Prova disso é a criação de regras para o típico desafio Nuzlocke, no qual os jogadores só podem capturar o primeiro monstrinho que aparece em cada rota visitada, não reutilizar os Pokémon que desmaiaram em combate (eles são classificados como “mortos” e devem ser liberados do PC), entre outras “leis” autoimpostas. No entanto, o fandom da consagrada IP da Game Freak foi além e buscou, por meio da modificação das ROMs dos jogos, trazer ainda mais desafio e competitividade à jogatina, dando início aos famigerados mods Kaizo.
Mas afinal, o que são esses jogos?
Os jogos Kaizo mexem na essência de Pokémon, alterando de rotas e cidades a golpes aprendidos e monstrinhos encontrados ao longo da jornada. Contudo, o que mais chama a atenção é o modo como esses desafios são impostos, facilmente perceptíveis nas batalhas contra treinadores, que frequentemente possuem mais criaturinhas que suas contrapartes originais e em níveis mais elevados, às vezes, acima do máximo.
Não só isso: a IA é programada para ser mais agressiva, muitas vezes contando com movimentos tido como “ilegais” — como é o caso de Pikachu/Raichu com Surf — para evitar certa vantagem de tipos por parte do jogador. Em contrapartida, os monstrinhos capturados também são modificados: em Crystal Kaizo, Heracross, por exemplo, só conta com o golpe Submission até idos do nível 50, quando finalmente aprende outros essenciais.
O mesmo acontece com outras criaturinhas, como a linha evolutiva de Abra, cujas restrições de evolução foram alteradas da troca para level up. No entanto, Psychic, um dos melhores golpes do tipo Psíquico, só é aprendido no nível 65 por Kadabra, forçando o jogador a adiar a obtenção de Alakazam por 15 níveis em Crystal Kaizo. Outro caso de moveset alterado é o Outrage, a técnica mais poderosa para Dragões, só poder ser aprendida por Dratini no nível 60; para efeitos de comparação, nos jogos originais da segunda geração, o ataque é aprendido por Dragonite no nível 55.
Vários golpes tiveram seu PP alterado, como Hydro Pump em Emerald Kaizo. Normalmente, essa técnica conta com 10 usos, mas, na ROM hack da terceira geração, seu PP foi reduzido a 8. O mesmo se aplica a técnicas como Flash, Smokescreen, Double Team e várias outras, a fim de, mais uma vez, prevenir que o jogador obtenha alguma vantagem durante o combate.
Há ainda outras limitações impostas nessas ROM hacks de Pokémon, e nem os itens que podem ser encontrados e comprados conforme se avança na campanha escaparam do tratamento Kaizo. Enquanto alguns itens, como Revives, Max Potions e Ethers são de fácil obtenção nos Poké Marts das cidades, outros, como Full Restore, simplesmente não existem para o jogador — e, por tabela, essas restrições também afetam os TMs encontrados in-game.
Inclusive, muitos deles são proibidos durante as batalhas, forçando o jogador a pensar mais de duas vezes antes de mandar um Pokémon para a luta.
Por que a demanda por jogos Kaizo tem aumentado?
Em parte, arrisco dizer que fãs dos monstrinhos de bolso, em especial streamers, têm procurado novas formas de entreter sua fanbase. Visto que essas ROM hacks trazem um alto nível de desafio, é comum que os espectadores sintam curiosidade em conhecer essas modificações.
No entanto, os mods Kaizo também são uma forma de os jogadores se firmarem como “verdadeiros” mestres Pokémon; ao vencer desafios que ultrapassam o nível máximo, essas pessoas mostram que entendem de mecânicas que não são levadas em consideração pela parcela casual dos fãs, como os valores individuais (individual value ou simplesmente IV) de cada monstrinho. Os IVs, embora não sejam requeridos para progredir na história dos jogos originais, são levados bastante a sério no cenário competitivo da franquia, e é justamente isso que essas ROM hacks procuram trazer.
Sendo assim, não é um equívoco afirmar que a busca por esses jogos modificados é reflexo da baixa dificuldade da franquia Pokémon. Contudo, não entenda isso como uma crítica à IP: é justamente por ela ser tão famosa e acessível que os fãs têm criado métodos alternativos de adaptar os games aos seus gostos.
E se, por um lado, eu também ache que os jogos de Pokémon, no geral, tenham ficado mais fáceis ao longo dos anos, ao ponto de eu recorrer à técnica de breeding para aumentar a sobrevida desses games, por outro, eu não tenho paciência de ficar pensando nos mínimos detalhes para me aventurar uma jogatina Kaizo.
E você? O que acha do rumo que a dificuldade dos jogos tomou? As ROMs Kaizo são uma boa solução? E os Nuzlockes?
Revisão: Davi Sousa