Análise: The Legend of Heroes: Trails to Azure é mais um competente JRPG na biblioteca do Switch

Arco Crossbell está finalmente completo no Ocidente e no Switch; quem ganha com isso somos nós, os jogadores.

em 10/03/2023
Sequência direta do excelente The Legend of Heroes: Trails from Zero (Switch), The Legend of Heroes: Trails to Azure encerra, pela primeira vez no Ocidente, o famoso arco Crossbell da franquia Trails, uma das mais conhecidas séries de RPGs japoneses no exterior e o grande prodígio da desenvolvedora Nihom Falcom. 


Como veremos a seguir, fazendo jus às expectativas criadas pelo seu antecessor, aqui está mais um competente JRPG para a biblioteca do Nintendo Switch, que, em seus anos finais de vida, vai se consagrando de vez como um dos melhores consoles que já existiu para os amantes do gênero.

Os longos caminhos até Azure

Apesar do nome parecido com o de seu antecessor, The Legend of Heroes: Trails to Azure é, na verdade, o quinto jogo da série Trails, que, apesar da impopularidade em nossas terras, é uma das mais veneradas no mundo quando o assunto é RPGs japoneses. 

Conhecida como Kiseki (軌跡) no Japão, Trails nasceu como uma espécie de spin-off da série The Legend of Heroes, cujo primeiro lançamento ocorreu em 1989 para o NEC PC-8801, um dos modelos mais populares de uma série de microcomputadores japoneses comercializados no Japão, Estados Unidos e Canadá.

Assim como a série Persona — que também nasceu como um spin-off, só que de Shin Megami Tensei —, Trails acabou caindo nas graças dos jogadores com o tempo, graças aos seus jogos que incorporavam muito bem tanto a temática de fantasia científica quanto os melhores elementos dos animes da época. 

Porém, mesmo com o grande sucesso no Oriente, a franquia demorou muito a ser trazida para este lado do mundo. Originalmente lançado para PlayStation Portable em 2011 no Japão, The Legend of Heroes: Trails to Azure — a estrela desta análise — somente agora recebe seu primeiro lançamento ocidental oficial, o que torna esta ocasião (e a presente versão de Switch) um real motivo de celebração, uma vez constatada a qualidade desta sequência.

O arco Crossbell finalmente completo no Ocidente

Juntos, Trails from Zero e Trails to Azure compõem o que ficou conhecido pelos fãs e crítica especializada como arco Crossbell ou arco de Crossbell, devido aos dois jogos se passarem na ampla cidade-estado fictícia de mesmo nome. 

Aqui é onde o primeiro e praticamente único alerta real desta análise é ligado: como mencionado, Trails to Azure é uma sequência direta de Trails from Zero, se passando poucos meses após o final do último jogo, lançado em setembro do ano passado para o console da Nintendo. 

Por seu caráter de continuação, então, realmente não é recomendado que você jogue Trails to Azure antes de seu antecessor (que, convém lembrar, é uma ótima porta de entrada para a franquia como um todo). Sem nenhum exagero, seguir a história de Lloyd Bannings e a SSS (Special Support Section) tem muito mais impacto e faz muito mais sentido se você tiver finalizado o primeiro jogo antes.

A própria NIS America, responsável pela localização, parece estar ciente desse fato, trazendo vários bônus in-game que são desbloqueados ao importar um jogo salvo de Trails from Zero no mesmo Switch para o novo título (além disso, há a promessa de que o mesmo seja feito com o futuro lançamento de Trails into Reverie, ainda este ano).

Além disso, jogar Trails from Zero primeiro é um caminho extremamente seguro para mostrar se Trail to Azure é um produto para você, no fim das contas. Isso porque, do protagonista ao sistema de combate, pouca coisa muda em termos de mecânicas de um jogo para outro. 

