Dokapon Kingdom era, no final dos anos 2000, conhecido com carinho por seus fãs como algo similar a um “Mario Party RPG”. Com um humor bem fora da caixa, personagens malucos e uma boa dose de nonsense, o jogo era um ótimo programa para brincar e arruinar amizades nos fins de semana. Entretanto, em 2008, quando o título foi lançado, havia um sério problema.
Dokapon é um jogo que exige bastante tempo e dedicação o do jogador, sendo mais divertido em seu modo multiplayer e, naquela época, a única forma de se aproveitar completamente o jogo era conseguir convencer um amigo, namorado(a) ou irmã(o) a passar horas e horas com você presencialmente na mesma casa. Dokapon Kingdom: Connect chega no Switch com a proposta de resolver este problema com o poder da internet, agora sendo possível se divertir com outros jogadores em qualquer parte do mundo.
Diversas formas de estragar amizades
Como mencionado antes, Dokapon Kingdom é um remaster de seu título original de 2008, lançado originalmente no PlayStation 2 e no Wii, com gráficos atualizados para a resolução atual; fora isso, não foram feitas muitas alterações no jogo. O atrativo realmente fica sendo seu novo modo completamente online, que inclusive permite que os jogadores salvem sua partida e a continuem em outros momentos. Infelizmente, como essa resenha está sendo publicada antes da data de lançamento oficial do jogo, não pude testar esse modo de jogo além de dar uma conferida nos seus menus de configuração.
De qualquer forma, existem outras formas de se jogar que não usam o modo online. Assim como em seu lançamento original, também é possível aproveitar o título de forma totalmente offline, seja ela com outras pessoas no multiplayer local ou competindo contra a inteligência artificial do jogo. Dokapon possui as seguintes possibilidades de jogo: história, normal e Battle Royale. No modo normal escolhemos um determinado número de semanas e competimos para ver quem consegue obter a maior quantidade de dinheiro até o final do prazo.
A categoria Battle Royale é dividida em algumas outras subcategorias, sendo elas Town Race, Kill Race e Shopping Race; respectivamente, uma corrida para ver quem consegue salvar uma determinada cidade, matar mais rápido outros jogadores um determinado número de vezes e quem consegue comprar e levar primeiro um certo item para o castelo. Esses modos são as formas mais curtas de se aproveitar o jogo, podendo ser completadas em um tempo mais reduzido, ideal para festas ou encontros ocasionais de amigos.
Temos também o modo história, que, em minha opinião, considero o maior atrativo de Dokapon. A proposta desse estilo é bem direta: monstros apareceram repentinamente no reino, tomando como refém as cidades e você e seus amigos são aventureiros convocados pelo rei Dokapon para derrotar essas criaturas. Como estímulo e recompensa, o rei proclama que quem tiver mais dinheiro até o final da partida poderá se casar com sua filha, princesa Penny, tornando-se o novo rei de Dokapon.
A trama parece simples e bem pés-no-chão, mas na realidade não é bem assim, pois o reino Dokapon é habitado pelas mais bizarras e caricatas personalidades e somos reféns de suas vontades e caprichos. Entre esse elenco estão marmotas escavadoras de fontes termais, magos incrivelmente suspeitos que nos enfiam goela abaixo itens que nunca pedimos, aristocratas ricos que pagam para ver jogadores se matando apenas para aliviar o tédio do dia a dia, bandidos que se apresentam de forma nobre oferecendo seus serviços e muitos outros. Além disso, é claro, o rei faz jus a seu reino e também parece ser um grande lelé da cuca, com vontades estranhas e imprevisíveis. Uma das coisas que mais me entretinham no título eram justamente os encontros aleatórios com os NPCs.
Na vida, tudo é dinheiro e em Dokapon também!
Dokapon Kingdom é algo que definirei como um RPG em formato de tabuleiro. No início de cada partida, os jogadores escolhem se querem usar algum de seus itens ou magias e, decidido isso, usam uma roleta para ver quantos passos podem se locomover no mapa. Dependendo do número que o aventureiro tirar, ele poderá cair em uma casa em branco, onde ocorrem as batalhas e eventos aleatórios com NPCs ou em uma casa especial, seja ela de masmorras, estabelecimentos ou outros. O mapa possui locais como lojas de equipamentos, lojas de itens, lojas de magias, um coliseu, masmorras, cidades, templos e castelos.
É possível acessar cada uma dessas localidades e realizar suas respectivas ações esperadas nesses estabelecimentos. A cada cidade que o jogador consegue cair no mapa, se ela estiver ocupada por um monstro, o aventureiro que matar a fera primeiro será o novo dono da cidade, tendo direito a coletar seus impostos, dormir de graça no local e investir na cidade para aumentar seu valor e conseguir mais dinheiro a cada visita, além de ganhar seus itens especiarias locais.
Não se engane com sua proposta nobre de “salvar” as cidades: nesse jogo tudo é dinheiro, e para isso vale e é preciso jogar sujo. No final das contas, Dokapon Kingdom é uma corrida maluca por dinheiro, e vale tudo nela, seja bater em seus concorrentes até eles desistirem de lutar para roubar seus itens e dinheiro, matá-los para pegar suas cidades, jogar magias para atrapalhar suas batalhas/movimentação e até mesmo fazer um contrato das trevas com um mago suspeito, permitindo que você vire por alguns turnos um Darkling; abrindo mão de todas as suas cidades, itens e dinheiro para se tornar temporariamente uma criatura das trevas extremamente poderosa e com diversas habilidades, como a possibilidade de invocar monstros nas cidades, podendo assim “resetar” as conquistas entre jogadores.
No geral, o título sai bastante do padrão para o gênero, seja ele considerado um RPG ou um jogo de tabuleiro, tendo além de seu modo de batalha em turnos ou navegação entre tabuleiros alguns minigames e side quests espalhadas durante a campanha. É possível fazer ações inesperadas, como por exemplo trocar seu estilo de cabelo ou atacar lojas e cidades para conseguir tirar à força seus itens e dinheiro, isso é, se você conseguir ganhar num jogo de pedra, papel e tesoura.
Mas nem tudo é perfeito...
Dokapon Kingdom tem seus defeitos. Primeiramente, não há a possibilidade de trocar as vozes do jogo para japonês. Existem pessoas que gostam de jogos dublados em inglês, porém esse não é meu caso, e na maioria das situações, mudar o idioma do jogo é a primeira coisa que faço. Não ter essa possibilidade é estranho, pois nos dias de hoje não há nenhuma restrição muito exigente de memória. A remoção do elenco de vozes japonês ficou parecendo nesse caso que estão apenas removendo uma escolha sem motivo. Como brasileira, meu idioma nativo não é nem o inglês e nem o japonês, e já que não tenho os jogos em português, gostaria de pelo menos poder escolher qual idioma me soa mais agradável aos ouvidos. Isso pareceu para mim algo bem antiquado num padrão de mercado que a dual voice é quase sempre norma.
Continuando no tópico vozes, por padrão os personagens repetem uma ou duas falas no início de cada turno. Dokapon, especialmente em seu modo história, tem campanhas bem extensas e as falas acabam se tornando bem irritantes com o passar dos turnos, principalmente jogando com mais de dois jogadores. Felizmente há a opção de desligar essas conversas. Recomendo fortemente que os interessados em jogar Dokapon alterem as opções para que a desliguem. Como existe a possibilidade de eliminar essa questão, ela não chega a ser um problema ou ponto negativo, mas apenas algo que gostaria de colocar em evidência para o leitor, até mesmo para que ele saiba que a opção está ali.
Existem alguns glitches gráficos, mas esses geralmente se limitam à faixa de “turno do jogador” aparecer em momentos que não deveria ou raramente a algumas caixas de status/equipamento parecerem vazias quando não estão na realidade. São problemas rápidos e que eu consideraria só uma leve falta de refinamento no produto, nada que atrapalhe a jogatina. Acredito que esses erros possam e vão ser corrigidos facilmente em uma futura atualização de lançamento do jogo, ficando novamente apenas como observação de que não atrapalham tanto no jogo.
