Às vezes nos deparamos com crossovers inusitados, mas tão bons, que nos levam a pensar como alguém não teve a ideia em questão antes. Lançado exclusivamente para Switch, Ultra Kaiju Monster Rancher é um desses casos, destacando-se ao prover uma mescla muito divertida entre duas franquias populares no Oriente. Confira nossa análise a seguir!
Temos que criar!
Desenvolvido pela Koei Tecmo em parceria com a Bandai Namco, Ultra Kaiju Monster Rancher promove um encontro entre Ultraman e Monster Rancher, duas propriedades muito populares no Japão que chegaram a fazer relativo sucesso no Brasil nas décadas de 1980 e 1990, com exibições bem-sucedidas na TV aberta e uma gama considerável de produtos licenciados para crianças e adultos.
Também conhecida como Ultra e a mais longeva das duas franquias, Ultraman começou como uma série de fantasia em 1966 e logo caiu nas graças do público japonês com sua história envolvente que misturava ficção científica com bom uso de efeitos especiais. Seu sucesso foi tamanho que deu origem a diversas continuações e filmes, com o mais recente sendo Shin Ultraman, exibido este ano nas terras nipônicas.
Agora, celebrando o aniversário de 25 anos da série da Tecmo e seguindo o lançamento de Monster Rancher 1 & 2 DX (Switch), ganhamos um crossover entre as duas franquias. E, como dito, o resultado impressiona e diverte ao mesmo tempo!
Monstruosidades da antiguidade
Ultra Kaiju Monster Rancher se passa na ilha fictícia de Latour, que em tempos antigos era habitada tanto por humanos quanto por monstros colossais conhecidos como Kaiju.
Eventualmente, o grande poder dessas criaturas levou a um violento conflito por toda a ilha; nesse momento, conta-se que o bondoso Gigante da Luz apareceu, colocando fim às discórdias e transformando os Kaijus em pedras com formato de disco.
É assim que, no papel de um estudante recém-graduado da Academia, caberá ao jogador começar e desenvolver a sua trajetória como um Kaiju Breeder em Niesk, capital de Latour!
Como treinar seu Kaiju
A jogabilidade de Ultra Kaiju Monster Rancher segue o padrão da série Monster Rancher, de modo que se você já jogou algum título anterior da saga, não terá problemas para se familiarizar com o novo game.
Em linhas gerais, isso significa que o que é apresentado aqui é muito similar a uma versão turbinada do brinquedo Tamagochi. Após regenerar o seu primeiro Kaiju, você se dedicará aos cuidados dele em uma fazenda especial. Na prática, isso significa decidir a alimentação do bichinho, a rotina de treino, qual o trabalho que ele irá ter, se ele desfrutará de uma folga ou não, etc.
Tudo isso é regrado por uma progressão que se divide em dias e semanas; como todas as coisas vivas, em algum momento (normalmente, após dois ou três anos in-game) seu Kaiju irá envelhecer e se aposentar. Portanto, o seu desafio como criador será extrair o potencial máximo de seu companheiro enquanto ele está ativo, inclusive fundindo ele com outra criatura caso ache conveniente.
É uma proposta simples na teoria, mas complexa na prática, o que ajuda a explicar o sucesso da franquia no passado. Da comida às broncas, quase tudo afeta o desenvolvimento de seu Kaiju e, consequentemente, a sua performance nos combates e torneios anuais. Criar o monstro perfeito é uma tarefa difícil, mas divertida e recompensadora, e tanto os designs espalhafatosos quanto a proporção avantajada dos personagens de Ultraman acabam proporcionando um charme extra à obra.
É só uma pena que, assim como em outros Monster Rancher, a história do game seja praticamente inexistente. Excetuando-se as aparições de Ultraman e um ou outro cameo da série aniversariante, aqui a aventura segue o ciclo de trabalho, descanso e combate e tanto os diálogos quanto a narrativa giram em torno desses acontecimentos. Manter as expectativas controladas nesse quesito evitará a frustração de esperar algo que não existe no game.
