Análise: Red Dead Redemption (Switch) supera as marcas da idade e mantém parte considerável do seu valor

Este clássico moderno finalmente chega a um console da Nintendo, com DLC e legendas em português.

em 31/08/2023
Em 2010, a Rockstar saiu dos cenários urbanos de Grand Theft Auto e se aventurou no Velho Oeste do começo do século XX em Red Dead Redemption, que se tornou um sucesso incontestável e ganhou uma sequência de qualidade ainda maior, pra dizer o mínimo e eu não enrolar demais com elogios que basicamente seriam chover no molhado.


Ao longo de toda a sua trajetória, a publisher dessas duas franquias de altíssimo calibre nunca as colocou em consoles da Nintendo — a quebra do jejum veio com a lamentável Grand Theft Auto: The Trilogy: The Definitive Edition (esse nome, misericórdia), que decepcionou a todos nós em 2021; e agora com RDR, revelado em um inesperado anúncio 13 anos após seu lançamento original.

Em relação à trágica coletânea de GTAs, podemos dizer que algumas lições foram aprendidas, o que não impediu a Rockstar de cometer erros diferentes. No fim das contas, a experiência original está praticamente intacta, para o bem ou para o mal — muito mais para o bem, claro, considerando que o público brasileiro ganhou o bônus das inéditas legendas em PT-BR.

Cara, cadê minha família?

Estados Unidos, 1911. Com o alvorecer de um novo século, a era do Velho Oeste está com os dias contados frente ao avanço tecnológico e à modernidade dos imponentes centros urbanos, veículos automotores e sistemas de energia elétrica. Algumas cidades ainda encontram dificuldades de se adaptar às mudanças e muitos de seus cidadãos procuram resistir ao progresso, se apegando ao estilo de vida que sempre lhes foi tão tradicional.




Neste contexto, conhecemos John Marston, um pistoleiro que abandonou sua antiga gangue para viver uma tranquila vida de fazendeiro com a esposa e o filho. Porém, entretanto, contudo, todavia, eis que surge o governo dos Estados Unidos para sequestrar a família do John e forçá-lo a caçar seus ex-colegas de crime, alguns dos quais, inclusive, foram se esconder no México, que passa por uma sangrenta guerra civil.

Essa trama não é nenhuma novidade para quem já vivenciou os acontecimentos de Red Dead Redemption; ainda assim, evitarei qualquer tipo de spoiler para não estragar a diversão de quem, assim como eu, ainda não conhecia a fundo este clássico moderno. Além de passar brevemente pelo seu conteúdo, esta análise abordará aspectos mais externos à gameplay prática, como o desempenho do jogo no Switch e os méritos de RDR no mercado de games atual.

Eu conheço todas as mecânicas, desse game todo o conteúdo

Se você ainda não teve contato com Red Dead Redemption, mas jogou algum Grand Theft Auto desde a transição da franquia para o 3D (o que não é muito difícil, considerando que GTA V já deve ter sido lançado até pra máquina de fax a essa altura), sua experiência será bem familiar em alguns pontos, já que a fórmula foi replicada e adaptada para um contexto histórico beeeem diferente, considerando que umas boas décadas separam as duas franquias.




Ainda assim, a base está toda aqui: controlamos um personagem em um cenário de ação e aventura de mundo aberto, cumprindo missões para progredir na trama e realizando inúmeras atividades paralelas. Vários elementos tradicionais de GTA também estão presentes aqui, como as casas seguras, os pedestres que nos pedem ajuda e a força policial que passa a nos perseguir se cometermos algum crime.

Entre as marcas temporais notáveis, algumas das que mais me chamam a atenção são o uso de cavalos como principal meio de transporte e o clássico sistema de nível de procurado, que inclui aqui as possibilidades de se render e ir para a cadeia; pagar o valor da recompensa sobre a cabeça de John Marston para se livrar da perseguição; ou até mesmo subornar um oficial da lei, fazendo com que a polícia pare de nos perseguir, mas ainda mantendo a recompensa.




A quantidade de conteúdo é massiva, sobretudo para os padrões de 2010: se você quiser focar apenas na história principal, já tem aí em torno de 15 horas de gameplay, mas se o seu foco estiver nos 100%, se prepare para passar algumas dezenas de horinhas explorando o bom e velho Oeste americano.

A variedade de tarefas, empregos e hobbies paralelos impressiona pela criatividade, considerando as possibilidades à disposição em uma América do Norte do comecinho do século 20, mas a Rockstar soube trabalhar bem atividades como as partidas de pôquer e as madrugadas na função de vigia noturno. Pode acreditar, não vai faltar o que fazer em nenhum dos lados da fronteira EUA/México.

Fechando o conteúdo, está o DLC Undead Nightmare, que retrata uma realidade alternativa na qual uma praga de mortos-vivos tomou conta da sociedade, e cabe a John Marston encontrar uma possível cura para essa infestação. O humor macabro funciona muito bem, e as alterações em relação à campanha principal conseguem trazer um frescor à gameplay do jogo-base. É um pacote adicional que acrescenta bastante à experiência.

Revendo um velho amigo em uma plataforma nova

Mas afinal, como Red Dead Redemption está se saindo no Switch? E será que vale a pena investir em um título de 13 anos atrás, considerando o que existe à nossa disposição na vasta biblioteca de games do próprio híbrido da Nintendo, sem precisarmos sequer considerar outras plataformas?




Vamos por partes. Devido às limitações do hardware do Switch e à verdadeira bomba que foi GTA Trilogy, o medo de mais um port de baixa qualidade surgiu instantaneamente após o anúncio de RDR para mais consoles. Dito isso, com poucos minutos de jogatina eu pude constatar que o desempenho do jogo não só está redondinho, como parece estar até melhor no modo portátil do que na TV!

Se a performance deste port estava entre as suas preocupações, pode ficar absolutamente tranquilo: tudo funciona na mais absoluta paz, com raríssimos glitches e travamentos insignificantes. As telas de carregamento também são completamente toleráveis, e toda a qualidade da parte visual está intacta. Resta apenas desfrutar da maravilha que é guiar o atormentado John Marston do conforto da nossa cama.

Quanto à validade de experimentar uma obra relativamente antiga para os padrões altamente imediatistas da nossa sociedade, bom… Red Dead Redemption mantém tanto suas qualidades quanto seus defeitos, então fica mais por conta do gosto e do julgamento de cada um. Pessoalmente, me diverti muito durante a maior parte da campanha principal, e nas poucas vezes que deu vontade, procurei uma ou outra missão paralela; ou seja, o jogo cumpriu muito bem seu propósito.




É claro que os mesmos problemas que incomodavam em 2010 continuam incomodando em 2023, como a física truncada e desengonçada, principalmente quando envolve a movimentação dos cavalos, com colisões estranhas e nem um pouco naturais. Também achei que alguns personagens foram muito mal-aproveitados, com arcos de desenvolvimento bem pobres ou simplesmente curtos demais, em que o cidadão é introduzido e não dura nem cinco missões. 

Para concluir, minha maior crítica fica por conta de uma previsível repetitividade durante a campanha principal. Por mais diversas que as missões sejam, uma hora a criatividade acaba, e aí tome missão em cima de missão em que basicamente cavalgamos até algum lugar para balear todos os inimigos presentes e só. Nos momentos finais da saga do amigo Marston, a carga dramática sustenta o interesse muito mais do que a gameplay em si, o que é uma pena, mas até que é tolerável.

Uma viagem no tempo em mais de um sentido



Red Dead Redemption tem uma história memorável, personagens icônicos e uma jogabilidade que marcou uma época áurea para os action-adventures e para a Rockstar, que conseguiu sair um pouco da sombra de Grand Theft Auto.

Sua influência perdura até os dias de hoje, tanto que eu estou aqui, 13 anos depois, falando do seu port para Switch; portanto, se você tem alguma ressalva quanto a experimentar este clássico moderno, recomendo no mínimo dar uma chance. Quem sabe você não se empolga e vai direto para Red Dead Redemption 2 (se já não o tiver feito)?

Prós:

  • Mantém a maior parte de sua qualidade mesmo após 13 anos do lançamento original;
  • Excelente desempenho no Switch, aparentando inclusive estar mais bonito no modo portátil do console;
  • Conta com legendas em português brasileiro pela primeira vez;
  • A quantidade de conteúdo é impressionante, incluindo uma enorme e criativa variedade de atividades paralelas;
  • Inclui o DLC Undead Nightmare, cujo humor macabro e alterações em relação à campanha principal trazem um frescor à gameplay do jogo-base.

Contras:

  • A física do jogo é meio desengonçada, sobretudo a movimentação dos cavalos, com colisões estranhas e pouco naturais;
  • Alguns personagens são mal-aproveitados, com arcos pobres ou curtos demais;
  • A campanha principal inevitavelmente se torna repetitiva, deixando à carga dramática da história a missão de sustentar o interesse do jogador.
Red Dead Redemption — Switch/PS3/PS4/X360/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Rockstar Games

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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