Análise: The Legend of Heroes: Trails into Reverie (Switch): o legado do passado que dá o pontapé para o futuro

O décimo RPG da série Trails amarra as pontas da série até aqui em uma trama simbólica de resolução antes do início de um novo arco no próximo jogo.

em 05/07/2023
Iniciada em 2004 no Japão, Trails é uma subsérie da franquia de RPGs The Legend of Heroes. Uma de suas principais características é a conexão narrativa entre todos os jogos, criando um universo vasto que os jogadores vão aos poucos conhecendo em cada arco.

No décimo jogo, The Legend of Heroes: Trails into Reverie, temos uma espécie de epílogo para a quadrilogia Cold Steel e todos os seus antecessores. Através da perspectiva de três grupos de grande importância no continente de Zemuria, precisamos lidar com um novo conflito que ameaça botar a perder todo o esforço dos protagonistas nos jogos anteriores.

Três grupos capazes de mudar o mundo

A história de The Legend of Heroes: Trails into Reverie gira em torno de três grupos de personagens. De um lado, temos Lloyd Bannings, o líder da SSS, uma força-tarefa da Polícia de Crossbell que está supervisionando o anúncio de independência da cidade-estado que sempre esteve em uma situação política complicada devido à sua proximidade com Erebonia e Calvard.

De outro lado, temos Rean Schwarzer e os membros da nova Classe VII, que acabam recebendo uma missão secreta devido ao desaparecimento de uma figura importante. Por fim, também acompanhamos a perspectiva do mascarado C, um homem misterioso que está usando o codinome do antigo líder da Frente de Liberação Imperial por motivos desconhecidos e viajando com três outros personagens novos para a série.

Sem entrar em muitos detalhes, a obra é uma continuação de Cold Steel IV, tendo relação direta com os eventos dos jogos anteriores. Embora não seja difícil entender a trama que, na verdade, é bem simples, boa parte do valor da experiência está na relação entre o jogador e os personagens, algo já construído ao longo dos títulos anteriores. Por conta disso, não vale a pena jogá-lo sem ter passado pelos outros primeiro.

Para quem já acompanhou a série até aqui, porém, trata-se de um dos pontos altos da narrativa geral. Como uma espécie de despedida para os arcos de Crossbell e Erebonia, Reverie traz uma interessante perspectiva sobre confrontar o passado, transformar a si próprio no presente e consolidar os esforços coletivos em um futuro melhor. O tópico já esteve presente na duologia Crossbell como parte das reviravoltas finais da trama, mas neste jogo ganha a proporção de uma conclusão simbólica para a série até aqui e um pontapé para o que está por vir (o arco de Calvard, já iniciado no Japão).

A mais nova evolução dos combates de turno

A série Trails é composta por RPGs baseados em turnos nos quais o posicionamento de aliados e inimigos no campo de batalha importa. A cada título, novas mecânicas foram sendo adicionadas para aumentar a capacidade estratégica do jogador durante o combate.

Cada personagem possui um turno individual e a ordem pode ser vista no canto esquerdo da tela. Para determinar quem será o próximo a agir, fatores como a velocidade de cada pessoa e a ação escolhida no turno anterior influenciam, sendo possível optar por apenas se movimentar pelo campo para que o seu próximo turno chegue mais rapidamente do que um inimigo que usou um ataque, por exemplo.

Além de se movimentar, realizar ataques básicos e usar itens, o jogador pode utilizar magias, crafts e ordens. As magias são poderes especiais que demandam dois turnos para ser ativados e são ligados a atributos específicos, podendo ser de ataque ou suporte e ter áreas de efeito bem diferentes. Esse elemento é customizável graças ao sistema de Quartz (similar à Materia de Final Fantasy VII) que permite escolher pedras elementais com poderes específicos cuja combinação determina a lista de magias à qual o personagem terá acesso, além de afetar parâmetros como ataque, defesa e capacidade de infligir efeitos especiais com golpes físicos.

Já os crafts são poderes totalmente individuais aprendidos quando os personagens chegam a níveis específicos de força. A maioria deles funciona como ataques físicos com efeitos especiais, mas há também aqueles com propriedades curativas, por exemplo. Os crafts também possuem uma categoria especial chamada S-Craft, que são os golpes especiais mais poderosos e consomem toda a energia CP (craft points) acumulada ao atacar e receber dano em batalha.

Os S-Crafts podem ser usados também durante o turno dos inimigos, quebrando o ritmo do combate a favor do jogador. Esse é um fator bem importante da série desde Trails in the Sky, já que os turnos também são associados a benefícios específicos, como crítico 100% garantido ou recuperar HP, EP (das magias) e CP. Saber usar os S-Crafts para extrair o melhor da ordem de turnos é um elemento fundamental da estratégia de combate.

