Em agosto dos anos 2000, a bolinha rosa da Nintendo recebeu uma inusitada nova aventura. Neste ano, Kirby Tilt ’n’ Tumble foi lançado para Game Boy Color, com um cartucho de formato diferente e cor rosada como um chiclete. O jogo contou com um mecanismo de acelerômetros embutido, e foi o único do GBC a receber essa tecnologia.
Devido a esse sistema, Kirby Tilt ’n’ Tumble é uma experiência consideravelmente diferente das outras da série, pois sua jogabilidade foi planejada inteiramente pensando em como equilibrar Kirby em seus cenários, como se ele estivesse em um tabuleiro interativo em nossas mãos.
Aqui, a conhecida habilidade de copiar poderes da bolota cor de rosa não está presente. A maior parte de sua jogabilidade consiste em resolver quebra-cabeças de forma criativa, fazendo uso dos acelerômetros do cartucho em uma corrida contra o tempo por trajetos cheios de curvas arriscadas.
A presença do acelerômetro embutido em seu cartucho impossibilitava que o jogo fosse aproveitado fora do Game Boy, mas, em junho deste ano, foi anunciada a inclusão de Kirby Tilt ’n’ Tumble na lista de títulos disponíveis no Nintendo Switch Online, marcando sua primeira adaptação para outra plataforma oficial.
Acesso difícil é coisa do passado
Particularmente, Kirby Tilt ‘n‘ Tumble foi um dos jogos que marcou minha infância, tanto que eu até recomprei recentemente seu cartucho na esperança de finalmente conseguir terminá-lo, agora já mais velha. A notícia de que ele estaria disponível para todos os assinantes do serviço foi recebida bastante alegria, e não é por menos: apesar de ser extremamente curto, beirando apenas três horas de jogatina, ele não deixa de ser um ótimo produto, mostrando com força o carisma de nossa bolota cor de rosa desde os anos 2000.
A experiência de se jogar o título no Switch é um pouco diferente do original. Pude sentir que os controles no Game Boy são um pouco mais precisos que no console híbrido, possivelmente devido a uma tecnologia diferente implementada nos dois, mas o jogo em sua nova plataforma ainda é perfeitamente jogável, sendo possível inclusive desfrutar do modo docked, seja no Pro Controller ou nos Joy-Con.
Comparando as duas modalidades, senti que a precisão dos controles com os Joy-Con/Pro Controller é um pouco menos precisa do que quando estamos jogando de maneira portátil, suponho que devido a sermos induzidos a realizar movimentos mais suaves enquanto movimentamos a tela propriamente dita, ao contrário de quando apenas usamos o controle, sem isso afetar nosso ângulo de visão na TV.
Devo admitir, porém, que foi meio assustador jogar no modo portátil. Temos que movimentar bruscamente o console em um ângulo de 90º graus em direção ao nosso rosto para arremessar Kirby no ar, e como o Switch é consideravelmente maior que o Game Boy, tive um pouco de receio do sistema ser lançado de minhas mãos.
Um desafio de equilíbrio e precisão
Em Tilt ‘n’ Tumble, precisamos controlar a bolinha rosa como se estivéssemos equilibrando-a em uma mesa cheia de obstáculos e buracos, o que é bem desafiante, e em alguns momentos chega até ser um pouco frustrante. É necessário usar uma combinação de pulos e movimentos precisos no tempo certo para conseguir sobreviver e desviar do que está ao nosso redor.
Felizmente, não somos obrigados a recomeçar desde o início quando perdemos todas as vidas disponíveis; apenas voltamos ao último checkpoint, que são distribuídos duas ou três vezes em cada fase. Vale lembrar que é sempre possível voltar no tempo graças à funcionalidade de retroceder disponível no Switch Online, caso você sinta que morreu em alguma curva injusta e falte um pouco de paciência para tentar novamente.
Não há muita variação nos puzzles no decorrer da campanha, mas ainda assim existem efeitos diferentes nas fases para diferenciar uma área (ou mundo temático) da outra. Existem as fases em que devemos tomar cuidado para não nos afogarmos na água, sendo bem mais difícil movimentar Kirby enquanto ele está flutuando; blocos que caem ao serem tocados mais de uma vez; blocos de aceleração que controlam a movimentação em uma única direção; painéis de pulo que podem ser usados para conseguir impulsos nas fases; terrenos de gelo que tornam Kirby muito mais escorregadio ao deslizar por ele; e buracos nos quais podemos nos enfiar para alcançar locais diferentes, entre outros.
Em um ponto mais avançado da jornada, temos pequenos puzzles nos quais devemos pensar em como a gravidade afeta outras partes do cenário, e não somente Kirby, tendo que inclinar o console para abrir passagens, por exemplo. A variação de desafios de lógica e obstáculos não é tão diversa se pensarmos nos padrões atuais, mas para um jogo portátil experimental dos anos 2000, seu volume é satisfatório.
As batalhas contra chefes são executadas de forma bem simples, não tendo muita variação de design tanto em estratégia quanto na aparência dos sprites. Ainda assim, o cenário das batalhas tenta culminar grande parte dos desafios que vemos em torno do mundo em que estamos. Se, por exemplo, as fases são temáticas com blocos que se quebram ou blocos escorregadios de gelo, esses elementos geralmente estão presentes também na batalha contra o chefe, alterando levemente como devemos agir na luta.
No final das contas, o mais difícil não é enfrentar inimigos ou chefes poderosos, e sim se equilibrar, não caindo do tabuleiro e controlando seu tempo para que ele não se esgote antes do final da fase. Isso reflete bem a proposta de não termos poderes especiais, pois o objetivo de fato é ser uma experiência inovadora, diferente de outros jogos do Kirby. Podemos dizer até que este é um legado da ambição já enraizada da Nintendo de sempre estar inovando em futuros consoles, como o DS, o Wii e até mesmo o Switch.
Um marco para a preservação de jogos
No geral, Kirby Tilt ’n’ Tumble é divertido sem deixar de ser desafiante, uma boa forma de se ocupar uma tarde de folga em um final de semana tranquilo graças à sua natureza curta, rápida e intuitiva de se jogar e completar em poucas horas. Por outro lado, se você não tiver bastante noção de equilíbrio, pode ser um pouco mais difícil chegar ao final de uma só vez.
Talvez o ponto mais importante de se notar no relançamento desta aventura de Game Boy Color é que sua adaptação para o Switch configura um marco histórico na preservação de jogos, mostrando que obras previamente impossíveis de se adaptar devido às suas restrições de hardware únicas podem sim ser transportadas para novas plataformas quando cuidado e dedicação são presentes no projeto. Com certeza, esse é um motivo de comemoração para os gamers, que podem ficar na esperança de que cada vez mais títulos com formas diferentes de se jogar possam ser resgatados para as gerações atuais.
Revisão: Davi Sousa
Artigo produzido com assinatura do Switch Online cedida pela Nintendo
Artigo produzido com assinatura do Switch Online cedida pela Nintendo