Análise: Subway Midnight (Switch) apresenta uma experiência tensa e alucinante face ao desconhecido

Jogo de terror fofinho é esquisito, perturbador e cheio de facetas interessantes.

em 05/04/2023
Desenvolvido por Bubby Darkstar, Subway Midnight foi originalmente lançado para PC em 2021 e chegou ao Switch em março de 2023. Brincando com a percepção do jogador, o título se passa em uma espécie de trem fantasma no qual cada vagão mais parece um mundo à parte. Em meio à incerteza do que está por vir, o jogo mantém uma forte tensão em uma experiência artística de imersão no desconhecido.

Uma viagem de trem medonha

A ideia básica de Subway Midnight é que a jovem Lizzbeth embarca em um trem estranho e escuro e logo encontra uma pessoa esquisita coberta por sombras com uma aura maligna. Uma vez lá, nos vemos diante de coisas inimagináveis que mais parecem uma viagem pela psique humana.
 
Seguimos sempre em frente, um vagão de cada vez, no que parece uma espécie de trem fantasma. Encontramos coisas sobrenaturais e de difícil explicação, mas o elemento principal e mais importante é a falta de certeza do que estar por vir. O que vivenciamos é uma experiência psicodélica de se jogar no desconhecido.
Tudo começa e termina na abertura de uma nova porta. Além dela, podemos ter apenas um vagão comum, pode ter alguns passageiros esquisitos, pode mudar o estilo gráfico de forma perturbadora ou pode ter um ambiente que nem mesmo é mais um vagão. O repertório visual é especialmente impressionante, brincando com praticamente tudo: ângulos de câmera, filtros, a alternância entre padrões de cores vibrantes e momentos preto-e-branco e escuros, e até mesmo efeitos 3D realistas são usados ocasionalmente em contraponto a outros momentos mais cartunescos.
 
Cada área é, na prática, um novo mundo, e passar por ele depende também de entender a sua lógica. Com apenas a movimentação básica e um botão de interação, nos vemos ora precisando fugir de monstros invisíveis, ora diante de alguns puzzles que dependem de observação e dedução do que deveria ser feito.
Uma das principais forças e fraquezas de Subway Midnight é o fato de que se trata de uma experiência bem aberta. É importante para a experiência proposta que as coisas não sejam explicadas e o jogador fique perdido. Ao mesmo tempo, é uma coisa que pode acabar parecendo injusta para muitas pessoas, especialmente porque o jogo tem requisitos escondidos para um “final bom” e um “final secreto”.
 
Isso acaba ficando ainda mais complicado porque o jogo só tem autosave. Sem nenhum tipo de indicação do que fazer e sem a possibilidade de criar um save alternativo e voltar, é bem complicado ter certeza se o jogador está no caminho certo ou não. Terminando o jogo, você precisa começar tudo desde o início e ter certeza de estar fazendo o ideal desta vez para não cair novamente no final ruim e deixar de fazer uma coisinha pode atrapalhar tudo.

Uma experiência desnorteadora

A primeira coisa que chama a atenção em Subway Midnight é que o jogo realmente consegue explorar muitas variações estéticas. A ideia é criar a sensação de “realidades paralelas”, de entrar em um mundo completamente diferente cujas regras são desconhecidas e potencialmente desnorteadoras.
 
Procurar switches pelas áreas, evitar monstros e armadilhas ou simplesmente andar para frente são algumas das possibilidades. Porém, mergulhar nesse mundo pela primeira vez é sempre ficar na tensão do desconhecido. Uma área pode ser só um caminho reto, mas será que vai ser tão simples? Será que não vai vir uma cena de espanto ao chegar em um certo ponto da tela? E será que tem algo que precisa ser feito para avançar?
Um elemento que ajuda a deixar o jogador sempre nessa tensão é a trilha sonora e os efeitos especiais. Em muitos momentos, são explorados ruídos para deixar o jogador com medo e isso pode ser bem efetivo. Jogando no escuro sozinho à noite com o fone ligado, esse foi um jogo que me fez tremer e chorar de medo do que estava por vir, o que foi uma experiência até mais forte do que o meu usual com terror.
 
Apesar de oferecer variedade estética e mecânica, a experiência de Subway Midnight tende a ficar repetitiva com o tempo, especialmente nas várias transições que não tem nada para fazer além de chegar até a porta para avançar. Outro elemento que pode ser um pequeno incômodo são os artefatos como paredes que podem obstruir a visão do jogador em algumas áreas, mas esse é um problema bem pontual.

Mergulhando em uma experiência artística de medo do desconhecido

Subway Midnight
é um excelente exemplo de pensar a experiência imersiva dos jogos como arte. Embora alguns detalhes possam incomodar, como as dificuldades impostas pela intencional falta de clareza, é uma experiência que vale muito a pena para qualquer jogador que consiga apenas viajar pelos múltiplos mundos aqui presentes e deixar as sensações à flor da pele falarem mais alto.

Prós

  • Experiência artística perturbadora de lidar com o desconhecido;
  • Grande variação estética entre as áreas;
  • Mesmo com controles simples, cada ambiente pode apresentar lógicas bem diferentes;
  • Direção sonora desnorteadora com especial ênfase em ruídos e efeitos variados;
  • A possibilidade de morrer em algumas áreas gera uma tensão extra no entendimento do que fazer.

Contras

  • A falta de clareza pode dificultar consideravelmente a experiência, especialmente para encontrar os finais bom e secreto;
  • A experiência tende a ficar repetitiva com o tempo;
  • Ausência de saves manuais força o jogador a passar por todo o processo novamente para buscar os finais melhores caso não tenha usado um guia da primeira vez;
  • Artefatos podem atrapalhar a visão do jogador em algumas áreas.
Subway Midnight — Switch/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela PLAYISM

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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