Resenha: Super Mario Bros. - O Filme empolga, mas se perde na proposta

Com aposta pesada em fanservice, o longa passa a impressão de ser apenas uma promoção dos jogos do encanador bigodudo.

em 04/04/2023
Quem me conhece sabe que não sou tão fã do Mario quanto a maioria. Claro que conheço a trajetória e a importância do encanador bigodudo e joguei diferentes de seus games, mas nunca mergulhei profundamente no mundo da mascote da Nintendo. Isso não significa, contudo, que eu seja alheia ao universo criado por Shigeru Miyamoto, tanto que pude aproveitar sem problemas Super Mario Bros. - O Filme, ao qual tive a oportunidade de assistir na pré-estreia a convite da Universal Pictures.

 
A resenha se atém à seguinte linha de raciocínio: o que alguém como eu, que não é tão fã do Mario, pode esperar do filme? O resultado é uma aventura que empolga e diverte, agradando tanto aos saudosistas quanto aos possíveis novos fãs e cumprindo o que propõe enquanto uma excelente adaptação cinematográfica de jogos do bigodudo; no entanto, olhares mais críticos podem perceber um possível sacrifício da expansão do universo do encanador para favorecer um fanservice exagerado.

De Brooklyn para o Reino Cogumelo

A película da Nintendo em parceria com a Universal Pictures e a Illumination Entertainment tem dois núcleos: o mundo real, mais precisamente o bairro do Brooklyn, em Nova Iorque (Estados Unidos), e o universo fantástico dos jogos da mascote da Big N. Do lado dos videogames, Bowser, o rei dos Koopas, coloca suas garras na Super Estrela, que lhe garante poderes capazes de destruir todos os reinos existentes; seu alvo, em especial, é o Reino Cogumelo, governado pela Princesa Peach.

Depois dessa abertura, pulamos para o mundo real, onde vemos Mario e Luigi tentando se promover como encanadores independentes em sua própria empresa, Super Mario Bros. Certa noite, enquanto investigam um estranho vazamento que inunda Brooklyn os dois, com o perdão do trocadilho, entram pelo cano e acabam em outra dimensão.

Falar mais que isso entraria no campo dos spoilers, o que não é o intuito desta resenha, mas quero frisar que, a partir deste ponto, a trama se desenrola majoritariamente no “mundo dos videogames”. Além disso, embora a produção tenha tentado dividir o tempo de tela entre Mario, Luigi e demais personagens, o protagonismo ficou, no fim das contas, com o bigodudo baixinho, sem grandes novidades como me foi tentado a pensar em alguns momentos.

Personagens carismáticos perdidos em um mar de referências

O filme do Mario, infelizmente, peca pelo excesso de fanservice com referências aos jogos da mascote da Nintendo — até mesmo sua primeira aparição como Jumpman em 1981, em Donkey Kong (Arcade), não passou batido e a rivalidade entre o gorilão e o encanador ganhou os holofotes em determinado momento da película. Mesmo assim, gostei de ver Pauline aparecendo, mesmo que brevemente, como a prefeita que aparece na TV durante a inundação em Brooklyn — para quem não se lembra, ela era a mocinha raptada pelo Donkey Kong arremessador de barris.

Como mencionei, nunca fui fã dos jogos do bigodudo, mas precisei morder a língua quando vi, com meus próprios olhos, as personalidades incríveis que a equipe de desenvolvimento do filme deu a esses personagens amados por uma grande parcela do público gamer. Mario e Luigi se mantiveram como muitos já os conheciam: o baixinho, destemido e corajoso, o mais alto, medroso e covarde; porém, o filme foi além dessas características e estreitou o laço fraterno entre os dois, quebrando o estereótipo de que Luigi é apenas um coadjuvante (ou o famigerado “Mario verde do Jogador 2”) no universo da Nintendo. 

No entanto, me chamou a atenção — e de modo 100% positivo — o empoderamento que deram à Princesa Peach: ela não apenas governa o Reino Cogumelo, como também é uma soberana de atitude e que não foge à luta. É uma mudança bastante radical, mas igualmente muito mais que bem-vinda, se levarmos em consideração que ela sempre foi colocada como a princesa inofensiva que deveria ser salva do maléfico Bowser.
Por falar no Rei dos Koopas, apesar de ele ser o grande vilão rude e um tanto megalomaníaco, em vários momentos há contraste com uma personalidade mais “mansa” e ingênua; inclusive, a vontade de Bowser em querer conquistar o Reino Cogumelo não podia ser mais cômica do que a apresentada na película. Mais um ponto positivo para a adaptação cinematográfica.

A sessão oferecida à imprensa pela Universal Pictures contou com a dublagem brasileira e, embora eu não tenha assistido ao filme com as vozes originais em inglês para poder traçar um paralelo, gostei bastante do resultado trazido pelo elenco dirigido por Manolo Rey, que, inclusive, dá voz ao Luigi. O texto em português traz também algumas piadinhas e gírias aqui e ali, mas em nenhum momento senti que elas foram forçadas ou inoportunas. Talvez a única crítica que eu realmente tenha em relação à dublagem seja a falta de um sotaque mais italiano para Mario e Luigi para além de eventuais “Mamma mia!” aqui e ali, mas não que isso seja, de fato, um defeito.

Uma animação fantástica que poderia ter ido além do fanservice

Super Mario Bros. - O Filme encanta com sua belíssima apresentação que esbanja todo o carisma do universo do encanador bigodudo, sem tirar nem pôr, em um show de luzes e cores capaz de prender a atenção de qualquer pessoa, seja ela fã ou não do Mario. Os personagens são carismáticos e cheios de personalidade, e o elenco de dublagem brasileiro conseguiu enaltecer suas principais características.

Contudo, apesar de divertir e trazer uma aventura empolgante, confesso que senti falta de uma história mais sólida. Entendo que um longa baseado em jogos não necessariamente tem foco em um roteiro muito elaborado, mas mantenho a opinião de que o filme poderia ser mais se não fosse tão focado em fanservice para agradar aos fãs da mascote da Nintendo e promover os jogos do bigodudo.

Em suma, é um filme capaz de agradar a diversos tipos de público, mas que fica com aquela sensação de que poderia oferecer um algo a mais.

Atualização (5 de abril de 2023, às 16h52): O texto foi editado por motivos de clareza.

Revisão: Thais Santos
Imagens: Universal Pictures Brasil (Trailer)
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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