Depois de receber diversos jogos de alta qualidade ao longo de mais de duas décadas, a série Atelier, desenvolvida pela Gust, retorna às raízes com Atelier Marie Remake: The Alchemist of Salburg, uma nova versão do primeiro título lançado para o PlayStation em 1997.
Uma aluna problemática
A protagonista de Alchemist of Salburg é Marlone (também conhecida como Marie), uma estudante de alquimia com as piores notas registradas na história da Royal Academy of Magic.
Apesar de seu histórico desfavorável, sua professora Ingrid reconhece seu potencial e oferece a ela a oportunidade de se formar através de um último teste: Marie deve supervisionar um ateliê e, dentro de cinco anos, sintetizar um item extraordinário.
Com essa premissa, a história se desenvolve de forma modesta, sem grandes acontecimentos ou reviravoltas. Essa simplicidade também se reflete na jogabilidade, proporcionando uma experiência relaxante.
Liberdade para se desenvolver
Uma das características mais interessantes de Alchemist of Salburg é a autonomia que o jogador tem, uma vez que, de certa forma, não há um roteiro único a ser seguido. O nosso objetivo principal é capacitar Marie na alquimia e surpreender Ingrid ao final do prazo estabelecido. Para fazer isso, devemos constantemente aprender novas receitas.
Inicialmente, uma das principais formas de obter prescrições é comprando-as na academia. Nessa perspectiva, a maneira mais eficiente de ganhar moedas é atendendo aos pedidos feitos na taverna. Enquanto algumas solicitações envolvem a entrega de itens comuns encontrados na natureza, outras exigem produtos mais elaborados que precisam ser fabricados em nosso ateliê.
Ao realizar essas tarefas, não apenas somos recompensados com recursos monetários, mas também com reputação e conhecimento. O primeiro aspecto permite que Marie possa contratar aventureiros mais habilidosos para ajudá-la em expedições fora da cidade. Enquanto isso, o conhecimento possibilita que ela possa ler livros mais avançados e aprender novas fórmulas.
Embora o objetivo final seja claro e conhecido desde o princípio, o ritmo dessa jornada depende inteiramente do jogador. Portanto, temos total liberdade para escolher o que fazer e quando fazê-lo.
Para evitar que fiquemos completamente perdidos, o jogo apresenta, de maneira bastante inteligente, um tipo de teste anual conduzido pela professora. Nesse exame, somos instruídos a alcançar um objetivo específico, como atingir um determinado nível de reputação ou fabricar uma certa quantidade de produtos.
A simplicidade não é um problema
Com itens para sintetizar e missões para cumprir, devemos nos aventurar nas áreas abertas para coletar os ingredientes necessários. Além de servir como fonte de matéria-prima, esses locais também abrigam monstros que podemos enfrentar em batalhas por turnos igualmente descomplicadas e que não oferecem muita variedade de ações além das mais básicas, como ataque, defesa e habilidades especiais.
Conforme mencionado anteriormente, Marie tem a capacidade de contratar outros personagens para acompanhá-la em suas aventuras. Dessa forma, o grupo é composto por mais dois indivíduos além da protagonista, e é possível alterá-lo a qualquer momento na cidade, mediante o pagamento pelos seus serviços.
Embora existam várias regiões diferentes, elas são relativamente pequenas, o que reduz a necessidade de uma exploração extensa. Além disso, conseguimos simplesmente ativar uma opção que permite que a alquimista colete automaticamente um material por dia, tornando o deslocamento menos crucial.
Os confrontos também não exigem muita estratégia, e, apesar de serem divertidos, após algumas horas de jogo acabei ativando a função de batalha automática e acelerando as animações para tornar o progresso mais rápido.
Toda essa simplicidade pode soar como um ponto negativo, mas acredito que seja muito bem-vinda nesse título específico, pois permite que nos concentremos no ponto forte de Alchemist of Salburg: a gestão do tempo.
É importante destacar que essa nova versão inclui a opção de um modo ilimitado, no qual conseguimos jogar sem a restrição do prazo de cinco anos. No entanto, recomendo que o modo padrão seja utilizado, pois o jogo já carece de desafios significativos em sua essência, e o elemento temporal nos instiga a pensar antes de agir.
Lidando com prazos e apreciando qualidades que já são comuns na série
Em Alchemist of Salburg, todas as ações consomem tempo. Portanto, dar uma volta pela cidade leva um dia inteiro, enquanto se aventurar por regiões distantes ou criar produtos complicados pode levar semanas.
Por esse motivo, é necessário planejar cuidadosamente nossas atividades, pois os pedidos da taverna têm prazos, e o descumprimento deles afeta negativamente a reputação da jovem alquimista.
Minha única ressalva em relação a esse sistema pertence à coleta de itens. Embora seja interessante que as datas passem rapidamente enquanto fabricamos artigos ou viajamos para lugares remotos, acho um tanto estranho que leve um dia inteiro para pegar um item comum na grama ou em uma árvore.
Um aspecto importante envolvendo o calendário é o fato de alguns eventos só ocorrerem em dias específicos. Ainda nesse sentido, esses episódios costumam apresentar diálogos que dão mais personalidade aos indivíduos e possuem requisitos para ser iniciados, como ter um certo nível de amizade com o aliado ou entrar em um estabelecimento em um determinado momento.
Outro ponto positivo é que, mais uma vez, a Gust nos presenteia com um elenco diversificado de personagens carismáticos. Embora não haja um aprofundamento significativo neles (em grande parte devido à falta de tempo, já que o jogo é curto), a maioria dessas pessoas é interessante o suficiente para atrair nossa atenção durante os momentos de conversa.
Os habitantes de Salburg se tornam ainda mais encantadores devido aos adoráveis modelos chibi que possuem, o que considero uma escolha excelente para esse remake. Como ponto negativo, é uma pena que a excelente dublagem presente no título seja utilizada em poucas situações.
Por fim, preciso mencionar que a trilha sonora de Alchemist of Salburg é incrivelmente animada e viciante, especialmente as faixas que tocam dentro do ateliê e nos momentos de tutorial. Admito que houve momentos em que eu não queria sair da oficina simplesmente para continuar ouvindo aquelas músicas cativantes.
Nada menos do que o esperado dessa excelente franquia
Atelier Marie Remake: The Alchemist of Salburg é uma aventura relaxante, divertida e encantadora, proporcionando uma excelente oportunidade para os fãs da série conhecerem suas origens, além de servir como uma boa introdução para novos jogadores terem uma ideia da qualidade que a franquia tem a oferecer.
Prós:
- Um merecido resgate da origem da série, sendo uma ótima oportunidade de conhecermos como tudo começou;
- A simplicidade dos sistemas de combate e exploração fazem com que o foco fique totalmente na síntese e no gerenciamento do tempo;
- O modo ilimitado pode agradar as pessoas que não gostam da ideia de uma data-limite;
- O elenco de personagens é carismático e beneficiado por um visual chibi adorável;
- A trilha sonora é animada e viciante;
- Os exames anuais impostos pela professora auxiliam eficazmente quem se sentir perdido;
- A necessidade de gerenciar o tempo para não perder prazos é muito interessante e faz com que o jogador planeje seus atos.
Contras:
- Faz pouco uso da excelente dublagem que possui;
- O conceito de gastar um dia inteiro para coletar um item simples é, no mínimo, estranho;
- Pessoas acostumadas com RPGs podem achar esse título muito fácil e curto.
Atelier Marie Remake: The Alchemist of Salburg — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo