No dia 9 de março de 2023, Metroid Fusion foi lançado para a biblioteca de jogos retrô da Nintendo, dentro do aplicativo Game Boy Advance do pacote Nintendo Switch Online + Expansion Pack. O título é o sétimo a ser adicionado no serviço, dando a sensação que com tantos anúncios da série Metroid em um curto intervalo de tempo, um grande anúncio da série se aproxima aos poucos…
Metroid em um novo serviço de jogos
Metroid Fusion está disponível no emulador de Game Boy Advance do serviço da Nintendo. Essa ferramenta possui alguns ajustes bem interessantes. Há a possibilidade de se adicionar um filtro na tela que simula o aspecto da tela TFT LCD do hardware original, chamado “Classic feel”. Simplesmente fiquei encantada com o filtro. O resultado do efeito é bem agradável e faz com que as cores se mesclem muito mais naturalmente do que é de costume ver em telas atuais, sem filtros aplicados. Sentia-me próxima na medida do possível do hardware original e isso me fazia ter mais vontade de jogar no Switch. A sensação é de conforto, sentindo que pude recuperar um pedacinho da nostalgia que essas telas traziam.
Há também a opção de manter a tela do jogo em uma escala bem similar ao que estávamos acostumados na pequena tela do GBA. Fiquei muito feliz com a adição, pois era uma das coisas que me preocupava. Frequentemente, quando jogamos coisas de outras gerações 2D, os pixels facilmente podem parecer “estourados”, e foi uma grande felicidade ver que houve esse cuidado com quem prefere ver uma tela menor, mas com uma imagem mais fiel.
Falando do aumento “padrão” do Switch, é bom mencionar que, apesar de existir a opção de diminuí-lo, fiquei surpresa em ver que os desenvolvedores acertaram bem no tamanho default. Que não é desagradável de pequeno e nem artificial de grande. Achei que iria preferir jogar no modo com a tela pequena, mas me encontrei jogando com a configuração de tamanho padrão + filtro de tela em toda minha experiência no modo portátil.
Devo inserir um porém: caso sua TV seja maior que 60 polegadas, não indico deixar o filtro de TFT LCD ligado. Porém, se for usá-lo, combine-o com a opção de diminuir o tamanho da tela. Em minha experiência, senti um pouco de estranheza vendo o jogo rodando numa TV de 60” com o Classic feel ligado, mas as coisas ficaram bem mais naturais ao se diminuir o tamanho da tela.
Resumindo, tirando eventuais câimbras devido à ergonomia da própria pegada do Switch, jogar Game Boy Advance no console é ótimo. Os gráficos estão bem bonitos e fiéis ao hardware original. Sendo o pacote NSO+ talvez a melhor forma oficial para se jogar hoje em dia.
Samus, a federação, parasitas X, Adam e SA-X
A trama do jogo começa com Samus escoltando um grupo de pesquisadores da federação, ao redor do planeta SR388. Durante a exploração, uma forma de vida chamada parasita X infecta a protagonista e deixa-a em coma. Uma grande intervenção cirúrgica é necessária, pois o parasita X se fundiu com as partes orgânicas da Power Suit, sendo praticamente impossível separar completamente Samus do parasita X em segurança. A única forma encontrada de cura foi a aplicação de uma vacina, contendo células de um certo bebê Metroid, espécie predadora natural das criaturas gelatinosas X. Samus nasce novamente, porém, não a mesma.
Agora, a protagonista foi convocada a investigar uma misteriosa explosão na unidade de pesquisa B.S.L., laboratório espacial que armazenava fragmentos corrompidos de sua armadura e algumas das criaturas capturadas no planeta. Acompanhada por um computador frio e que lhe obriga a seguir detestáveis ordens, coisa que a caçadora espacial nunca gostou, mas que de alguma forma lhe lembra alguém familiar... em sua homenagem, Samus denomina internamente o computador como “Adam”.
Após essa introdução um pouco mais longa para o gênero, mas ainda assim empolgante, estamos livres para explorar a base de pesquisas. Durante diversos pontos do jogo, somos apresentados pedacinho por pedacinho de novas partes da história. Através de diálogos com o computador Adam e em momentos de reflexão da caçadora de recompensas. Cada vez que eu entrava em uma nova “Navigation room”, já ansiava por saber qual seria o próximo desenrolar. Particularmente, gostei bastante desse sistema de história em pedacinhos, pois para cada trecho de ação, havia uma pequena pausa para respirar (ou não, dependendo do que acontecia na trama) e descansar. O sistema me levava a querer chegar o mais rápido possível na próxima sala.
O jogo toca na humanização da protagonista, vista não mais apenas como uma caçadora ou mero avatar para o jogador, e sim como uma pessoa, com convicções, receios, apegos e falhas. A trama não é forçada e me senti em sintonia com a narrativa em praticamente toda minha jornada, tirando pequenos detalhes, que me causaram frustração, mas podemos argumentar que temos que também conviver com exemplos do tipo na vida real.
