Análise: Touhou: New World (Switch): de volta a Gensokyo

Cabe a Reimu e Marisa lidar com a nova ameaça que assola Gensokyo e o mundo real.

em 14/08/2023
Touhou é uma das maiores franquias japonesas dentro da comunidade doujin, criadores independentes que vendem obras das mais diversas categorias, muitas delas sendo fanfics de propriedades de terceiros. Nascida no meio dessa cultura fértil, a série extrapolou os limites de autoria e passou a ter uma política de livre uso pelos demais desenvolvedores e artistas independentes.

Touhou: New World é o mais novo jogo da franquia desenvolvido pela Ankake Spa, que também foi responsável por Touhou: Scarlet Curiosity (PC/PS4). Com uma história em que Gensokyo e o mundo real se cruzam, Reimu Hakurei e Marisa Kirisame se veem diante de um grande dilema que ameaça a coexistência entre os planos material e espiritual.

Uma ameaça às fronteiras entre os dois mundos

Na série Touhou, criaturas mitológicas como youkais existem em um plano da existência chamado Gensokyo. Para proteger a coexistência entre humanos e esses seres espirituais, foi erguida a barreira Hakurei entre o “mundo real”, cada vez mais científico e cético, e Gensokyo.

Porém, algo aconteceu e fez com que as fronteiras entre esses dois mundos ficassem mais tênues. Em um dia aparentemente mundano, nossa personagem (Reimu ou Marisa) conhece Sumireko, uma garota que sempre sonhou em conhecer Gensokyo e explorar o que esse lugar místico tem a oferecer.

Contudo, até mesmo a presença dessa humana neste mundo é um problema. Conforme as protagonistas investigam uma forma de levá-la de volta para casa, descobrem que há muito mais coisas envolvidas na situação do que parece. A verdade é que a atual situação representa um risco significativo para a coexistência entre os planos.

Não vou entrar em mais detalhes para evitar spoilers, mas vale destacar que a trama é bem curiosa e instigante, sendo um prato cheio para os amantes do universo Touhou Project. Pessoalmente, apesar de já ter jogado algumas coisas da série como o próprio Scarlet Curiosity, que mencionei anteriormente, conheço bem pouco da obra geral e senti que mesmo novatos podem aproveitar muito bem a narrativa.

Prepare-se para se proteger de uma chuva de balas

Touhou: New World é um RPG de ação, mas a sua estrutura de progresso é baseada em fases. O jogador deve viajar por um mapa-múndi selecionando qual será a sua próxima missão, podendo refazer as áreas, avançar para o próximo objetivo ou explorar uma quest secundária.

Embora seja possível terminar rapidamente a campanha, há uma boa quantidade de conteúdo e diversidade de missões, como áreas em que só é necessário encontrar crianças perdidas ou procurar uma fonte termal adequada. Os ambientes envolvem não apenas o combate contra inimigos variados e chefes poderosos, como também armadilhas que o jogador deve evitar e sequências de plataforma que podem funcionar em algumas ocasiões como um desafio leve, embora não acarrete dano de queda nos casos de pulos mal executados.

Mesmo assim, é importante destacar que algumas missões podem ser um pouco maçantes por conta do nível de repetitividade. Na verdade, Touhou: New World é um jogo bem fácil de forma geral, sendo possível ignorar totalmente os desafios opcionais e evitar upgrades para poder manter um senso de desafio. A maior dificuldade fica por conta de lidar com alguns padrões elaborados de tiro dos chefes, sendo felizmente possível tentar encará-los novamente após perder com uma opção de Retry.

As batalhas são fonte de experiência para as personagens e seus golpes especiais (se usados), além de dinheiro. Concluir uma fase pela primeira vez também garante ao jogador esferas que podem ser usadas para comprar upgrades variados, aumentando a vida, o ataque ou algum fator de sorte, como taxa de crítico ou chance de obter itens derrubando os inimigos.

O valor de uma defesa perfeita

Em termos de combate, as personagens possuem um ataque básico, guarda, magia de regeneração, três slots de habilidade comum e uma bomba (habilidade especial que dá ao jogador total invulnerabilidade durante a execução de sua animação). Enquanto os três primeiros comandos são fixos, as outras duas opções são customizáveis, sendo possível focar no uso recorrente das mesmas habilidades ou alternar entre elas para cada ocasião, tendo em vista parâmetros como a sua área de alcance e dano.

Ao enfrentar os inimigos, é fundamental prestar atenção em como eles se movimentam e agem. Quando eles vão usar golpes físicos, uma aura azul envolve o seu corpo, indicando o timing para que o jogador defenda. Temos um longo tempo para realizar a guarda perfeita, que resulta em um congelamento do tempo ao redor da nossa personagem, permitindo punir os inimigos e evitar dano por um breve período.

Caso o inimigo vá usar um padrão mais elaborado de chuva de balas, ele geralmente terá uma aura vermelha no lugar. Defender contra esses ataques é perigoso, não congelando o tempo, e abrindo margem para que nosso protagonista fique vulnerável aos tiros sucessivos. O ideal nesses momentos é prestar atenção nos padrões e tentar pular no tempo correto.

Porém, vale destacar que nem sempre isso é tão trivial, tendo alguns momentos em que os inimigos estão invulneráveis e a aura deles é azul enquanto invocam poderes especiais. Isso acaba gerando estranheza ocasionalmente e teria sido melhor que o jogo fosse mais consistente quanto a esse uso de cores para evitar confusão.

Para o uso das habilidades, da guarda e da cura, temos cooldown individual, o que busca valorizar um uso estratégico e mais controlado das habilidades. Na prática, o jogo é muito leniente quanto a isso, sendo fácil usar cura ou a defesa perfeita durante outros movimentos como ataques sem que isso cancele as nossas ações. Esse nível de responsividade é bem conveniente para o jogador, que acaba sendo o único culpado por suas próprias falhas.

Cacarecos pouco úteis

Um aspecto de Touhou: New World que chama a atenção negativamente é o sistema de dinheiro. Conforme exploramos as áreas, podemos conseguir dinheiro e equipamentos com atributos aleatorizados.

Porém, o dinheiro tem muito pouca utilidade no jogo. Embora exista uma loja, não há um bom estoque de opções, sendo majoritariamente composto pelas armas que nós mesmos vendemos.

Em um ponto avançado da trama, abrimos a opção de alterar os atributos dos equipamentos, o que poderia ser uma forma bem útil de usar as moedas, mas as mudanças ocorrem de forma aleatória como em um “gacha de atributos”. Com isso, podemos gastar e acabar piorando as armas, fazendo com que o dinheiro seja um recurso muito pouco relevante.

Outro ponto que pode ser negativo é que o jogo tem algumas ocasiões de queda de performance no Switch, sendo algo especialmente notável no mapa-múndi. Felizmente, isso é bem raro e não afeta consideravelmente a gameplay.

Além disso, vale destacar que o visual é pouco detalhado no Switch, tendo um aspecto plástico sem vida comparado à versão do PC e há alguns momentos em que a visibilidade das fases é comprometida, seja pela câmera distante ou por objetos da cena.

O que realmente merece destaque em comparação é a trilha sonora que combina instrumentos e toques tradicionais japoneses com um estilo de balada ágil. Esse estilo é perfeito para a atmosfera de Japão feudal do jogo e seu formato frenético de combate.

Um bom RPG de ação de Touhou

Seja você um novato ou um veterano da franquia, Touhou: New World é um RPG de ação bem agradável de jogar. Mesmo oferecendo pouco desafio durante boa parte da experiência, vale a pena mergulhar nesse mundo espiritual no melhor estilo de tradição japonesa.

Prós

  • Combate de ação sólido com padrões de ataque inspirados em padrões de Bullet Hell;
  • Trilha sonora dançante que reforça a dose de adrenalina do combate e mistura elementos tradicionais japoneses e eletrônicos;
  • Curioso enredo sobre um choque de realidades que coexistem;
  • Boa quantidade de conteúdo para ambas as protagonistas e variedade em estruturas de fases.

Contras

  • O dinheiro é um sistema trivial e pouco útil no jogo;
  • O combate raramente oferece desafio e seu sistema de cooldown é facilmente quebrado;
  • Algumas missões são um pouco maçantes;
  • Em algumas ocasiões, escudos azuis se confundem com o timing para se defender de ataques físicos;
  • Quedas ocasionais de performance, especialmente no mapa-múndi.
Touhou: New World — Switch/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

Siga o Blast nas Redes Sociais

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).