Análise: Persona 4 Golden traz a melhor versão de um clássico JRPG para o Switch

O Clássico de 2008 finalmente chega ao console híbrido em grande estilo

em 04/02/2023


Lançado originalmente em 2008 para o PlayStation 2, Shin Megami Tensei: Persona 4 afastou a franquia da ambientação do título antecessor e iniciou o estilo de narrativa adotado por seu popular sucessor, Persona 5. Abandonando o conceito de uma grande dungeon principa l em Persona 3, assim como o cenário da cidade grande, Persona 4 abraçou o conceito japonês do Inaka (a bucólica vida interiorana nipônica) e colocou o grupo de adolescentes protagonistas para resolver uma série de assassinatos e mistérios no maior estilo de velhos romances policiais, ou até do clássico Scooby Doo.

Uma versão para o PS Vita em 2012, Persona 4 Golden, trouxe uma série de melhorias para o título original. Adicionando cutscenes animadas, músicas inéditas, novos personagens, mais história e uma melhoria geral nos gráficos. Oito anos depois, essa versão finalmente saiu de sua prisão portátil e foi relançada para o PC em 2020. Agora, seguindo a onda do lançamento recente de Persona 5 Royal e acompanhando o relançamento inédito de Persona 3 Portable, Persona 4 Golden finalmente está disponível no Nintendo Switch.


Atrás da máscara


No latim, o conceito de persona é relacionado a uma máscara teatral, ou melhor, um papel desempenhado por uma pessoa. Na psicologia de Jung, o termo se refere à máscara ou aparência que um indivíduo apresenta para o mundo. Nos jogos dessa clássica franquia de RPG japonesa, no entanto, uma Persona se refere a demônios inspirados por diversas culturas e mitologias que são utilizados para batalhar outros demônios — quase como em uma versão mais adulta e agressiva de Pokémon.

Indo além de demônios de combate, o despertar de uma Persona no jogo representa a capacidade de um indivíduo de aceitar o seu lado mais sombrio. Todo mundo possui uma série de sentimentos negativos que são mais fáceis de se esconder e negar do que aceitar e ir em frente. O diferencial dos membros da sua party nesse RPG tão particular é que, antes de se tornarem aptos para o combate, eles sempre passam pelo processo único de entender o seu lado mais sombrio. Aceitar todos os aspectos da sua personalidade funciona como o movimento de retirar a máscara e se tornar um ser pleno em relação à sociedade.

Tudo isso aponta para uma peculiaridade temática da série Persona em comparação a outros JRPGs populares: a importância dos sentimentos e o poder das relações. Muito além de simples pontos de experiências adquiridos por meio de batalhas, aqui você aumenta o poder de suas Personas também por meio das conexões com outras pessoas. Matar monstros em uma dungeon é tão importante quanto aceitar o convite do seu amigo para ir ao parque ou lembrar de praticar basquete depois da aula.

É fácil se apegar ao carismático elenco de personagens e seus problemas bastante reais e relacionáveis com as próprias questões que surgem durante as nossas próprias vidas. É interessante como os demônios esquisitos e coloridos da série se complementam a uma narrativa intrinsecamente humana. Os problemas são reais, as resoluções dentro desse mundo talvez nem tanto, porém isso não retira a legitimidade dos assuntos tratados. Inseguranças, medos e incertezas são combatidas com diálogo, aceitação, conexão e, é claro, algumas porradas em demônios de vez em quando. 


Em Persona 4 Golden, basicamente metade da sua experiência será um simulador do dia a dia de um garoto no ensino médio, e a outra metade um RPG de turnos em dungeons com salas geradas de forma procedural.

Durante os momentos da vida de estudante, a história transcorre enquanto você toma várias decisões cotidianas. Você frequenta a escola na maioria dos dias, onde é possível responder questões durante as aulas e interagir com outros alunos. Side quests estão disponíveis, assim como atividades de clube ou possibilidade de estudar na biblioteca. Saindo da aula, você é quem decide como e com quem irá passar seu tempo, desenvolvendo como bem entender a história pessoal dos outros personagens enquanto aprimora os atributos do protagonista.

