Sonic Frontiers (Switch) foi lançado há apenas algumas semanas, mas seu impacto já é grande na comunidade da série. Muitos debates têm sido feitos, discutindo se o jogo é de fato bom, ruim ou apenas mediano, principalmente considerando a quebra de gameplay que o título causa em vários sentidos.
Em nossa análise, destacamos que Frontiers consegue suceder em várias áreas e mostra um potencial positivo à franquia, embora a promessa tenha sido maior que a entrega. Hoje, discutiremos justamente sobre esse potencial e fazer um exercício sobre quais maneiras os desenvolvedores poderiam aproveitar o que foi trabalhado em Frontiers para criar uma sequência excelente.
O que manter?
Sonic Frontiers, segundo os desenvolvedores, é considerado “open zone”: essencialmente, é um jogo com conglomerado de áreas abertas com acesso a fases lineares e desafios. Esse é um dos maiores acertos do título, já que Sonic vinha de uma sequência de jogos cada vez mais lineares e de mentalidade de “fase de corredor”, então ter a opção de controlar o ouriço em ambientes mais abertos trouxe novos ares necessários e abre possibilidades de expansão de jogabilidade.
A natureza dos coletáveis espalhados pelas Open Zones foi um outro ponto positivo, aproximando Sonic de suas raízes de jogos de plataforma ao lembrar esqueletos de jogos collect-a-thon. Entrelaçá-los com as fases lineares pelo mundo também ajuda o jogador a ter uma recompensa mais imediata, ao mesmo tempo que traz uma quebra da gameplay e mais variedade.
A trilha sonora que acompanha as áreas abertas e as fases lineares também é algo que pode ser mantido. Os temas mais calmos e ambientais das Open Zones combinam bem com o clima de exploração e não provocam uma repetição muito grande aos ouvidos do jogador, ao mesmo tempo que as trilhas mais animadas dos estágios lineares nos lembra que estamos em um jogo de Sonic.
Outro elemento notável de Frontiers e que causou preocupação antes do lançamento foi seu foco de combate. Em uma eventual sequência, o sistema de combate e as diferentes habilidades de batalha de Sonic podem continuar, mas talvez com um foco maior nos minichefes. Eles eram mais interessantes de enfrentar do que os inimigos comuns e o título pode até mesmo expandir nos chefes que utilizavam mecânicas de plataforma para serem derrotados, como o Ghost.
O que descartar?
Quanto à parte não tão bonita de Sonic Frontiers, temos alguns pontos que podem ser totalmente retrabalhados ou simplesmente descartados, sendo um deles a questão da reutilização de tema de fases. Nos últimos dez anos, a maioria dos jogos principais teve alguma forma de reciclagem de estágios, seja por nostalgia ou economia no desenvolvimento, portanto, algumas figurinhas conhecidas, como Green Hill e Chemical Plant, sendo reusadas à exaustão acabou por cansar o público.
Ainda no aspecto das fases lineares, uma boa oportunidade a uma futura sequência seria a de retrabalhar o level design de como os estágios são construídos. As melhores fases do Cyberspace em Frontiers eram aquelas inspiradas nos Sonic Adventures, o que deixa a dica de que a Open Zone combine mais com fases lineares que sigam uma construção mais aberta com vários caminhos alternativos ao invés da mentalidade dos jogos “Boost” (Sonic Colors (Wii) e Sonic Generations (Multi), por exemplo) em que o maior cerne são “estágios corredores” em que o ouriço deve correr o mais rápido possível.
Junto do descarte da mentalidade dos títulos Boost quanto ao level design, outro ponto que a franquia deveria abandonar seriam as seções em duas dimensões. Em Frontiers, pouco elas casaram com os estágios do Cyberspace e menos ainda na Open Zone, já que é contraintuitivo remover o jogador de seu controle de uma das dimensões em um ambiente em que a premissa é de seguir por várias direções.
Outra crítica muito comentada, tanto no pré quanto no pós-lançamento, foi o estilo gráfico utilizado. Um “Sonic Frontiers 2” não precisa necessariamente fugir de um estilo mais realista, algo não incomum à série, mas as Open Zones possuíam cenários com pouca vida e sem muitas construções interessantes. Um bom caminho seria incorporar mais elementos clássicos de Sonic nos cenários, como loops e uma paleta de cores mais viva, além de uma variação maior nos biomas e trazer até mesmo temas mais diversos como cidades.
O que adicionar?
A fórmula de Sonic Frontiers também abre espaço para várias adições em uma possível sequência que podem deixar o todo mais interessante. Junto de gráficos mais coloridos e mais “Sonic”, o jogo ficaria mais imersivo, por exemplo, se os desafios de plataforma fossem integrados com os cenários das Open Zone ao invés de simplesmente serem jogados em plataformas flutuantes sem conexão. Os desafios e puzzles podem envolver loops e o momentum do ouriço como formas de deixar a gameplay mais orgânica.
As áreas abertas também permitem que personagens da série sejam mais facilmente incluídos. Um local de cidade como a Station Square de Sonic Adventure (Dreamcast), populada com personagens como Rouge the Bat, Cream the Rabbit, entre outros, que lhe dão side quests e diálogos interessantes, seria uma ótima maneira de integrar o elenco expansivo da franquia de forma inteligente. O minigame de pesca do Big em Sonic Frontiers é um bom primeiro passo, mas há potencial de sobra para ir além.
Claro que os personagens da série não necessariamente precisam ficar limitados a serem NPCs da Open Zone, como também podem ser integrados como personagens jogáveis. Muitos querem ver o retorno de outras opções jogáveis além de Sonic nos títulos principais e a fórmula de Frontiers pode incluir isso de várias maneiras.
Uma delas que podemos pensar em nosso exercício seria de integrar Tails e Knuckles com suas habilidades de voo e escalada, respectivamente, como formas de movimentação vertical pelas áreas abertas. Uma mecânica em que você pode trocar entre os três a qualquer momento com um toque de botão e aproveitar as habilidades de cada um para se movimentar de diversas formas pelo jogo seria uma forma de integrar mais personagens sem a necessidade de novos gameplays ou campanhas (e ainda até serviria como uma homenagem a Sonic Heroes!).
Ainda falando no âmbito de reaproveitar elementos antigos, embora tenhamos discutido como estamos cansados do reuso de temas e fases, um “Sonic Frontiers 2” não necessariamente precisa negar todo o passado da série. Alguns pontos podem ser reutilizados de forma inteligente, como uma área baseada na Angel Island, desde que integrado de forma orgânica à história e que não passe apenas como uma tentativa de economia de “assets”. O jogo atual já deixou a oportunidade aberta ao tentar conectar sua história com eventos antigos da série, então fica a dica, SEGA!
Novas fronteiras
Chegamos ao fim do nosso pequeno exercício e esses foram alguns pontos de como os acertos e erros de Sonic Frontiers podem ser utilizados para fomentar o futuro da série. Esperamos que os desenvolvedores usem-no como um template e não descartem tudo que já foi construído por algo totalmente diferente do zero, algo que, infelizmente, a franquia tem precedente em seu passado. Deixe nos comentários quais são suas ideias para uma possível sequência de Sonic Frontiers!
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli