Os cavalos estão entre os animais que aparecem com maior frequência em videogames. Se em alguns casos eles servem apenas como meio de transporte, em outros são verdadeiros amigos durante a jornada (Epona e Agro que o digam).
Com a promessa de ser um jogo de simulação de criação de equinos e aventura em um mundo aberto, Horse Tales: Emerald Valley Ranch foi lançado no Switch e, para minha decepção, seus pontos negativos falam mais alto que os positivos.
De férias em Emerald Valley
A premissa de Horse Tales é extremamente simples. Tudo se inicia com o protagonista chegando a Emerald Valley, a convite de sua tia. Chegando ao local, vemos que o rancho da família está em ruínas e nos comprometemos a trabalhar com afinco para arrumar o lugar.
Todo o enredo se desenrola por meio de missões que geralmente são de ir do ponto A até o ponto B. Infelizmente, o roteiro não é tão interessante e grande parte dos personagens não são carismáticos ou têm motivações convincentes.
Isso não seria um problema se o título abraçasse uma abordagem mais voltada ao sandbox; no entanto, é obrigatório completar as missões, principais e secundárias, para desbloquear a maioria das funções disponíveis.
O foco de Emerald Valley Ranch são os cavalos e além dos elementos de gerenciamento de rancho, há recursos de exploração em uma região teoricamente aberta. Apesar de a parte de simulação ser rica e competente, se aventurar no vale é extremamente complicado, chato e desanimador.
Cavalinhos para todos os gostos
Ainda no início da aventura, o filho do prefeito apresenta algumas opções para que o jogador escolha um corcel. Essa decisão não possui tanta importância, pois após certo ponto da história, conseguimos encontrar e domar outros.
Todas as montarias dispõem de características próprias, como velocidade, força ou resistência. Os atributos influenciam diretamente na jogabilidade, com alguns equinos sendo capazes de correr mais rápido e outros por mais tempo.
Os bichos também possuem sexo, personalidades individuais e preferências por diferentes alimentos e locais. Deste modo, eles ficam felizes e estressados, dependendo do atendimento aos seus gostos. Um corcel emburrado geralmente para de obedecer ao comando de correr.
Para manter o animal alegre, além de alimentá-lo, é necessário acariciar, escovar e lavar. Essas atividades se desdobram como uma espécie de minijogo, onde devemos executar uma sequência de comandos nos momentos corretos.
No gerenciamento da fazenda, há diversas construções disponíveis. Saliento que a maioria delas são desbloqueadas apenas com a conclusão das missões. Cada tipo de estrutura requer itens específicos coletados pelo mapa, e dentre os numerosos tipos de edificações, encontramos estábulos, casas e plantações.
Quanto à moradia do protagonista, inicialmente dispomos apenas de uma barraca. Após progredir o suficiente, ficam à nossa disposição residências cada vez maiores. Dentro da casa, além de dormir, podemos decorar alguns móveis e personalizar a aparência da personagem.
Quanto mais áreas construímos, mais bichos somos capazes de abrigar. Como dito anteriormente, podemos encontrar e domar pangarés selvagens; para isso, basta chegar abaixado próximo a um e, após segurar o direcional direito, apertar os botões solicitados.
Outra função interessante é o cruzamento entre animais, o que gera novos potros. Relacionada a essa ferramenta, o game também apresenta a possibilidade de conferir a genealogia das crias.
Inquestionavelmente, Horse Tales dispõe de uma incrível variedade de equinos, sendo possível conseguir um parceiro com as particularidades desejadas. Somado a isso, existem diversas alternativas de edificação, proporcionando o embelezamento e crescimento do rancho.
Um território enorme, mas com bastante problemas
O mundo de Horse Tales: Emerald Valley Ranch é enorme e contém diversos biomas, como florestas, praias e cavernas. Todos estão bem conectados e desfrutam de um visual bonito. Apesar disso, somos limitados por estradas curtas, mal projetadas e cheias de obstáculos.
