Análise: Pikmin 4 (Switch) é o ápice das aventuras de quintal

Quarto título expande a série e a diversão com as criaturinhas coloridas.

em 02/08/2023
Recentemente, o criador Shigeru Miyamoto afirmou não entender como Pikmin, uma série tão divertida, não é um sucesso estrondoso de vendas. Depois de um terceiro título muito elogiado, porém lançado originalmente em um console que vendeu pouco (Wii U), foram dez anos preparando uma sequência que colocasse a franquia no gosto popular. Pikmin 4 finalmente está entre nós e tem tudo para atingir essa expectativa.


Uma experiência multifacetada

É difícil explicar o que é Pikmin para quem nunca jogou um título da série principal. Poderia dizer que é um RTS em que é preciso gerenciar seus soldadinhos de acordo com suas habilidades, com o terreno e com o inimigo enfrentado.

Contudo, tal descrição seria superficial. É necessário acrescentar o fator meio Querida, Encolhi as Crianças, em que as aventuras protagonizadas por esses seres diminutos dão outra perspectiva a elementos do cotidiano, como atravessar uma poça d’água no quintal ou encarar uma aranha.

Também faltaria dizer que há um elemento de exploração espacial, com astronautas viajando rumo a lugares desconhecidos. Ou, ainda, é preciso citar que há uma caça por artefatos e relíquias, que servem de energia para consertar a nave e seus equipamentos.

A série, portanto, apresenta muitos elementos que contribuem para que a jornada possua diversas camadas. Só jogando para experimentar o encantamento proporcionado pela combinação de todos esses – e de outros – fatores.

Novidades para todos

Pikmin 4 se apresenta como um excelente jogo para conhecer a franquia por implementar elementos de entrada, a começar pela configuração de seu personagem, permitindo que o protagonista tenha o nome e a aparência de sua preferência.

É bem verdade que as opções são simples e possuem pouca variedade, mesmo se comparadas aos clássicos Mii. Ainda assim, é um fator que logo de cara contribui para a empatia e a imersão, ao mesmo tempo em que recebe os jogadores veteranos com uma novidade.

Algo parecido ocorre com a história, que serve de base para a aventura: a nave do Capitão Olimar cai em um planeta desconhecido e, para consertá-la, é preciso encontrar as peças espalhadas pelo cenário. É uma premissa simples, que incentiva a exploração dos ambientes.

Apesar de ser a mesma dos jogos anteriores, também se apresenta com um frescor para quem já conhecia a série, visto que desta vez o protagonista faz parte de uma brigada de resgate em busca do velho conhecido Olimar. Ironicamente, a nave da equipe também cai no planeta, expandindo a missão para resgatar os outros viajantes – e alguns visitantes inesperados.

O equilíbrio constante entre recepcionar novos jogadores e acolher o público cativo é feito com muito cuidado e carinho, podendo ser sentido a todo momento. Recém chegados são recebidos com explicações simples, enquanto quem está retornando é reapresentado ao jogo e a suas mecânicas com novas perspectivas.

O grande parceiro peludo

Uma das grandes novidades com relação à mecânica de jogo é Otchin, o companheiro canino que está com o jogador desde o início da aventura. Usar o cachorro como montaria permite, por exemplo, atravessar áreas alagadas carregando Pikmin sem se preocupar com afogamentos. Também é possível pular para subir em plataformas e degraus, o que antes era impossível ou exigia encontrar rotas alternativas.

Otchin também se apresenta como uma excelente ferramenta de ataque, após carregar o movimento de avanço. Isso fornece mais um elemento de estratégia para poupar Pikmin de possíveis mortes, principalmente contra inimigos mais poderosos.

Tornando as partidas mais acessíveis, o cachorro pode utilizar sua habilidade de farejar para encontrar tesouros e viajantes perdidos, dentre outras opções que podem ser aprendidas. É algo opcional, atendendo a quem necessitar de assistência e podendo ser deixado de lado por aqueles que preferirem uma experiência mais desafiadora.

Outra mecânica interessante é a possibilidade de se separar do seu astronauta e controlar os Pikmin com o chamado Salvacão. Isso permite explorar o cenário em duas frentes, otimizando o tempo – em geral escasso.

Testando sua capacidade de organização

A todo momento é explicitada a importância de se utilizar a arte Dandori, uma técnica de organização de tarefas de forma estratégica para trabalhar com a maior eficiência possível. A insistência no assunto não é por acaso: saber se organizar afeta – e muito – a experiência com o jogo.

Saber aproveitar seus recursos para explorar os terrenos de forma eficiente é essencial, já que é obrigatório voltar à base antes de anoitecer. Por isso, é preciso se organizar para não ser obrigado a deixar um tesouro para trás ou, pior, Pikmin fora da área de escape.

Diante disso, a quantidade de dias in game para desbloquear novos terrenos e tipos de Pikmin e o ritmo de progressão da história dependem do desempenho de cada jogador. O limite de tempo, que pode ser encarado por alguns como um obstáculo à exploração, por outro lado, ajuda a manter o foco sem caminhadas a esmo.

