Resenha

The Legend of Zelda: conheça os mangás de The Minish Cap e The Phantom Hourglass

The Minish Cap completou 17 anos e vamos comemorar o aniversário (atrasado), deixando The Phantom Hourglass entrar de penetra.


Antes, falei de mangás que adaptam dois dos maiores clássicos da série The Legend of Zelda: A Link to the Past e Ocarina of Time. Outros títulos da saga também ganharam suas versões em histórias em quadrinhos japoneses e, hoje, vamos dar uma olhada em mais uma dupla deles: The Legend of Zelda: The Minish Cap (TMC) e The Phantom Hourglass (TPH).

A edição brasileira da editora Panini segue o formato da Perfect Edition (também chamada Legendary Edition), lançada mundo afora desde 2016, na qual cada um dos seus cinco tomos reúne dois volumes de mangá. Com isso, TMC e TPH, que têm em comum a estética e o lançamento em portáteis da Nintendo, foram compilados no quarto número da coleção.

Como de costume, o livro é acompanhado de um marcador de páginas de brinde e começa com páginas coloridas; são quatro de ilustrações de capa e 13 de quadrinhos de The Minish Cap.


Aventuras na palma da mão

The Minish Cap é um título de Game Boy Advance que chegou ao Japão em 4 de novembro de 2005, mas só foi vendido na América do Norte em 10 de janeiro do ano seguinte. Portanto, fez aniversário ocidental na semana passada, quando completou 17 anos, o que serve como um bom momento para continuar minhas análises de mangás da série Zelda.

Já The Phantom Hourglass foi seu sucessor nos portáteis, fazendo sua estreia nos Nintendo DS japoneses em 23 de junho de 2007, partindo para o Ocidente apenas em outubro daquele ano. Digamos que ele pode aproveitar o aniversário atrasado do irmão mais velho para entrar na comemoração.



Toon Link

Na virada dos anos 2000, os desenhos animados tiveram uma virada estética mais cartunesca, com traços e anatomias ao mesmo tempo mais simples e estilizadas, afastando-se da consagrada forma “disneyana”.

The Legend of Zelda também passou por essa transformação e, após enveredar por uma representação poligonal mais, digamos,“realista”, em Ocarina of Time, a Nintendo seguiu no rumo inverso em seguida e trouxe ao mundo o herói de cartoon, ou Toon Link, para protagonizar The Wind Waker (TWW), em 2002.



Com um protagonista de aparência infantil, corpo que mais parece um boneco de pano e enormes olhos de gato, a cartunização foi uma escolha artística polêmica e não afirmo isso baseado apenas em o quanto meus amigos e eu xingamos a mudança na época. 

Também corrobora esse pensamento o fato do próximo grande título da série, Twilight Princess (TP), dar uma nova guinada de 180° para incorporar Link em uma forma mais detalhada e adulta, como a esperada evolução “natural” de OoT que o poder do GameCube poderia proporcionar.

Hoje, sabemos que gráficos em cel shading, em que modelos poligonais 3D se camuflam de animação 2D, envelheceram melhor que muitos de seus pares que buscavam realismo, mas aquela geração de Zelda ficou dividida por dois Links muito diferentes: o “infantil” de TWW e o “adulto” de TP. O primeiro não sumiu de vez, mas teve seu lugar nos anos seguintes em um ecossistema mais aberto a simplificações e fofuras: os portáteis, com Four Swords (GBA), The Phantom Hourglass e The Spirit Tracks (DS).



Mangá cartunizado

Os mangás de Zelda são criados por uma dupla de autoras que trabalham sob um único nome artístico, Akira Himekawa. Quando produziram TMC, em 2005, elas já tinham adaptado outros cinco jogos da saga da Triforce e mostravam bastante desenvoltura para se ajustar às metamorfoses de design e de tom que a Nintendo aplicava à série. 

Isso fica claro na imagem abaixo, que faz parte do breve making of que acompanha o volume 4 da Perfect Edition e mostra o estúdio de trabalho das duas.

Os traços, cenários, personagens e aventuras; tudo muda a cada vez e também Link, às vezes mais heroico ou mais moleque. Parte do dinamismo que o jovem recebe das quatro mãos de Himekawa vem de suas personalidades acentuadas e das relações com outros personagens, pois elas quase sempre inserem algum contexto familiar e companheiros de aventura.



Mesmo quando o jogo adaptado já traz um parceiro relevante para Link, as autoras tendem a enfatizar ainda mais a participação deles.

O capuz dos Minish

The Minish Cap é um dos exemplos de como o companheiro de Link pode ser seu coprotagonista, afinal, ele dá subtítulo à lenda de Zelda: Ezlo foi amaldiçoado com a forma de um capuz com bico de pássaro. Tagarela, mandão e sagaz, ele parece reivindicar o destaque da missão, tratando Link como o pupilo que é.



