Análise: Cassiodora (Switch) é uma interessante incursão brasileira no gênero scrolling shooter

Um feijão com arroz bem feitinho.

em 14/12/2022
Os jogos brasileiros são cada vez mais frequentes no mercado. A produção de games no país vem de longa data, completando 40 anos em 2023 com alguns títulos esquecíveis e outros memoráveis.


Cassiodora, novo trabalho dos paulistanos da Void Studios, é uma incursão interessante no gênero scrolling shooter, trocando a tradicional “navinha” por heróis alados. Será que o voo é tranquilo ou foi perto demais do Sol, tal qual o mitológico Ícaro?

Caldeirão cultural

Esse Hades não está muito grego...
A menção ao famoso mito do rapaz com asas de cera que derretem ao voar muito próximo ao Sol não é por acaso. A cultura greco-romana é uma grande fonte de inspiração do game. Ao morrer, por exemplo, as asas somem e o personagem cai, como Ícaro.

O próprio título é uma referência a um estadista romano que, na Antiguidade, se destacou na administração pública. Aqui, Cassiodora é a princesa do reino, que faz o papel de donzela em perigo.

No entanto, a Void Studios nem sempre se inspira na “fonte”. Hades, deus grego do submundo, aqui é retratado com um visual mais próximo daquele apresentado na animação Hércules, da Disney, com um fogo azulado na cabeça.
This is Sparta!
A mistura de referências inclui também o trio principal. Os personagens controláveis masculinos, Colden e Luken, possuem armaduras inspiradas nos valentes soldados espartanos, enquanto a guerreira Agni possui um visual mais viking.

As asas mágicas que possibilitam o voo são dadas por um mago que muito se assemelha ao famoso Merlin das histórias do rei Artur. Apesar disso, ele é apresentado como um druida de nome Faramix, numa homenagem às histórias do gaulês Asterix. Há várias piscadelas como essa ao longo da jornada.

São elementos diversos, porém, que conferem um ar de familiaridade ao que encontramos na aventura. Se ela não esbanja originalidade, ao menos facilita a imersão no mundo proposto.

Construindo o guerreiro do seu jeito

Antes de voar pelos cenários de Cassiodora e disparar contra bruxas, fantasmas e animais armados com bombas, é possível customizar seu personagem. A arma, o capacete e as asas podem ser trocados por peças que conferem habilidades extras, adquiridas na loja com as moedas coletadas nas fases.
Um exemplo de muitas referências presentes no jogo
Além de conferir mais resistência a certos elementos ou carregar o ataque especial mais rapidamente, dentre outras características, a mudança de peças também proporciona a customização do visual dos personagens. É um incentivo a mais para voltar à loja e verificar as novidades.

Cada um dos guerreiros possui também um animal guardião, que auxilia na jornada. Dependendo do guerreiro, o animal pode coletar cristais de energia, reviver o jogador ou disparar golpes especiais baseados em poderes elementais.

Controlar os elementos, aliás, é a grande sacada do jogo. Em campanha solo, o jogador tem um botão para cada elemento (fogo, gelo e eletricidade). Com um parceiro, a dupla administra dois elementos, e em trio cada um fica responsável por um. Gerenciar esses poderes é essencial para progredir nas fases, já que cadeados, passagens e até certos monstros alternam sua vulnerabilidade entre um destes poderes.

Grandes batalhas

Os minigames são um show à parte
As batalhas em Cassiodora são épicas – ou quase. Os inimigos principais das fases são grandes, como um grifo ocupando quase a tela toda, mas como praticamente toda fase tem um adversário nesta escala, o tom grandioso fica diluído: se tudo é épico, no fim nada é épico.

De toda forma, as batalhas são sempre interessantes e exigem habilidade do jogador para desviar dos disparos que inundam a tela. Como o jogo oferece seleção de dificuldade, do casual ao hardcore, as lutas são sempre justas e dependem mais da capacidade de memorizar os padrões e administrar os elementos.

O jogo mistura cenários 2D com modelos em 3D. O estilo gráfico é meio cartunesco e agradável, utilizando bem as animações dos personagens e a noção de profundidade dos cenários. Isso contribui positivamente para alguns puzzles e, especialmente, para momentos caóticos com disparos vindos tanto do primeiro quanto do segundo plano.
Nem sempre é fácil controlar os guerreiros voadores
Por outro lado, a movimentação dos protagonistas pode ser meio errática em certos momentos. Principalmente quando o jogador pega o power-up de velocidade, o controle se torna difícil e desviar dos disparos inimigos é um desafio.

Cassiodora é um game bem-humorado. As falas dos personagens surgem em legendas na tela, conduzindo a história de forma leve e engraçada. É uma pena que haja erros pontuais na grafia, mostrando uma carência de revisão.

O que não falta, porém, são motivos para retornar ao jogo através dos minigames para serem disputados em multiplayer. Entre disputas por sobrevivência, por pontos, por quem coleta mais moedas ou mais itens, são 6 opções bem divertidas, inclusive uma com o nome mais inusitado possível, em referência ao seriado Chaves: Eu prefiro morrer do que perder a vida, que consiste em recuperar cristais de vida.

Um prato feito gostosinho


Cassiodora não é um grande prato. Se não se destaca pela originalidade ou pela revisão apurada em legendas e jogabilidade, o título reúne diversos elementos conhecidos na mitologia e no gênero shmup, e faz um bom e divertido feijão com arroz, que entretém bastante ao longo de sua duração e ainda busca prolongar esta refeição com um bom fator replay. Vale a visita ao restaurante dos brasileiros da Void Studios.

Prós

  • Uma boa mistura de diversos elementos conhecidos;
  • Referências bem humoradas às inspirações, como Asterix ou God of War;
  • Uso inventivo dos diferentes poderes elementais;
  • Alto fator replay.

Contras

  • Problemas pontuais de controle dos personagens.
Cassiodora – Switch/PS4/PS5/XBO/XBX/PC – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela PID Games


Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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