Análise: AKIBA’S TRIP: Undead and Undressed Director’s Cut (Switch) é uma carta de amor à cultura otaku

A versão expandida do jogo adiciona a rota da Kati, que contribui para um bom fechamento da excêntrica obra.

em 11/08/2023

AKIBA’S TRIP: Undead and Undressed Director’s Cut é uma versão aprimorada de AKIBA’S TRIP 2, lançado em 2013 para PlayStation Vita e PlayStation 3. O jogo conta com a inédita rota de Kati, uma alegre maid finlandesa, que, apesar de fazer parte do elenco original, nunca teve sua própria história. A nova rota pode ser considerada como um final verdadeiro, trazendo uma resolução mais satisfatória para a conclusão da trama.

Além disso, todos os DLCs lançados anteriormente estão incluídos na versão do diretor. AKIBA’S TRIP continua sendo uma obra absurda, divertida e uma verdadeira carta de amor à cultura otaku de Akihabara. Mesmo com alguns de seus aspectos sendo defasados, como seus gráficos e o fato de suas referências serem, em sua maioria, de 10 anos atrás, esta ainda é uma aventura gostosa de se vivenciar, principalmente se você for um otaku da época.

Uma oportunidade de emprego em que deu tudo errado

A proposta da aventura em Akihabara não poderia ser mais excêntrica. Nanashi, um jovem otaku e o protagonista da obra, em um belo dia, encontra uma proposta de emprego que era “boa demais para ser verdade”, lhe prometendo um salário modesto, mas com direito a quaisquer figures raras e fora de estoque que ele desejasse.

Sem pensar duas vezes, Nanashi pula de cabeça na oferta e é claro que cai no golpe. O otaku é sequestrado e recebe uma injeção, se transformando em uma espécie de vampiro sintético, um Synthister.  O dever desses seres é sugar a energia das pessoas ao seu redor, tirando suas vidas. Em suma, eles são humanos mais fortes e resistentes que o normal, mas muito vulneráveis à luz solar.

Antes de seguir com o plano cruel dos seus sequestradores, uma bela garota vem ao seu resgate, ajudando Nanashi a derrotar os capangas e bater em retirada com ela. Entretanto, o estrago no corpo do garoto já havia sido feito e sua transformação em um Synthister progredia rapidamente. Caso ele se transformasse completamente, perderia qualquer controle que tivesse sobre si, agindo somente em prol de sua ganância. Para evitar isso, sua salvadora lhe dá um pouco de seu sangue através de um beijo, mas avisa que ele se tornou algo não mais humano e agora a vida de Nanashi nunca será mais a mesma...



Derrotando vampiros com sol e rasgando roupas!

E é assim que a história de AKIBA’S TRIP: Undead and Undressed começa. Nanashi deve lutar junto com seus amigos contra os Sythisters para proteger sua amada Akihabara. E nada melhor para matar vampiros que dar um bom banho de sol neles, tirando sua roupa, certo?

Essa é a mecânica-chave do jogo, algo extremamente bizarro, mas que acabou sendo bem divertido! É simplesmente viciante usar as mais estranhas armas para danificar a roupa de seus oponentes e despi-los em sequência.
Apesar de básica, não se comparando com a complexidade de jogos de ação atuais, essa ideia possui charme em sua simplicidade, me atraindo cada vez mais e mais a seu sistema. É especialmente agradável fazer longos combos de strip em eventos de quick time.

De fato, a proposta de gameplay parece bem pervertida, mas, na prática, as coisas não são bem assim. Despimos ambos homens e mulheres e, muitas vezes, o impacto que as cenas causam são muito mais cômicas que sexuais.

Existem, é claro, algumas poucas imagens despindo cada um dos personagens principais, em alguns eventos relacionados à história, e que são um pouco mais ecchi, porém, ainda assim, nada demais, principalmente para otakus já acostumados com fanservice. Acho que jogos um pouco mais sexy, desde que feitos com carinho e bom humor, são sempre muito bem-vindos e merecem ter um estigma menos negativo.
 

De volta à cidade eletrônica em 2012-2013!

Fora o combate, o jogador está livre para explorar as ruas de Akihabara, com inúmeras lojas e restaurantes, fielmente representados com base no visual real do bairro em 2012. Em alguns estabelecimentos, é possível até mesmo ver suas mascotes oficiais: tive a surpresa de encontrar a personagem Dejiko de DiGi Charat na GAMERS.

Vários NPCs típicos do que se espera no bairro o habitam, de otakus, maids, gothic lolitas e entusiastas da tecnologia a turistas japoneses e estrangeiros. Apesar de serem todos bem estereotipados, foi engraçadinho ver suas falas, mas é uma pena que esses diálogos pequem em variedade e somem rapidamente em textos maiores, às vezes dificultando sua leitura.

