Justamente por isso, a sua chegada ao Nintendo Switch, juntamente com os excelentes Persona 5 Royal e Persona 4 Golden, virou motivo de celebração desde o anúncio no ano passado. Mas, anos após seu último lançamento, será que este sombrio e viciante JRPG resistiu intacto ao teste do tempo e à mudança de plataforma? Confira a seguir em nossa análise!
A chegada da hora mais sombria
Persona 3 Portable nos apresenta a história de Makoto Yuki, um jovem estudante que está retornando a Tatsumi Port Island dez anos após seus pais terem sido vítimas de um acidente no local. Por estar em processo de transferência escolar e chegar atrasado ao seu destino, Yuki é provisoriamente aceito no dormitório feminino, onde começa a notar diversas coisas que fogem do comum.
Dessas, uma das mais significativas é o encontro com um jovem chamado Pharos, que pede para o protagonista assinar um contrato com o seu nome, assumindo total responsabilidade por suas ações. Posteriormente, descobrimos que esse ato é o prelúdio para uma série de acontecimentos sobrenaturais, como a descoberta da Dark Hour: um período secreto da madrugada em que somente algumas pessoas conseguem ficar despertas; todas as outras assumem temporariamente a forma de caixões, adentrando um estado completo de transe.
No decorrer da narrativa, aprendemos que somente aqueles com potencial de invocar uma Persona são capazes de permanecer completamente acordados durante a Dark Hour. Os que não possuem esse dom, além de ficarem provisoriamente como ataúdes, podem ser vítimas das Sombras, sendo acometidos pela Síndrome da Apatia e perdendo a vontade de viver assim que despertam.
Descobrindo sua capacidade de acessar e controlar inúmeras Personas, Makoto Yuki então resolve, junto com seus amigos do grupo extracurricular SEES (Special Extracurricular Execution Squad), aprofundar-se no mistério da Dark Hour e das Sombras, tentando livrar Tatsumi Port Island desse grande mal cujas implicações são mais severas do que parece.
A vida no ensino médio
Como seus sucessores, Persona 3 Portable é parte simulador social e parte dungeon crawler, e ambas as metades funcionam bem o bastante para merecer uma recomendação, embora com ressalvas, que abordarei em breve.
Sendo Yuki um estudante recém-chegado à ilha, espere passar boa parte dos seus dias virtuais construindo relações com outros personagens ou engajando em tarefas corriqueiras. Já à noite, a chegada da Dark Hour significa que é hora de explorar os arredores da Tartarus, uma torre misteriosa com andares gerados aleatoriamente que surge no lugar da escola de Gekkoukan.
Fortalecer os laços — Social Links — com outros personagens através dos diálogos e outras atividades é uma missão fundamental em P3P, já que é assim que você consegue Personas mais poderosas para combater as Shadows e cumprir os objetivos que vão surgindo ao longo do jogo.
Porém, é preciso lembrar que o tempo aqui é um recurso valioso: como todo bom estudante, a sua disponibilidade não é ilimitada. Visto que diversos marcos da história possuem datas fixas para ocorrerem, usar o calendário in-game para se preparar com antecedência é a melhor escolha.
Agora, falando das ressalvas: não é preciso muito para perceber que a parte de exploração na Dark Hour é, de longe, o grande calcanhar de aquiles de Persona 3 Portable. Apesar dos andares da Tartarus serem gerados aleatoriamente, como você essencialmente estará percorrendo o mesmo ciclo toda vez que adentrar a Torre, não é difícil nem incomum ser tomado pela sensação de mesmice logo cedo.
Como notado pelos meus colegas de redação Raoni e Juliana nas análises de Persona 4 Golden e Persona 5 Royal respectivamente, isso (repetição) é um problema que se estende em maior ou menor grau também a outros títulos da franquia; por ser o jogo mais “velho”, eu diria que é até natural que P3P peque mais nesse quesito.
