Análise: Magical Drop VI (Switch): um belo, mas desbalanceado retorno de um clássico

O jogo traz de volta a franquia clássica de match-3, mas conta com alguns problemas de balanceamento e um modo história desnecessariamente enrolado.

em 02/05/2023
Magical Drop é uma franquia clássica de puzzle no estilo match-3, ou seja, de combinar peças de mesma cor para eliminá-las. Iniciada em 1995 como uma série da atualmente falida Data East, a obra recebeu várias sequências. Agora em 2023, a Forever Entertainment conseguiu os direitos de Magical Drop para lançar Magical Drop VI, um novo jogo que tenta resgatar o brilho dos jogos originais.

Entendendo os drops

O conceito de Magical Drop envolve lidar com colunas de pedras coloridas (“drops”) que descem na tela. O jogador pode levá-las de um lado para o outro e, quando ele faz combinações de três ou mais peças na vertical, todas as pedras conectadas são quebradas. Em comparação com outras séries de match-3, é importante entender que apenas combinações verticais importam para eliminar pedras e o jogador pode utilizar o tempo de resolução se movimentando para fazer combos.

Entender os padrões, saber lidar com eles e se planejar várias jogadas à frente do tempo são elementos fundamentais para ser um bom jogador da série. Vale destacar que a descida de peças nas partidas normais é bem lenta, então o jogador tem um botão para forçar que isso aconteça mais rapidamente. Dessa forma, embora haja o risco de game over caso as pedras alcancem o fim da tela, é possível explorar combos maiores.

Isso é fundamental dependendo do modo jogado, tendo valor especialmente na hora de competir contra um inimigo, empurrando peças adicionais para o tabuleiro inimigo. Porém, às vezes, o foco pode ser mais específico, como tentar eliminar mais peças de uma única cor ou resolver um desafio o mais rápido possível.

Ao todo, Magical Drop VI conta com seis modos single player e três opções para multiplayer, oferecendo uma boa variedade de objetivos para os jogadores e diversificando um pouco o pacote. Além disso, o jogo possui alguns itens desbloqueáveis, como ilustrações, a trilha sonora e uma lojinha de itens.

Entre os que podem ser jogados sozinho desde o início, temos os modos História, Partida, Sobrevivência e Quebra-cabeça. Porém, também é possível desbloquear “Caminho do Destino” e “Caravana” ao terminar outros modos na dificuldade Normal ou Difícil (embora o jogo não explique que a dificuldade fácil não serve para isso).

O pior modo de jogo

O Modo História é geralmente o que se espera como entrada de um jogador, sendo até colocado no início do menu em vários jogos que estão alinhados a uma proposta arcade. Nesse sentido, Magical Drop VI tem uma das piores aberturas possíveis para um jogo do tipo. A primeira disputa do Modo História é uma das mais difíceis, sendo possível gastar horas nela para depois lidar com todas as fases posteriores rapidamente.

O que torna isso ainda pior é que a mudança de dificuldade só influencia a disposição das pedras. Ou seja, a ideia é que as combinações são mais fáceis tanto para o jogador quanto para a IA. O resultado é que não há uma entrada adequada para novatos e o Modo História logo se mostra pouco convidativo.

Uma vez eliminada essa barreira inicial, temos que nos movimentar por uma espécie de tabuleiro tipo um Banco Imobiliário. Sempre andando uma casa por vez, encontramos algumas disputas contra os outros personagens, mas entre elas temos que resolver desafios tediosos (geralmente “faça um combo de 7 peças” ou “consiga 40 pontos da cor X”) que só parecem existir para encher desnecessariamente esse modo. O jogador pode, inclusive, perder e tentar novamente até conseguir passar, enquanto ser derrotado nas partidas de verdade é um game over instantâneo que força o jogador a recomeçar.

Ele é inconveniente, desbalanceado, frustrante e uma das piores formas de conhecer Magical Drop, cujos modos equivalentes costumavam ser focados nas disputas entre os personagens baseados nas arcanas do tarô. Justamente por isso, pesa ainda mais a falta de cuidado de ter um modo “fácil” que se resume a mais peças fáceis de conectar tanto para aliados quanto para inimigos sem mexer na inteligência destes. Como a série está sem lançamentos há mais de uma década e o último jogo foi geralmente considerado horrível por vários fatores, era muito importante que Magical Drop VI fosse mais claro nesses detalhes.

As outras opções

O modo Partida é focado somente na parte de disputas entre os personagens (a vitória é chegar a 200 pontos ou ver as peças do adversário chegarem ao fim da tela), mas ele é bem rápido e é necessário jogar o modo História para liberar novos adversários. O Sobrevivência é uma sequência ininterrupta de pedras, sendo necessário lidar com todas elas para fazer pontos. O jogador ganha mais pontos se conseguir limpar toda a tela, mas padrões vão ficando mais difíceis de lidar e começam a surgir mais pedras a cada rodada.

O modo Quebra-Cabeça traz desafios específicos que o jogador precisa lidar o mais rápido possível e, quanto menos movimentos forem feitos, melhor. Falhar em eliminar algumas peças pode significar o fim de jogo dependendo do tempo. Esse é o modo mais interessante dos já desbloqueados desde o início. O modo desbloqueável Caravana é similar na ideia de ter um limite de tempo, mas foca na pontuação e não na solução dos desafios. Por fim, o "Caminho do Destino" aproveita o conceito de jogo de tabuleiro do modo História, colocando três inimigos IA para disputar com você e ganha quem conseguir chegar à casa de objetivo final.

Em termos de multiplayer, os três modos incluem partida regular, disputa de tempo e disputa de cota. Embora seja até razoável que o segundo seja separado, as diferenças entre os modos são coisas que poderiam estar no menu de configurações da partida, que é muito rudimentar. Na partida regular, é possível definir uma cota de 150 pontos ou jogar sem ela (ou seja, até que um dos lados não dê conta mais de lidar com os padrões de pedras), enquanto a “Quota Crush” inclui as opções de 50 e 300 pontos, sendo realmente a mesma coisa do outro modo.

Já o “Time Crush” envolve conseguir a maior pontuação dentro de um tempo de dois ou cinco minutos. Todos os modos permitem escolher se será uma jogada rápida de um único set, melhor de três, cinco, sete ou nove. Além das opções multiplayer serem muito iguais, o fim de uma partida leva o jogo de volta ao menu inicial em vez de permanecer no Multiplayer. Isso significa que se os jogadores quiserem continuar a jogatina, o Switch irá exigir a reconexão de controles toda vez.

Detalhes de polimento

Francamente falando, Magical Drop VI consegue manter o sentimento geral da série, reforçando o entendimento de padrões e a capacidade do jogador de planejar combos. Além disso, o novo jogo ficou muito bonito, respeitando o estilo colorido e cartunesco do universo. A trilha sonora também inclui temas específicos para cada personagem que são bem agradáveis e, de modo geral, reforçam as suas personalidades.

Infelizmente, além do que já comentei sobre os modos, há dois pontos negativos que precisam ser destacados. Primeiramente, o timing do jogo é um pouco estranho e impreciso. Isso é especialmente notável nas fases intermediárias do modo História, que continuam com o contador de tempo rolando, enquanto as mesmas no modo Quebra-cabeça esperam a conclusão da Chain para continuar a contagem. Perde-se tempo na montagem e na finalização que poderiam ajudar consideravelmente na resolução dos desafios. Já no Quebra-cabeça, mesmo fazendo várias jogadas perfeitas consecutivas, o contador reseta para o valor de 50 após um tempo em vez de manter os valores mais altos.

Outro ponto que pode ser bastante frustrante é a quantidade de coisas bloqueadas. O jogo chega ao cúmulo de só ter uma personagem no modo Partida inicialmente, sendo que, como já falado, o modo História é uma péssima introdução para os jogadores. Os desbloqueios não são nem um pouco claros e é muito conteúdo que pode ficar intocável.

Um retorno bom, mas que demanda ajustes

Magical Drop VI oferece um bom retorno da série, mas erra a mão significativamente no balanceamento. A experiência do modo História em especial acaba sendo desnecessariamente frustrante e há outros detalhes de polimento que merecem ajuste em updates futuros, mas os fãs de longa data da franquia se sentirão em casa.

Prós

  • A base de Magical Drop se mantém um bom exercício de entender padrões e fazer combos;
  • Há uma boa variedade de modos de jogo;
  • Belas ilustrações;
  • Trilha sonora com temas individuais bem agradáveis.

Contras

  • Modo História desbalanceado em que a primeira disputa é uma das mais difíceis;
  • Modo História desnecessariamente enrolado com os mesmos desafios pouco interessantes ao longo das partidas;
  • No começo, o jogador tem poucas opções de personagens e o desbloqueio não é explicado nem intuitivo;
  • O timing ruim faz com que o jogador perca tempo precioso na montagem das fases e a contagem da finalização seja interrompida;
  • Os modos do multiplayer são separados só para parecer que tem mais opções do que realmente tem e poderiam ser todos apenas configurações de um mesmo modo.

Magical Drop VI — Switch/PC — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Forever Entertainment


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.