O jogador não tem a liberdade de escolher como chegar nos locais de interesse. Para qualquer lugar que queira ir, será obrigado a usar uma rua determinada, estreita e, por diversas vezes, confusa.
Ainda que existam locais bonitos, essa limitação faz com que as travessias se tornem cansativas. Ademais, não existe uma opção de viagem rápida, o que nos obriga a passar diversas vezes pelos mesmos trechos irritantes.
Para piorar a situação, não há um mini-mapa disponível; deste modo, toda vez que você precisar se orientar, será necessário abrir o menu e navegar até a aba própria que exibe a extensão completa.
Espalhadas pelo vale, temos diversas pistas de corrida. Ficar em primeiro lugar rende recompensas e apesar de a maioria não ser obrigatória, é preciso vencer uma delas durante a campanha principal.
Durante as corridas, a câmera se revela como outro problema. Tive a impressão de que houve a tentativa de emular a forma de cavalgar vista em Shadow of the Colossus (PS2). Digo isso pois em muitos momentos a câmera desloca o personagem para um dos cantos da tela, dando destaque ao cenário ao seu redor.
Na obra-prima de Fumito Ueda, percorrer as terras proibidas com a égua Agro, sentindo a solidão e a sensação de não dever estar ali, é um ponto positivo que se encaixa perfeitamente com a jogabilidade e a narrativa.
Infelizmente, o mesmo não se aplica a Horse Tales, pois, como já foi dito, os caminhos são apertados e limitam a movimentação. Deste modo, a câmera acaba confundindo e impedindo a visão do que está à frente, sendo uma fonte de estresse.
Apesar de os cavalinhos serem bem-modelados e possuírem um controle regular, além de aparentar que os desenvolvedores tinham o interesse de que o jogador viajasse e apreciasse esse universo, pela falta de liberdade e o enquadramento que não se aplica, cavalgar se torna exaustivo e monótono.
Além de concluir as missões, o outro único motivo para andar pelas terras do vale Emerald é recolher materiais. Lamentavelmente, também não houve um bom planejamento com a disposição da maioria dos recursos e eles estão apenas espalhados pelo chão, como se fossem moedas em algum jogo genérico de celular.
O desempenho não conta com melhor sorte, pois parece que o game não foi preparado para ter uma região tão grande. Em meu tempo de Horse Tales, houve momentos em que atravessei paredes e itens coletáveis; pulei e caí para fora do mundo; e sofri com quedas constantes de quadros.
Outro contratempo recorrente é que geralmente os elementos do cenário demoram para carregar, principalmente quando a fazenda está com muitas construções.
Um triste caso de potencial desperdiçado
Horse Tales: Emerald Valley Ranch possui um bom potencial, pois traz uma customização e criação muito ampla de cavalos. Tristemente, a ambição de encaixar esses elementos em um terreno gigante cria muitos problemas que acabam ofuscando os pontos positivos.
Por conta disso, o resultado é uma das regiões mais desinteressantes de se aventurar, além de um dos piores desempenhos que já vi no Nintendo Switch, dando a infeliz impressão de ser uma obra inacabada.
Prós:
- Infinidade de cavalos, cada um com sua própria personalidade, preferência e atributos;
- Diversas opções de estruturas para aumentar e enriquecer o rancho;
- Muitos biomas diferentes que se interligam de forma natural.
Contras:
- Performance terrível, com diversos bugs e quedas constantes de quadros;
- O cenário bonito e promissor é totalmente limitado por estradas desagradáveis e confusas;
- História e missões pouco inspiradas, sendo um fardo a obrigatoriedade de terminá-las;
- Câmera mal-ajustada que atrapalha nas corridas;
- A falta de um mini-mapa obriga o jogador a ter que abrir o menu sempre que quiser se localizar;
- A ausência do recurso de viagem rápida torna obrigatórias as reiteradas passagens por locais ruins.
Horse Tales: Emerald Valley Ranch — PS4/PS5/PC/Switch — Nota 5.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Microids