Análise: IDEA (Switch) carrega uma experiência atraente, mas dependente de fatores externos

Uma maneira interessante de viajar para uma cidade finlandesa, três toques por vez.

em 27/06/2023


Em verdade, sabe-se que algumas obras de arte são produzidas apenas para apreciação. No entanto, os desenvolvedores da TLR Games viram no curta-metragem do finlandês Olli Huttunen uma oportunidade para transpor a produção antes apenas contemplativa para uma experiência mais interativa e, assim, recebemos o jogo IDEA, que compartilha o nome e, bem, a ideia original com o filme que lhe deu origem.

Às vezes é bom um empurrãozinho, outras vezes é melhor deixar rolar

Caso o leitor seja uma pessoa mais distraída como eu, terá a impressão de que IDEA lhe joga de cabeça num mundo desconhecido para que abra seu próprio caminho de descobertas. No entanto, olhos mais atentos perceberão que, na tela inicial, existe uma engrenagem que contém um pequeno tutorial que lhe ensina tudo que é necessário para compreender o funcionamento do jogo. Não que fosse 100% necessário, pois controlar personagens movimentando o analógico é intuitivo para jogadores de videogames de forma geral, e bastam apenas algumas poucas tentativas para pegar o jeito e compreender a função de todos os elementos presentes da HUD.

Pois bem, em IDEA, controlamos uma lâmpada — simbolismo clássico para a representação de ideias — envolta por um círculo. Com o analógico ou usando a tela sensível a toques do Switch, é dever do jogador fazer com que a lampadazinha se movimente por 144 cenários compostos por imagens reais, captadas por drone em HD, de uma cidade na Finlândia. Como o próprio tutorial adianta, o objetivo principal do jogo é simplesmente aproveitar o passeio visto de cima, mas também é interessante mirar na busca pelos sete finais presentes no caminho.




Há dois timers no canto superior da tela: o primeiro, que corre mais devagar, indica a temporização da música de fundo (limite total para a partida); o segundo, mais rápido, é o tempo disponível para permanecer na mesma área. Estão disponíveis, a princípio, três movimentos para sair do cenário atual e passar para o próximo, onde os movimentos são recarregados e repetimos esse ciclo até que um dos dois timers se esgote ou encontremos um dos finais, representados no cenário como um brilho forte e convidativo.

Não há inimigos aqui, apesar de, em alguns momentos, carros andando atrapalharem sua árdua subida por uma rua íngreme, mas, às vezes, ficamos na torcida para que possamos usar algum automóvel como impulsionador de nossa ideia. Em suma, todo o cenário, seja sua parte estática quanto seus elementos móveis, ajuda a compor essa espécie de pinball.

Após alguma tentativa e erro, é perceptível que não se pode, assim como na vida real, tentar forçar uma ideia a acontecer. Simplesmente gastar os três movimentos em sequência não levará sua lâmpada a lugar algum na maioria dos cenários e eventualmente teremos uma luzinha solitária e presa em algum canto até que o tempo acabe e seja possível recomeçar do zero. Para alcançar áreas mais difíceis, pode parecer que três movimentos são insuficientes — e às vezes são mesmo —, porém, é possível aumentar o número de impulsos com o tempo ou coletando diretamente o power-up pelo cenário em algumas áreas. 




IDEA pede, simultaneamente, calma para tentar antever seus próximos movimentos e agilidade para que, com o planejamento em mente, seja possível alcançar seu objetivo — ou, pelo menos, encontrar um plano B para ir para outro cenário antes de esgotar o tempo. Em termos de gameplay, o jogo torna planejar a hora de gastar os movimentos ou de deixar as coisas acontecerem naturalmente em uma experiência satisfatória. É muito fácil aprender e se acostumar com as mecânicas do jogo e é encorajador saber que existem tantos belíssimos cenários esperando para serem explorados, além de colecionáveis e troféus que incentivam a rejogabilidade.

Porém, jogar muitas vezes seguidas pode tornar a experiência frustrante. Algumas áreas parecem requerer uma rota muito específica e difícil para se alcançar, enquanto outras serão vistas com mais frequência do que se espera em um jogo cujo objetivo é conhecer lugares e ideias diferentes. 

Colírio para os olhos, música para os ouvidos

Cada área do jogo é um pedaço da cidade capturado por uma câmera de drone, vista de cima, como se fosse uma tela do Google Maps, porém, com mais vida, pois temos carros, pedestres e ciclistas movimentando  a paisagem. Todas as imagens possuem uma altíssima resolução e são belíssimas e, como o objetivo do jogo é interagir com os objetos desses cenários, somos guiados naturalmente a prestar atenção em todos os detalhes. Jogar no modo portátil é excelente, pois, além de se tratar de uma experiência que permite preencher momentos descompromissados, fica um pouco mais difícil perceber que o fundo fica borrado e distorcido em alguns momentos, o que é muito evidente no modo TV.

A música de fundo é, definitivamente, cativante. Apesar de ouvirmos as mesmas notas de novo e de novo em cada partida, de alguma forma, não é uma melodia enjoativa e de forma alguma atrapalha a gameplay. Por se tratar de uma adaptação de uma obra cinematográfica tão artística, é natural que a combinação de som e imagens tenha sido muito bem pensada para esse tipo de situação, o que é definitivamente um dos grandes pontos positivos do jogo.




Alguns bugs e crashes também ocorreram em meus testes, mas nada que comprometesse a experiência como um todo. Inclusive, em determinado momento, consegui, de alguma forma, jogar minha ideia para fora da tela em algum limbo de um espaço que lembra um local sucateado e que não sei se será possível que outros jogadores a resgatem algum dia, o que julguei uma excelente metáfora para uma abstração completamente descartada.

Você também às vezes pensa que agst;$&#+36?

Infelizmente, outro ponto crucial de IDEA é a experiência intertextual que depende da interação com outros jogadores. Quando um timer acaba, recebemos uma espécie de tela de game over e nela somos convidados a deixar uma mensagem que ficará visível para outros jogadores que por ela passarem e a coletarem, bem como podemos nos apropriar das que outros jogadores deixaram pelo caminho. É possível até mesmo salvar alguns favoritos para um mais fácil acesso mais tarde, acessando a opção na tela inicial do jogo.

Como é possível prever, nem todos têm paciência ou criatividade para escrever pensamentos interessantes ou, a bem da verdade, qualquer coisa que faça um mínimo de sentido. Assim, é normal acabar coletando e lendo muitos "kkkkkkk", "¢^€=¥×|{£\" ou "Lost idea…" durante a experiência. Por sorte, não é possível usar a tela de toque para desenhar ou rascunhar, ou sabe-se lá quantos desenhos impróprios se juntariam a todas essas mensagens criptografadas. 


Felizmente, ao alcançar as áreas mais afastadas e de difícil acesso, vemos que os usuários que lá se perderam ao menos fizeram valer, na maioria das vezes, o esforço para quem chega lá também. Conforme nos afastamos das áreas iniciais, as mensagens parecem ficar igualmente mais complexas e chegamos mais perto de aproveitar a proposta real do jogo. Em especial, as mensagens deixadas nos encerramentos deste título tão curioso são suficientemente divertidas de acompanhar.

Algumas ideias podem não agradar a todo mundo, e tudo bem

IDEA é, em suma, uma ótima pedida em termos de gameplay agradável para momentos descontraídos e para jogadores que buscam preencher um tempinho com uma obra que possui qualidade tanto auditiva quanto visual. No entanto, para um jogo com um objetivo maior de prover mais interatividade entre os jogadores, a ideia parece perdida, talvez pela frustração e repetitividade que muitos podem sentir em alguns momentos. Com tudo isso em mente, acredito que a experiência ainda seja válida e que os pontos positivos sejam suficientemente atraentes para aqueles que estejam abertos a novas ideias.


Prós

  • Boa apresentação audiovisual;
  • Controles intuitivos e gameplay simples, porém satisfatória;
  • Colecionáveis que incentivam a rejogabilidade;
  • Ótimo uso da tela sensível a toques do Switch;
  • Múltiplos finais.

Contras

  • Ideia principal dependente da boa-vontade dos jogadores;
  • Excesso de @¨#*&)!;
  • Em alguns momentos, os fundos das imagens aparecem borrados no modo TV;
  • Em determinados pontos, a experiência se torna frustrante, pois é comum rodar pelas mesmas áreas e terminar no mesmo lugar.
IDEA — PC/iOS/Android/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela TLR Games

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Professora por profissão, crossfiteira e artesã nas horas vagas. Seu primeiro contato com consoles da Nintendo foi zerando Chrono Trigger repetidas vezes no SNES. Atualmente é dona de um Switch no qual joga principalmente puzzles, jogos de pesca, RPGs e todos os Disgaea que para ele foram lançados. Icon por 0range0ceans
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