No outro lado do gameplay, é preciso planejar bem o seu tempo e seus recursos para exploração de cada dungeon durante o decorrer da história. Em uma trama envolvendo uma série de assassinatos ligados de forma misteriosa a uma realidade bizarra dentro das televisões, cada vítima no mundo real gera uma nova dungeon para ser explorada no mundo paralelo da TV. 


Existe um limite de dias dentro do jogo até que a vítima seja inevitavelmente eliminada, e cabe a você utilizar o tempo a seu dispor da melhor maneira possível. A dungeon muda um pouco a cada visita, mas o processo para explorá-la é sempre o mesmo: enfrentar alguns inimigos, abrir baús e procurar pela escada de cada andar para poder avançar para o próximo. A variação dentro desses calabouços é pequena e a exploração pode se tornar repetitiva rapidamente. No entanto, a troca constante entre os dois modos de jogo (a simulação de vida e a exploração de dungeons) garante uma dinâmica saudável na maioria das vezes.

Na verdade, tudo está interligado: as escolhas da sua rotina, os longos trechos de narrativa que se assemelham a um Visual Novel e a parte do combate. A sensação que fica, mesmo em um jogo com uma vasta história pré-determinada a ser contada, é a de liberdade. Mesmo que não seja totalmente real, a impressão é que a sua história é única e as suas escolhas possuem um peso real neste mundo. 


Para quem gosta de mergulhar fundo em mecânicas de RPG, Persona 4 possui muita coisa a oferecer. Além da habilidade única do protagonista de utilizar múltiplas Personas (capturando e combinando novas ao longo do caminho), o sistema de combate baseado em tirar proveito das fraquezas elementais dos inimigos traz bastante estratégia para qualquer combate mais simples. 

A dificuldade pode até ser um pouco alta em certos momentos para quem não está acostumado, porém, o jogo faz um bom trabalho em explicar o seu funcionamento com calma e de forma bastante gradual — este pode inclusive ser um problema para algumas pessoas, pois é preciso uma boa quantidade de horas até o jogo “começar” de fato.


É natural do gênero RPG pedir paciência ao jogador e convidá-lo para entrar de cabeça em seu mundo. Por sorte, em geral, o mundo da série Persona é um deleite audiovisual do começo ao fim. Desde a abertura de Persona 4, esbanjando cores e estilo, rodeada por uma fantástica trilha sonora que permeia a experiência do jogo como um todo, é possível ver que esse é um marco muito especial na história dos videogames. Um jogo de 2008 que deve muito pouco aos lançamentos atuais e impressiona constantemente por seu desenvolvimento, trama e visual. 

A experiência no Nintendo Switch por sorte não deve nada aos outros consoles. Não há qualquer problema de performance ou nada do tipo, nenhuma questão técnica irá atrapalhá-lo de viver essa longa e densa história no conforto do modo portátil do começo ao fim. Para um RPG de tamanhas proporções, com uma grande quantidade de conteúdo a ser explorado, é fácil recomendar a portabilidade antes de qualquer outro aspecto. É simplesmente muito prático poder jogar esse clássico a qualquer hora e em qualquer lugar.

Uma pepita de ouro dos RPGs


Persona 4 Golden é um importante e precioso expoente da história dos RPGs japoneses e finalmente está disponível para o Nintendo Switch em grande estilo. Se você gosta do gênero, ou simplesmente de uma boa história, mecânicas inteligentes e uma enorme quantidade de conteúdo, não perca tempo em adicionar esse clássico à sua biblioteca do console híbrido.

Prós

  • Ótima ambientação, história e personagens;
  • Muito conteúdo para ser explorado;
  • RPG competente, cheio de boas mecânicas e desafios;
  • Performance excelente;
  • Audiovisual impecável;
  • Perfeito em modo portátil.

Contras

  • Fórmula pode ser tornar repetitiva;
  • Pouca variedade nas dungeons;
  • Dificuldade bastante alta em alguns momentos.
Persona 4 Golden - Switch/PC/XBX/PS4 - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
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