A pouca idade do menino é evidenciada ao ser escolhido para encontrar o diminuto povo Picori, também chamado de Minish, que só pode ser visto por crianças. A narrativa faz par com a leveza do estilo visual e envereda para o cômico mais do que outros mangás da série, aplicando um humor ingênuo que combina com o mocinho da história e aumenta a participação de coadjuvantes, como Festari, o sacerdote picori.

Até mesmo o drama da luta contra o mal carrega tons mais brandos, transformando tragédia em melancolia, como no caso do ferreiro Melari e da Grande Fada, que recebem detalhes e motivações que não constam no game e humanizam a aventura. Até um mero chefão como Gleerok ganha traços que o transformam em um personagem de verdade dentro do contexto maior do mundo, ainda que de forma muito breve e sutil.



O próprio vilão Vaati recebe uma história extra fofa no final. A dupla Himekawa tem o mérito de criar adições que temperam e colorem as lendas de Zelda, deixando a sensação de mundos de conto de fadas mais ricos e povoados de pessoas mais interessantes.

Elas também sempre buscam manter algo da gameplay, por assim dizer, e podemos citar os itens especiais que fazem pequenas aparições em TMC, como o Vaso do Vento, o Cajado de Pacci e as Luvas de Toupeiras.



O destaque vai, claro, para a mudança de tamanho proporcionada pelo capuz animado, permitindo que Link explore o mundo por ângulos e proporções diferentes, e para as Pedras da Sorte (Kinstones, no jogo), que surgem tarde no mangá, mas têm propósitos mais alinhados com a trama central.

No todo, acho que Himekawa teve sucesso em contar a história de The Minish Cap e ainda contribuir com suas próprias adições, tudo coesamente encaixado em um único volume de mangá bem fofinho e com um bom ritmo.



A ampulheta espectral

O mangá The Phantom Hourglass, de 2009, foi o último título “zeldiano” da dupla de mangakás  antes de um longo hiato de sete anos afastadas da série. Infelizmente, essa versão não funciona muito bem porque é uma continuação de um exemplar da série que não ganhou sua própria HQ: The Wind Waker (GC/WIi U).

Com isso, TPH parece começar do nada, como se considerasse que o leitor já conhece o contexto anterior. Vemos que Link já é um herói com certa experiência, mas está servindo na tripulação do navio de sua amiga de infância, a capitã Tetra.

Como de praxe em aventuras assim, Tetra é raptada logo nas primeiras páginas e o herói precisa salvar a donzela em perigo, mesmo quando ela é tão boa espadachim quanto ele. Na minha perspectiva de alguém que não conhecia a personagem, o mangá não a torna interessante, servindo apenas como vitrine para a bravura de Link.

O pirata Linebeck é outro personagem que não caiu no meu gosto. Certamente, sendo um pilantra mentiroso, covarde e ganancioso, ele representa uma inesperada mudança de rumo da zona de conforto dos companheiros de Link.


Talvez o problema tenha sido a falta de espaço para um desenvolvimento adequado em um único volume, mas não fui convencido pelo suposto carisma cínico desse pirata nem por sua história de redenção (e olha que é fácil me envolver com redenções), mesmo quando a capitã Jolene entra na história e contribui para o arco de personagem de Linebeck.

Toda a trama de TPH é muito apressada, desde o trajeto da aventura em si até o vilão, que é explicado de repente para sabermos como ele é uma entidade perigosa e etc, etc... nada além disso. Não me importei com as reviravoltas simplórias, o clímax e as resoluções. Nem mesmo entendi a brevíssima aparição da princesa Zelda e, para sanar isso, tive que pesquisar sobre o jogo, o que atesta a falta de autonomia desta adaptação específica.



Diferentemente das minhas análises anteriores, que foram releituras de mangás que eu já tinha, adquiri este volume quatro na semana passada e TPH foi o único conto de Zelda que terminei de ler apenas para poder escrever sobre ele. Se não estivesse em dupla com TMC, eu não veria motivo para comentá-lo e o ignoraria.

Ainda temos mais Links e Zeldas para visitar

Pode ser que alguém pense que o problema é que eu não joguei The Wind Waker nem The Phantom Hourglass, mas essa relação prévia com o material base não deve ser a métrica para apreciar uma adaptação. Uma história recontada deve funcionar por si só, sem depender de nostalgia e muletas afetivas.

Oracle of Seasons e Oracle of Ages (GBC) servem de exemplo. Eu também não os joguei, mas tive um contato mais positivo com suas HQs do que com a de TPH. Eles serão os próximos mangás que apresentarei, em março, quando completam aniversário. Depois deles, ainda comentarei a última edição da Perfect Edition, que narra Four Swords (acabei de encomendar) e os 11 volumes que dão vida desenhada a Twilight Princess. Até lá!

Resenhas das lendas de Zelda em mangá:

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Mangá adquirido pelo redator

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google