A garota e o seu terrário
A humanidade deixou o mundo em ruínas e uma máquina, que já deveria ter sido desligada, encontra o que parece ser a última criança viva. Um pequeno robô apelidado de Robbie e sua parceira, uma IA fabril (factoryAI) que também havia sido descartada em um lixão, dão à garota o nome de Toriko e decidem cuidar dela.
Dentro desse contexto, o conceito da série Void Terrarium envolve buscar formas de cuidar da garota. Como a atmosfera está muito poluída, ela precisa viver em um terrário enquanto Robbie explora as ruínas da civilização em busca de alimentos e itens variados que possam ajudar a garantir o conforto e segurança de Toriko. Com isso, é formada uma estrutura que se assemelha muito a uma família com dois adultos responsáveis e uma criança que necessita de cuidados. Curiosamente, mesmo nesse contexto mais melancólico de fim do mundo, a escrita é usualmente leve, tendendo a piadas de robô e algumas vezes um pouco de humor sombrio.Void Terrarium 2 é uma continuação direta dos eventos do jogo original — e, de fato, ele se passa pouco tempo depois de seu final — e não faz questão de explicar em detalhes o que aconteceu anteriormente. Para quem já jogou, isso agiliza o início consideravelmente, mas novatos podem estranhar e ficar confusos por conta desse pressuposto de familiaridade com o contexto.
Porém, há uma chance de encontrar a cura utilizando os resquícios do vilão do primeiro jogo. Conforme o jogador explora as ruínas da humanidade, é possível encontrar robôs do CloudAI que tentam continuar a sua missão. Derrotá-los é uma forma de obter fragmentos do passado e o jogo tenta explorar isso através de um sistema de VR (realidade virtual) que mostra um pouco do mundo humano antes do apocalipse com uma charmosa visão 2D retrô 8-bit.
Com isso, temos agora três linhas de exploração: cuidar de Toriko e seu terrário como um tamagotchi, explorar as ruínas da humanidade em um dungeon crawler e viajar ao passado em VR.
Um simulador de cuidar de humano
O foco do jogo está em garantir uma boa vida para Toriko. Por conta disso, é necessário ter certeza de que ela está bem alimentada, com saúde e se sente amada. Tratar as doenças que podem afligir a menina é um ponto importante do jogo, forçando Robbie e factoryAI a parar tudo que estão fazendo para dar atenção à garota e resolver o problema antes de voltar a progredir na história.
Além disso, é necessário cuidar do terrário em que ela vive, mantendo-o limpinho e ajustando outros fatores como temperatura, umidade e atmosfera. No jogo original, esse gerenciamento era mais simples, sendo apenas necessário limpar o local e colocar objetos para decoração quando desejado. Com os novos elementos, o título também adiciona plantações para cuidar, regando e mantendo condições adequadas para cada tipo de semente.
Tanto o tratamento de doenças quanto as plantações exigem que o jogador explore as ruínas para fazer com que “passe o tempo”, fator também essencial para desbloquear novas missões no sistema de VR. Embora seja uma forma de deixar tudo mais integrado, há uma sensação de enrolação constante para que as coisas demorem mais a avançar, o que também é agravado por alguns momentos em que o menu de quests não é tão claro sobre o que precisa ser feito para a trama.
Vale destacar que o jogador ainda tem que cuidar da menina mesmo enquanto está na dungeon. No canto inferior esquerdo da tela, é possível acompanhar em tempo real a situação do terrário de forma simplificada como um tamagotchi. Além de ver o atual nível de saciedade e saúde de Toriko assim como a limpeza do terrário, o jogador pode gastar um pouco da sua energia para realizar tarefas básicas, como limpar, dar comida ou brincar com a garota.
Explorando ruínas do passado
Para encontrar os itens necessários para melhorar o terrário da Toriko e resolver quests específicas, o jogador precisa explorar ruínas e lutar contra criaturas mecânicas e bichos orgânicos que parecem frutos de experimentos e mutações horrendas. Esses momentos do jogo funcionam como um Mystery Dungeon, com as áreas geradas de maneira procedural, alterando a disposição de itens, inimigos, armadilhas e escadas para os próximos níveis.
Movimentar-se e atacar monstros consome energia, que pode ser reposta com baterias encontradas pelo caminho e fica visível no canto superior direito da tela. Já no lado esquerdo, é possível ver o HP, que pode ser reduzido por dano recebido em combate ou por algum efeito de armadilhas ou status como envenenamento. Ser destruído é uma forma de voltar ao terrário, mas o HP é recuperado ao se movimentar enquanto o jogador ainda tem energia, e há itens de cura bem úteis que podem ser encontrados dependendo da sua sorte.
Conforme Robbie derrota criaturas, ganha experiência e níveis, ficando mais forte e desbloqueando habilidades passivas que podem ser selecionadas pelo próprio jogador. Em vez de apenas opções simples, como mais ataque ou mais defesa, há escolhas complexas que podem ser mais ou menos efetivas de acordo com o contexto, de forma semelhante ao desbloqueio de upgrades em roguelikes variados.
Porém, ao ser derrotado, terminar uma dungeon ou pedir para voltar para casa, esses ganhos são todos perdidos. Nem ao menos os itens são mantidos, sendo a maioria deles destroçados e decompostos em elementos mais básicos: matéria orgânica, inorgânica, energia e contaminação. Esses recursos são úteis para o sistema de Blueprints.
Curiosamente, o jogo já inicia no meio da exploração e as mecânicas são explicadas em dungeons tutoriais opcionais. Dessa forma, o jogador veterano pode simplesmente pular essa parte, cortando uma boa dose de explicações, embora ainda haja algumas no início do jogo. Outro detalhe menor é que ocasionalmente há pequenas quedas de frame na dungeon ao correr por alguns corredores, mas não chega a ser um grande incômodo pelo formato baseado em turnos do jogo.
return(Bom_jogo);
void tRrLM2(); //void Terrarium 2 continua sendo uma combinação única de gêneros de uma forma que não se encontra igual no mercado. Contudo, é mais indicado para quem já explorou o primeiro jogo, tendo em vista como a obra opta por continuar de forma bem direta a narrativa.
Prós
- Misturar dungeon crawling e raising sim continua uma escolha agradável e condizente com a proposta;
- Atmosfera de futuro em ruínas melancólico com pitadas de humor;
- O ambiente do terrário agora é mais detalhado, sendo necessário medir temperatura e umidade, o que também influencia a capacidade de cuidar de plantações;
- Revisitar o passado em um VR com estilo 8-bit é uma forma charmosa de desenvolver a história mais a fundo;
- Dungeons de tutorial opcional são uma forma inteligente de deixar o jogador veterano à vontade.
Contras
- Início abrupto e potencialmente confuso para novos jogadores, baseando-se demais em elementos do primeiro título;
- A progressão narrativa é um tanto arrastada, tentando forçar o jogador a revisitar as dungeons constantemente;
- Alguns raros momentos de queda de fps nas dungeons.
void* tRrLM2(); //Void Terrarium 2 — Switch/PS4 — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America