Análise: Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon (Switch) revela outra faceta da Umbra Witch que amamos

Abrindo mão da ação frenética e visceral, este spin-off é perfeito para quem quer conhecer a história por trás de Cereza.

em 28/03/2023
Hoje em dia, é quase impossível alguém dizer que nunca jogou Bayonetta, certo? Errado, porque eu mesma nunca tive a oportunidade de experimentar os jogos da Umbra Witch. Claro, eu conheço a lore da franquia e sei como os títulos da Umbra Witch são voltados a uma ação frenética e visceral no melhor estilo hack 'n' slash.


Pode até soar estranho que alguém como eu tenha optado por jogar Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon, afinal, o esperado é que eu precisaria ter algum conhecimento prévio sobre a série para aproveitar o jogo, mas é aí que você se engana: este spin-off é perfeito para quem quer conhecer mais sobre o passado por trás de Cereza, a Umbra Witch que tanto amamos. Com uma pegada mais lenta, Bayonetta Origins incorpora elementos dos The Legend of Zelda clássicos e entrega uma estilosa aventura que lembra um bonito livro de contos ilustrado.

Era uma vez…

Há muito tempo, existiam dois clãs muito poderosos: os Lumen Sages e as Umbra Witches. Embora adeptos da magia, os grupos tinham visões muito diferentes de como utilizá-la, porém, um amor proibido floresceu entre uma bruxa e um sábio, logo dando origem à pequena Cereza.

Quando os clãs descobriram a traição, o pai de Cereza foi exilado dos Lumen Sages e sua mãe condenada à prisão perpétua pelas Umbra Witches. Não só isso: por ser uma mestiça, a pequena bruxinha também sofreu retaliação e acabou expulsa do vilarejo das bruxas, vivendo como uma pária desde então, até ser "adotada" por sua mestra, Morgana.


O desejo da protagonista é libertar sua mãe, porém, para isso, ela precisa primeiro aprender a dominar seus poderes de Umbra Witch. No entanto, os treinamentos de Morgana são intensos e Cereza é muito desajeitada, não sendo capaz de conjurar um simples demônio.

Certo dia, enquanto "descansava" — para não dizer que ela postergava o treinamento —, a bruxinha teve um sonho com misterioso garoto trajando branco, que a instruiu desbravar a Avalon Forest em busca do White Wolf. Segundo o rapaz, esse lobo saberia indicar a Cereza o caminho para se tornar forte e, dessa forma, ela seria capaz de libertar sua mãe.

Ignorando os avisos de Morgana sobre não adentrar a Avalon Forest, Cereza e seu único amigo e confidente, Cheshire, um gatinho de pelúcia feito pela mãe da menina, decidem desbravar a floresta. E é assim que começa a aventura da bruxinha que um dia se tornaria uma das mais poderosas Umbra Witches.

Desbravando a floresta

O próprio modo como a aventura se apresenta, tal qual um livro de contos infantis, já deixa bem claro que Bayonetta Origins não segue a linha de ação dos jogos principais da franquia, baseando-se muito mais na exploração e resolução de puzzles que nos combates em si. Nesse sentido, temos uma vaga semelhança com os títulos clássicos da série The Legend of Zelda, com obtenção de habilidades, itens e recursos conforme progredimos na campanha.

Apesar de simples, a jogabilidade consegue se mostrar diferenciada, já que o stick esquerdo e os botões L e ZL ditam as ações da pequena Cereza, enquanto o stick direito e os botões R e ZR, os de Cheshire. Não vou entrar no mérito de spoilers, mas dado momento da história, o gatinho de pelúcia é possuído por um demônio do Submundo e passa, mesmo a contragosto, a auxiliar a protagonista.

Desse modo, enquanto a bruxinha é capaz de usar seus poderes de Umbra Witch em treinamento para fazer plantas florescerem e se transformarem em pontes para atravessar vales ou até mesmo impedir a movimentação de inimigos na Avalon Forest, Cheshire tem a força bruta necessária para combater as temíveis fadas e outros perigos.


Controlar os dois personagens simultaneamente nem sempre é fácil: por ser um demônio, Cheshire não pode passar por campos de alecrim, muitas vezes exigindo que o gatinho de pelúcia supercrescido siga por rotas diferenciadas. No entanto, Cereza e seu fiel companheiro não podem se manter muito distantes, uma vez que Cheshire necessita do poder místico da garota para se manter no mundo dos vivos.

Talvez os controles sejam minha única crítica concreta à jogabilidade: embora seja um conceito interessante, controlar dois bonecos simultaneamente exige uma grande coordenação motora se levarmos em consideração uma campanha single player. Mesmo que o jogo traga opções de automatizar certas ações de Cereza, diminuindo a exigência de memorizar movimentos específicos para certas magias, como o Witch Pulse, que requer ativação com ZL e depois o uso do stick esquerdo para realizar os movimentos na direção indicada, essa automatização tira, na minha opinião, toda a graça de controlar a Umbra Witch mirim.

Desse modo, se eu, uma adulta no auge dos seus 31 anos, senti dificuldade de controlar os personagens em certos momentos, fico imaginando a confusão que esses controles possam causar aos mais novos. Agora, se pensarmos em uma jogabilidade co-op, cada pessoa em posse de um Joy-Con, a progressão se torna mais fluida — e, de certa forma, mais divertida.

As belezas e os perigos da Avalon Forest

Em vez dos típicos cenários apocalípticos e conturbados dos jogos originais, Bayonetta Origins opta por um visual mais limpo e colorido, reforçando a ideia de um grande passeio de uma garotinha em uma floresta encantada. Os cenários são bem coloridos e exaltam charme em cada cantinho.

Também gostei das dungeons, em especial as Tir na nÓg que trazem os desafios das fadas. Completá-las não apenas traz um visual caprichado à parte, como também elimina as ilusões das fadas que bloqueiam certos caminhos na floresta, abrindo mais opções de exploração para Cereza.

Por falar em exploração, o jogo até tenta forçar um caminho linear com as pegadas azuis do White Wolf, mas o jogador pode escolher quais caminhos escolher. Claro, isso também implica em achar segredos e eliminar mais ilusões no meio do caminho, mas, dada a beleza dos cenários, é muito gratificante desbravar a Avalon Forest.

Como comentado, a ação não é o ponto forte de Bayonetta Origins, mas isso não quer dizer que os combates sejam irrisórios. Existe uma boa variação de inimigos e Cheshire é também capaz de rebater projéteis se agir no tempo certo. De novo, no início, comandar dois personagens simultaneamente pode dar um belo nó na cabeça, mas o jogo não é punitivo nesse aspecto e os checkpoints são relativamente abundantes.


Por falar em checkpoints, Cereza pode, sempre que adquirir receitas de poções, confeccioná-las nesses acampamentos improvisados. Os recursos necessários são obtidos durante a exploração e ao derrotar inimigos, então mais um ponto positivo para fazer as vezes de explorador.

Para finalizar, boa parte do jogo conta com uma excelente dublagem em inglês, que dá ainda mais a sensação de estarmos acompanhando um conto fantástico. A jogabilidade é agradável e fluida tanto no modo TV quanto no portátil, seja usando os Joy-Con, seja usando um controle compatível com o Switch. Em nenhum momento senti queda de fps ou "engasgos", então, se eles aconteceram, foram praticamente imperceptíveis.

Além de não contar com uma interface em português (nem ao menos o europeu), preciso ainda chamar a atenção para três pontos que podem ser incômodos: não é possível rotacionar a câmera, que às vezes contribui para uma péssima visualização do cenário; alguns puzzles poderiam ser um pouco mais desafiadores; e a curta duração do jogo — aproximadamente 15 horas se ignoradas algumas dungeons opcionais e a vontade de fazer 100% no jogo.

Uma aventura diferente e igualmente única

Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon pode não ser o tipo de aventura que os fãs da Umbra Witch esperavam, mas o jogo consegue se sustentar com a proposta que traz. Com um charme único que simula um livro de contos, a busca de Cereza e Cheshire pela Avalon Forest é uma boa pedida para quem quer conhecer mais sobre essa bruxa icônica.

Existem alguns inconvenientes, como a confusão de controlar dois personagens simultaneamente e a impossibilidade de configurar a câmera, porém Bayonetta Origins continua sendo uma recomendação para quem prefere uma jogabilidade menos frenética sem sair do universo da Umbra Witch que amamos.

Prós

  • Apresentação audiovisual charmosa e única, simulando uma aventura de conto de fadas;
  • Porções da história com uma ótima dublagem em inglês;
  • Controles diferenciados, que permitem utilizar dois personagens ao mesmo tempo;
  • Diversidade de cenários e inimigos;
  • Jogabilidade que instiga uma exploração não linear, com vários segredos, itens e colecionáveis para obter:
  • Boa variedade de inimigos;
  • Nível de dificuldade acessível, com checkpoints abundantes;
  • Jogabilidade fluida, tanto no modo TV quanto no portátil.

Contras

  • Confusão em algumas ocasiões devido à disposição dos controles dos dois personagens;
  • Sem suporte ao português;
  • Curta duração, com aproximadamente 15 horas;
  • Sem possibilidade de controlar a câmera;
  • Puzzles e dungeons poderiam ser mais desafiadores;
  • O jogo tem pouca ação se comparado aos outros títulos da franquia.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon — Switch — Nota: 9.0
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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