Análise: Clive 'N' Wrench (Switch) estampa nostalgia em um animado jogo de plataforma tridimensional

Desfrute de um variado repertório de movimentos animais para explorar mundos temáticos adoráveis.

em 24/02/2023
Logo no primeiro contato com Clive 'N' Wrench, é possível notar que ele tem um propósito claro: reviver os tempos gloriosos da segunda metade da década de 1990, quando diversos 3D platformers surgiram para conquistar um grande público em consoles como Nintendo 64 e PlayStation 1.


Se por um lado a aventura recém-lançada acerta em cheio nessa missão saudosista, oferecendo muito conteúdo de exploração para os fãs, por outro cabe apontar que ela não traz muitas novidades para a atualidade, sofrendo também com a ausência de recursos e melhorias que poderiam incrementar a experiência.

Viajando no tempo com Clive, Wrench e sua turma

A professora Nancy Merricarp é uma renomada cientista que dedica seu tempo à pesquisa sobre viagens no tempo. Certo dia, porém, a coelha teve uma surpresa ao descobrir que suas anotações foram roubadas pelo maligno Dr. Caucus, que tornou-se capaz de criar portais para o passado. 

O interesse do vilão estava na capacidade de viajar no tempo para encontrar as Pedras Antigas, elementos ancestrais que poderiam conceder a ele um grande poder. Diante disso, Nancy pediu ajuda ao seu primo Clive, um atlético coelho que sempre anda com um pequeno macaco chamado Wrench em sua garupa.

Juntos, eles entram nos portais criados por Dr. Caucus e passam a investigar os seus passos, se antecipando na coleta das Pedras Antigas para evitar que uma tragédia maior aconteça. 


Com base nesses acontecimentos, Clive 'N' Wrench desenvolve a sua jornada de plataforma tridimensional, oferecendo estágios temáticos baseados em viagens no tempo. Apesar de não exibir narrativas profundas, o título ganha méritos pela forma como incorpora a sua temática de ficção científica, assumindo um contexto que é capaz de distingui-lo em meio aos outros jogos de seu gênero.

Um coelho e um macaco em profunda simbiose

Através de um hub comandado pela cientista Nancy, podemos acessar diferentes fases que são liberadas conforme conquistamos coletáveis e derrotamos chefões. Cada estágio costuma ser bastante abrangente, permitindo longos minutos de exploração em busca das Pedras Antigas, que costumam totalizar 10 unidades por mundo.

Clive e Wrench dispõem de um surpreendente repertório de movimentos que parece um mix de comandos entre Super Mario 64 e Banjo-Kazooie, ambos do Nintendo 64. Enquanto Clive é capaz de correr, se agachar e saltar em diferentes intensidades, Wrench, que é controlável apenas por intermédio do coelhão, nos concede a capacidade de executar golpes giratórios e flutuar por alguns segundos.

Assim, temos um leque de movimentação agradável e satisfatório, o que destaca os desafios de plataforma e exploração. No geral, a jogabilidade surpreende por sua versatilidade e não deixa a desejar em termos de precisão, sobressaindo-se também pela liberdade de sua câmera em terceira pessoa, que pode ser rotacionada com o analógico direito.

Como os movimentos costumam ser ágeis, sobretudo quando estamos correndo com Clive em suas quatro patas, são necessários alguns momentos de adaptação, uma vez que a física do jogo se mostrou um tanto singular, pelo menos para mim. No entanto, a prática leva à perfeição e felizmente a jornada se torna acessível de maneira rápida.

Dos portais temporais aos mundos do passado

Outro setor que se destaca em Clive 'N' Wrench são seus mundos. Com áreas abrangentes, nós mergulhamos em universos singulares mediante o uso dos portais temporais, o que nos permite visitar diferentes civilizações e localizações, como o Egito Antigo, a Era do Gelo, e a Idade Média. 

Nestes locais, encontramos outros coletáveis além das Pedras Antigas, garantindo um fator replay significativo. Além disso, as batalhas contra chefes são memoráveis e rendem desafios tensos e igualmente humorísticos, principalmente por conta dos criativos e hilários visuais dos vilões.

