Análise: Record of Agarest War (Switch): fanservice para os nostálgicos, poucas novidades para os entusiastas de RPG

Infelizmente, o jogo tem pouco a oferecer para os fãs de RPG.

em 13/03/2023
A bem da verdade, quando lançado em 2007 para PlayStation 3 no Japão, Record of Agarest War não chamou muita atenção dentro do seu próprio gênero. 15 anos depois, a publicadora Aksys Games decidiu, em celebração ao aniversário da série, trazer o jogo ao Switch; embora tenha sido uma aposta acertada, este RPG criado pela Compile Heart pouco tem a oferecer aos entusiastas do gênero, servindo mais como um presente para os nostálgicos.

RPG com dating sim e o sentimento de “eu não lembrava que era assim”

Infelizmente, a história de Agarest War não é o ponto forte do jogo: a grosso modo, temos uma narrativa dividida em capítulos, cada qual com seus próprios protagonistas que precisam lidar com os conflitos sociopolíticos da sua linha do tempo. Apesar de ser uma abordagem interessante, o RPG da Compile Heart falha ao interligar essas diversas gerações, salvo alguns personagens que continuam no grupo do jogador por motivos diversos — um bom exemplo aqui é Ellis, uma High Elf que possui expectativa de vida diferente da dos humanos.

Nesse quesito, esse sistema de gerações mascara um simulador de namoro (dating sim), com o qual criamos o protagonista da próxima; indo direto ao ponto, em cada um dos capítulos, o protagonista recruta para sua equipe potenciais pretendentes, porém apenas uma será a felizarda, se é que me entende. No entanto, esse sistema de simulação traz benefícios, uma vez que o herói do próximo capítulo herdará características (não apenas físicas) de seus pais.


Como um bom dating sim, em certos momentos dos capítulos, é necessário fazer escolhas que determinarão o nível de afeição entre o protagonista e sua pretendida. Não é preciso ir muito além na história para ver a verdadeira intenção de Agarest War, já que nas janelas de diálogo há um gráfico com um medidor dividido em três vertentes (Neutral, Dark e Light), que dita o rumo que o jogador tomará durante a campanha. Ou seja, para bom entendedor, meia palavra basta.

Sinto muito se esta introdução lhe parece vaga, confusa e fraca: é bem assim como me senti revisitando o jogo depois de alguns bons anos. Na minha cabeça, Agarest War era melhor — ou apenas a Ju adolescente tinha outros critérios quanto à narrativa dos jogos que consumia na época

Jogabilidade tão arrastada quanto a narrativa

Eu realmente gostaria de dizer que Agarest War tem um sistema de combate arrojado e dinâmico, mas nem isso salva o jogo. As batalhas se dão em um campo dividido em tiles e os turnos são separados em duas etapas: Movement Phase e Action Phase, nas quais os personagens (aliados e inimigos) realizam ações ao consumir Action Points (AP).

Com exceção dos APs, temos um combate parecido (no papel) com o da série Disgaea, mas abro a licença poética para dizer que, nesse aspecto, Agarest War me lembrou muito mais de La Pucelle: Ragnarok. Não vou negar que é um sistema interessante, uma vez que o jogador não pode realizar ações sem APs — aqui, até mesmo o uso de itens curativos custa Action Points —, mas, a longo prazo, as batalhas se tornam arrastadas e entediantes. 

Existem, contudo, alguns elementos que remedeiam (bem pouco, infelizmente) essa característica do combate. O primeiro deles é a possibilidade de acumular APs ao não se movimentar/atacar diversos inimigos, fazendo com que o jogador possa realizar ações mais complexas em turnos seguintes.


Outro fator que deixa o combate um pouquinho mais divertido é a combinação de golpes simples em um mais poderoso. Contudo, essa combinação de skills consome mais APs e nem sempre é recomendada quando há muitos inimigos na área de combate.

Por fim, existe o sistema de Break: quando um alvo recebe dano o bastante, o jogador tem acesso a uma poderosa skill — ou coup de grâce, se você preferir um termo mais dramático — capaz de derrotá-lo instantaneamente. Ao contrário das outras ações normais, esses golpes especiais gastam Skill Points (SP), que são obtidos ao atacar ou receber dano.

