Desenvolvido pela Agate e publicado pela PQube, Valthirian Arc: Hero School Story 2 é um jogo que combina elementos de simulação e RPG por turnos. Infelizmente, o resultado é um título que não se sustenta em nenhum desses gêneros e que sofre com problemas de desempenho no Switch.
Comandando uma escola de heróis
Hero School Story 2 nos coloca no papel de um diretor de uma escola que prepara os alunos para se tornarem heróis e defensores das terras de Valthirian. A trama é bem simples e se desenrola principalmente por meio de sessões de diálogos que acontecem entre os momentos de gameplay, apresentando detalhes sobre os nobres, os professores e os estudantes, além de um perigo iminente.
Infelizmente, a história demora muito para apresentar aspectos que sejam realmente envolventes, sendo muito difícil se manter concentrado e engajado durante a maior parte das conversas. Como ponto positivo, vale mencionar que não é necessário ter jogado o primeiro Valthirian Arc para aproveitar o enredo desta entrada.
A falta de variedade prejudica o gerenciamento
Como a maior autoridade da academia, cabe ao jogador gerenciar o tempo dos colegiais, decidindo se eles irão estudar, descansar ou sair em expedições. Nesse sentido, o jogo possui um ciclo de meses e anos, no qual um mês se passa sempre que selecionamos a opção de avançar o tempo.
Em essência, os cursos escolhidos definem em qual das quatro classes o estudante irá se desenvolver, sendo elas: Knight; Magi; Cleric; e Arcsmith. Infelizmente, ainda que possamos misturar as classes, cada um dos heróis consegue usar somente duas técnicas em combate, o que acaba limitando bastante as opções de criação de builds.
Os aprendizes se formam após alguns anos e, sempre que isso acontece, o prestígio da nossa escola aumenta e novos aspirantes são matriculados, reiniciando o ciclo. Quanto mais notoriedade a academia recebe, mais edifícios são desbloqueados para construirmos no local e mais colegiais podemos recrutar.
Há uma quantidade bem generosa de construções e cada uma delas gera recursos, como moedas e cristais que funcionam como dinheiro, ou melhora a taxa dos atributos adquiridos pelos personagens durante as aulas. Vale mencionar que podemos escolher quais alunos iremos matricular, o que acarreta uma melhor relação entre o colégio e o nobre responsável pela região de origem do indivíduo selecionado.
É uma pena não termos muita liberdade para organizar o espaço, pois os prédios são levantados somente em locais pré-definidos. Além disso, navegar pela interface é algo bastante estranho, passando a impressão de que o jogo não foi planejado para consoles, pois se assemelha muito mais a títulos mobile.
Embora toda essa premissa de gerenciar uma academia de guerreiros seja muito interessante, a falta de variedade e liberdade acaba fazendo com que a experiência se torne cansativa em pouco tempo.
Creio que algumas mecânicas apresentadas em outros jogos poderiam ajudar bastante a enriquecer o processo de gestão, como a possibilidade de fazer com que os alunos se relacionem e desenvolvam vínculos entre si, vista em Fire Emblem: Three Houses; ou ainda, a oportunidade de criar alianças mais efetivas que envolvem a troca mútua de alguma vantagem, como ocorre em alguns títulos da série Nobunaga's Ambition.
Em suma, a simulação em Valthirian Arc segue sempre a mesma cartilha: matriculamos novos indivíduos; escolhemos as classes que eles vão estudar até se graduarem; ganhamos prestígio com as formaturas; por fim, construímos novas estruturas que vão acelerar um pouco o processo do próximo ciclo.
A exploração e as batalhas também deixam a desejar
Fora dos muros da escola, controlamos diretamente os heróis para cumprir missões simples, como eliminar certo número de inimigos ou coletar itens. Nesse caso, a aventura ocorre em um cenário 3D, no qual visualizamos os monstros caminhando e iniciamos uma batalha ao nos aproximarmos deles. Os confrontos acontecem no estilo de um RPG por turnos, mas, infelizmente, também apresentam alguns aspectos que incomodam bastante.
Em Hero School Story 2, os turnos não são divididos entre os nossos personagens e baseados em algum critério como a velocidade, mas sim compartilhados entre eles. Isso significa que, na nossa vez, podemos escolher qualquer um deles para atacar. Além disso, a barra de AP (que aqui funciona como o clássico MP e é consumido com o uso de habilidades) também é única para os nossos heróis.
Essa escolha faz com que não seja necessário criar táticas de batalha, pois, com a chegada do nosso turno, podemos simplesmente atacar com o nosso personagem mais forte e ignorar o mais fraco. Como o AP também é compartilhado, não há uma razão concreta para utilizarmos os golpes especiais dos heróis menos poderosos.
O que diminui um pouco desse problema (apenas um pouco mesmo) é o fato de os adversários sempre iniciarem a batalha com um escudo. Diferentemente da maioria dos jogos, essa resistência deve ser quebrada por um golpe do seu mesmo tipo. Dessa forma, quando o inimigo possui uma proteção com o símbolo de Magi, devemos usar um ataque dessa mesma classe para que ele se desfaça.
Como cada classe é representada por uma cor específica, essa mecânica acaba deixando o combate intuitivo, pois basta identificar a coloração do escudo do oponente e atacar com uma técnica do mesmo tom.
Outro aspecto que incomoda muito é o fato de as lutas serem extremamente lentas, com a maioria dos ataques possuindo animações demoradas e semelhantes. Por essas razões, sair para explorar e cumprir missões acaba sendo uma atividade muito entediante.
Problemas de desempenho e um curioso fantasma
Todos esses aspectos poderiam ser relevados e aceitos por entusiastas do gênero, porém, o título sofre de um problema ainda mais grave: bugs recorrentes. Em muitos momentos, vi o menu de gerenciamento aparecendo quando não deveria, como durante a graduação. Além disso, sempre que novos personagens chegavam à academia, o diretor aparecia com metade do corpo enterrado no chão.
No entanto, o maior contratempo que presenciei foi uma espécie de aluno fantasma que surgia praticamente em todos os anos. Curiosamente, ele não tinha nome, cabelo ou qualquer outro detalhe rebuscado, parecendo ser algum tipo de modelo base utilizado pelos desenvolvedores. Se esse jogo tivesse sido lançado há uma década, com certeza renderia excelentes creepypastas pela internet.
Não sei exatamente qual era gatilho para que ele fosse criado, mas em alguns momentos ele simplesmente assumia as características de algum dos outros heróis, fazendo com que eu me confundisse durante o gerenciamento das aulas. Também era comum que essa assombração, de alguma forma que não sei explicar, concluísse a graduação, ocasionando mais travamentos nos menus.
Tristemente, trata-se de uma obra muito problemática
Valthirian Arc: Hero School Story 2 é um jogo que apresenta uma premissa intrigante, mas que a executa de uma maneira, no mínimo, problemática. Ainda que possua alguns bons valores que poderiam agradar aos admiradores de simulação e RPG, o título contém muitos bugs que incomodam e limitam demasiadamente a experiência.
Prós:
- A premissa de um ciclo de formar veteranos e matricular novos alunos é interessante;
- É possível fazer com que os heróis desenvolvam habilidades de classes diferentes;
- Há uma boa variedade de construções para a escola;
- A mecânica de quebrar um escudo utilizando um ataque do seu mesmo tipo difere do que costumamos ver em RPGs e deixa o combate intuitivo, bastando prestar atenção na tonalidade que representa cada classe.
Contras:
- O fato de os personagens usarem apenas duas habilidades em combate limita muito a criação de builds;
- A falta de variedade de conteúdo na academia faz com que o jogo se torne cansativo rapidamente;
- As batalhas são muito lentas e as animações dos ataques são muito semelhantes;
- O AP e os turnos compartilhados fazem com que não seja necessário criar uma tática durante os confrontos;
- O jogo sofre com muitos bugs e com a geração de um personagem fantasma;
- É estranho navegar pelos menus do jogo, dando a impressão de ser uma obra pensada para celulares e não para consoles.
Valthirian Arc: Hero School Story 2 — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 5.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube