Um grupo de detetives habilidosos
Em Process of Elimination, seguimos a perspectiva de Wato Hojo, um jovem rapaz que decidiu se tornar um detetive para impedir que mais tragédias como a que vivenciou no passado acontecessem. Ainda pequeno, ele e outras crianças haviam sido sequestrados e colocados em algum tipo de labirinto com máquinas perigosas. Em seus sonhos, Wato ainda vê sua amiga Saika sendo brutalmente assassinada por essas criaturas e sonha em um dia descobrir a verdade por trás disso.
Um dia, o protagonista se vê em uma ilha junto a membros da Detective Alliance, um grupo de investigadores muito habilidosos que ele admira bastante. Porém, tornar-se o mais novo integrante dessa organização não será uma tarefa fácil e, antes mesmo que ele consiga se apresentar aos outros, ocorre um assassinato misterioso.
Já nessas investigações iniciais, o grupo começa a se questionar se o pior assassino em série da história da humanidade, o Quartering Duke, pode estar na ilha e talvez ser um deles. Esse indivíduo foi responsável pelas mortes de uma centena de pessoas, todas seguindo um modus operandi de dois assassinatos simultâneos.
Assim como os Ultimates de Danganronpa, cada um dos detetives possui algum tipo de habilidade especial que fez com que ele se destacasse no meio e recebesse um apelido relacionado a esse talento. Temos uma garota que lê muitos livros e tem uma excelente memória visual (Bookworm Detective), um gênio da informática (Techie), um investigador especializado em casos que parecem paranormais (Mystic), uma garota com ótimas habilidades sociais (Downton), etc.
Inicialmente, cada detetive tem uma tendência a trabalhar sozinho de forma ineficiente. Conforme mais assassinatos acontecem e os personagens investigam as suas causas, o grupo se torna mais unido sob os comandos de Wato, que fica conhecido como “Incompetent Detective”.
De forma geral, a narrativa tem casos interessantes, mas abusa de elementos convenientes em algumas ocasiões. Além disso, os diálogos tendem a ser muito repetitivos, mencionando o mesmo assunto várias vezes e tentando tratar detalhes já sabidos como reviravoltas. Ao mesmo tempo, há falhas de lógica e os próprios personagens acabam se contradizendo em um curto espaço de tempo.
Coordenando a investigação
Embora o aspecto visual novel seja a maior parte da obra, o diferencial de Process of Elimination em relação a outros títulos de investigação criminal é o momento da coleta de evidências. Em vez de vasculhar os ambientes por conta própria para obter as pistas necessárias para julgar o que aconteceu, cabe ao jogador enviar comandos para vários detetives, fazendo com que eles cooperem ou se movimentem com mais eficiência pela área investigada.
Nem todos os personagens aceitam comandos, mas às vezes é possível desbloquear mais aliados conforme a investigação avança. Como em um jogo tático, a ideia de Process of Elimination é movimentar essas unidades até os pontos relevantes da investigação e usar as suas habilidades. Há duas formas de movimentação: a básica, que permite agir logo depois, e a viagem para literalmente qualquer ponto do mapa ao custo de não poder agir novamente naquele turno.
Todos os personagens podem inspecionar uma área em busca de novas pistas (áreas roxas com o desenho de uma lupa), inferir detalhes sobre o que ocorreu vasculhando pontos brancos do mapa, analisar uma pista já obtida, ajudar outra pessoa em seu processo de inferência e se movimentar. Porém, a capacidade de cada um é bem diferente, sendo alguns personagens mais indicados para algumas funções. Por exemplo, Techie é um dos melhores em análise, sendo capaz de avaliar qualquer pista, mas a sua habilidade de inspeção é baixa, só permitindo encontrar pistas que estejam a um passo dele.
Com isso, o jogador precisa saber coordenar as ações dos detetives para poder vasculhar todo o mapa. Isso pode ser especialmente importante para quem quiser pegar todas as palavras-chave, itens opcionais que oferecem mais detalhes sobre eventos passados, casos que os detetives investigaram antes e termos que a obra não se aprofunda na trama principal. Há também alguns pontos no mapa que apenas Wato consegue investigar e desbloqueiam cenas adicionais em que os personagens revelam seus nomes verdadeiros.
Outro elemento importante é a presença de armadilhas, que são áreas que causam game over caso um dos personagens esteja em uma delas antes do seu turno começar. A primeira vez que isso aparece no jogo é por meio da análise de uma das pistas, mas isso nunca mais acontece posteriormente.
Uma vez coletadas todas as evidências essenciais, é possível terminar a investigação imediatamente ou explorar um pouco mais. Depois, há um trecho no qual é necessário escolher as respostas certas para completar o raciocínio de Wato e encerrar o caso, e tomar decisões erradas leva a penalidades que podem implicar em game over e em uma avaliação pior durante a resolução do capítulo.
De forma geral, a investigação tática é relativamente rara, ocorrendo apenas uma vez por capítulo inicialmente. Depois, ela acaba se tornando mais frequente, mas as áreas de exploração são muito simples e ficam até mais fáceis de lidar do que nos primeiros casos, não aproveitando tão bem o aprendizado do jogador. A sensação geral é de que caberia pensar mais a fundo o design das áreas e a progressão das áreas para aproveitar o aprendizado do jogador ao longo do tempo e, sem isso, o que temos é uma proposta de mecânicas muito interessantes, mas que merecia mais profundidade e desenvolvimento.
Os outros detalhes
Além das questões de narrativa e gameplay mencionadas acima, chama a atenção o design dos personagens de Mio Katsumata. Além da estética simples, mas bem detalhada e com linhas fortes, os seus traços de personalidade são bem marcados nas suas aparências. A atuação de voz (exclusivamente japonesa) dos personagens também é bem-feita, oferecendo performances com bons níveis de emoção, embora com alguns excessos teatrais devido a alguns traços forçados do roteiro.
Também gostaria de destacar que a obra conta com opções de auto, skip e log, que são fundamentais para uma boa experiência em visual novels. O jogo até mesmo possui uma opção de “Skip to Choice”, que permite pular diretamente grandes pedaços de texto até chegar à próxima escolha que o jogador precisa fazer. Apesar disso, a impossibilidade de usar a tela de toque do Switch para avançar o texto é um grande inconveniente, pois é uma das formas mais agradáveis de navegar por visual novels no console.
Uma investigação criminal atípica
Process of Elimination é uma obra curiosa que explora um formato atípico para a investigação criminal. Para quem gosta muito do gênero e quer ver a mistura com elementos táticos, trata-se de um jogo interessante, mas a trama repetitiva e marcada por muitas conveniências enfraquece consideravelmente a experiência, assim como o fato de que o título poderia ter explorado melhor as possibilidades de suas mecânicas.Prós
- Coordenar as ações dos detetives de forma tática é uma ideia muito boa e oferece um estilo único e interessante de gameplay;
- Design de personagens rico em detalhes e distinto;
- Possibilidade de pular diretamente para a próxima escolha ajuda o jogador caso queira rejogar;
- Boa atuação de voz japonesa dos personagens, embora com alguns excessos;
- Sistema de palavras-chave que adiciona objetivos opcionais para vasculhar as áreas.
Contras
- Narrativa repetitiva e cheia de elementos convenientes e falhas de lógica;
- A investigação tática é relativamente rara, subdesenvolvida e não oferece um desafio com boa progressão de dificuldade;
- Incapacidade de usar a tela de toque.
Process of Elimination — Switch/PS4 — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America