Análise: Ghost Trick: Phantom Detective (Switch) traz de volta uma obra-prima de Shu Takumi

Jogo de aventura que brinca com o conceito de poltergeist chega ao Switch em grande estilo.

em 27/06/2023
Ao se pensar em obras criadas e escritas por Shu Takumi, é mais fácil pensar primeiro na série Ace Attorney, mas Ghost Trick: Phantom Detective foi um de seus títulos mais interessantes no DS. Brincando com o conceito de fantasmas capazes de movimentar objetos e fazer truques, a obra é como uma máquina de Rube Goldberg, exigindo que o jogador execute vários passos encadeados para resolver problemas. Agora no Switch, o jogo continua se mostrando uma obra-prima do gênero que está bem longe de perder a qualidade.

Morte, reviravoltas e truques

Ghost Trick conta a história de Sissel, um fantasma que acorda no meio de uma pilha de lixo sem memórias sobre quem é ou o que aconteceu. Ainda perdido, ele descobre que a morte lhe concedeu poderes especiais, os “truques de fantasma”, que permitem que ele manipule objetos e até mesmo volte no tempo para impedir tragédias, exceto pela sua própria morte.

Frustrado pela sua ignorância, Sissel decide usar tudo que tem à sua disposição para descobrir a verdade sobre si mesmo e o que aconteceu nessa fatídica noite. Com um limite de tempo até a chegada da manhã seguinte, ele logo se vê diante de uma série de eventos bizarros que parecem, de uma forma ou de outra, estar interconectados com a sua própria história.

Em suma, sem entrar em grandes spoilers, a ideia de Ghost Trick envolve se tornar uma espécie de poltergeist. Com a capacidade de influenciar o mundo físico e viajar por linhas telefônicas, você terá que ir de um canto a outro da cidade, descobrindo pouco a pouco o que está acontecendo.

Assim como na série Ace Attorney, que foi criada pelo mesmo escritor, espere reviravoltas de virar cabeças conforme a história vai ficando cada vez mais complexa. Como um jogo pensado de forma totalmente individual, Ghost Trick tem a liberdade de ser até mais ousado em alguns aspectos sobre os quais não irei mencionar para não estragar as surpresas.

Os truques dos fantasmas

De forma geral, a gameplay de Ghost Trick é similar a um point-and-click, mas a ideia envolve movimentar o seu espírito para os objetos com os quais deseja interagir. No “mundo dos espíritos” (uma versão atemporal do mundo físico), o jogador pode entrar em um objeto e realizar truques. Porém, em vez de ter total liberdade para viajar como espírito, Sissel fica preso no artefato selecionado e só pode se movimentar dentro de uma área curta de alcance.

Com isso, o jogador pode precisar abrir uma porta ou movimentar o objeto para poder chegar a outra área. Essa limitação é uma das principais dificuldades do jogo, exigindo um bom entendimento do local para resolver aquele desafio mental. Porém, há também alguns casos em que é necessário agir de acordo com um timing específico para que uma tarefa seja executada.

Esse fator tempo é especialmente importante em alguns momentos nos quais o jogador precisa voltar ao passado para impedir que alguém morra. As cenas dos crimes não são estáticas e entender os padrões de movimentação dos personagens é essencial para que o jogador reverta destinos trágicos. De forma geral, é como se as fases fossem máquinas de Rube Goldberg, ou seja, objetos encadeados de um jeito relativamente complexo que o jogador precisa entender como funciona para desarmar.

Carisma exuberante

Outro elemento importante de destacar em Ghost Trick é a sua direção de arte. O mundo criado para o game é extremamente colorido, seus personagens são excêntricos e espalhafatosos e as animações 2D chamam a atenção com vários excessos engraçados. No Switch, o jogo mantém as proporções originais e adiciona linhas laterais que podem ser alteradas com algumas opções de fundo; para completar, há uma uma galeria de ilustrações e músicas que vão sendo desbloqueadas ao terminar os capítulos.

Conquistas internas também são parte da experiência e adicionam alguns desafios como “terminar uma missão sem falhar nenhuma vez”. Caso o jogador queira tentar fazê-los depois, basta entrar no menu de seleção de capítulos. Ao terminar o jogo, puzzles extras são desbloqueados como uma espécie de desafio pós-game.

Por fim, vale a pena destacar que a experiência é muito adequada no quesito qualidade de vida. É possível conferir os textos novamente graças a um sistema de registro (log) e acelerar falas, até mesmo pulando aquelas que ainda não foram vistas se o jogador assim optar nas configurações. A única coisa que talvez seja um incômodo menor para algumas pessoas é que as animações podem demorar em algumas ocasiões (especialmente quando o jogo tem limite de tempo para agir), o que talvez mereceria um botão para turbinar a velocidade.

Uma obra-prima de volta aos holofotes

Ghost Trick: Phantom Detective continua sendo um grande título de aventura que merece atenção graças à sua forma inventiva de lidar com a capacidade de exploração e agência de um fantasma. Junte a isso as reviravoltas loucas bem-escritas do criador e temos aqui um jogo imperdível de volta aos consoles atuais.

Prós

  • A trama é muito bem-escrita com reviravoltas curiosas e empolgantes;
  • O conceito de truque ajuda a dar outro tipo de interação com os cenários, mais interessante do que apenas investigá-los, e que pode exigir um timing preciso;
  • Ilustrações e animações 2D cheias de carisma e que reforçam a identidade dos personagens;
  • Poder usar o analógico para movimentar é um esquema de controle que não estava presente no original e é muito agradável;
  • Galeria de ilustrações, músicas e puzzles extras;
  • Registro de textos e capacidade de pular até mesmo aquelas ainda não vistas se o jogador quiser.

Contras

  • Em alguns momentos, a demora da animação pode ser um leve incômodo dado o fato de que temos um limite de tempo para agir.
Ghost Trick: Phantom Detective — Switch/PC/PS4 — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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