cidade, ele faz amizade com Shara, uma garota que o encoraja a se estabelecer em uma casa e fazenda localizadas numa árvore gigante.

À medida que a história se desenrola, o protagonista encontra uma vila habitada exclusivamente por monstros e descobre que eles e os humanos já viveram em harmonia. Neste contexto, cabe ao jogador explorar esses dois mundos distintos e, quem sabe, descobrir um meio de uni-los novamente. Infelizmente, não há opção de legenda em português.

A convidativa e agradável Sharance

Como é típico de simuladores de fazenda, nossa missão é prosperar no campo enquanto desenvolvemos relacionamentos com os habitantes da cidade. Embora a narrativa seja simples e sem grandes destaques, os residentes de Sharance são cativantes e possuem personalidades únicas, constituindo um dos pontos fortes do jogo e tornando a simulação social uma atividade prazerosa.

Esses indivíduos possuem rotinas e gostos próprios, o que torna crucial para o jogador descobrir esses detalhes para conseguir agradar aos habitantes de Sharance. Nesse sentido, Rune Factory 3 apresenta um minimapa em tempo real que é útil em nos ajudar a rastrear a localização atual de cada pessoa.

Além dos tradicionais presentes, aprimorar o relacionamento com os moradores é possível por meio de missões disponíveis em um mural na cidade e na caixa de correio de nossa casa. Algumas tarefas são simples e repetitivas, como entregar uma fruta, enquanto outras exploram as complexidades dos personagens e são pré-requisitos para o casamento, como auxiliar uma garota com as vendas de sua loja. Vale mencionar que no jogo só há opções femininas para romance, totalizando 11 candidatas.

Os eventos sazonais também são envolventes, frequentemente incluindo minijogos em que competimos com os habitantes em atividades como arremessar itens uns nos outros. Outro ponto interessante é a possibilidade de convidar os NPCs para nos auxiliar em expedições, o que requer que tenhamos alcançado certo nível de amizade.

Do campo para a espada

Um dos principais fatores que diferencia a série Rune Factory de outros jogos de simulação de fazenda é a inclusão de elementos clássicos de RPG de ação. Aqui, para progredir na campanha, é necessário explorar e vencer cinco dungeons, com quatro delas representando as estações do ano.

Como não poderia ser diferente, esses locais são abarrotados de monstros e também abrigam chefes. Nesse sentido, o combate é satisfatório, com a possibilidade de alternar entre diversas armas disponíveis, cada uma alterando o estilo de ataque de Micah. Ainda há a disponibilidade de equipamentos, como escudos e anéis, que afetam diretamente os atributos do herói.

Além da possibilidade de adquirir esses itens por meio da compra, Rune Factory 3 apresenta um amplo sistema de crafting, no qual conseguimos produzir apetrechos que são úteis na fazenda, no combate e para presentear os NPCs. A mecânica de culinária é igualmente rica e possui um número incrivelmente alto de pratos diversificados que fornecem bônus, curam a saúde e removem efeitos negativos.

Entretanto, a menos que a dificuldade máxima seja selecionada, o jogo não oferece um desafio significativo, especialmente para quem já está familiarizado com RPGs de ação. Em razão disso, as batalhas acabam se tornando monótonas com o tempo. Nesse sentido, com exceção da última dungeon, que possui alguns requisitos específicos, é provável que o jogador leve apenas um dia do jogo para concluir uma masmorra.

Vida atarefada e viciante

Outro aspecto característico da série é a possibilidade de domar monstros para auxiliarem com o trabalho na fazenda e fornecerem recursos como lã, ovos e leite. Para conquistar esses aliados, precisamos "presenteá-los" com alimentos. Além dessas ações, esses seres podem nos ajudar no combate.

Essa é uma mecânica bem divertida e o sucesso da domesticação depende diretamente de descobrirmos o que essas criaturas gostam de comer. É importante destacar que, embora as diversas espécies de bichos forneçam itens diferentes, não existe uma mudança muito perceptível entre as ações que eles realizam no campo, o que poderia enriquecer ainda mais esse sistema.

Em termos gerais, a área disponível para cultivo pode ser compartimentada para acomodar até quatro animais. Esses parceiros encarregam-se da remoção das impurezas do solo, da irrigação das hortaliças e até mesmo do plantio de novas sementes, desde que o jogador disponha dos recursos financeiros necessários.

Com todos esses sistemas e possibilidades, Rune Factory 3 Special nos entrega uma jogabilidade muito viciante. Seja domesticando novas criaturas, cuidando das plantações, avançando nas dungeons ou socializando com os moradores, dificilmente o jogador se verá sem o que fazer ou entediado.

Versão aprimorada, mas ainda limitada

Como uma remasterização, Rune Factory 3 Special apresenta melhorias gráficas significativas, tornando a experiência no Nintendo Switch consideravelmente mais agradável do que a versão original para DS. Contudo, como não se trata de um remake, o título continua com visuais que não estão em sintonia com nossa época atual.

Apesar disso, uma vez imerso nesse mundo, os gráficos não devem atrapalhar ou diminuir a diversão proporcionada. Também vale destacar que os personagens são representados durante os diálogos com excelentes modelos em estilo anime.

Um fato a lamentar é a baixíssima utilização da dublagem, que se restringe a pequenas expressões, como "bom dia". Outra limitação do título original que persiste nesta obra é a impossibilidade de jogar com uma protagonista feminina, opção introduzida em Rune Factory 4.

Como novidade, merece destaque o modo Newlywed, desbloqueado após atingirmos o casamento na campanha principal. Essa inclusão permite que o jogador escolha qualquer uma das pretendentes e inicie uma pequena sequência de missões que acontecem durante o período de recém-casados. Trata-se de uma adição agradável que acrescenta mais conteúdo ao jogo, servindo principalmente para explorar um pouco mais essas personagens.

A franquia Rune Factory, em minha opinião, tem evoluído constantemente a cada novo lançamento (considerando apenas os títulos numerados). Portanto, para aqueles que conheceram a série recentemente por meio de Rune Factory 5, que apresenta a maior evolução gráfica até agora, pode ser difícil se sentir motivado a revisitar os títulos mais antigos.

Neste contexto, entendo que a nova versão do terceiro título é uma excelente porta de entrada para novatos, já que ela traz ao atual console da Nintendo os principais alicerces da série e possui uma jogabilidade sólida e divertida, apesar das limitações mencionadas.

Um resgate bem-vindo

Em meio a produções mais recentes, temos representantes que se destacam no gênero de simulação de fazenda, como alguns Story of Seasons e o popular Stardew Valley. Por sua vez, as opções de jogos que combinam esse gênero com elementos de RPG de ação são mais escassas. No entanto, também existem alguns exemplos positivos nesse nicho, como Rune Factory 4 Special e o Rune Factory 5, além do incrível Harvestella, que possui um sistema de combate e desenvolvimento de trama que considero ideais.

Nesse sentido, apesar de Rune Factory 3 Special permanecer com muitas de suas limitações originais, que se tornam ainda mais evidentes atualmente, trata-se, sim, de uma adição valiosa ao seu nicho e à biblioteca do Nintendo Switch, além de representar um resgate merecido de um jogo divertido e que foi importante para o desenvolvimento de suas boas sequências.

Prós:

  • Os habitantes de Sharance são cativantes e têm personalidades únicas, tornando a interação com eles gratificante;
  • A combinação de vida na fazenda e exploração de dungeons proporciona uma jogabilidade variada e divertida;
  • As solicitações enriquecem as atividades cotidianas e ajudam a aprofundar os relacionamentos com os personagens;
  • Melhorias gráficas que tornam a nova experiência muito mais agradável em relação ao jogo original do DS;
  • Os sistemas de crafting e culinária são amplos;
  • A mecânica de domar monstros é divertida e pode facilitar ou automatizar o trabalho diário no campo;
  • O modo Newlywed proporciona conteúdo adicional e permite explorar mais a fundo as personagens.

Contras:

  • Apesar das melhorias, os gráficos ainda não estão de acordo com os padrões atuais;
  • Pouco desafiador, especialmente para jogadores familiarizados com o gênero, com batalhas que se tornam monótonas em pouco tempo;
  • Ausência de uma protagonista feminina;
  • Uso limitado da dublagem;
  • Embora diferentes espécies de monstros forneçam itens diversos, suas ações no campo são praticamente idênticas;
  • Ausência de legendas em português.
Rune Factory 3 Special — PC/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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