É nesse contexto que tanto a excelente narrativa quanto o carismático elenco reforçam sua importância, carregando o jogo mesmo durante os momentos mais repetitivos de sua aventura, que pode durar até mais de 100 horas, dependendo do quanto você se importa com atividades secundárias e com o final verdadeiro.
Em resumo, acompanhar a evolução de Yuki e os jovens da SEES ao longo da jornada é realmente prazeroso e, junto com a trilha sonora brilhante e a ambientação sombria, o principal motivo pelo qual P3P é tão carinhosamente lembrado pelos fãs mesmo anos após a sua estreia original. Ainda que não seja o Persona mais completo nem o mais indicado para novatos na franquia, aqui está um JRPG que com certeza merece ser experimentado em sua nova rendição.
A versão definitiva na atualidade?
Persona 3 Portable é na verdade a terceira versão de Persona 3, que foi lançado originalmente em 2006 para PlayStation 2 e no ano seguinte ganhou uma versão expandida chamada Persona 3 FES para a mesma plataforma.
Por ter sido desenvolvido com as limitações do hardware do PSP em mente, Persona 3 Portable deixa de lado algumas melhorias trazidas por Persona 3 FES. Dessas, a principal é um epílogo chamado de The Answer, que adiciona mais dezenas de horas à duração do jogo e amarra as poucas pontas soltas da narrativa original.
Se por um lado é uma pena que a Atlus não tenha incluído as melhorias de Persona 3 FES nesta versão, por outro o fato deste ser um port fiel da versão de PSP garante que o Switch não apresenta nenhum problema técnico durante a jogatina. Pelo contrário, aliás: espere uma renderização em resolução nativa e taxas estáveis de quadros tanto no modo TV quanto no modo portátil, abrilhantando ainda mais alguns dos melhores designs do talentosíssimo Shigenori Soejima.
Também convém mencionar que Persona 3 Portable oferece uma importante vantagem ausente em Persona 3 FES: a possibilidade de jogar com Kotone Shiomi, a protagonista feminina. Oferecendo algumas mudanças significativas em relação à jornada de Makoto Yuki, Shiomi é um poderoso incentivo para os jogadores que já tenham se aventurado por Gekkoukan anteriormente, adicionando valor ao pacote geral.
Um JRPG digno de respeito que encontra sua nova casa no Switch
Muitos anos após seu lançamento original, Persona 3 Portable ainda é um JRPG de respeito, plenamente capaz de envolver o jogador em sua longa trama deliciosamente sombria e instigante.
Nem mesmo o seu caráter repetitivo ou a omissão das melhorias trazidas por Persona 3 FES são o bastante para ofuscar o brilho desta obra que encontra no Switch uma casa tão acolhedora e natural quanto o PSP foi um dia. Livre da exclusividade, é tempo propício de descobrir ou revisitar um dos clássicos mais importantes da Atlus, e com sua flexibilidade, o console da Nintendo é a maneira mais apropriada de fazê-lo. Recomendado.
Prós
- Elenco carismático;
- Narrativa sombria e intrigante consegue prender o jogador, lembrando por diversas vezes um Romance Visual;
- Trilha sonora absolutamente fantástica, seguindo o padrão da série;
- Kotone Shiomi oferece uma jornada com mudanças significativas para quem já tenha finalizado o jogo no passado;
- Bastante conteúdo para ser explorado;
- Performance e apresentação impecáveis no Switch.
Contras
- Pode se provar repetitivo, embora o quanto isso importa depende muito das preferências de cada jogador;
- Temática dark com múltiplas referências a assuntos sensíveis como suicídio pode ser delicada para algumas pessoas;
- Carece das diversas melhorias presentes em Persona 3 FES, como as cutscenes e o epílogo The Answer;
- Sem suporte a português brasileiro;
- Apesar de positivo, o trabalho de remasterização poderia ter ido mais além.
Persona 3 Portable — PC/Switch/PS5/PS4/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA