Este foi um ano incrível para o Nintendo Switch enquanto peça de hardware. Primeiramente porque o híbrido continuou com ótimas vendas — sobretudo no Japão —, mesmo há 5 anos desde seu lançamento e sem ter recebido nenhuma revisão substancial de hardware. Em segundo lugar, jogos como NieR: Automata e Crisis Core Reunion mostraram como ele ainda é capaz de receber ports belos e adequados de grandes lançamentos do final da oitava geração de consoles. Em terceiro, claro, por causa de seus ótimos lançamentos de software.
2022 foi marcado por uma frutífera parceria com o Team Asano, da Square Enix, que (re)lançou 3 jogos no Switch: Triangle Strategy, Live A Live e Various Daylife. Além disso, jogos como Pokémon Scarlet/Violet e Splatoon 3 quebraram recordes de vendas de software na história da Nintendo, o que mostra o vigor atual da popularidade de algumas IPs da Nintendo. Por fim, mas não menos importante, tivemos alguns jogos aclamados pela crítica que eram muito aguardados na plataforma, como Bayonetta 3 e Xenoblade Chronicles 3.
Para mim, foi um prazer acompanhar este ano no Nintendo Blast, tanto como crítico quanto como jogador, e hoje trago uma lista com meus jogos favoritos considerando justamente a dupla posição em que me encontro (crítico e jogador). Caso queira mais detalhes sobre eles, minhas respectivas críticas estão em hyperlink nos respectivos tópicos. A listagem segue a ordem cronológica de publicação de minhas análises.
Como já listei meus jogos favoritos de 2022 no GameBlast sem me restringir ao Switch, optei por selecionar apenas cinco títulos para esta lista do Nintendo Blast, assim tendo um pouco mais de espaço para comentar sobre eles. A escolha de cada game obedece a três critérios: ter sido lançado este ano (ou ser um jogo contínuo com grandes atualizações vigentes); ter uma qualidade alta em minha análise (com nota 8+/10); ter um valor pessoal extra para mim por alguma razão.
Triangle Strategy
O ano começou muito bem para mim no Nintendo Switch com um RPG tático da Square Enix! Não havia um jogo desse tipo da empresa desde o DS e, aliás, são pouquíssimos os jogos táticos relevantes lançados na última década. Felizmente o sucesso da série Fire Emblem deve ter animado os desenvolvedores, pois 2022 acabou se tornando o ano mais frutífero para TRPGs desde a década de 1990. Triangle Strategy abriu as portas para essa sequência de RPGs táticos.
Por sua beleza audiovisual, seus diálogos bem escritos e pela acessibilidade de seus sistemas, este game não apenas se tornou minha principal indicação para novatos em RPG tático, mas também se tornou meu jogo favorito do Team Asano, uma equipe cujos trabalhos acompanho desde o DS, mas nunca imaginaria que viriam a fazer um TRPG ao mesmo tempo tão sério e gostoso de jogar. Tenho minhas críticas a ele que podem ser conferidas em detalhe em minha análise, mas o saldo é muito mais positivo. E me chamou a atenção especialmente sua mecânica de votação para escolhas políticas.
Milky Way Prince - The Vampire Star
Um jogo que eu não imaginava que me impactaria tanto foi Milky Way Prince. Esta modesta VN BL indie, título de estreia da Eyeguys, mostrou um lado sensível e experimental em um romance BL que eu não havia visto em nenhum outro lugar. Trata-se de um trabalho semi-autobiográfico de realismo fantástico cujo autor, Lorenzo Redaelli, baseou-se em uma experiência pessoal com um ex-namorado com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).
Apesar da simplicidade em vários níveis, o gameplay possui um sistema interessante de escolha interativa enquanto você experimenta isoladamente sentidos do corpo (como tato e paladar). Também me chamou a atenção o estilo artístico retrô, minimalista e surrealista com um toque de horror. Acima de tudo, ele é marcante pela instabilidade do relacionamento entre os dois protagonistas, refletindo fenômenos psicológicos como “rage tests”, “love bombing” ou redirecionamento de culpa, e pelo enredo ramificado da trama, guiado por variáveis como “submissão” e “interesse” que dependem de suas escolhas em diálogos.
Live A Live
Tomoya Asano e seu time me impressionaram mais uma vez este ano trazendo um clássico da Square Enix nunca antes lançado no Ocidente. Graças ao apoio da Nintendo, a equipe conseguiu fazer um belo remake em HD2D, o que parece ser o primeiro de muitos, já que foi anunciado também um remake HD2D de Dragon Quest III HD2D Edition. E a convergência das duas surpresas de Asano para 2022 (Triangle Strategy e Live A Live) fazem-me ter esperança de um remake HD2D de Bahamut Lagoon, também seria sua estreia no Ocidente.
Tendo eu jogado todos os títulos HD2D até agora, considero que Live A Live possui o ápice de visual HD2D até então. Além disso, há memoráveis peças de Yoko Shimomura, cuidadosamente refeitas. Porém o principal destaque continua sendo seu gameplay experimental, carismático, único e ramificado em sete histórias aparentemente desconexas que se unem ao fim em um plot-twist. Esse design ramificado, dirigido por Takashi Tokita, oferece também estilos únicos de gameplay no interior de cada uma das sete pequenas histórias do jogo. Este é um divertido e acessível clássico, mas também um pequeno laboratório de game design.
