Análise: Rogue Legacy 2 (Switch) prova que é possível melhorar uma boa ideia

A sequência do famoso roguelite consegue expandir e refinar as ideias do primeiro jogo.

em 29/11/2022

Lançado há quase 10 anos, em 2013, Rogue Legacy ajudou a popularizar a onda dos roguelites iniciada por títulos como Spelunky e The Binding of Isaac, e aperfeiçoada por clássicos modernos como Dead Cells e Hades. 

Como um dos maiores expoentes de um gênero que tomou conta da esfera dos indies, a sequência desse clássico da década passada da Cellar Door Games causou um grande impacto desde seu lançamento em early access para PC em 2020. Aproveitando a primorosa fórmula do título anterior, Rogue Legacy 2 refina e expande com maestria todos os elementos do primeiro jogo e chega ao Nintendo Switch como um dos melhores indies de 2022.

Negócio de família


A palavra Legacy, ou "legado" em português, é fundamental para se entender o funcionamento da jogabilidade do título. Abraçando o conceito da permadeath, a morte permanente que existe como elemento central do roguelike como um todo, em Rogue Legacy seu personagem realmente morre e deixa de existir cada vez que você é derrotado em uma campanha. Logo após o acontecimento trágico, no entanto, um dos seus herdeiros decide tomar as rédeas da aventura e continuar esse ciclo potencialmente eterno.

Após a morte (um evento que com certeza será bastante comum graças à dificuldade do título), você logo recebe a escolha entre três herdeiros diferentes para seguir em frente. Esses combatentes, não só podem ser de uma classe diferente do personagem que acabou de morrer, como também possuem magias e traços de personalidade específicos, alterando de forma significativa o gameplay a cada jogatina. 

Primeiramente, as classes por si só possuem um grande potencial de variabilidade, entregando para o seu herdeiro uma arma principal exclusiva e uma habilidade adicional única. A classe inicial, por exemplo, o Cavaleiro, desfere ataques básicos com uma rápida espada e possui um escudo com a habilidade de parar e refletir ataques inimigos. Enquanto o Bárbaro, com seu grande machado, garante ataques críticos toda vez que movimenta sua arma no chão, possui um ataque giratório um pouco mais fraco no ar e uma habilidade única que congela os inimigos presentes na tela com um grito.

Além das classes típicas e esperadas em um ambiente medieval, como Assassino, Mago e Arqueiro, Rogue Legacy não tem medo de fugir um pouco da caixa e surpreender com opções como Boxeador, Pirata ou até Chefe de Cozinha. Levando em conta apenas as armas principais de cada um, já é possível ter uma experiência de jogo bastante variada e diferente, mas a adição das habilidades únicas e, principalmente, dos traços aleatórios realmente consegue fazer com que cada personagem seja marcante da sua própria maneira.


Esses traços, os Traits, aparecem como uma cômica e inesperada forma de adicionar ainda mais variáveis ao gameplay. Os efeitos podem ser positivos ou negativos e conseguem alterar bastante a jogabilidade, ainda que em outros momentos eles sejam apenas mudanças pontuais ou estéticas. 

Você pode simplesmente ser um palhaço, ter a pele azul, ser pequeno ou gigante e isso não irá mudar muita coisa, mas certos traços fazem que os inimigos fiquem censurados, que projéteis atravessem paredes ou até que você consiga ver as cores de todas as ações ocorrendo na tela, em um intenso processo sinestésico que lota o ambiente de linhas coloridas de todos os tipos.

É raro que um Trait seja apenas positivo, geralmente incluindo algum consequência negativa para balancear a habilidade. Esses efeitos adversos, porém, não deixam de possuir uma função bastante útil para o jogo como um todo: aumentar o seu ganho total de ouro durante uma campanha.

Honrando a alcunha de roguelite, a grande diferenciação desse subgênero do roguelike é a presença de alguma forma de progressão geral, mesmo que a morte permanente seja uma presença garantida em suas campanhas. A progressão em Rogue Legacy 2, no caso, é marcada pela aquisição de Heirlooms, ou “heranças”, e por itens equipáveis e melhorias para uma série de atributos e estatísticas de seus personagens que podem ser comprados com o ouro adquirido em uma partida — que não pode ser acumulado; é preciso gastá-lo de uma vez.


A combinação de diferentes armas, traços, habilidades e a constante progressão de atributos, além da liberação de novas armas, personagens e relíquias (itens que afetam valores do seu personagem apenas durante uma campanha) mantém a experiência cheia de novidades e variações de forma constante. A própria progressão dentro da grande dungeon principal, no entanto, além da sua própria percepção de habilidade enquanto jogador, é o que irá mantê-lo preso a Rogue Legacy 2 por um bom tempo.

No estilo plataforma side-scrolling focado em ação e combate, o game não mede esforços em tentar impedir o seu sucesso, jogando hordas de inimigos e armadilhas no caminho de forma constante. Além de um bom entendimento das capacidades do seu próprio personagem, a progressão do título pede que você tenha uma boa noção das habilidades de cada inimigo, assim como das possibilidades da área ao seu redor. 


A grande dungeon interconectada por seis áreas com níveis de dificuldade distintos faz um ótimo trabalho ao diferenciar esses diferentes “mundos”, saindo um pouco da tradicional troca de salas e adicionando seções mais abertas que brincam mais com a horizontalidade e a verticalidade de cada estágio. 

De forma similar, uma progressão um pouco mais no estilo de metroidvanias, pede que você explore bem cada canto, conheça os segredos das áreas e descubra itens permanentes que concedem habilidades para acessar as outras áreas. Ainda que o cenário mude toda vez através da geração procedural de ambientes, não demora muito para que o ambiente ao redor se torne familiar de forma bem intuitiva.

Praticamente toda campanha carrega um senso de progressão, mesmo que você morra muito rápido. Todo ouro coletado, cada inimigo derrotado e sala visitada, tudo adiciona um pouco ao progresso literal do seu personagem e ao seu próprio senso de progressão como jogador. A fórmula em si pode até ser repetitiva, e alguns jogadores certamente conseguirão encontrar problemas na jogabilidade e no alto nível de dificuldade; porém, quando falamos de roguelikes, a experiência aqui com certeza é uma das melhores no Switch.


A temática, o bom humor, os personagens, as músicas e efeitos sonoros todos colaboram pela criação de um universo muito rico e lotado de detalhes interessantes. Dessa vez, uma técnica 2.5D utilizada na parte gráfica, com personagens em modelo 3D combinados com cenários desenhados à mão, mantém todo o charme do Rogue Legacy original enquanto atualiza o visual com sucesso.

Por fim, surpreendendo positivamente e contrariando muitos lançamentos atuais no Nintendo Switch, Rogue Legacy 2 roda de forma impecável no console híbrido, sem qualquer problema de resolução ou taxa de quadros por segundo. Demorou um pouco para o game chegar ao Switch, mas agora, graças à habilidade de jogá-lo em modo portátil, esse é muito provavelmente o melhor console para você vivenciar esse grande lançamento de 2022.

Um novo legado para o Switch


Rogue Legacy 2 consegue trazer tudo que funcionou no primeiro jogo e melhorar quase todos os aspectos. Aproveitando a ótima premissa e jogabilidade do título clássico, essa continuação não tenta inventar a roda, porém sabe aproveitar as forças que já existiam e acrescentar muito conteúdo por cima. A performance no Switch é impecável e jogar esse ótimo roguelike em modo portátil em qualquer lugar é altamente recomendado.

Prós

  • Fantástico senso de ritmo e fluidez no combate;
  • Premissa diferente e interessante;
  • Desafio conciso e envolvente em uma aventura polida.

Contras

  • O alto nível de dificuldade irá assustar alguns jogadores;
  • A repetição de certos trechos e desafios pode ficar desgastante;
Rogue Legacy 2 - Switch/PC/XBO/XSX - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Cellar Door Games

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