Cuidado com o exemplo a seguir que contém spoiler: logo no final do jogo, descobrimos a reviravolta de que a federação está novamente criando Metroids e quer usar essas criaturas e os parasitas X para benefício próprio. É óbvio que a federação não tem nem chance de controlar tais criaturas. Parece um plano bem burro e forçado depois de tantas tentativas que deram terrivelmente errado? Sim, porém ainda repugnantemente humano e crível na realidade da ganância humana.
Enfim, gostei bastante da história, e digo que, mesmo que você não seja fã de jogos estilo metroidvania, vale a pena conhecer o jogo por curiosidade, pois é possível terminá-lo em apenas cinco horas.
Combatendo inimigos, esgueirando-se por plataformas e buracos
O jogo possui poucos tutoriais, o que é um ponto positivo devido à naturalidade que faz com que ele flua, porém ao mesmo tempo meio negativo, por ser fácil terminá-lo sem descobrir tudo que ele oferece. Porém, isso é o de menos, em minha opinião, pois um jogo de ação acima de tudo deve ter um bom ritmo. O combate é rápido, sendo fácil de se pegar até mesmo para jogadores não tão acostumados com o gênero. Diverti-me bastante do início até a metade do jogo.
Como todo Metroid, é necessário estar sempre atento aos cenários, se não quiser ficar “travado” em alguma área, mas no geral Adam costuma ser o suficiente para guiar o jogador em Fusion. Também é bastante claro na maior parte das vezes quando há alguma sala secreta obrigatória, pois há a forte sensação de “se não tiver algum segredo aqui nesse quarto, simplesmente estou ferrado e preso neste local”.
Entretanto, suas porções finais são outra história. Os chefes finais repentinamente parecem ter ganhado exponencialmente muito mais vida, com períodos de vulnerabilidade curtíssimos e que parecem não morrer, não importa quantos mísseis tomem na cara. Alguns pulos de plataforma também parecem um pouco injustos. De fato, jogar no Game Boy Advance para Switch é uma mão na roda, graças aos abençoados pontos de carregamento que podemos criar a qualquer hora e voltar no tempo. Definitivamente não conseguiria zerar o jogo sem treinar muito sem isso.
A trilha sonora do jogo merece destaque, pois ela adiciona muito valor à imersão. As faixas combinam harmonicamente até mesmo com os avisos que ouvimos em algumas partes do jogo. As músicas são realmente de se arrepiar, passando com elegância sensações como isolamento, medo, pânico, mistério e alegria. O compositor da série, Kenji Yamamoto, merece os parabéns.
Um jogo que se antecede 19 anos no que seria Metroid Dread
Uma coisa que me chamou bastante atenção foi a capacidade do parasita X de evoluir durante o jogo, e sua dinâmica de “item de cura”, mas ao mesmo tempo ameaça. Efetivamente, nosso único meio (além das salas de recuperação) de recuperar vida é absorvendo os parasitas, que podem se tornar um perigo caso não sejam rapidamente pegos, pois a cada inimigo derrotado, um parasita é liberado, ressuscitando inimigos e até mesmo transformando outros em versões mais perigosas. É bom, então, estar sempre preparado para absorver as criaturas, mesmo que você não necessariamente precise delas no momento.
Uma curiosidade é que, em um determinado ponto do jogo, essa dinâmica de se usar parasitas X como cura é invertida, pois com sua evolução, eles descobrem o ponto fraco de gelo de Samus. Infelizmente o momento não dura muito, mas não deixa de ser bem legal de experimentar.
É muito interessante ver que Metroid Fusion mostra diversos sinais da ambição de seu diretor Yoshio Sakamoto em criar algo como Metroid Dread. Arrisco-me a dizer que Metroid Fusion se parece bastante com os primeiros passos no plano para Metroid Dread. Com diversos elementos similares como a SA-X, que lembram muito os robôs EMMI. Ambos os inimigos são ágeis e não devem ser subestimados.
Em Fusion, os inimigos também estão ativamente agindo contra você, destruindo equipamentos, bloqueando passagens e procurando pelo jogador. O jogo de GBA ainda estava 19 anos muito novo para ter o mesmo refinamento que os EMMI em Metroid Dread, porém é clara a semelhança entre os dois, e é curioso ver como a ideia se manteve mesmo depois de tanto tempo.
Metroid Fusion é um jogo rápido e divertido. Talvez um pouco frustrante em seu final bem exigente com o jogador, mas caso você seja fã da série, ou até mesmo tenha despertado interesse em Metroid através de Dread, vale a pena conferir o título, seja apenas para se divertir ou para compreender melhor a ambição e trajetória do mais recente jogo 2D da franquia.
Revisão: Vitor Tibério
Artigo produzido com cópia digital cedida pela Nintendo