Enquanto a história não engrena — vou me abster de entrar no território de spoilers nesta análise —, por exemplo, você ainda se verá realizando quests bem similares às do primeiro jogo para manter a paz e a harmonia em Crossbell. As mudanças, longe de serem disruptivas, buscam adicionar mais qualidade de vida, como no caso do carro (sim, agora a SSS possui um veículo para viagens e passeios rápidos).

Todas as outras novidades, como a introdução da Burst Gauge (uma barra que vai se preenchendo em confrontos especiais, gerando bônus temporários para sua party quando completa) e dos Master Quartz (um interessante elemento de personalização que pode conceder bônus realmente valiosos aos personagens), mostram que Azure busca expandir os conceitos de Zero em vez de revolucioná-los, seja para uma nova audiência, seja pelo puro prazer da mudança em si.

Na maioria dos casos atuais, isso poderia ser facilmente considerado um ponto negativo ou ter levantado debates sobre o valor de expansões e conteúdo adicional. Nesse caso, convém lembrar que DLCs não eram exatamente comuns no PSP, no qual Azure foi lançado originalmente, e que aqui está um jogo de verdade, não uma expansão, apesar das similaridades. 

Assim, a verdade é que, mesmo em 2023, a qualidade dos dois jogos (que podem ser considerados realmente como duas metades de uma obra maior), termina por impressionar em várias frentes, fazendo de The Legend of Heroes: Trails to Azure uma fácil recomendação aos fãs de RPGs e jogos japoneses clássicos.

Uma adaptação mais que especial (de novo)

Quando tive a honra de analisar The Legend of Heroes: Trails from Zero no ano passado, elogiei sem ressalvas o trabalho de adaptação da PH3, empresa fundada por Peter "Durante" Thoman, desenvolvedor que ganhou fama ao elaborar modificações (mods) praticamente essenciais no PC, como o caso do DSFix, para Dark Souls (Multi).

Assim como no jogo anterior, o que temos aqui é praticamente uma remasterização para o console da Nintendo, que se beneficia de uma imagem nítida tanto no modo portátil quanto no modo TV. Presencialmente, o resultado é um verdadeiro espetáculo visual que deve agradar em cheio aos fãs de RPGs antigos e temáticas anime.

Aliás, considerando a duração da aventura (pelo menos 50 horas para fechar a história, sem contar side quests e coisas do tipo), o caráter híbrido do console da Big N realmente vem a calhar para aquelas sessões de jogatina mais curtas e despretensiosas durante o dia ou à noite. Lembrando as origens portáteis da aventura, pode se dizer que a nova casa do encerramento do Arco Crossbell é extremamente adequada; quem ganha com isso no fim somos nós, os fãs.

A continuação da lenda dos heróis…

Anos após sua estreia no PlayStation Portable, The Legend of Heroes: Trails to Azure ganha uma nova casa tão confortável quanto a original. Nem mesmo as similaridades com o título anterior ou o inevitável teste do tempo são capazes de ofuscar o brilho de uma obra que, inexplicavelmente, ficou restrita ao Oriente por mais tempo que o devido. Felizmente, essa é uma batalha vencida — agora, aguardamos o restante da saga Trails no Switch.

Prós

  • Elenco carismático, com adições e desenvolvimentos interessantes em relação ao jogo anterior;
  • O sistema de combate por turnos, que já era divertido e estratégico, ganhou novidades simples mas eficazes, como a Burst Gauge e o Master Quartz;
  • Opções de qualidade de vida como a velocidade selecionável de batalhas e movimento melhoram a experiência de forma geral;
  • O caráter híbrido do console e a adaptação competente e opção de importar saves de Trails from Zero fazem do Switch uma “casa” especial para a obra.

Contras

  • Devido ao fato de ser uma continuação direta, não é recomendado em hipótese alguma antes de seu antecessor;
  • Missões, especialmente as secundárias, podem tornar-se repetitivas com o tempo;
  • Sem suporte a português brasileiro.
The Legend of Heroes: Trails to Azure — PC/PS4/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America
Siga o Blast nas Redes Sociais

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).