Análise: Blade Assault (Switch) até diverte, mas falta variedade para evitar repetição

Roguelite de ação 2D oferece combates frenéticos, porém sofre com escassez de conteúdo.

em 30/03/2023


Não é mais novidade pra ninguém que roguelite é um tipo de gênero que combina bastante com a portabilidade do Nintendo Switch. De tempos em tempos surge na eShop algum indie novo tentando replicar o sucesso de Dead Cells (Multi) ou Hades (Multi).

Atento a essa tendência de mercado, o pequeno estúdio coreano TeamSuneat criou Blade Assault, um roguelite de ação frenética 2D com visuais em pixel art e temática cyberpunk. Lançado originalmente para PCs em 2022, ele agora está presente no Nintendo Switch, levantando dúvidas sobre o seu diferencial em meio a tantas alternativas disponíveis.

Ausência do essencial

Blade Assault começa sob a perspectiva de Kil, um soldado do mais alto escalão de Esperanza, uma metrópole futurista e luxuosa que flutua no ar. Após se revoltar contra o governante autoritário da cidade, o protagonista é arremessado para fora do paraíso voador até desabar em uma região extremamente pobre e sucateada. Chegando lá, ele é resgatado por uma organização revolucionária que o convida a participar de uma investida contra as forças de Esperanza e seu líder maléfico.

A progressão do jogo é exatamente o que você já viu em qualquer outro roguelite moderno. Dentro do hub central, podemos conversar com os NPCs e alternar entre os quatro personagens desbloqueáveis, além de fazer upgrades em atributos, armas e outras coisas através de itens que podem ser coletados durante as campanhas. Depois de se preparar, você avança pelas fases do jogo com o objetivo de chegar o mais longe que puder.

Seja morrendo ou zerando a campanha, você inevitavelmente retorna ao hub para gastar os itens que coletou e assim liberar mais opções que facilitam o seu progresso na próxima vez que tentar chegar ao final. É um ciclo quase interminável que depende da variedade de possibilidades e mecânicas dinâmicas que impedem a experiência de ficar enjoativa com facilidade.

No caso de Blade Assault, a falta de variedade e dinamismo no conteúdo do jogo foi algo que ficou evidente muito cedo durante a minha jogatina. O problema já começa pelas fases geradas de maneira aleatória, que nada mais são que salas simples com vários inimigos que precisam ser derrotados para poder selecionar um upgrade e assim progredir para a próxima sala.




Apesar dos cenários e visuais dessas salas serem bonitos, não existe nenhuma variedade no conteúdo prático em si. A única coisa que muda entre a seleção de salas que podem aparecer aleatoriamente é o layout do piso e os inimigos que aparecem. Não existem desafios de plataforma, obstáculos para desviar, caminhos para descobrir, puzzles para resolver ou elementos do cenário que alteram o momento a momento do combate.

Se isso não bastasse, a variedade de layouts disponíveis é extremamente baixa para uma campanha que, em teoria, deve ser rejogada várias vezes. A partir da minha quarta tentativa, por exemplo, eu já tinha visto e decorado a disposição de todas as salas possíveis até o segundo chefe. Todas eram igualmente sem graça.

Previsível até demais

Como já é possível perceber olhando para a premissa da história, a progressão da trama de Blade Assault se resume no mais básico roteiro de uma obra no estilo cyberpunk. Até existe uma tentativa minúscula de worldbuilding, mas nenhum ponto é explorado de maneira satisfatória.

O elenco de personagens é carismático, mas tudo é desperdiçado pela falta de variedade nas interações feitas no hub ou durante os intervalos da campanha. A impressão que dá aqui é que o jogo quer contar uma história tradicional, mas esquece que a progressão de um Roguelite envolve morrer e voltar para o início várias vezes.

Você conversa com um NPC pela primeira vez no hub ou durante uma campanha. Depois dessa primeira impressão, que é até legal, eles se tornam pesos de papel estáticos que repetem a mesma frase de novo e de novo com pouquíssimos casos de mudança após progredir em algum objetivo importante. O diálogo até pode ser diferente de acordo com a personalidade do seu personagem atual, mas nem nesse ponto as mudanças deixam de ser escassas.

Parece que estou batendo sempre na mesma tecla, mas é impressionante como a falta de variedade e dinamismo de Blade Assault é tão problemática que isso acaba afetando também a parte mais divertida do jogo: os combates frenéticos e prazerosos contra as hordas de inimigos.

Entre os motivos, a existência de pouquíssimas alternativas de upgrades e buffs que interagem entre si para diversificar as builds é o fator mais evidente. Não existe incentivo para ficar experimentando nas suas escolhas porque a esmagadora maioria das opções só serve para aumentar atributos básicos em quantidades mínimas.


Os chefes são legais e intimidadores na primeira vez, mas a partir do terceiro ou segundo confronto os movimentos da inteligência artificial acabam se mostrando muito previsíveis a ponto da sensação de perigo desaparecer. Caso você não tenha construído uma build capaz de causar um dano mediano, então esses chefes ainda correm um alto risco de se tornarem verdadeiras esponjas de dano, trazendo mais enrolação do que um real desafio.

