Seguindo uma linha similar focada em artes marciais e nos mesmos princípios de jogo de luta, o segundo trabalho da empresa, Sifu, foi lançado em fevereiro de 2022 para PlayStation e PC. O título se provou um sucesso, alcançando a marca de mais de um milhão de cópias vendidas em apenas um mês e angariando louvores por parte dos jogadores e da crítica especializada.
Após demonstrar um altíssimo nível de fluidez em seu combate rápido e dinâmico em um console como o PlayStation 5, será que Sifu consegue manter a integridade de seu gameplay também no pequeno Switch? Infelizmente, a resposta pode não ser tão positiva, mas isso não quer dizer que é impossível aproveitar essa aventura no console híbrido da Nintendo.
Sede de vingança
A sequência de abertura trata de apresentar a jogabilidade enquanto coloca você na pele do antagonista da trama, Yang, um antigo discípulo do pai do verdadeiro protagonista. Após uma acirrada e decisiva batalha em que você precisa derrotar o seu velho mestre, a câmera logo mostra que um pequeno garoto presenciou toda a cena em primeira mão.
Impulsionado por um simples desejo de vingança, o jovem aprendiz treina por anos até partir em busca de Yang e seus quatro capangas. Com seus 20 anos completos, o herói sem nome deve atravessar cinco convenientes estágios, nos quais cada membro do grupo de Yang representa um chefão final, e cumprir a sua vingança sem ser derrotado — nem por punhos, nem pelo próprio tempo.
Além de invejáveis habilidades com os braços e as pernas, o protagonista também possui um certo auxílio mágico ao seu lado. Para garantir que seu plano de vingança se concretize mesmo que ele pereça em batalha, o artista marcial faz uso de um amuleto mágico com a incrível capacidade de revivê-lo em troca de alguns anos da sua vida.
Esse amuleto marca a mecânica central de Sifu. Cada vez que você perde todos os pontos de vida durante um combate, o protagonista morre e adiciona um número ao contador de mortes, que soma anos à sua idade total de forma exponencial. Por exemplo: começando sempre com 20 anos, após uma morte ele vai para os 21. Uma segunda morte colocaria o contador no número 2; portanto, a idade vai direto para os 23 dessa vez. Após o terceiro fracasso, o jovem aprendiz já teria 26 anos.
Firmando um paralelo entre os processos inevitavelmente simultâneos do acúmulo de experiência e o envelhecimento do corpo que todos nós passamos durante o decorrer da vida, cada vez que o protagonista revive, ele volta com menos vida máxima, mas com uma maior capacidade de causar dano aos inimigos.
A idade também permanece fixa durante toda a campanha e nunca decresce diretamente. É possível diminuir o número total do contador de mortes — geralmente derrotando inimigos mais fortes que surgem pelos estágios —, porém é impossível retardar o envelhecimento. Pelo menos fazer um estágio novamente para tentar acabá-lo em um estado mais jovem é uma opção que está sempre disponível, criando um loop de jogabilidade similar aos speedruns, em que é preciso decorar a fase e jogar de forma ágil e precisa para maximizar a eficiência.
Sifu é, antes de qualquer coisa, sobre ritmo e movimento. As sessões de luta, que geralmente colocam você contra uma grande quantidade de inimigos simultâneos, são quase como puzzles contidos em etapas distintas de cada estágio.
A única forma de lidar com os frenéticos e extremamente desafiadores confrontos é entrar em um certo fluxo e tentar sempre seguir em frente. O processo pode até se tornar repetitivo, mas o alto nível de desafio tende a derrubar a sensação de “mesmice” que aparece após tentativas subsequentes de derrotar certos inimigos.
A jogabilidade aqui, como em poucos jogos, realmente pede atenção redobrada e uma boa quantidade de paciência. Caso você não consiga defender ou desviar na hora certa, todo inimigo mais fraquinho tem total capacidade de quebrar o seu escudo e acabar com sua vida em poucos segundos.
Para enfrentar essas constantes ameaças vindo de todos os lados, está à sua disposição um arsenal de movimentos digno de jogos de luta — que pode ser expandido durante a campanha por meio de skill points —, uma série de armas e objetos como tacos de beisebol e garrafas, e o próprio cenário ao seu redor, que permite que você utilize escadas e corredores para melhorar seu posicionamento, além de deslizar para o outro lado de mesas e balcões.
Se você já viu qualquer filme antigo de artes marciais, então já sabe o que esperar. Sifu cumpre com maestria o objetivo de colocar o jogador dentro de um ambiente de ação frenética e quase ininterrupta.
Mesmo estando constantemente cercado por hordas de inimigos com inteligência e destreza consideráveis, é questão de tempo para que você comece a deduzir as melhores maneiras de lidar com seus oponentes por meio de ataques e combos pontuais. O aprendizado é bastante orgânico e é fácil sentir que você está realmente aprendendo a entrar nesse ritmo — ainda que a dificuldade permaneça bem alta até o final.
O único problema, entretanto, é que a própria existência do Switch nessa equação acaba sendo a maior afronta ao senso de fluidez do game, aspecto que representa também sua característica mais marcante. É um milagre por si só que o jogo consiga rodar no console híbrido, mas o feito definitivamente só foi possível graças ao pagamento de um alto preço.
Jogando no Nintendo Switch, ainda é possível captar algum semblante do espírito indomável que habita a jogabilidade de Sifu e seus golpes rápidos e impactantes como os de um tigre. Porém, o produto final claramente não é o ideal.
Quedas da taxa de quadros por segundo e slowdowns são comuns durante a intensa porradaria, com direito a alguns glitches estranhos e telas de carregamento excessivamente longas de tempos em tempos. A impressão geral que fica é que a experiência no Switch é apenas um aperitivo do que poderia ser um golpe certeiro de um jogo desafiador e competente.
Um bom jogo com algumas limitações
Tirando questões estruturais como o alto nível de dificuldade e a repetição constante de desafios similares, infelizmente é o próprio hardware do Nintendo Switch que aparece como maior antagonista. Se possível, é melhor optar por um console com menos problemas de performance para aproveitar o máximo que as artes marciais têm a oferecer.
Prós
- Fantástico senso de ritmo e fluidez no combate;
- Premissa diferente e interessante;
- Desafio conciso e envolvente em uma aventura polida.
Contras
- O alto nível de dificuldade irá assustar alguns jogadores;
- A repetição de certos trechos e desafios pode ficar desgastante;
- Problemas de performance no Switch.
Sifu - Switch/PC/PS4/PS5 - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sloclap
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sloclap