Por fim, as ordens (Brave Orders) são habilidades de buff (melhoria de atributos e vantagens passivas) que podem ser ativadas somente no turno de um aliado. Os efeitos variam de acordo com o personagem da equipe que for selecionado, mas essa técnica não consome o turno, apenas a pontuação chamada BP (Brave Points). Porém, só uma ordem pode estar ativa por vez, o que impede o jogador de sobrecarregar os benefícios dessa mecânica.

Os BPs também são utilizados como parte da mecânica de ataque conjunto da série. Como introduzido em Cold Steel, os personagens podem se manter conectados aos aliados, o que permite a ativação de habilidades passivas conforme eles vão fortalecendo sua amizade ao longo do tempo. Ao atingir um inimigo com um ataque, o jogador tem a chance de pedir para o parceiro golpeá-lo em sequência em um ataque simples que aumenta o BP ou consumir essa energia para ativar um Rush (os dois atacam os inimigos) ou um Burst (todos os aliados ativos atacam).

Além desses fatores, há também uma mecânica de Break que deixa os inimigos vulneráveis ao serem atingidos o suficiente para quebrar uma barra especial. Todas essas mecânicas já estavam presentes em Trails of Cold Steel III e IV, mas, em Reverie, também foi adicionada a United Front, um sistema similar ao Burst, mas tendo como diferencial a inclusão dos aliados da reserva. Porém, em vez de consumir BP, essa técnica gasta a energia Charge, que é utilizada para atingir inimigos fora da batalha com prioridade de turnos.

De forma geral, são várias mecânicas para ficar de olho. Embora possa parecer algo muito complexo para quem nunca jogou os anteriores, a lógica de adicionar poderes aos poucos ao longo dos vários jogos da série fez com que esses elementos estratégicos fossem introduzidos de forma confortável. O resultado é termos em Reverie o ponto mais alto da série até o momento no quesito “dinamicidade”, dando ao jogador várias táticas para explorar durante o combate.

Outro elemento importante de se mencionar é que Reverie inclui uma área especial chamada True Reverie Corridor, que pode ser acessada durante boa parte do jogo. Lá, é possível explorar uma dungeon procedural (que só passa pelo processo de aleatorização do layout quando o jogador quiser), obter vários tesouros e liberar minigames e histórias opcionais (similares às Memory Doors de Trails in the Sky the 3rd). Curiosamente, o jogo representa o processo como um gacha, mas basta avançar na dungeon para pegar as pedras necessárias para obter todos os personagens e histórias adicionais.

O que esperar no Switch?

Honestamente, a maior crítica que tenho ao jogo é referente especificamente à versão de Switch. Durante meu tempo com o jogo, vivenciei uma performance que oscilava muito. Em algumas horas até mesmo na mesma área, uma leve mudança de câmera era a diferença entre uma performance quebrada com um fps muito baixo e um jogo que rodava de forma bem ágil.

Como isso também afeta algumas cutscenes, foi impossível passar pelo jogo sem notar quedas brutais de quadros por segundo. O carregamento em algumas horas também era demorado, sendo realizado, às vezes, em vários momentos de uma mesma cutscene ou simplesmente na interação com uma porta específica na reta final da história. Apesar disso, vale destacar que o modo turbo ajuda a agilizar consideravelmente o jogo, embora não resolva o problema, e é bem útil para os momentos de exploração mais lentos do jogo.

Por fim, gostaria ainda de destacar que, como usual da Falcom, The Legend of Heroes: Trails into Reverie tem uma excelente trilha sonora. Em especial, os trechos de rock para o combate são muito envolventes e ajudam a dar adrenalina à experiência.

Olhando para o futuro pelo prisma do passado

Com o sistema de turnos mais completo da série até agora e uma importante catarse simbólica em sua trama, The Legend of Heroes: Trails into Reverie encerra com chave de ouro os arcos de Crossbell e Erebonia. Devido a problemas de performance, a versão de Switch talvez não seja a melhor opção para vivenciar essa saga, mas a obra em si é uma fácil recomendação para os fãs do gênero que já aproveitaram os títulos anteriores.

Prós

  • Uma boa conclusão para os desafios que os personagens enfrentaram até aqui;
  • Batalhas baseadas em turno dinâmicas e com vários elementos estratégicos interessantes;
  • Trilha sonora de alta qualidade;
  • O modo turbo ajuda a agilizar a exploração consideravelmente.

Contras

  • A performance no Switch oscila bastante, com momentos de queda drástica de fps e carregamento demorado;
  • Contraindicado para quem não jogou todos os nove títulos anteriores devido à perda de valor de alguns elementos da trama.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie — Switch/PC/PS4/PS5 — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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