Análise: Disney Illusion Island (Switch) é uma divertida aventura cooperativa

Porém, as expectativas precisam ser equilibradas.

em 27/07/2023
Um jogo de plataforma do Mickey e seus amigos com a palavra “ilusão” no título? Para jogadores velhos de guerra, Disney Illusion Island pode trazer expectativas nostálgicas. As novas gerações, por sua vez, podem ser atraídas pelo traço que se assemelha às animações mais recentes dos personagens. Mas afinal, a turma consegue presentear todos esses fãs com um bom jogo?


Um chamado (malandro) para a aventura

Mickey, Minnie, Donald e Pateta se encontram na ilha de Monoth com a promessa de ser um lugar perfeito para um piquenique. Contudo, logo descobrem que o convite para os comes e bebes não passou de uma artimanha do povo local para pedir a ajuda dos heróis.

O Rei Toku solicita que os quatro amigos percorram os ambientes de Monoth e recuperem os três livros mágicos utilizados para proteger a ilha. Sob protestos do Pato Donald e a confusão do Pateta em entender que não há piquenique algum, o casal Mouse aceita o chamado à aventura.

É uma história básica, simples e direta, mas apresentada com muito bom humor e carisma. O que em outros jogos seriam chamadas de cutscenes, aqui significa assistir a uma verdadeira animação, com direito aos dubladores originais e tudo. Os diálogos in game, apresentados em caixas de texto, mantém o nível engraçadinho e simpático, arrancando sorrisos ao longo da jornada.

Um baita ponto negativo (para os brasileiros)

Porém, já que o assunto é a história e o bom humor, cabe ressaltar aqui um grande revés na experiência com Disney Illusion Island: não há opção de dublagem ou legenda em português. Para curtir plenamente a história, suas piadas – e reviravoltas – é preciso ter um conhecimento para além do básico nos idiomas disponíveis.

Nas cenas animadas, a legenda é opcional e, embora a dublagem seja ótima, compreender o que o Pato Donald diz com aquele seu modo de falar característico não é exatamente fácil, ainda mais em uma língua que não é a sua habitual. Já as caixas de diálogo são recheadas de expressões, aliterações e jogos de palavras que podem deixar perdida uma pessoa com conhecimento mediano do inglês ou espanhol (ou outro idioma alternativo, como francês e chinês).

Claro, há a possibilidade de pular as cutscenes e acelerar os diálogos escritos, mas isso significaria deixar de lado metade da graça do jogo. A falta de pelo menos legendas em português é, portanto, um grande ponto negativo.

Foco em um recorte do mundo Disney

Apesar da história contar com objetos mágicos, a tradicional vilã Maga Patalógika não está presente no jogo. Na verdade, os únicos personagens conhecidos do universo Disney que dão as caras por aqui são os quatro protagonistas mesmo.

Em compensação, o foco total neles faz com que suas principais características sejam ressaltadas e suas personalidades carregam o jogo. As trapalhadas de Pateta e o humor sarcástico de Pato Donald, em especial, roubam a cena em todas as oportunidades.

Isso é utilizado inclusive nos acessórios que concedem habilidades ao longo da aventura. Cada personagem é presenteado com um objeto distinto que vai permitir pular em maior distância, quebrar barreiras no chão, mergulhar, quicar nas paredes etc.

Desse modo, enquanto um ganha um lápis para deslizar pela parede, outro recebe um garfo; enquanto um tem um foguete, outro tem uma bisnaga de catchup. Além de gerar uma piada recorrente com o Donald, é um mecanismo que confere movimentação própria a cada protagonista e realça sua personalidade, ainda que, na prática, não faça diferença na jogabilidade.

Referências ilusórias

Como dito na introdução desta análise, o uso da palavra “ilusão” no título deste jogo conduz à nostalgia de jogos passados, mais especificamente Castle of Illusion (Mega Drive), grande sucesso da era 16 bits que rendeu duas continuações e serviu de referência a Epic Mickey: Power of Illusion (3DS). Contudo, a nostalgia se resume ao uso da palavra.

Disney Illusion Island não aproveita nada desse arcabouço construído desde os anos 1990. Nem mesmo segue o esquema tradicional de jogo de plataforma, como a referência aos jogos anteriores poderia dar a entender.

Aqui a progressão se assemelha mais ao estilo metroidvania, com muitas idas e vindas pelo mapa, que é revelado aos poucos. Desse modo, a referência a Quackshot (Mega Drive), com o desentupidor de pia de Donald, é mais certeira.

Contudo, sem o uso da galeria de personagens ao seu dispor, o time do Dlala Studios opta por rostos inéditos, como o fornecedor de habilidades, Mazzy, e o robô que fornece pedaços do mapa. Seria mais legal se carinhas familiares aparecessem pela ilha.

Muito para se fazer e colecionar

Por falar em aparência, o visual e os cenários são bem bonitos, com a transição entre as áreas ocorrendo de forma suave, o que passa a sensação constante de ambiente integrado e jogo non-stop. A câmera se aproxima quando o corredor possui poucos elementos, e se distancia bastante quando o cenário apresenta muitas possibilidades, o que acontece em boa parte do tempo.

Para além dos inimigos e obstáculos, há objetos colecionáveis espalhados por diversos cantos. Alguns elementos são visíveis e o desafio proposto é chegar até eles. Outros itens estão em trechos escondidos do ambiente, tal qual no clássico Donkey Kong Country (SNES).

Para quem gosta de coletar segredos, é um prato cheio. Em troca, é possível acessar a galeria para ouvir músicas, ver esboços dos personagens e dos cenários, dentre outras coisas.

Depois que se ganha a máquina fotográfica, há também o desafio de tirar fotos de objetos e detalhes do cenário que tenham o formato da silhueta clássica do Mickey. Há a dificuldade de encontrar a imagem e, em alguns casos, de conseguir chegar na posição ideal para tirar a foto.

Mais fáceis de pegar são os glimts, luzes azuladas fartamente presentes no cenário que quanto mais são acumuladas, liberam partes das imagens na galeria e corações para os personagens. É possível escolher se vai jogar a aventura com um, dois ou três corações, o que é positivo para regular a dificuldade. Particularmente, joguei com o máximo de corações e morri pouquíssimas vezes, tornando as piscinas regenerativas desnecessárias.

Não que morrer seja um grande problema: não há contagem de vidas nem uma tela de game over. O jogo utiliza caixas de correio como checkpoints, e morrer significa retornar para a última que foi ativada.

Mais tarde, as caixas também servem como fast travel pelos cenários, algo bem prático. Pena que tal função só é ativada no finalzinho do jogo. Até que ela esteja disponível, as idas e voltas pelo mapa acabam se tornando cansativas.

Aventura para a turma toda

O grande chamariz do jogo é a possibilidade de se jogar com mais três amigos localmente. Com certeza a experiência é outra, vendo a movimentação de cada personagem em tela.

A câmera acompanha o player 1. Caso os outros fiquem muito para trás, os personagens viram cartas e voam em direção ao primeiro jogador. Em caso de morte, as cartas podem ser encontradas voando em torno da caixa de correio mais próxima.

O multiplayer ainda traz a possibilidade de mais uma referência à era 16 bits. Quando os personagens estão em níveis diferentes, o de cima pode jogar uma corda para o que está embaixo, como acontecia na clássica série Disney's Magical Quest (SNES).

Um detalhe fofo é que há um botão para abraço. Se dois personagens se abraçarem, aquele com mais corações cede um para o amigo com menos energia.

Batalhas (ou quase isso)

Perde-se energia ao calcular mal um pulo e cair em um espinho ou trombar com um inimigo. Disney Illusion Island é family friend e não conta com um sistema de ataque, nem mesmo o tradicional “pulo na cabeça”.

A opção é observar a movimentação do adversário e planejar a melhor estratégia para passar sem levar dano. É mais uma quebra na expectativa de um jogo de plataforma, mas adiciona uma dinâmica interessante.

As batalhas se restringem aos chefes, em situações que envolvem desviar dos ataques e acertar os mecanismos do cenário no momento certo para que o boss seja atingido. As lutas nunca duram mais do que deveriam, mantendo o interesse.

Uma ilha de aventuras e ilusões

Disney Illusion Island
se apresenta como um jogo mediano. Ele não inventa a roda nem traz novidades, fazendo um feijão com arroz básico, mas bem feito. A jogabilidade é boa e a movimentação dos personagens é excelente. Mickey e seus amigos, aliás, sustentam o game com seu carisma e bom humor, mas definitivamente não é um jogo de plataforma como a descrição oficial está vendendo o título nem um revival da série Illusion que fez casa em nosso coração na época dos 16 bits.

Prós

  • Sensação de jogo ininterrupto bem aplicada;
  • Excelente jogabilidade e movimentação de personagens;
  • História bem humorada e carisma dos personagens.

Contras

  • Experiência com a história é prejudicada pela falta de legendas em português;
  • Movimentação pelo mapa se torna cansativa até o fast travel ficar disponível;
  • Coadjuvantes genéricos poderiam dar lugar a rostos conhecidos.
Disney Illusion Island — Switch — Nota: 6.5
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Disney Interactive
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Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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