Você se lembra do sonho que você teve na noite passada? Algumas pessoas relatam lembrar-se de muito mais do que um simples sonho: elas dizem ter interagido com elementos oníricos, alterando os acontecimentos a seu bel-prazer.
É essa a ideia por trás de DARQ Ultimate Edition, que, em uma atmosfera de terror psicológico, nos coloca na pele de Lloyd, um garoto que sabe que está vivendo em um sonho — e tudo o que ele mais quer é voltar para seu quarto.
Revivendo a história por meio de sonhos
Como não sou a favor de spoilers, vou me ater ao básico do jogo: nosso protagonista, Lloyd, é capaz de viver sonhos lúdicos; isto é, ele sabe que está em um estado entre a realidade e o mundo onírico. No entanto, os sonhos lúdicos do garoto não são nada convidativos: eles causam sentimentos como claustrofobia, ansiedade e apreensão, entre outros fatores psicológicos, transferindo ao jogador uma sensação de urgência para ajudar Lloyd a voltar à realidade.
No entanto, só sabemos que o protagonista se chama Lloyd graças à breve sinopse do jogo. Também não sabemos por que ou como ele é capaz de ter sonhos lúcidos. Desse modo, à primeira vista, DARQ tenta se contar por meio de sua jogabilidade, podendo causar estranheza pela falta de uma história de fundo. Não há nenhum tipo de texto ao longo da jornada do jovem Lloyd e tudo o que podemos fazer é interagir com determinados objetos nos cenários, seja para alterar a gravidade, seja para resolver puzzles.
No entanto, a Ultimate Edition faz jus ao seu nome e traz uma adição mais que bem-vinda à experiência do protagonista: uma HQ de 61 páginas, chamada Dream Journal, que dá um novo sentido à jornada onírica de Lloyd. Curiosa como sou, minha primeira providência foi ler a historinha, para então partir para a jogatina em si; graças a esse contato prévio com a história, os cenários passam a fazer muito mais sentido e a impressão que eu tive foi a de reviver — de maneira muito mais apreensiva — as 61 páginas da HQ.
Puzzles bem-elaborados e jumpscares na medida certa
A atmosfera deste indie de terror psicológico lembra muito cenários de filmes do diretor Tim Burton: as fases apostam em tons carregados de preto, branco e cinza e temos presença de seres sobrenaturais bizarros, como pessoas com cabeça de abajur. Confie em mim: todo esse clima passa a fazer sentido depois da leitura da HQ, que contextualiza o ambiente do jogo.
Para ajudar Lloyd a escapar dessa realidade onírica um tanto macabra, precisamos resolver diferentes puzzles que abusam da criatividade, requerendo não apenas raciocínio lógico por parte do jogador, como também rotacionar a tela, afetando a física e a perspectiva dos cenários. Podemos dizer que cada um dos capítulos do jogo gira em torno de quebra-cabeças que só fazem sentido dentro daquele cenário, cuja dificuldade aumenta gradualmente.
Confesso que é difícil explicar o funcionamento dessa mecânica sem parecer que estou dando a solução do jogo, pois a ideia de DARQ é fazer com que o jogador coloque em prática a sua intuição e explore cada um dos cenários de cima a baixo, da esquerda para a direita e até mesmo de ponta-cabeça. No entanto, posso dizer que a jogabilidade minimalista do game é prejudicada por sua própria proposta: além da falta de um tutorial, não há nem indicativos de como são os controles; ou seja, toda a experiência de controlar Lloyd vira uma grande sessão de tentativa e erro.
Por exemplo, em determinadas fases, o protagonista pode correr se mantivermos o botão R pressionado, mas em outras, ele só caminha. Em um momento específico, se não prestarmos máxima atenção no cenário, ignoramos o momento exato em que devemos nos esconder para evitar que sejamos pegos por um dos seres oníricos.
Apesar de ter uma jogabilidade ditada pela intuição do jogador, posso afirmar com todas as letras que DARQ faz um excelente trabalho ao construir sua atmosfera. Durante a curta campanha — demorei coisa de cinco horas para terminar, incluindo as fases extras vendidas originalmente como DLC —, me senti apreensiva do começo ao fim, fator reforçado pela excelente ambientação sonora. Aliás, a recomendação dos desenvolvedores de jogar com fones de ouvido não deve ser ignorada: a imersão é o ponto alto da aventura.
Em termos de performance, acredito que a única ressalva é a presença de telas de carregamento demasiadamente longas para o que o jogo proporciona. De resto, temos um excelente título que se destaca no modo portátil, justamente pelo quesito imersão, mas que também pode ser igualmente aproveitado quando o Switch está ligado à TV.
Isto é um sonho ou realidade?
DARQ Ultimate Edition é mais um daqueles jogos difíceis de explicar com palavras: a experiência deve ser sentida em sua totalidade. Com puzzles que abusam da lógica e exploração e uma ambientação que faz jus ao gênero de terror psicológico, este indie traz apenas dois grandes pontos negativos: a falta de uma história ao longo de sua campanha e a curta duração total.
É bem verdade que a HQ e as fases extras da Ultimate Edition remedeiam um pouco esses contras, mas, no geral, a sensação é de que a experiência seria melhor aproveitada se não precisássemos sempre contar com nossa intuição para guiar Lloyd de volta à realidade.
Prós
- Ótima experiência imersiva, tanto em ambientação quanto em sonoplastia;
- Puzzles criativos e com dificuldade gradual, cuja resolução se baseia em explorar o cenário e alterar a física das fases;
- A HQ Dream Journal traz 61 páginas que contextualizam a história do jogo;
- Presença de duas fases extras, anteriormente vendidas como DLC.
Contras
- Sem uma história propriamente dita durante a jogatina;
- Falta de tutoriais até mesmo quanto aos controles;
- Curta duração.
DARQ Ultimate Edition — PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Feardemic