NieR: Automata - The End of YoRHa Edition
Não escondo que sou um grande fã dos trabalhos de Yoko Taro e seu time na Square Enix, e eu já havia jogado NieR: Automata, porém esse título entrou nessa lista por uma conjunção de fatores. Em primeiro lugar, pude atestar sua qualidade e brilhantismo de design em minha análise, e seu impacto na indústria não é por acaso. Em segundo, porque o trabalho de port para o Switch foi impressionante, possível graças a uma nova tecnologia de IA desenvolvida para esse trabalho. Por fim, porque esse título me possibilitou entrevistar os principais nomes por trás desse jogo (Taro, Saito e Okabe).
NieR: Automata é um dos melhores JRPGs da última década e merece sua atenção especialmente se você gosta de algo experimental e reflexivo, mas também contemplativo e com uma ação dinâmica do tipo que só a Platinum sabe fazer. Escrevi um texto especialmente sobre sua música, e ainda quero escrever algo sobre sua trama, que possui um rico enredo com questões sobre existencialismo e humanismo em um design ramificado com diferentes finais que se sobrepõem. O gameplay também possui muitas camadas, com mecânicas de shooter (vários tipos), text-adventure, RPG e hack n’ slash.
Tactics Ogre: Reborn
Por fim, termino essa lista com um de meus jogos favoritos da vida em sua forma mais polida. Assim como acontece com Yoko Taro, não escondo o quão fã sou dos trabalhos de Yasumi Matsuno, mas, acredite, se Tactics Ogre Reborn está nesta lista, é por uma boa razão. Este jogo é um “clássico” no sentido mais puro do termo, pois não apenas foi um divisor de águas em seu gênero e é uma referência até hoje, mas também continua a ser, nessa versão, provavelmente um dos melhores ou mesmo o melhor RPG tático.
Além de seus sistemas flexíveis, conteúdo de sobra, e seu level design sofisticado e elegante, TOR conta com uma pixel art bastante detalhada para seus cenários, ilustrações belíssimas e uma trama política que dá o devido peso às decisões do jogador enquanto aborda questões étnicas inspiradas em conflitos reais, como a guerra civil na Síria, o conflito entre Azerbaijão e Armênia, as guerras iugoslavas e o genocídio de Ruanda. O jogo também é bastante desafiador, mas isso faz parte de sua proposta, e está mais bem balanceado do que o original. Caso queira um TRPG de alto nível, não pense duas vezes, dê uma chance a esse jogo.
Menções honrosas e expectativas para 2023 no Switch
Devido aos critérios restritivos de minha lista, alguns jogos que gostei muito (mas não analisei) ficaram de fora, como Xenoblade Chronicles 3; outros foram bem em minha análise, como Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered, mas não me marcaram tanto pessoalmente como os que escolhi; e alguns foram bem interessantes e surpreendentes pessoalmente, mas com algumas falhas significativas de execução, como The DioField Chronicle.
Um título que chegou bem perto de entrar neste top foi Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition. Gostaria de destacá-lo entre as menções, pois foi um título que eu não esperava chegar tão cedo e que me deixou muito contente pela oportunidade de rejogá-lo, bem como por poder ouvir novos arranjos de sua OST (uma de minhas favoritas nos videogames) e experimentar a visual novel que precedeu esse clássico de PS1.
Um título que chegou bem perto de entrar neste top foi Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition. Gostaria de destacá-lo entre as menções, pois foi um título que eu não esperava chegar tão cedo e que me deixou muito contente pela oportunidade de rejogá-lo, bem como por poder ouvir novos arranjos de sua OST (uma de minhas favoritas nos videogames) e experimentar a visual novel que precedeu esse clássico de PS1.
Nenhum dos jogos da minha lista de favoritos de 2022 eu poderia prever em 2021. Portanto, acima de tudo, espero ser igualmente surpreendido em 2023, principalmente em relação a jogos puzzle e RPG tático, que costumam ser meus favoritos. Até onde posso antever, tenho altas expectativas para fevereiro, com Octopath Traveler 2, que pode se tornar o mais belo HD2D até agora, e o RPG tático indie Redemption Reapers. Seguindo a tendência deste ano, adoraria ver um remaster ou remake de Final Fantasy Tactics dirigido por Yasumi Matsuno, além de um remake HD2D de Bahamut Lagoon feito pelo Team Asano.
Outros lançamentos que me interessam são Fire Emblem: Engage, Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom e Dragon Quest III HD2D Edition. Este último eu aguardo com especial entusiasmo, pois parece um remake muito bonito que justifica rejogar DQ III, um dos melhores de uma série que eu adoro. No mais, a atenção que a Square Enix tem dado para o híbrido faz-me ter esperança de outros possíveis ports, como de NieR: Replicant ou de Final Fantasy VII Remake. Por fim, acredito que haverá uma revisão de hardware em 2023, seguindo o ciclo de 2 anos de revisão, mas se será um sucessor ou mais um na família do console, só o tempo dirá.
Revisão: João Pedro Boaventura