As 10 franquias da Square Enix mais importantes para a história da Nintendo

10 séries de JRPG da Square Enix fundamentais para as plataformas da Nintendo e para o desenvolvimento de suas IPs.

em 07/04/2023

Embora os consoles da Nintendo sejam muito conhecidos por seus jogos exclusivos, com publicação e/ou desenvolvimento da própria Nintendo, parcerias com outras empresas também foram fundamentais para a Big N ter crescido e se mantido relevante na indústria dos videogames. Entre essas empresas parceiras, talvez nenhuma outra foi tão relevante para sua história quanto a Square Enix, responsável por levar os RPGs e seus fãs dos PCs para os consoles de mesa e portáteis, além de também responsável por muitas ideias de design que influenciaram inúmeros jogos, inclusive as IPs da própria Nintendo.


Hoje vamos ver as 10 franquias mais importantes que solidificaram as relações entre essas duas gigantes japonesas e examinaremos as razões para a importância dessas IPs. Os critérios dessa seleção incluem o número de vendas dos jogos das séries em consoles de mesa e portáteis da Nintendo, a aclamação crítica de seus títulos lançados nessas plataformas, a influência do design desses games em lançamentos posteriores (principalmente quando influenciaram jogos da própria Nintendo), a reiteração de seus lançamentos em plataformas da Nintendo e publicações em parceria com a Big N.

1 – Dragon Quest

Se fosse para escolher uma única série para estar nesta lista, provavelmente teríamos de dar essa honra a Dragon Quest. Os jogos dessa IP criada por Yuji Horii acompanham os consoles e os portáteis da Big N desde o início, no nintendinho, e foram responsáveis frequentemente por títulos que figuram entre os mais vendidos de suas plataformas. Além disso, os Dragon Quest são a cada geração profundamente inspiradores para os demais jogos dos consoles da Nintendo, inclusive para alguns daqueles desenvolvidos por ela própria, especialmente nas séries Fire Emblem, Pokémon, Mother e The Legend of Zelda.

O primeiro Dragon Quest (NES), 1986, foi responsável por levar os RPGs japoneses e seus fãs dos computadores para os consoles. O terceiro título da série, ainda no NES, criou uma verdadeira revolução no gênero JRPG e estabeleceu o recorde de vendas de unidades físicas em consoles da Nintendo. Dragon Quest V (SNES), por sua vez, influenciou inúmeros jogos — inclusive da Nintendo — com suas mecânicas de captura e domesticação de monstros e com sua narrativa biográfica da infância à velhice.

Um dos maiores legados do quinto Dragon Quest é o spin-off Dragon Quest Monsters (GB), que por muitos anos foi a única IP capaz de rivalizar com Pokémon no Japão, no que se refere à captura de monstros nos videogames portáteis. Essa subsérie também se tornou a primeira de muitas outras de Dragon Quest a se tornarem populares nas plataformas da Nintendo, como Dragon Quest Builders e, mais recentemente, Dragon Quest Treasures.

Por fim, Dragon Quest desempenhou um papel importante nos anos 2000, quando a Square Enix se reaproximou da Nintendo. A maior prova disso foi o sucessor de Dragon Quest VIII (PS2) ter sido lançado exclusivamente para o DS, refiro-me a Dragon Quest IX, um dos títulos mais vendidos do portátil de duas telas, com vendas superiores a 5,31 milhões de unidades.

A recepção de Dragon Quest IX foi tão positiva que convenceu o Dragon Quest Team a fazer uma versão específica de Dragon Quest XI (3DS/PS4) especificamente para 3DS, e por incrível que pareça se tornou sua versão mais vendida! Isso foi celebrado com uma versão definitiva para o Switch com exclusividade temporária, Dragon Quest XI S.

Atualmente, todos os Dragon Quest (principais ou não) estão presentes nos consoles da Nintendo, se não em versão original, ao menos em port, remaster ou remake, como são os casos de Dragon Quest VII e VIII.

2 – Final Fantasy

Depois de Dragon Quest, a série mais relevante da Square Enix para a Nintendo é Final Fantasy, criada por Hironobu Sakaguchi e Akitoshi Kawazu. Essa franquia foi crucial para o crescimento da Square, digna de clássicos de SNES — como Live A Live (no Japão) e Chrono Trigger — tão célebres nesse console quanto jogos da própria Nintendo. O quarto título numerado da série, e o primeiro para o Super Nintendo, foi especialmente importante por introduzir o sistema ATB, o qual influenciou muitos JRPGs no futuro com sistemas híbridos entre turno e tempo real e também a criação da stamina em action-RPGs.

Além disso, devemos lembrar que a ocasião da ópera em Final Fantasy VI (SNES) constitui uma das cenas mais marcantes da era 16-bits. Aliás, esse jogo é até hoje o mais aclamado da série e até mesmo é frequentemente considerado um dos melhores RPGs de todos os tempos.

Por fim, se Dragon Quest foi responsável por levar os RPGs para os consoles, Final Fantasy foi o responsável por levá-los para os portáteis. Não por acaso o primeiro jogo dessa série a vender mais de um milhão de unidades foi seu spin-off Final Fantasy Legend (GB), de 1989, o qual influenciou inúmeros JRPGs, incluindo a criação de Pokémon.

Muito tempo depois, outra importante subsérie spin-off de Final Fantasy em portáteis foi Final Fantasy Tactics Advance, no GBA e no DS. Essa subsérie, ao lado de Final Fantasy Crystal Chronicles (GC), marcou a volta das relações da Square com a Nintendo em 2003. A Square não publicava algo em uma plataforma da Nintendo desde Treasure Hunter G (SNES), de 1996.

E não podemos esquecer dos remakes de Final Fantasy III e IV para DS e Final Fantasy: The 4 Heroes of Light (DS), esses foram os primeiros frutos da parceria do Team Asano da Square Enix com a Nintendo, a qual mais tarde resultaria na série Bravely e em jogos de estilo HD-2D, como Octopath Traveler (Switch).

Infelizmente por muito tempo vários dos jogos da série Final Fantasy estiveram fora das plataformas da Nintendo, mas ultimamente eles têm recebido versões para Switch. Esse é o caso dos Final Fantasy numerados do VII ao XII e do spin-off Crisis Core.

3 – Mana

Provavelmente a terceira franquia mais importante da Square Enix em consoles da Nintendo é a série Mana, sendo atualmente a quarta franquia mais vendida da gigante dos JRPGs. Criada por Koichi Ishii (o pai dos carismáticos chocobos e moogles da série Final Fantasy), Mana começou em 1991 como um spin-off de Final Fantasy, no Game Boy. Final Fantasy Adventure (ou Seiken Densetsu: Final Fantasy Gaiden, no Japão) misturou a fórmula de RPG com mecânicas e action-adventure da série The Legend of Zelda.

O sucesso desse título levou a IP para o Super Nintendo. Seu sucessor nessa plataforma, Secret of Mana, é um dos action-RPGs mais influentes de todos os tempos, sobretudo por suas mecânicas flexíveis de gerenciamento de grupo, por seu level design interativo de exploração e por introduzir uma mecânica precursora da stamina, a Power Bar. Esse jogo é um dos mais aclamados e memoráveis do SNES.

Com a volta das relações entre a Square Enix e a Nintendo nos anos 2000, Mana retornou para as plataformas da Big N em seus portáteis, com Sword of Mana (GBA) e a subsérie World of Mana, uma quadrilogia para DS.

No início da geração seguinte (oitava), mais uma vez Mana se afastou da Nintendo, dessa vez para priorizar plataformas móveis e o PlayStation Vita, mas desde 2018 tem estado bem presente no Switch, contando com lançamentos como o remake de Trials of Mana e a coletânea da primeira trilogia da série, Collection of Mana, exclusivamente lançada para o híbrido da Nintendo.

4 – SaGa

Muito próximo de Mana em importância, no que se refere às relações históricas entre Square Enix e Nintendo, está a franquia SaGa, atualmente a quinta mais vendida da gigante dos JRPGs. Assim como a série de Koichi Ishii, também SaGa começou como um spin-off de Final Fantasy, ao menos no Ocidente, onde foi chamado de Final Fantasy Legend em sua primeira trilogia para Game Boy. Os três títulos venderam como água no deserto nesse portátil e inspiraram outras IPs de JRPG nos portáteis, como Pokémon e Mana.

Criada por Akitoshi Kawazu (cocriador de Final Fantasy), SaGa é desde sempre inventiva e customizável em mecânicas de combate e interação narrativa, mas passou a ser marcadamente complexa a partir do Super Nintendo, em sua próxima trilogia, Romancing SaGa.

Os três títulos dessa trilogia foram progressivamente inovadores em conceitos que seriam usados em jogos de mundo aberto e de narrativa não linear, além de terem tornado as batalhas por turno muito dinâmicas, com mecânicas que mais tarde inspiraram Boost, Break e outras coisas em séries como Bravely e Octopath Traveler.