Soluções modernas para problemas antigos
Jogadores mais velhos provavelmente se recordarão que os primeiros Monster Rancher possuíam uma mecânica única onde era possível obter criaturas no jogo a partir de CD-ROMs da vida real. Esse divertido recurso acabou sendo um dos grandes responsáveis pelo sucesso dos games, afinal todo o processo de extrair monstros de uma rocha ficava mais real graças a ele.
Com os avanços tecnológicos das últimas décadas, CDs perderam a sua utilidade e popularidade — não é à toa que a coletânea Monster Rancher 1 & 2 DX optou por usar uma database ao invés de tentar uma gambiarra para acessá-los. Ainda assim, em Ultra Kaiju Monster Rancher, temos uma novidade que certamente atiçará a curiosidade dos mais nostálgicos.
Uma vez no altar da cidade, é possível obter um Kaiju novo a partir de um código especial, de uma palavra-chave à escolha do jogador, ou com a Tábua da Memória. Este último método permite que você escaneie tags e dispositivos NFC utilizando os recursos do Switch e gere monstros a partir de objetos como cartões de crédito e celulares, por exemplo.
É um recurso bem legal e que evoca os tempos áureos da franquia com sucesso. O único problema a meu ver é a ausência de suporte aos amiibo, sendo que outros toys-to-life, como os de Skylander ou Disney Infinity, funcionam perfeitamente. Como uma porcentagem considerável dos donos de Switch provavelmente possui um dos colecionáveis da Nintendo consigo, torço fortemente para que uma futura atualização adicione suporte a eles; a impressão que fica é que houve uma oportunidade perdida nesse quesito.
Dito isso, é chegada a hora da pergunta de milhões: Ultra Kaiju Monster Rancher vale a pena? Se você for um fã desse estilo de jogo ou de pelo menos uma das duas franquias aqui representadas, saiba que sim, absolutamente. Como dito no início da análise, este é um crossover que transcorre de forma absolutamente natural, ao ponto de podermos nos questionar como ninguém havia pensado nisto antes.
A jogabilidade de Monster Rancher casa perfeitamente com as criaturas bizarras de Ultraman, e eu estaria mentindo se negasse que há uma alegria quase que juvenil em ver um colosso de mais de 20 metros de altura tentando regar as plantas da melhor maneira possível para agradar a seu criador.
Com mais de 200 criaturas únicas para descobrir e várias possibilidades de criação, este é um daqueles games que se tornam melhores à medida em que o jogador investe neles. Sua jogabilidade quase que em loop pode soar repetitiva às vezes, mas gerar e criar monstros fantásticos um após o outro é prazeroso demais para não ser recomendado.
Inusitado, mas imperdível
Ultra Kaiju Monster Rancher demonstra que, mesmo após um grande hiato sem novidades, a franquia Monster Rancher ainda tem bastante lenha para queimar. Sua jogabilidade por vezes repetitiva e a sua progressão lenta podem assustar os jogadores que gostem de resultados rápidos, mas, para todos os efeitos, não há como negar que este é um crossover natural e bem-sucedido como poucos.
Prós
- Mais de 200 Kaijus para conhecer e colecionar;
- Mantém a jogabilidade clássica da franquia Monster Rancher;
- Cameos das duas séries demonstram o carinho dos desenvolvedores com as respectivas propriedades;
- Tábua da Memória permite obter monstros ao escanear dispositivos NFC, evocando os jogos clássicos da franquia;
- Criar o Kaiju ideal é positivamente complexo;
- Um crossover bem-sucedido como poucos.
Contras
- Loop de jogabilidade pode se tornar repetitivo;
- Progressão ocorre de forma lenta para os padrões atuais de jogos;
- Incompatibilidade com amiibos é uma oportunidade perdida;
- Sem suporte a português brasileiro.
Ultra Kaiju Monster Rancher — Switch — Nota: 8.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco