Análise: Sifu no Switch é como assistir a um filme de ação em uma televisão de tubo

O título mantém o seu charme especial, porém sofre com problemas de performance no console híbrido.

em 10/11/2022

Composta por ex-funcionários da Ubisoft, a desenvolvedora francesa Sloclap iniciou suas operações, e também seu apreço pelas artes marciais, em Absolver, um action RPG de 2017 que pode ser exemplificado como uma mescla entre Street Fighter e Dark Souls — unindo mecânicas de luta a um sistema de progressão típico dos RPGs.

Seguindo uma linha similar focada em artes marciais e nos mesmos princípios de jogo de luta, o segundo trabalho da empresa, Sifu, foi lançado em fevereiro de 2022 para PlayStation e PC. O título se provou um sucesso, alcançando a marca de mais de um milhão de cópias vendidas em apenas um mês e angariando louvores por parte dos jogadores e da crítica especializada.

Após demonstrar um altíssimo nível de fluidez em seu combate rápido e dinâmico em um console como o PlayStation 5, será que Sifu consegue manter a integridade de seu gameplay também no pequeno Switch? Infelizmente, a resposta pode não ser tão positiva, mas isso não quer dizer que é impossível aproveitar essa aventura no console híbrido da Nintendo.

Sede de vingança


Em Sifu, é possível se transformar em um mestre do kung fu que não deve nada a Jackie Chan ou Bruce Lee durante a época de ouro desses grandes ícones do cinema. Claramente inspirado pelos clássicos das artes marciais de outrora, o jogo coloca como pano de fundo de sua narrativa uma típica trama de vingança.

A sequência de abertura trata de apresentar a jogabilidade enquanto coloca você na pele do antagonista da trama, Yang, um antigo discípulo do pai do verdadeiro protagonista. Após uma acirrada e decisiva batalha em que você precisa derrotar o seu velho mestre, a câmera logo mostra que um pequeno garoto presenciou toda a cena em primeira mão.

Impulsionado por um simples desejo de vingança, o jovem aprendiz treina por anos até partir em busca de Yang e seus quatro capangas. Com seus 20 anos completos, o herói sem nome deve atravessar cinco convenientes estágios, nos quais cada membro do grupo de Yang representa um chefão final, e cumprir a sua vingança sem ser derrotado — nem por punhos, nem pelo próprio tempo.

Além de invejáveis habilidades com os braços e as pernas, o protagonista também possui um certo auxílio mágico ao seu lado. Para garantir que seu plano de vingança se concretize mesmo que ele pereça em batalha, o artista marcial faz uso de um amuleto mágico com a incrível capacidade de revivê-lo em troca de alguns anos da sua vida.


Esse amuleto marca a mecânica central de Sifu. Cada vez que você perde todos os pontos de vida durante um combate, o protagonista morre e adiciona um número ao contador de mortes, que soma anos à sua idade total de forma exponencial. Por exemplo: começando sempre com 20 anos, após uma morte ele vai para os 21. Uma segunda morte colocaria o contador no número 2; portanto, a idade vai direto para os 23 dessa vez. Após o terceiro fracasso, o jovem aprendiz já teria 26 anos.

Firmando um paralelo entre os processos inevitavelmente simultâneos do acúmulo de experiência e o envelhecimento do corpo que todos nós passamos durante o decorrer da vida, cada vez que o protagonista revive, ele volta com menos vida máxima, mas com uma maior capacidade de causar dano aos inimigos.

A idade também permanece fixa durante toda a campanha e nunca decresce diretamente. É possível diminuir o número total do contador de mortes — geralmente derrotando inimigos mais fortes que surgem pelos estágios —, porém é impossível retardar o envelhecimento. Pelo menos fazer um estágio novamente para tentar acabá-lo em um estado mais jovem é uma opção que está sempre disponível, criando um loop de jogabilidade similar aos speedruns, em que é preciso decorar a fase e jogar de forma ágil e precisa para maximizar a eficiência.


