Dando continuidade ao port de visual novels para o Switch, o destaque da Aksys Games neste primeiro trimestre de 2023 é Norn9: Var Commons. Originalmente lançado em 2015 no PlayStation Vita, o jogo traz de tudo um pouco: um cenário sci-fi, poderes sobrenaturais e, claro, romance.
Um prólogo conturbado
A história começa quando Sorata Suzuhara, um garoto de 12 anos, é estranhamente transportado para o período Taisho, mais de um século antes de sua era atual, durante uma excursão escolar ao Prédio da Dieta Nacional. Sem entender nada do que está acontecendo e desesperado para voltar para sua casa, o menino se encontra com uma misteriosa garota aparentemente amnésica trajando um uniforme escolar branco, que diz que uma nave viria buscá-la.
Meio relutante, o jovem Sorata segue a desconhecida e os dois logo embarcam em uma estranha nave espacial chamada Norn. Contudo, os “forasteiros” são hostilmente atacados por Yuiga e Akito, dois dos tripulantes da espaçonave. Passado o mal-entendido e feitas as devidas explicações, Sorata e “Ms. Weirdo” — cujo nome se revela Koharu mais adiante — finalmente conhecem os demais tripulantes da Norn: as garotas, Mikoto Kuga e Nanami Shiranui, e os excêntricos rapazes, Kakeru Yuiga, Senri Ichinose, Toya Masamune, Sakuya Nijo, Itsuki Kagami, Heishi Otomaru, Akito Shukuri, Ron Muroboshi e Natsuhiko Azuma.
Apesar de todas essas pessoas terem personalidades distintas (que, como de praxe, se enquadram em tropos exaustivamente explorados na mídia) e, aparentemente, sem nenhuma ligação, elas compartilham uma característica em comum: são espers, capazes de usar poderes sobrenaturais, como telepatia e pirotecnia. Não só isso: esses misteriosos integrantes da Norn foram lá reunidos pela igualmente misteriosa organização conhecida por The World, cujo objetivo é restabelecer a paz no mundo.
3 x 3 = 9
A primeira particularidade de Norn9, em termos de visual novel, é o modo como as rotas se dispõem. Após o prólogo, escolhemos uma das três garotas — Nanami, Mikoto e Koharu — e passamos a acompanhar o desenrolar da trama sob seu ponto de vista. As rotas românticas de cada uma delas também são escolhidas no início da trama, similar ao que acontece em Olympia Soirée. Existe uma explicação para isso, dada no primeiro capítulo da heroína escolhida, porém não cabe a mim dar spoilers; se muito, posso dizer que é uma justificativa válida e coerente.
O mais interessante dessa divisão não se dá apenas pelo fator de rejogabilidade proporcionado pelas escolhas: o próprio jogo se encarrega de fazer recomendações sobre qual rota é mais indicada para começar a aventura em Norn. Na minha primeira campanha, escolhi Nanami como heroína e, por desconhecer a visual novel (afinal, nunca tive um PS Vita), aceitei a sugestão de desenvolver o romance com Heishi. Porém, me chamou a atenção a rota de Ron requerer completar uma das outras duas histórias para ser liberada. Mais um ponto positivo para incentivar a rejogabilidade.
Seguindo a matemática básica, Norn9 possui um total de nove rotas que se complementam, além de um epílogo contado sob a ótica do jovem Sorata. Curiosamente, o garoto que, em teoria, é o personagem principal da visual novel acaba sendo “esquecido no churrasco”, fazendo apenas algumas aparições aqui e ali nas demais rotas.
Tomadas de decisão, minijogos e qualidades de vida
É verdade que visual novels lineares, como as de ebi-hime, não possuem escolhas e podem ser consideradas livros digitais ilustrados, mas Norn9 se enquadra como não linear e, em momentos importantes da trama, escolhas devem ser feitas. Na maioria das vezes, a resposta impacta em como o pretendente se relaciona com a heroína, fator crucial para decidir se eles ficarão ou não juntos no final.
Já comum no gênero, a carga de leitura pode ser densa para muitos, mas existem diversas opções de qualidade de vida nas configurações, como a configuração da velocidade do texto, pular diálogos lidos, quick save/load, entre outras. No entanto, quero destacar aqui a excelente dublagem do jogo, que conta com nomes de peso como Asami Seto, Tomokazu Sugita e Yuki Kaiji, para trazer vida e personalidade aos personagens — inclusive, quero enaltecer a atuação de Hiroyuki Yoshino como Heishi, que logo me lembrou de Franky Franklin, de Spy x Family.
De todo modo, se mesmo a dublagem não der conta de deixar a leitura menos cansativa, saiba que Norn9 nos entrega dois minijogos: NORN9 QUEST e NORN+ENSEMBLE. Essas duas distrações são muito divertidas e rendem pontos que podem ser trocados por músicas de fundo, ilustrações exclusivas e até mesmo tirinhas. Por falar em pontos, completar os capítulos também garante alguns e, de certa forma, é um incentivo para experimentarmos todas as rotas, mas os minijogos são mais interessantes para isso.
Uma visual novel deslumbrante
A trama que mistura conceitos sci-fi e romance é muito bem-desenvolvida textual e visualmente, e não senti dificuldade em entender o andar da carruagem, mesmo com um prólogo um pouco confuso e aparentemente desconexo do resto. Como de costume, para conhecer os personagens a fundo, o ideal é jogar todas as nove rotas, mas a visual novel consegue despertar essa vontade no jogador, pelo menos no meu caso (embora eu ainda esteja longe de chegar ao fim).
Além da boa história, temos uma excelente apresentação visual, que conta com cenários vibrantes e um bonito design de personagens assinado por Teita, que já trabalhou em outras visual novels e também faz ilustrações para o mobage Fire Emblem Heroes. Para fechar o pacote, a trilha sonora é capaz de prender o jogador em vários momentos e as composições conseguem entregar com maestria as emoções transmitidas a cada momento, sobretudo os de tensão.
Quero ainda ressaltar que Norn9 é totalmente compatível com a tela de toque do Switch, deixando a jogatina muito mais confortável. Por fim, se todos os pontos positivos não atiçarem sua curiosidade em jogar esta visual novel, existe uma adaptação animada baseada em Norn9 Norun+Nonetto de 12 episódios, lançada em 2016, que ajuda a situar um pouco do que é discutido em Var Commons.
Mais um excelente otome game para a biblioteca do Switch
Norn9: Var Commons é, sem dúvida, uma visual novel para quem curte elementos de ficção científica; porém, ao mesmo tempo, ela consegue envolver quem não é tão fã do gênero com uma trama bem escrita e personagens únicos e carismáticos.
Com qualidades de vida que facilitam a leitura, minijogos que quebram a densidade textual e uma excelente apresentação audiovisual, a única ressalva é deixar o personagem principal perdido no espaço, mas, de resto, temos aqui mais um excelente otome game para o Switch.
Prós
- Excelente apresentação audiovisual, com cenários e personagens vibrantes e trilha sonora maravilhosa;
- A dublagem conta com nomes de peso no ramo;
- Personagens carismáticos e únicos;
- Trama bem-desenvolvida e regada a interessantes conceitos de ficção científica;
- Minijogos que ajudam a quebrar a densidade da leitura;
- Totalmente compatível com a tela sensível ao toque do Switch;
- Interessante escolha de divisão de rotas;
- Alto fator de rejogabilidade.
Contras
- O protagonista, Sorata, é esquecido durante a trama, só aparecendo de fato no prólogo e no epílogo;
- As heroínas têm pretendentes pré-definidos.
Norn9: Var Commons — PS Vita/Switch — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games