Análise: Space Tail: Every Journey Leads Home (Switch) traz uma bonita narrativa, apesar da jogabilidade cansativa

Algumas mecânicas até inovam a jogabilidade, porém logo cansam; a história, por outro lado, cativa até o último momento.

em 19/12/2022

É difícil não se lembrar da corrida espacial, uma competição entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética durante a Guerra Fria no século XX; inclusive, o envio da cadelinha Laika ao espaço foi um dos acontecimentos mais marcantes da época — e é justamente nele que o jogo Space Tail: Every Journey Leads Home se baseia.


O simpático platformer constrói uma bonita narrativa em torno desse fato e aposta em mecânicas que trazem certo rejuvenescimento a um gênero mais do que consolidado dos videogames, mas, infelizmente, o jogo não demora para cair no “mais do mesmo”.

Um platformer que tenta inovar, mas não por muito tempo

Space Tail nos coloca no comando de Bea, uma cadelinha que, à primeira vista, parecia ter encontrado um lar acolhedor junto a seu novo dono. Contudo, nossa “protaugonista” de logo é recrutada para participar de uma missão arriscada e é separada do carinhoso garoto que lhe deu um lar.

Diferentemente do destino que levou a cadelinha russa, a protagonista de Space Tail embarca em uma aventura fantástica pela galáxia, mesmo que o pano de fundo da narrativa seja a supracitada corrida espacial. Desse modo, para completar seu dever como um dos primeiros animais a serem enviados ao espaço, Bea precisa interagir com as diferentes formas de vida dos planetas que visita.

O grande diferencial de Space Tail é o uso das habilidades caninas de Bea para superar os obstáculos e quebra-cabeças ao longo dos estágios. As três primeiras fases funcionam como tutorial e nos apresentam as “ferramentas de sobrevivência” da protagonista (olfato, audição e visão) e como elas são fundamentais para a aventura.

Com o olfato, Bea é capaz de encontrar o caminho certo a certo a seguir, bem como evitar plantas venenosas e outras toxicidades; com a audição, ela pode identificar obstáculos que são sensíveis ao som; e com a visão, a cachorrinha consegue visualizar caminhos secretos ou ainda obter dicas de como prosseguir, como galhos que podem ser destruídos ou toras que podem ser movidas. Bea também pode usar de diversos comportamentos para interagir com os seres intergaláticos, seja oferecendo a pata, latindo ou até mesmo rolando no chão.


Essa interação entre a doguinha e a fauna local é bem interessante, uma vez que nos incentiva a pensar como um cachorro. Toda vez que precisamos “diaulogar” com os nativos dos planetas, as ações de Bea causam uma impressão, podendo deixá-los amedrontados, bravos ou até mesmo felizes; como se pode ter uma ideia, trata-se de um sistema de tentativa e erro, já que não há como prever qual ação surte efeito positivo ou negativo nos seres que Bea encontra pela campanha.

Contudo, as mecânicas inventivas acabam aqui. Por mais que a campanha seja interessante e tenha diversos puzzles variados, a jogatina logo acaba no mais do mesmo; para piorar, muitas situações se tornam repetitivas, mesmo que possamos contar com a ajuda de B088Y, o simpático robô e companheiro de viagem de Bea, em alguns momentos para desativar robôs inimigos e outros aparelhos eletrônicos, por exemplo.

Entendo que essa é a proposta do jogo, afinal, nossa “protaugonista” precisa descobrir por si só que caminho seguir, porém a falta de uma bússola — a meu ver, um mapa iria na contramão da ideia de Space Tail — chega a ser frustrante, pois nem sempre o olfato de Bea é o suficiente para descobrir a direção certa nos mais diversos ecossistemas. Além disso, não há a opção de reiniciar um estágio desde o começo, mesmo se voltarmos à tela de título; ou seja, no caso de Space Tail, o salvamento automático não ajuda muito.

Uma linda aventura

Arrisco dizer que, em termos de trama, o platformer faz um ótimo trabalho em cativar, especialmente durante a transição de cenários, que conta com uma belíssima dublagem em inglês. Além disso, à primeira vista, o jogo dá a impressão de que estamos vivenciando um livro infantojuvenil, já que a apresentação visual também é bastante charmosa e convidativa, apesar escura em alguns momentos. Os gráficos 2.5D, pelo menos no Switch, são bonitinhos e distinguíveis, mesmo que ligeiramente "borrados" no modo portátil do híbrido, e a trilha sonora ajuda a embalar o clima sci-fi.

Existem apenas algumas ressalvas a respeito da excelente história por trás de Space Tail, a primeira relacionada ao idioma do jogo. Por se apoiar em texto para dar prosseguimento à campanha, alguns jogadores poderão sentir falta de uma localização para o português (brasileiro ou europeu) para o total entendimento da trama. A segunda ressalva é a presença da indicação de manter o botão A pressionado para pular as porções narradas, que às vezes atrapalha na leitura do texto.

“Audemais”, Space Tail: Every Journey Leads Home é um platformer emocionante baseado em acontecimentos reais que consegue cativar com sua belíssima narrativa. No campo audiovisual, não deixa a desejar em nenhum aspecto e, embora a jogabilidade se torne um tanto quanto repetitiva ao longo da campanha, as mecânicas são interessantes o bastante para prender o jogador do começo ao fim.

Prós

  • Belíssima e emotiva narrativa baseada na corrida espacial durante a Guerra Fria;
  • Apresentação audiovisual bem-feita, competente e que abraça o gênero sci-fi;
  • História contada como se fosse um livro infantojuvenil;
  • Puzzles bem elaborados;
  • Mecânicas interessantes para simular o comportamento de um cachorro.

Contras

  • Salvamento automático mais atrapalha que ajuda;
  • Jogabilidade se torna repetitiva com o tempo;
  • Dialogar com os nativos intergalácticos baseia-se em tentativa e erro;
  • Sem localização para o português;
  • A falta de uma bússola para indicar a direção correta é frustrante em alguns casos.
Space Tail: Every Journey Leads Home — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise publicada com cópia digital cedida pela Longterm Games
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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