Com o final dessa trilogia, infelizmente a série se afastou das plataformas da Nintendo. Os jogos de SaGa posteriores, como por exemplo a subsérie Frontier, passaram a ser publicados em plataformas da Sony e, mais tarde, também em plataformas móveis e no PC. Só mais recentemente, com o Switch, a Nintendo voltou a receber títulos dessa franquia de Kawazu, mas apenas ports e remasterizações.

5 – Octopath Traveler

Tendo em vista a recepção crítica e o número de vendas de software em consoles da Nintendo, bem como a influência em outros títulos nas plataformas da empresa, a recente série Octopath Traveler já pode ser considerada a quinta série mais valiosa da Square Enix para a história da Nintendo. Apesar de ainda ter somente cinco aninhos, essa franquia tem se mostrado muito influente na indústria dos RPGs tanto por seu estilo HD-2D quanto por inspirar outros jogos do gênero a usarem mecânicas clássicas de JRPG da era 16-bits.

Produzido e idealizado por Tomoya Asano e seu time, em parceria com o estúdio Acquire, o primeiro Octopath Traveler (Switch) é o jogo mais vendido do Team Asano — mais de 3 milhões de unidades comercializadas — e Octopath Traveler II (Switch) é o seu lançamento mais aclamado pela crítica desde Bravely Default (3DS). Ademais, o estilo artístico de Octopath Traveler gerou frutíferas parcerias de exclusividade temporária com a Nintendo para outros jogos em HD-2D, como Triangle Strategy (Switch) e remakes de clássicos de NES e SNES como Live A Live (Switch) e o aguardado Dragon Quest III HD-2D Edition.

6 – Bravely

Falando em Team Asano, a próxima franquia dessa lista também foi desenvolvida por esse time. A série Bravely começou no 3DS, cujo título de estreia é até hoje aquele mais aclamado pela crítica entre os títulos produzidos por Tomoya Asano. Esse foi um sucessor espiritual de Final Fantasy: The 4 Heroes of Light e também o jogo mais vendido da Square Enix no 3DS.

Seu sucesso motivou sucessores, como Bravely Second, exclusivo de 3DS, e Bravely Default II, que teve exclusividade temporária no Nintendo Switch. Assim como Octopath Traveler, essa série também pegou influências de clássicos da Square e da Enix, como de Romancing SaGa e de alguns dos primeiros Dragon Quest e Final Fantasy. Além disso, seu estilo artístico inspirou outros jogos do Team Asano, como Various Daylife, e alguns de seus sistemas, como de Boost e Break, possuem análogos em Octopath Traveler.

7 – Ogre

De volta às séries clássicas, a sexta IP desta lista é a franquia Ogre, cujos títulos originais foram desenvolvidos pela Quest Corporation (adquirida pela Square em 2002). Essa franquia se subdivide em duas subséries: Ogre Battle, de RPG de estratégia (SRPG) em tempo real; e Tactics Ogre, de SRPG por turnos (RPG tático).

Ambas as subséries remontam ao SNES com Ogre Battle: The March of the Black Queen, de 1993, e Tactics Ogre: Let Us Cling Together, de 1995. Esses títulos foram dirigidos, projetados e escritos pelo renomado auteur dos RPGs de estratégia Yasumi Matsuno e se tornaram profundamente aclamados e influentes nesse subgênero, como se vê até pelo recente Triangle Strategy (Switch) e em RPGs em geral com tramas políticas.

No final dos anos 1990, Matsuno se juntou à Square para trabalhar em títulos para PlayStation como Final Fantasy Tactics e Vagrant Story, mas boa parte do time da série Ogre continuou na Quest produzindo jogos especialmente para plataformas da Nintendo, particularmente Ogre Battle 64: Person of Lordly Caliber, um dos poucos RPGs de Nintendo 64, e o aclamado Tactics Ogre: The Knight of Lodis (GBA), cujo diretor, Yuichi Murasawa, mais tarde encabeçaria a subsérie Final Fantasy Tactics Advance.

O único jogo principal da franquia que não estava presente em consoles da Nintendo era o remake homônimo de Tactics Ogre para PSP, mas atualmente esse se encontra no Switch em uma versão remasterizada e revisada, Tactics Ogre Reborn. Agora, fora das plataformas da Big N, resta apenas Ogre Battle Gaiden: Prince of Zenobia, de Neo Geo Pocket Color.