Existem outros elementos que tornam o combate minimamente interessante, como alguns momentos livres de exploração de mapas, e, apesar de parecer um sistema complexo, Agarest War é competente ao dispor de tutoriais explicativos conforme as mecânicas são introduzidas. Para o bem ou para o mal, é um ponto positivo para um jogo tão datado, mas eu ainda sinto falta de mecânicas de qualidade de vida presentes em outros jogos do gênero, como a função de auto-battle em Disgaea 6.

Alguns poucos acertos em meio a tantos erros

A aposta da Aksys ao trazer Agarest War para o Switch é, na minha opinião, o ponto alto do jogo — sim, pode soar como uma piada, mas a portabilidade do console ajuda a mitigar a sensação de fadiga do RPG. Apesar de trazer uma campanha de mais de 70 horas (ou centenas, caso você queira completar todos os achievements), poder aproveitá-la fora de casa, como na hora do almoço no trabalho ou na hora do rush, passa a sensação de que não estamos tão vidrados na telinha.

Além disso, por trazer uma narrativa simples, Agarest War também não exige muito da nossa capacidade mental. Quero abrir parênteses aqui e dizer que o RPG já recebeu ports para Android e iOS no passado, mas, atualmente, em termos de jogatina on the go, só está disponível no Switch.


Também quero elogiar os gráficos e a performance do jogo, tanto no modo portátil quanto no TV. Apesar de a apresentação audiovisual ser um ponto questionável a depender do jogador — faço-lhe a pergunta: você gosta de artes e sprites à la Ragnarök Online ou outros jogos da primeira metade dos anos 2000? —, foi ela que me chamou a atenção para Agarest War anos atrás. Somado a isso está uma competente dublagem integral em japonês durante as porções narrativas, dando aos personagens entonações e emoções diferentes.

Agora, durante os combates, eu já não me senti muito atraída por essa dublagem. Primeiro, porque não entendo quase nada de japonês; segundo, porque não há legendas em inglês no campo de batalha. Sendo assim, eu considero esse elemento uma faca de dois gumes, já que as longas falas quando os bonecos são derrotados contribuem para deixar os combates ainda mais arrastados.

E já que mencionei Ragnarök Online mais acima, eu realmente gostei da possibilidade de distribuir pontos obtidos no level up nos diferentes parâmetros (stats) dos personagens. Talvez esse seja um pequeno diferencial em relação aos inúmeros RPGs que temos no mercado, mas, de fato, não é o que torna Agarest War um título de fácil recomendação.

A palavra da vez é nostalgia

Record of Agarest War é mais um exemplo de como um gênero de nicho continua sendo um gênero de nicho. O port para Switch é competente e o jogo possui alguns pontos fortes, mas com uma narrativa fraca e morosa e combates demasiadamente arrastados, é um RPG de difícil recomendação atualmente. No entanto, para quem quer reviver a nostalgia de tempos que não voltam mais, principalmente na indústria de jogos da primeira metade dos anos 2000, Agarest War pode ser uma boa distração se aproveitado em doses homeopáticas.

Prós

  • Ótimo port para Switch, com uma agradável apresentação audiovisual e performance;
  • O sistema de combate e level up traz mecânicas interessantes;
  • O jogo dispõe de tutoriais competentes conforme as mecânicas são introduzidas;
  • Dublagem integral em japonês ajuda a combater a morosidade da narrativa;
  • Elementos de dating sim ajudam a moldar os heróis dos capítulos posteriores;
  • Ótimo presente para os nostálgicos de plantão.

Contras

  • Jogabilidade datada e sem mecânicas de qualidade de vida, como auto-battle;
  • História fraca dividida em capítulos que possuem pouca ou nenhuma conexão entre si;
  • Combates demasiadamente arrastados sem necessidade;
  • Campanha exageradamente longa para o que o jogo oferece;
  • Difícil recomendação, mesmo para entusiastas de RPGs.
Record of Agarest War — PS3/PC/Android/iOS/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru.
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