São esses pequenos detalhes que nos fazem sentir de volta à Akihabara de uma década atrás, repleta de referências para os otakus, sejam elas de locais, objetos, shows, estereótipos ou personagens. O jogo nunca chega a ser muito obscuro em seu nível de referências;  é claro, existem jogos maiores e melhores nesse quesito, mas, ainda assim, é possível sentir o carinho por Akihabara que foi colocado em AKIBA’S TRIP.

O grande atrativo da nova versão: a rota de Kati

Além da exploração, há um leve aspecto de romance na obra, existindo agora na nova versão uma rota para cada personagem feminina do título: Shizuku, Rin, Kati, Tohko, Shion e Nana. Dependendo de suas respostas, o nível de afeto de Nanashi com as garotas aumenta, definindo com qual delas o protagonista terá um final feliz. Contudo, não recomendo o jogo para fãs assíduos de romance, pois as relações são bem rasas e superficiais, não valendo o investimento caso esse seja seu único interesse.

Com essas considerações, digo que a nova rota de Kati foi interessante e senti que ela deu uma conclusão melhor à história em um geral, agora com um final mais fechado e resoluções mais concretas, além de alguns momentos cinemáticos que deram devida importância a cada personagem e em geral um final mais feliz a obra. Um aviso é que a rota da Kati possui spoilers de outros personagens, então recomendo deixá-la por último.

Em geral, não espere nada grandioso demais em nenhuma das rotas na trama: a narrativa de AKIBA’S TRIP é bem padrão, com alguns furos de roteiro e não chega a empolgar muito, mas, ainda assim, a história é agradável e com algumas divertidas referências à cultura otaku espalhadas.

Uma falha na tradução e alguns pequenos problemas

Outro ponto imersivo para o título é que existem NPCs que distribuem panfletos variados e curiosos de lojas reais de Akihabara (de 2012-2013) no jogo, que vão de simples anúncios de restaurantes de lámen ou lojas de mercadorias a até mesmo outros estabelecimentos mais inesperados, como um izakaya (bar japonês) com temática cosplay, salões de beleza com maids cabeleireiras e vários outros. Foi uma pena perceber que os flyers não foram traduzidos, estando em seu idioma japonês original, algo que considero uma falha grave na localização do jogo. Mesmo que o texto não pudesse ser inserido diretamente nas imagens, deveria haver alguma forma de permitir que o jogador lesse os panfletos em inglês.

Os aspectos que mais me deixaram um pouco incomodada na obra foram a impossibilidade de rever falas anteriores, gráficos de PS3 já bem defasados, personagens secundários sem animações de fala comparados com os personagens principais, que tem, causando uma sensação de estranheza quando temos os dois em um diálogo. Com a boca de uns se mexendo e de outros como estátuas.

Uma obra sobre a nostalgia otaku e apreciação a uma comunidade em Akihabara

AKIBA’S TRIP: Undead and Undressed Director’s Cut é um presente para todos os otakus, sendo ele mais um simulador excêntrico da cidade que uma obra-prima, mas ainda assim, seu sistema único de gameplay, destruindo inimigos através de strip, é interessante e estranhamente divertido. As referências à cidade eletrônica são o charme do jogo e, apesar de eu nunca ter visitado Akihabara, pude captar diversos pontos da cultura otaku representados na obra.

Pode ser que este título não seja o melhor do gênero, mas, caso você seja um otaku e queira sentir um pouco de nostalgia do passado, AKIBA’S TRIP pode ser uma boa pedida para passar algumas tardes relaxando descompromissadamente.

Prós:

  • Diversas referências à cultura otaku dos anos 2010, divertidamente nostálgicas para fãs;
  • Combate fluido, com mecânica excêntrica e equipamentos diferenciados, únicos na série;
  • Mapa do jogo representa com muita riqueza de detalhes a Akihabara da vida real;
  • Nova rota da Kati dá uma resolução mais apropriada para um grande final;
  • Proposta de trama absurda, cômica e com bom humor;
  • Fazer longos combos de remoção de roupas é bem divertido.

Contras:

  • Gráficos extremamente simples, com um visual de 10 anos atrás;
  • Panfletos que recebemos no jogo não estão traduzidos para o inglês;
  • História e desenvolvimento dos personagens poderiam ter sido melhor desenvolvidos;
  • Ausência de ferramentas básicas, como o histórico do diálogo;
  • Direção artística destoante entre personagens principais e secundários;
  • O combate pode parecer um pouco simplório quando comparado com jogos atuais.
AKIBA’S TRIP: Undead and Undressed Director’s Cut — Switch/PS4/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

Siga o Blast nas Redes Sociais

Fascinada pela cultura japonesa dos anos '80, '90 e '00. Ama livros, mangás, sua gata maluca, mahou shoujo e jogos. Em especial Dragon Quest, Fire Emblem, Famicom Detective Club, Okami, JRPGs, retrô, Bishoujo & Otome games. Sempre em busca de jogos estranhos ou com propostas inusitadas. Estuda japonês nas horas vagas para conhecer mais obras do tipo.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).