Ao entrar nas cavernas, porém, a exploração é livre, assim como a quantidade de Pikmin que pode te acompanhar. São áreas de tamanho reduzido, mas com mais inimigos e, portanto, exigem mais cuidado e um tempo maior para serem exploradas.

Em algumas cavernas, seres cobertos de folhas desafiam o explorador com alguma quantidade de tesouro ou dentro de um tempo limite. Nesse caso, a recompensa é resgatar justamente o Folhano para ser curado pela equipe de resgate na base.

Variedade de criaturas

Diversos animais conhecidos dos jogos anteriores retornam aqui, fazendo com que jogadores veteranos já estejam preparados para explorar seus pontos fracos. Porém, novos inimigos também dão as caras, consistindo em um desafio para todos.

O mesmo pode ser dito sobre os Pikmin. Boa parte da aventura é vivida ao lado dos básicos Vermelho, Amarelo e Azul, o que já oferece uma boa variedade de desafios envolvendo fogo, eletricidade e água.

Não demora para também sermos apresentados ao Pikmin Gelo, que acrescenta novas dinâmicas de exploração do terreno. Com esse parceiro, é possível paralisar temporariamente um inimigo ou congelar um “rio” para permitir a passagem de Pikmin que estejam carregando algum tesouro.

Outras espécies de Pikmin, já conhecidas da série, demoram bastante para aparecer. As estratégias ganham mais possibilidades com o Rosa – capaz de voar – ou com o tipo Pedra, por isso seria interessante se fossem introduzidos mais cedo na aventura.

Pela primeira vez na história da franquia, temos missões para serem realizadas após o anoitecer. Isso só é possível graças ao novo tipo de Pikmin chamado de Pirilampo e sua capacidade de iluminação.

As missões noturnas funcionam como tower defenses, inserindo mais uma dinâmica inédita – e muito bem-vinda. Os inimigos ficam mais agressivos nesses cenários e a dificuldade é progressiva, oferecendo mais um leque de desafios em um jogo já bem recheado.

Diário de bordo adaptado para o Brasil

A jornada em Pikmin 4 é recheada de caixas de texto, com mensagens ou fichas de identificação aparecendo na tela com frequência. Por isso, contar com a tradução para o português faz toda a diferença.

Aliás, tradução não, localização. Para além de simplesmente traduzir o texto para o nosso idioma, a Nintendo teve o trabalho de adaptar frases e expressões para que fizessem mais sentido para nós aqui no Brasil.

“Folhano” e “Salvacão”, já citados nesta análise, são apenas alguns exemplos de como o trabalho de tradução foi bem realizado. Expressões também foram adaptadas para refletir o modo como falamos aqui no nosso país, facilitando a compreensão de diversas tiradas engraçadas presentes na escrita do jogo.

Dividindo os controles

Se a localização é digna de aplausos, o multiplayer merece algumas ressalvas, principalmente no modo história, claramente planejado para ser encarado de forma solo. Mesmo assim, o jogo oferece a opção de um segundo jogador participar.

Contudo, essa participação se resume a comandar uma mira na tela e atirar pedras e itens. É algo muito rudimentar, servindo no máximo para introduzir crianças na jogatina sem prejudicar o andamento da campanha, parecido com o que foi feito com Super Mario Odyssey (Switch) ou, antes ainda, Super Mario Galaxy (Wii).

Essa decisão deu saudades do modo Missions, presente em Pikmin 3 (Wii U) e que permitia a exploração dos cenários da campanha em tela dividida. É uma pena esse retrocesso da jogatina cooperativa.

Já a Batalha Dandori é outra história. Apesar de também poder ser disputado sozinho, o modo ganha outro sabor quando a batalha ocorre entre dois jogadores (ou dois jogadores contra a máquina).

Com tempo e cenários restritos, o Dandori é uma nova abordagem do Bingo Battle (do título anterior), porém eliminando a ideia da cartela de bingo que o nomeava. Em seu lugar, temos uma disputa para ver quem conquista mais pontos dentro do tempo determinado.

As batalhas são bem divertidas e com opções de customização. Mas fica a sensação de que poderia haver mais cenários para brincar – quem sabe chegam via DLC?

O retorno triunfal da série

É esperado que algumas séries apresentem altos e baixos. Outras, no entanto, seguem um caminho de evolução constante, melhorando e aprimorando-se a cada novo título. Pikmin 4 marca o ápice da franquia, trazendo (quase) tudo de bom que os jogos anteriores já apresentaram, além de excelentes novidades e implementação de todos esses elementos de forma agradável e convidativa. Se este quarto título não for capaz de te conquistar, não sei mais o que será.

Prós

  • Equilíbrio entre recepcionar novos jogadores e desafiar os antigos
  • Novas e bem-vindas mecânicas com Otchin, Pikmin Gelo e Pirilampo
  • Experiência pautada pelo ritmo e habilidade do jogador
  • Excelente localização para o português brasileiro

Contras

  • Retrocesso no modo cooperativo em relação ao título anterior
Pikmin 4 — Switch — Nota: 9.5
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
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Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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