O maior defeito de Dokapon é sua falta de explicação para iniciantes. Para um jogador que nunca jogou algo da série antes, tudo pode parecer um pouco confuso e excessivo, com a sensação de que foi jogado no meio do mapa e que ele que se vire. O tutorial apresenta apenas os fundamentos mais básicos possíveis, deixando muita coisa de fora para que o próprio aventureiro experimente e descubra, o que não considerei nesse caso como algo positivo. Existe um caderno em jogo que explica um pouco melhor as coisas, mas que não está tão evidente assim e que nem explica tudo que há no título.
Além disso, caso você jogue contra um computador, mesmo que coloque os CPUs em seu nível normal, eles parecem saber exatamente o que devem fazer, quando, como e qual a maneira mais efetiva de lhe atrapalhar para fazer o que precisam, até mesmo em objetivos e atalhos que deveriam ser mais escondidos. Fiquei impressionada de uma forma negativa em como os CPUs parecem tirar quase sempre exatamente o número exato na roleta que precisam, ou que sempre têm em mãos itens perfeitos para completar seus planos.
É possível superar os computadores com bastante esforço, porém, um iniciante irá levar um tempo considerável até realmente conseguir competir de igual para igual, sem saber onde deve ir e no que investir. Realmente ficou a impressão de que as coisas pareciam um pouco “injustas” jogando contra o computador. Mas bem, jogos de tabuleiro do tipo já naturalmente tendem a parecer injustos, apenas foi um pouco mais exacerbado em Dokapon devido a sua complexidade de objetivos variados, itens e atalhos.
Para contornar essa dificuldade inicial, recomendo começar com poucos jogadores, talvez apenas com dois, e quando se sentir mais confortável, aumentar esse número, consequentemente aumentando toda a confusão que vem junto com mais pessoas. Outra coisa que recomendo é aumentar a velocidade do jogo depois que estiver se acostumado com seu funcionamento e com a forma como os computadores agem, caso jogue com CPUs.
Jogar Dokapon na velocidade normal consome horas e horas sem a possibilidade de pular cutscenes ou combates, aumentar sua velocidade em 1.5x ou até mesmo 2.0x alivia esse problema, apesar de que é melhor já se preparar para passar horas jogando mesmo com a velocidade aumentada. Jogar Dokapon às vezes se torna maçante, pois, como dito, suas partidas são bem longas.
Aventureiros! Bem-vindos ao reino de Dokapon!
Concluindo, Dokapon Kingdom: Connect é um jogo de humor bem divertido e maluco, que pode exigir horas de dedicação, porém, como recompensa, trará muitas risadas para aqueles que compactuam com seu senso de humor. Acredito que a melhor forma de apresentar o jogo não é com palavras e sim com imagens, portanto, deixo acima a abertura do jogo, que fez um bom trabalho apresentando a atmosfera do título.
Dokapon Kingdom: Connect é um jogo de tabuleiro bem divertido, diferente das outras opções do mercado graças a seu estilo em RPG e a personagens dos mais variados tipos e formas. Ele possui seus defeitos, principalmente em relação à falta de tutoriais mais explicativos, pequenos glitches gráficos, falta de vozes em japonês, partidas longas e nivelamento questionável dos computadores. Ainda assim, é um jogo que vale a pena investir caso você queira um novo jogo para se jogar tanto online com amigos distantes quanto apenas uma atividade para passar os fins de semana com sua família e amigos offline.
Prós
- Personagens variados, com combinações únicas e muito carisma;
- Jogabilidade divertida que mistura RPG com tabuleiro;
- Ótimo humor no estilo nonsense;
- Nova possibilidade de se jogar em modo online;
- Grande número de itens e formas de atrapalhar oponentes;
- Diversos eventos malucos e variados durante o jogo.
Contras
- Partidas podem se tornar exageradamente longas;
- Pequenos glitches visuais;
- Tutoriais que não são tão claros;
- Computadores com dificuldade questionável;
- Remoção das vozes em japonês.
Dokapon Kingdom: Connect — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International