De maneira formidável, a aventura protagonizada por estes mamíferos é capaz de criar sensações empolgantes. Uma delas, provavelmente a minha favorita, está na alegria de estarmos prestes a entrar em um universo completamente novo, sabendo que diversas missões e coletáveis nos aguardam.


Enquanto jogo de plataforma tridimensional, portanto, temos um prato cheio com premissas clássicas que irão agradar aos fãs do estilo. Contudo, isso não significa que a saga para capturar o vilão Dr. Caucus seja isenta de defeitos.

Alerta para contratempos no caminho

É curioso notar como Clive 'N' Wrench é uma obra nostálgica no sentido bom e ruim. Por um lado, ela estampa momentos divertidos através de suas estruturas clássicas no estilo 3D platformer; por outro, ela não esconde certas características antiquadas que levemente se disfarçam por trás da temática saudosista.

Os visuais, por exemplo, apresentam alguns detalhes que se enquadram nessa conjuntura. No geral, a estética do título é bela ao apresentar cores vibrantes, personagens memoráveis e cenários agradáveis, além de uma trilha sonora empolgante. Contudo, em alguns pontos, há um certo exagero na temática retrô por conta de animações desagradáveis, como personagens deslizantes, texturas inacabadas e glitches visuais, além de ocasionais problemas de câmera, que complicam os desafios de plataforma.

Entendo, pois, que seria completamente possível criar um título de visuais nostálgicos, com estruturas que remetem aos tempos do Nintendo 64, mas ainda assim ter um esmero em alguns aspectos visuais, como as animações, o que certamente não prejudicaria o aspecto retrô.

Algo parecido ocorre em relação a recursos que estão ausentes na aventura, entre eles, os mapas dos estágios. Por se tratar de um jogo que incentiva a exploração, a falta desse elemento compromete nossa localização em meio aos grandes territórios oferecidos. Portanto, seria legal contar com um minimapa no canto da tela ou na interface do menu para facilitar o progresso.

Cabe mencionar também que Clive 'N' Wrench aparenta estar rodando no Switch com uma qualidade gráfica e de performance reduzida em comparação aos outros consoles, com acabamentos e texturas mais pobres e um desempenho de apenas 30 frames por segundo. Nada disso chega a ser um problema, mas estamos falando de reduções notáveis, como a metade da taxa de fps em comparação ao PlayStation 5 e PC, o que pode incomodar jogadores mais exigentes.


Por fim, há um último apontamento que é, de certa forma, inevitável: o fato de que o jogo não traz muitas novidades em seus conceitos. Afinal, desde a movimentação dos personagens ao desenho dos cenários e desafios, temos premissas comuns aos títulos que integram o gênero de plataforma. Então, não espere por invenções criativas ou inovações estruturais, apenas por uma aventura entusiasmada e de gameplay agradável.

A nostalgia pode ser algo bom, por que não?

Suas potenciais falhas poderiam facilmente comprometer o veredito final, mas Clive 'N' Wrench me conquistou graças ao seu carisma e às robustas propostas de exploração em mundos espaçosos, oferecendo um divertido jogo de ação que revive os os tempos áureos dos 3D plataformers. Assim, palmas para Clive e Wrench, que formam uma inusitada combinação animal para salvar o dia em diferentes janelas que nos levam ao passado.

Prós

  • Os estágios são abrangentes e convidativos para exploração;
  • Um grande repertório de movimentos que diversifica a jogabilidade;
  • Há muito humor na trama e na construção dos personagens;
  • A estética agrada com cores vibrantes e animadas trilhas musicais;
  • Diversos coletáveis que incrementam o fator replay.

Contras

  • Algumas animações e texturas podem desagradar pelo exagero na premissa retrô;
  • Ocasionais problemas de câmera nos desafios de plataforma;
  • A ausência de mapas atrapalha na localização;
  • Não traz novidades significativas, sendo “nostálgico” até mesmo nesse quesito.
Clive 'N' Wrench — Switch/PS5/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Numskull Games
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Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).