Sifu é, antes de qualquer coisa, sobre ritmo e movimento. As sessões de luta, que geralmente colocam você contra uma grande quantidade de inimigos simultâneos, são quase como puzzles contidos em etapas distintas de cada estágio.

A única forma de lidar com os frenéticos e extremamente desafiadores confrontos é entrar em um certo fluxo e tentar sempre seguir em frente. O processo pode até se tornar repetitivo, mas o alto nível de desafio tende a derrubar a sensação de “mesmice” que aparece após tentativas subsequentes de derrotar certos inimigos.

A jogabilidade aqui, como em poucos jogos, realmente pede atenção redobrada e uma boa quantidade de paciência. Caso você não consiga defender ou desviar na hora certa, todo inimigo mais fraquinho tem total capacidade de quebrar o seu escudo e acabar com sua vida em poucos segundos.


Para enfrentar essas constantes ameaças vindo de todos os lados, está à sua disposição um arsenal de movimentos digno de jogos de luta — que pode ser expandido durante a campanha por meio de skill points —, uma série de armas e objetos como tacos de beisebol e garrafas, e o próprio cenário ao seu redor, que permite que você utilize escadas e corredores para melhorar seu posicionamento, além de deslizar para o outro lado de mesas e balcões. 

Se você já viu qualquer filme antigo de artes marciais, então já sabe o que esperar. Sifu cumpre com maestria o objetivo de colocar o jogador dentro de um ambiente de ação frenética e quase ininterrupta.

Mesmo estando constantemente cercado por hordas de inimigos com inteligência e destreza consideráveis, é questão de tempo para que você comece a deduzir as melhores maneiras de lidar com seus oponentes por meio de ataques e combos pontuais. O aprendizado é bastante orgânico e é fácil sentir que você está realmente aprendendo a entrar nesse ritmo — ainda que a dificuldade permaneça bem alta até o final. 


O único problema, entretanto, é que a própria existência do Switch nessa equação acaba sendo a maior afronta ao senso de fluidez do game, aspecto que representa também sua característica mais marcante. É um milagre por si só que o jogo consiga rodar no console híbrido, mas o feito definitivamente só foi possível graças ao pagamento de um alto preço.

Jogando no Nintendo Switch, ainda é possível captar algum semblante do espírito indomável que habita a jogabilidade de Sifu e seus golpes rápidos e impactantes como os de um tigre. Porém, o produto final claramente não é o ideal.

Quedas da taxa de quadros por segundo e slowdowns são comuns durante a intensa porradaria, com direito a alguns glitches estranhos e telas de carregamento excessivamente longas de tempos em tempos. A impressão geral que fica é que a experiência no Switch é apenas um aperitivo do que poderia ser um golpe certeiro de um jogo desafiador e competente.

Um bom jogo com algumas limitações


Sifu é um jogo de ação competente que consegue transportar você diretamente a um filme antigo do Jackie Chan. A fluidez e o ritmo ditados pelo título são impressionantes, e a sensação de decorar combos e se locomover pelo ambiente destruindo hordas de inimigos desafiadores irá empolgar a maioria dos jogadores do começo ao fim.

Tirando questões estruturais como o alto nível de dificuldade e a repetição constante de desafios similares, infelizmente é o próprio hardware do Nintendo Switch que aparece como maior antagonista. Se possível, é melhor optar por um console com menos problemas de performance para aproveitar o máximo que as artes marciais têm a oferecer. 

Prós

  • Fantástico senso de ritmo e fluidez no combate;
  • Premissa diferente e interessante;
  • Desafio conciso e envolvente em uma aventura polida.

Contras

  • O alto nível de dificuldade irá assustar alguns jogadores;
  • A repetição de certos trechos e desafios pode ficar desgastante;
  • Problemas de performance no Switch.
Sifu - Switch/PC/PS4/PS5 - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sloclap

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