Mergulhando em uma fantasia simples
Em Mon-Yu, controlamos uma equipe de aventureiros convocados de outro mundo para ajudar o reino das fadas a recuperar seus tesouros. Para fazer isso, será necessário entrar em uma grande torre e derrotar os Sete Reis Demônios que a transformaram em seu território com o poder desses artefatos místicos.
O foco de Mon-Yu é total na gameplay e esses elementos de mundo são apenas para justificar a jornada, tendo pouquíssima presença durante boa parte do jogo. Isso não é algo incomum no gênero, sendo fácil pensar em outros exemplos que buscam apenas dar um pano de fundo para a exploração, como no caso de Wizardry: Labyrinth of Lost Souls, porém é importante ter em mente esse detalhe para não exigir erroneamente do jogo uma narrativa mais complexa.
Os primeiros passos do aventureiro
A primeira parte de se aventurar por Mon-Yu é criar a sua equipe, escolhendo o nome, a aparência e a profissão (classe) dos seus personagens. Ao todo, é possível levar até seis guerreiros de cada vez para as dungeons, com uma formação fixa de três na vanguarda e os outros três na retaguarda. Aliados na linha de trás serão menos atacados, mas não conseguem atingir inimigos com armas de curta distância, sendo fundamental pensar com cuidado as classes ideais para cada posição do time.
Apesar dessa restrição, um aspecto bem interessante do jogo é que alterar a configuração da equipe é trivial. Embora o jogador possa ficar criando vários aliados se quiser, a mudança de classe não tem custo e também permite realocar os pontos de atributos de cada um. Vale destacar que isso não afeta a quantidade de pontos bônus que eles possuem no início, sendo importante tentar conseguir uma pontuação alta (na casa dos 20 para cima) para fazer um personagem verdadeiramente forte. Esse sistema é um elemento tradicional de dungeon crawler e pode ser bem frustrante de se lidar, mas felizmente temos um botão conveniente de Reroll e podemos usá-lo para tentar forçar a obtenção de bônus altos.
Uma vez definida a equipe, vamos para a dungeon e nos deparamos com um detalhe muito curioso: cada andar da torre possui um “level cap”, ou seja, uma restrição de nível máximo possível de se alcançar. É aqui que temos a grande sacada do jogo: este é um RPG que quer valorizar que você pense bem a sua estratégia em vez de te deixar atropelar tudo como um trator.
Almejando o rank S
Em Mon-Yu, cada andar é tratado como um desafio em que a sua performance para derrotar o chefe será avaliada. São três as categorias: nível, número de turnos e a quantidade do mapa que foi explorada até alcançá-lo. A ideia é que vencer o boss em um nível baixo sem gastar muitas ações será recompensado com uma avaliação melhor e recompensas na forma de tesouros melhores ao derrotar os inimigos e cristais. Se o jogador quiser uma experiência mais relaxada, pode ignorar tudo e aproveitar as vantagens de ter um nível mais alto, mas vai ficar com a marca de não ter batido o desafio que o jogo realmente propõe.
Já as habilidades possuem um sistema praticamente separado de evolução em que os personagens ganham pontos para alocar após várias batalhas. Cada classe possui uma lista de poderes que podem ser desbloqueados com esses pontos, que podem ser ativas, como um golpe que perfura a defesa do inimigo, ou passivas, como a capacidade de empunhar duas armas. Esses pontos podem ser retirados quando o jogador quiser, permitindo ajustar com muita facilidade a sua build para um contexto específico em que talvez um poder seja situacionalmente pior, como inimigos resistentes a uma magia.
Explorando o labirinto
Mon-Yu também tem algumas outras peculiaridades quando o assunto é exploração. Primeiramente, vale destacar que os inimigos podem ser vistos no mapa, não havendo encontros aleatórios. Eles também são categorizados por cores, que indicam o seu comportamento: inimigos azuis vão fugir de você, vermelhos ficam parados, verdes realizam um movimento pré-programado e roxos te perseguem.
Com o sistema de Clan Skill, podemos usar poderes como reduzir o dano durante um turno ou melhorar a velocidade e as taxas de acerto e evasão. Uma vez desbloqueada, essa mecânica faz uma diferença enorme em combate, mas não é possível usá-la em turnos consecutivos, sendo importante medir o momento ideal, especialmente ao lidar com chefes e inimigos que podem utilizar golpes muito poderosos em um turno, por exemplo.
Da mesma forma, Mon-Yu conta com saves automáticos, mas é possível salvar manualmente a qualquer momento também. Ter as duas opções é muito útil, facilitando consideravelmente a exploração. Caso um personagem morra, basta voltar para a cidade para ressuscitá-lo, e, caso a equipe inteira seja dizimada, somos automaticamente transportados para o Castelo da Rainha Eternia, que também aumenta levemente nosso HP e MP para as batalhas subsequentes.
Uma proposta criativa
Mon-Yu é uma excelente adição à biblioteca de dungeon crawlers, com uma proposta criativa e inusitada, mas que foi muito bem montada. Para quem já tem experiência no gênero, em especial, trata-se de um muito bem-vindo ar puro para demonstrar como é possível modernizar esse nicho de RPGs sem perder a sua essência desafiadora.Prós
- Sistema de avaliação de performance valoriza o esforço estratégico do jogador;
- Os tesouros obtidos ao terminar cada área da dungeon afetam significativamente a exploração e o combate;
- Alterar a configuração da party é trivial, permitindo que o jogador explore múltiplas combinações com facilidade;
- Níveis de dificuldade ajudam a modularizar a experiência;
- Saves automáticos e a possibilidade de salvar manualmente a qualquer momento são uma comodidade bem-vinda.
Contras
- Visualmente, as áreas são bem repetitivas;
- Pouca variedade de habilidades dentro de cada classe acaba impactando as possibilidades estratégicas de build;
- Trama incidental e básica que serve apenas para justificar superficialmente a jornada;
- Mesmo com o botão de Reroll, o sistema de sorte para definir os bônus de atributos dos personagens é desnecessariamente frustrante.
Mon-Yu — Switch/PC/PS5 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games