8 – Kingdom Hearts

Se você conhece minimamente a Square Enix, sei que estava esperando por essa franquia. Sim, chegou a vez de Kingdom Hearts, a terceira franquia mais vendida da gigante dos JRPGs, fruto de uma inusitada parceria dessa companhia com a Disney.

Criada por Tetsuya Nomura e Shinji Hashimoto, ela nasceu no PS2, plataforma em que também floresceu seu título mais aclamado, Kingdom Hearts II, e desde então tem seus jogos numerados como exclusivos temporários da Sony. Entretanto, após a volta das relações da Square Enix com a Nintendo, foram lançados importantes jogos secundários (não numerados) de Kingdom Hearts especialmente para os portáteis da Nintendo.

Com mais de 1,35 milhões de unidades comercializadas, o jogo mais vendido da série em plataformas da Nintendo é Kingdom Hearts: Chain of Memories (GBA), o qual recebeu mais tarde um remake para PS2. Esse jogo também é o mais diferente da série, considerando sua bela pixel art 2D e seu inventivo gameplay que mistura action-RPG com mecânicas baseadas em cartas.

Outro sucesso da série com a Nintendo é Kingdom Hearts 3D: Dream Drop Distance (3DS), com vendas superiores a 1 milhão de unidades, além de Kingdom Hearts 358/2 Days, que possui a história favorita da série para muitos fãs e que até hoje permanece exclusivo de Nintendo DS. Nos últimos anos, a série deu as caras também no Nintendo Switch, com o spin-off de ritmo Kingdom Hearts: Melody of Memory e a robusta coletânea KINGDOM HEARTS - HD 1.5+2.5 ReMIX - Cloud Version.

9 – The World Ends with You

Embora uma série relativamente nova e bastante curta (duologia), The World Ends with You também merece seu lugar entre as franquias da Square Enix mais importantes para a Nintendo. Contando com os mesmos criadores de Kingdom Hearts, Shinji Hashimoto e Tetsuya Nomura, e um sistema de combate único e dinâmico projetado por Hiroyuki Ito para as duas telas do DS, o primeiro jogo dessa série se tornou o jogo mais aclamado da Square Enix para esse portátil da Nintendo e motivou ports para outras plataformas, além de um anime e um recente sucessor, Neo: The World Ends with You (Switch).

Essa franquia é lembrada sobretudo por seu audiovisual, que cria uma imersão incrível com a cultura pop de Tokyo e com o estilo de anime e mangá. Além disso, é conhecida por seu gameplay criativo e dinâmico. Mesmo sem a tela de toque, o último título da série apresenta um sistema bastante interessante em que você pode controlar ações simultâneas de toda a party, cada botão associado a um personagem diferente.

10 – Soul Blazer

Por fim, resta um lugar nesta lista para a esquecida trilogia Soul Blazer, criada por Tomoyoshi Miyazaki e Masaya Hashimoto, do estúdio Quintet (mais tarde incorporada à Square Enix) e publicada pela Enix. Desenvolvidos entre 1992 e 1995, os três jogos foram lançados para Super Nintendo: Soul Blazer, Illusion of Gaia e Terranigma.

O último jogo da trilogia é um action-RPG especialmente notável, frequentemente comparado a Secret of Mana e Chrono Trigger em level design de exploração, estilo artístico e temática histórica e ambiental. É uma pena que a série não tenha continuado e nem tenha recebido ports para outras plataformas, porém como recentemente vimos aparecer um remake de ActRaiser — outra IP clássica da Quintet —, resta a esperança de que possa acontecer o mesmo com a trilogia Soul Blazer, ou pelo menos com Terranigma.

Menções Honrosas

Embora não tenham recebido sequências da própria Square Enix, vale mencionar aqui ao menos dois jogos dessa empresa que continuaram como séries da própria Nintendo. Refiro-me a Xenogears (PS), cujo time mais tarde formou seu próprio estúdio, Monolith Soft, atualmente parte da Nintendo e responsável pela série Xenoblade; e Super Mario RPG (SNES), um dos RPGs mais populares e aclamados da era 16-bits e o ponto de partida para as séries de RPG do Mario: Paper Mario e Mario & Luigi.

Por fim, para não me alongar demais nas menções honrosas, vou listar abaixo algumas outras séries da Square e da Enix que foram, ao menos em sua origem, no NES ou no SNES, consideravelmente relevantes nos consoles da Nintendo:
  • Portopia (Enix);
  • ActRaiser (Enix);
  • Star Ocean (Enix);
  • Hanjuku Hero (Square);
  • Front Mission (Square).

Revisão: Vitor Tibério
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Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
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