O número de desbloqueáveis que você pode ir comprando no hub também é extremamente pequeno para um roguelike. Até terminar a campanha pela primeira vez, você provavelmente já vai ter comprado todas as melhorias, de forma que não sobra mais nenhum objetivo para correr atrás nas tentativas subsequentes.

Você progressivamente vai acumulando cada vez mais recursos, porém não encontra opções para usar eles de alguma forma. Isso seria facilmente consertado se existisse mais conteúdo para desbloquear. Não precisava nem ser algo grande — uma cor de cabelo diferente, por exemplo, já seria efetiva como incentivo ao jogador.



O futuro não é tão show

Os problemas de Blade Assault não param por aí, pois a performance do jogo também decepciona bastante com quedas bruscas e constantes de framerate durante as lutas. Depois de acumular muitos poderes e efeitos nas fases finais da campanha, o desempenho do console vai ficando exponencialmente pior com a quantidade hilária de informações na tela.

Existe uma personagem com uma habilidade que te permite invocar até oito aliados ninjas para lutar ao seu lado. Imagina isso em uma tela com dez inimigos e efeitos de raios saindo de todo lugar enquanto seu personagem se move de maneira frenética. Só falta o Switch engasgar de tanta travada e poluição visual.

O prêmio de defeito mais frustrante de todos, porém, fica para a existência de bugs massivos que podem (e vão) te matar de forma injusta. Foi normal durante a minha jogatina ficar com o personagem em um estado no qual o ataque básico da arma simplesmente congelava durante a animação. Se a minha build no momento dependia da arma para dar dano, isso literalmente me impedia de derrotar os inimigos e progredir. A única solução, além de morrer, era sair do jogo pelo menu e continuar de novo do início da sala.

Outra frustração recorrente que afetou minha experiência envolve o upgrade que ressuscita o protagonista com 50% da vida após a primeira morte na campanha. Toda santa vez que eu revivia por causa dessa melhoria, meu personagem entrava naquele estado que impossibilita atacar normalmente e a quantidade máxima da barra de HP ficava presa no 1, efetivamente fazendo com que qualquer dano fosse uma morte garantida.


Voltando por cima

Apesar dos inúmeros problemas, bugs e escassez de conteúdo que acabaram de ser abordados, você ainda acreditaria se eu dissesse que Blade Assault foi uma das experiências mais divertidas e viciantes que eu tive em anos? Parece inacreditável, mas o momento a momento do combate conseguiu me prender de forma que nenhum outro roguelite além de Hades conseguiu.

Talvez isso tenha ocorrido por conta do meu gosto pelo gênero, somado à portabilidade do Switch? Pode ter sido algo envolvendo meu momento emocional ou alguma explicação boba do tipo? São suposições, mas no final do dia o fato é que Blade Assault cumpriu a tarefa de me viciar no seu ciclo de gameplay e isso não pode ser desmerecido de jeito nenhum.

O combate é extremamente básico e direto ao ponto, porém ao mesmo tempo é prazeroso e frenético de forma que sempre me seduzia a voltar para “tentar só mais uma vez”. O simples ato de distribuir dano e assistir à barra de vida dos inimigos evaporar por conta da minha build apelona já é divertido o suficiente para me fazer esquecer dos outros problemas.

Os gráficos em pixel art são simples, mas agradáveis e eficientes na hora de detalhar a estilosa estética cyberpunk dos cenários. Os personagens controláveis possuem um design estiloso e carismático. A trilha sonora é competente e apresenta músicas realmente incríveis durante o combate contra certos chefes. Apesar dessas características positivas passarem a maior parte do tempo sendo engolidas pelos defeitos que assolam o resto da experiência, é importante reconhecer que elas ainda estão lá e podem muito bem te surpreender como foi no meu caso.




Divertidamente repetitivo

Ignorando os bugs extremamente problemáticos e a performance fraca no Switch, Blade Assault mostra que tem potencial para agradar jogadores que curtem ação frenética, especialmente durante as primeiras sessões, onde você ainda não esgotou todas as possibilidades que o título tem para te apresentar.

Infelizmente, a ausência de variedade nos cenários e conteúdos diversificados é um problema grande demais para não interferir negativamente em um jogo que depende do ciclo de progressão repetitivo de um roguelite. Ainda é perfeitamente possível se divertir com Blade Assault, porém as chances de acabar enjoando rápido são mais altas do que o ideal.

Prós:

  • Combate prazeroso e viciante;
  • Pixel art e trilha sonora competentes.

Contras:

  • Pouca variedade de builds, inimigos e conteúdos no geral;
  • Quedas de framerate, travadas e bugs recorrentes;
  • Muita poluição visual dependendo dos seus poderes;
  • Chefes previsíveis e esponjas de dano;
  • Pode ficar repetitivo muito rápido.
Blade Assault - PC/Switch - Nota: 6.5
Versão analisada: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela TeamSuneat
Revisão: Davi Sousa


Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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